Me lembro de tudo, de minhas reações até as mais cautelosas palavras de meus pais para me contar o que iria acontecer, começou com aquela coisa que "você não vai perder contato, você pode ligar" e terminou com um "vamos ter que nos mudar". Meu pai tinha sido informado que a minha avó não estava bem, estava internada há algum tempo, e a pressão pela parte da minha família fez ele decidir que iríamos morar no Brasil. Já tinha ido ao país algumas vezes apenas para ver as pessoas da minha família, mas nunca tinha tido contato com eles, mas morar lá, como? Construi tudo aqui, família, amigos e o Liam, como deixar ele? Como simplesmente dar as costas para 12 anos da minha vida? 

Estava aos prantos, completamente sem saída, realmente aquela situação não teria nenhuma solução, como poderiam ter feito isso comigo? Tentei de todas as técnicas de convencimento possíveis, e nenhuma funcionou e o pior de tudo é que eles sabiam disso a quase um mês e não me contaram antes, e além disso teria que me mudar em 2 dias.

Minha única preocupação naquela hora era o Liam, ainda éramos novos, ele tinha 13 anos e eu 12 e isso soava como desculpa para minha mãe como se fossemos novos demais para qualquer tipo de sentimento, mas não ela novamente estava completamente enganada. Como me despedir dele? Como abandonar de um dia para outro tudo o que a gente tinha? Não estava em condições de pensar nisso, me tranquei em meu quarto e desabei a chorar, sem querer peguei no sono.

Só fui acordar no dia seguinte, me arrumei para a escola e sabia que teria de enfrentar isso, era o que me restava. No caminho encontrei o Liam, que morava na mesma rua que eu, ele chegou animado comemorando a sexta-feira já que poderia ficar em casa e não fazer nada, e eu em silêncio pois sabia que qualquer palavra minha eu iria começar a chorar.

Então Liam para e diz:

- O que aconteceu? Você não está bem, realmente não mesmo, o que houve, me diz?

Me calei, e continuei andando.

- Luana, diz, eu percebo quando você não tá normal e hoje você está péssima, diz.

Respirei, parei e sentei em um banco que tinha ali na rua, ele logo me seguiu e sentou ao meu lado.

- Não sei como te contar - disse - não tenho a mínima ideia.

Aquilo estava me matando por dentro, algo em uma escala de que uma facada, doeria menos.

- Diz, você sabe que eu vou estar aqui para tudo - Liam completa 

Não aguentei e comecei a chorar e tentar explicar:

- Vou ter que me mudar.

Liam não esboçou nenhuma reação, só ficou parado, estático e esperando que eu terminasse de falar.

- Recebi a notícia ontem - falava pausadamente enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto - minha avó não está nada bem, avisaram meu pai e ele se sentiu obrigado em ir,  e as coisas aqui também não iam bem para nós, ele disse que seria a oportunidade começar novamente lá, com pessoas que eles conhecem, com nossa família.

Notei uma lágrima no rosto de Liam, aquilo acabou comigo, quebrou meu coração, nunca tinha sentido uma dor tão grande na minha vida.

- E quando você vai? - ele perguntou

- Depois de amanhã - respondi

Liam começou a chorar como nunca havia visto, e nesse momento eu já estava assim, estava soluçando, estava perdendo meu melhor amigo, estava perdendo meu futuro, estava perdendo quem eu amava, e nada que eu fizesse iria reverter isso.