Uma hora depois eu estava no quarto de Edward, olhando no espelho.

- O que eu vou vestir? Por favor não fala vestido.

- Vestido. Com certeza. Minha mãe sempre tenta me fazer usar terno, ela vai querer você de vestido.

- Droga. E o cabelo? Eu estava pensando em cortar - e não se preocupe, eu corto meu próprio cabelo desde que aprendi a fazer um rabo.

- Você quem sabe. Mas você não vai cortar a trança, vai?

- Nunca. - respondi, passando a mão nas miçangas dela.

- Amanhã ela provavelmente vai passar a tarde toda preparando o almoço, então você não precisa se preocupar com ela te ver.

- Ok. Tem certeza que quer falar a verdade? Ela pode não aceitar muito bem...

- Ora, se eu contar que uma garota viveu escondida na casa dela por dois meses, ela deve sentir um mínimo de responsabilidade por não ter percebido.

- Tem razão. Desculpa, eu estou bem nervosa.

- Fica tranquila. Ela vai te amar.

- Mesmo sabendo que eu fui criada numa fábrica, nunca fui pra escola, não tenho a mínima possibilidade de uma carreira ou um futuro promissor e invadi a casa dela?

- Mesmo assim. São 3 horas. Eu tenho que ir pra aula de violão.

- E eu tenho que passear com o turno da tarde.

- Te vejo às quatro e meia?

- Nem um minuto depois.

Enquanto passeava com os cachorros, fui pensando nas possíveis reações da mãe de Edward, e nenhuma era boa. Algumas péssimas. Algumas horríveis. As que não envolviam me mandar pra um colégio interno ou um centro de adoção eu considerei medianas. Mas nenhuma boa.