Todos olhavam para nós quando chegamos à escola, mas não nos importamos. Monica e Magali não tinham duvidas quanto à nossa amizade e eu sabia que era questão de tempo até tudo voltar ao normal. A fofoca do momento era meu beijo com o Cebola e o termino do meu namoro. Eu já estava acostumada com todos olhando e comentando sobre mim, mas a Magá e a Monica não, eu queria tirar esse peso delas, mas elas não aceitavam mais eu passar por tudo que passei sozinha e não iriam mais sair do meu lado.

Passaram-se alguns dias depois da confusão no churrasco da Aninha, e alguns se esqueceram, mas as namoradas dos meninos com quem eu dancei não olhavam mais pra mim, me ignorando completamente. O Cascão até tentou conversar com a Cascuda, mas ela não aceitava mais minha amizade com ele, o que fez com que a gente ficasse distante.

- Isa, precisamos juntar voce e o Luca de novo. Ele não deve saber ainda o que te levou a fazer aquilo.

- Monica se ele souber que eu beijei o Cebola por causa de um plano, aí sim ele não vai mais querer saber de mim.

- Mas por causa disso, ele agora tá andando com a Carminha. Não acredito que ela no final conseguiu ficar com o Luca.

- Se voces conseguissem fazer com que ele me escutasse eu acho que ele iria me entender.

- Isso não é problema. – Magali falou com um sorriso no rosto.

- O que voce esta planejando senhorita comilona?

- Nada. hihihihihih - ela saiu correndo sem nos dizer o que ela planejava. – E não sou comilona.

Eu cheguei em casa cansada e fui direto pro quarto. Nem queria almoçar e minha mãe entrou no quarto com uma bandeja com o almoço e me fez comer tudo.

- Voce vive arrumando encrenca no colégio e depois fica jururu desse jeito... O que que eu vou fazer com a senhorita heim?

- Ah mãe, eu não sei, quando tudo parece bem acontece alguma coisa pra acabar com minha felicidade. Agora a Carminha fica grudada no Luca, e ele nem quer me escutar.

- Seu namorado? Ah mas esse rapazinho vai ter uma conversa sério comigo. Eu não deixei voce namorar com ele, pra ficar sofrendo desse jeito não.

- A senhora não é nem doida de ir lá conversar com ele. Deixa que eu dou um jeito.

- Tá bem, mas se voces não decidirem suas vidas logo eu vou me meter. Termina de comer e descansa um pouco.

Eu comi pouco e dormi. Fiquei a tarde inteira na cama e acordei umas cinco da tarde. Tomei um banho e fiquei á toa, escutando musica quando meu celular tocou. Era uma mensagem da Magá:

 “ Isa, eu conversei com o Luca e ele disse que topava te encontrar amanha no colégio na sala dos figurinos do anfiteatro. Mas tem que ser depois das aulas. Beijos.”

Eu respondi a mensagem dizendo que iria sim. Fiquei a noite toda pensando em como iria falar pro Luca que eu fiz aquilo tudo por causa da Magali e do Quim. E ainda fico pensando como eles vão contar aos pais deles que vão ter um filho.

* Na sala de aula:

- Isa, espero que ele entenda tudo. Mas vem cá, por que o Cebola não quer conversar com voce? Ele entendeu que o beijo foi por causa do plano.

- Pois é, ele ficou chateado por que eu “usei”ele. – quando disse isso meus olhos se encontraram com os do Cebola, mas ele desviou rapidamente o olhar, com raiva.

- Depois passa, amiga, ele deve tá assim porque os planos dele nunca deram certo. – Monica respondeu, caindo na gargalhada.

- O.K. senhoritas, se a aula tá tão divertida assim, voces podem vir pra frente explicar o que eu acabei de dizer ao resto da turma?

- Professor... eu.. – droga isso sempre acontece comigo. – Professor Rubens, eu tava falando pra Monica que...

- Que é engraçado o nome dessas células. E difícil de decorar.

- Mas voces não decoram, voces aprendem. E não conseguem aprender se não ficarem pensando besteiras e rindo durante a explicação.

- Desculpa. - respondemos juntas.

- Amiga voce vai mesmo falar pro Luca sobre a Magá? – Monica sussurrou.

- É o único jeito dele entender por que eu fiz tudo aquilo.

- Pois espero que ele entenda mesmo. Se não eu dou uns cascudos nele.

Olhei pro Luca, que conversava baixo com a Carminha. Ver ele longe de mim me deixava triste, mas ao mesmo tempo sentia um alivio por não estar prendendo ele. Quando terminaram as aulas eu fui pro anfiteatro. Quando estava entrando eu vi o Cebola encostado na porta com os braços cruzados. Meu coração acelerou. O que ele ta fazendo aqui?

- Cê.

- Eu quero conversar com voce.

- Pode ser depois? Eu preciso fazer uma coisa importante agora.

- O que pode ser mais importante do que...- de repente ele ficou serio, respirou fundo e continuou - Tudo bem. Vai lá fazer sua “coisa importante”. – ele disse com ironia, e saiu andando. – Depois passa lá em casa então. A Maria tá doida querendo a boneca que voce prometeu a ela.

Eu fiquei meio sem entender sua atitude, mas entrei no anfiteatro. Quando encontrei a sala dos figurinos vi Luca com raiva.

-A mensagem tinha sido sua?

- Que mensagem?

- Que a Monica me entregou. Eu vou falar com ela imediatamente.

BLAM!

A porta da sala havia sido fechada de repente e parecia que tinha sido trancada por fora. Corri pra ver o que tinha acontecido e vi um bilhete passar por baixo da porta.

“Eu disse que faria vocês dois conversarem certo? Pois só vão sair daí quando resolverem suas diferenças. Eu não quero ter que deixar os dois o dia inteiro aí, então resolvam logo. Beijos Monica e Magali.”

- Ai eu não acredito.

- O que é isso? Me dá esse papel, por favor. – Entreguei o bilhete pro Luca, que ficou furioso.

- O que? Se eu conseguisse sair dessa cadeira, iria correndo atrás dessas duas.

- Luca, calma. Não precisa exagerar né? Não é tão mal assim a gente ficar trancados.

- Eu não quero ficar trancado com uma traidora.

- Eu te pedi desculpas.

- Por voce ter beijado o Cebola? Isso eu nunca vou te perdoar.

- Mas eu fiz isso por um bem maior. Pela Magali.

- O que ela tem haver com isso? Voce o beijou por que ela pediu por acaso? Ela te obrigou a fazer isso?

- Não, ninguém me obrigou. Mas se eu não fizesse algo a Carminha iria humilhá-la na frente de todo mundo.

- Humilhar.. ,mas do que voce tá falando? Alias, não quero saber de mais nada vindo de voce.

- Luca voce tem que me escutar, mas que droga. Voce acha que eu queria te magoar daquele jeito? O plano não tava dando certo e eu tinha que fazer algo. – meus olhos começaram a encher de lagrimas, eu não queria chorar, mas era inevitável.

- Isa, me conta tudo. Mas não chore. – ele disse chegando perto de mim. Eu me sentei no chão, encostada na parede.

- Quero que me prometa que tudo que eu disser aqui vai ficar em segredo, ta bem?

- Eu prometo.

- Primeiro a Magá ta grávida.

- O que? Mas, como?

- Quer que eu conte tudo ou não? Então não interrompe. -  ele assentiu, com a cabeça. – Ela fez vários exames, um deles, de sangue. Não sei como mas a Carminha conseguiu pegar o envelope, e fazia chantagem com ela e a Mô para se voltarem contra mim e tudo. Quando eu voltei da fazenda a turma me contou. Tínhamos um plano pra pegar o envelope da Carminha, mas ela vivia com ele grudada na bolsa e não saia de perto nem pra ir ao banheiro. No churrasco da Aninha eu sabia que ela ia levar o envelope e, talvez tentar fazer a Magá se lembrar da chantagem. As meninas tinham tentado chegar perto daquela bolsinha idiota o tempo todo mas não conseguiram. Eu sabia que tinha que fazer ela soltar a bolsa e um jeito dela fazer isso era ficando com voce. Porque quando a gente se beija fica com as mãos ocupadas e...

- Eu entendi. Voce tinha que fazer ela ficar perto de mim.

- E pra isso eu tinha que afastar voce de mim. Por isso comecei a dançar com os garotos. Mas voce não ia se afastar de mim por isso... precisava de algo...

- Que me afastasse de voce de forma sentimental. Por isso beijou o Cebola. -  Luca disse isso e baixou os olhos, tristes.

- Eu juro que não queria te magoar, mas eu precisava pegar o envelope. As meninas não entenderam meu plano, por isso tomei um banho de refrigerante.

- Isso eu não sabia. Mas por que ele?

- Por que voce tem ciúmes de nós dois. Da nossa amizade.

- Se voce tivesse me dito.

- Não daria tempo pra te explicar, e depois voce não iria concordar.

- Não mesmo.

- Luca me perdoa. Eu não queria te magoar.

- Eu sei. Isa eu quero ficar com voce. Mas esse tempo me fez perceber que não tava dando certo.

- Eu sei. Peraí, do que voce tá falando?