Estava parada, de roupão, cabelo molhado, olhando pro espelho do banheiro do segundo andar. Peguei a tesoura e o cortei acima do ombro, picotado para ficar mais curto atrás. Agora a trança se destacava ainda mais do resto - mas eu gostava assim. Parti a franja de lado e sequei o cabelo com secador.

Olhei pro vestido preto que escolhemos, ainda pendurado no cabide. Alças grossas, sem manga. Justo, básico, acima do joelho. O vesti e calcei o salto rosa claro. Nem muito alto, nem muito baixo - médio. Passei uma base no rosto, rímel transparente e batom cor da boca. Nunca tinha passado maquiagem antes, não acho que conseguiria acostumar a passar todos os dias.

Dei alguns passos para trás. Me olhei bem no espelho. Muito chique? Pra mim, com certeza. Trocaria o vestido por uma camiseta e um short jeans, e o salto alto por um tênis sem pensar duas vezes. Mas segundo Edward, tudo aquilo era o normal pra mãe dele.

Demorei um pouco antes de voltar para o quarto de Edward, revisando na minha cabeça as respostas para as perguntas mais prováveis que ela possa fazer. Percebi como o salto fazia barulho no piso de madeira, e andei na ponta dos pés. Entrei no quarto e vi ele se sufocando em uma tentativa inútil de colocar a gravata.

– Eu ofereceria ajuda, mas eu sou tão ignorante nesse assunto quanto você.

– "Ignorância é uma bênção." - ele respondeu, desfazendo o nó e tentando colocar de novo. O puxei pela ponta da gravata e o beijei.

– Sinto informar que é uma causa perdida. - falei, tirando a gravata das mãos dele e colocando na mesa. - Você não tem nenhuma daquelas gravatas de broche?

– Eu não tenho nenhuma gravata. Essa é do meu pai. Eu odeio essa coisa.

– Você colocaria uma gravata por mim? - perguntei, brincando.

– Colocaria. Mas nós dois sabemos que isso não é possível.

– Você já sabe como eu vou descer sem que ela me veja?

– Estava esperando você perguntar. - ele abriu a janela e me mostrou um banco branco que antes ficava na varanda, enfeitado por pequenas flores vermelhas e suspenso por uma corda. - Não se preocupe, é seguro.

Desci pelo banco e dei a volta na casa até a porta da frente. Tomei fôlego e toquei a campainha.