– O que foi? - Eu perguntei entretida no olhar que ele me envolvia.

Esse é um tipo de olhar diferente de Jonny, considerando que eu já listei e identifiquei todos os tipos de olhares dele. Mas, a forma que ele me observa atentamente agora é certamente o pior olhar. Eu odeio tanto esse olhar indiscreto, avaliador e... É duro dizer ou pensar afirmando isso, mas ele me olha também com uma pontada de decepção! Acho que é o pior olhar é esse que um homem pode dar depois de fazermos amor. Parece até que ele me olha como se eu fosse outra pessoa ou como se ele quisesse que eu fosse outra pessoa. O que é decepcionante pensar! Mas, é claro que é mais uma paranóia minha.

– Nada... - Jonny falou baixo demais e eu sorri involuntariamente quando ele começou a delinear meu rosto com os dedos.

– Nada? Mesmo? - Ele assentiu calado.

– Cuidado para não se apaixonar ...

– Tarde demais. - Ele falou baixinho novamente e de um modo estranho, eu gostei.

Me aproximei do rosto dele e beijei os lábios que tinham se tornado tão conhecidos nos últimos meses. Como o doce esperado o beijo se tornou mais urgente e mais o clima ficou quente. Jonny mordeu meu lábio com força e eu gemi com a dor, mas também com prazer. Ele sugou meu lábio recém cortado e outro gemido surgiu da minha boca, os lábios gélidos e famintos dele recomeçou uma trilha para o colo do meu peito.

Meu sorriso aumentou enquanto as carícias aumentavam na minha pele, estava tudo maravilhoso até que encontrei seu olhar diferente, o mesmo olhar em minutos atrás. Meus pensamentos sumiram no exato momento em que os lábios de Jonny encontraram os meus com tanto desejo e fúria.

Passaram duas horas desde que Jonny decidiu querer mais um round.

Saímos do banheiro juntos, ele enrolado em uma toalha da cintura para baixo e eu completamente nua. Beijei ele mais uma vez com avidez e por outro momento doloroso vi reflexo daquele olhar que tanto odeio. Mesmo assim ele sorriu e me puxou contra ele me beijando novamente, com mais amor e carinho. Oh. Jonny sempre teve essa coisa desde que começamos a sermos amantes, o olhar diferenciado e desconhecido o faz ser mais amoroso. Esse olhar o faz ser meu amante perfeito, mesmo assim eu odeio esse olhar. Ele parou de me beijar e eu o dei um selinho carinhoso.

– Quer que eu te enxugue? - Jonny perguntou-me com um sorriso grande nos lábios.

– Não, já está tarde e tenho que ir para casa.

– O que isso tem haver?

– Você sabe aonde vamos chegar se você me enxugar... - Eu falo baixo e ele abre um enorme sorriso.

Jonny se vira e se arruma em um instante, tanto é que ele já está na frente do maldito computador escondido no canto do quarto. A única coisa que ele nunca me permitiu ver direito ou usar. Eu nunca entendi isso e me importo muito com isso, ele simplesmente parece um viciado com segredos imensos.

– Argh. - Resmunguei nua em frente ao grande espelho

– O que foi? - Jonny perguntou e com os olhos pregados em frente da tela do computador dele.

– Você. - Falei com raiva. - Olha como estou cheia de marcas...

– Você é minha e ele tem que saber.

– Querido, eu já diss...

– Não! Você está me enrolando, Sam! - Jonny me lançou um olhar triste. - Você prometeu que se separaria dele.

– E eu vou. Só preciso de mais tempo. - Falei com um nó na garganta e comecei a vestir minhas roupas íntimas.

– Ele está começando a te seguir... Ele sabe...

– Desconfia! - Corrigi ele severamente.

Jonny se levantou da frente do computador e andou na minha direção com um sorriso desafiador e eu tentei não sorri, por pouco não consegui esconder tamanho sorriso que quis dar. Ele me abraçou por trás e passou as mãos pela minha barriga, como consequência do toque de carinho abaixei a cabeça levemente para a direita e encostei nele. Jonny sorriu largamente.

– Eu te amo. - Ele sussurrou no meu ouvido e meu corpo inteiro clamou com tal afirmação. Essas palavras pareceram avivar cada celular minha e me senti poderosa. Ele me ama, foi tudo que consegui pensar.

Afinal, era isso que eu procurei nesse tempo inteiro. Procurei saber se ainda seria capaz de fazer alguém me amar e de fato consegui, agradeço tanto por tê-lo achado para ser o chef do meu restaurante. É realmente reconfortante novamente me senti assim... Amada.

– E eu sei que você me ama. - Ele sussurrou no meu ouvido e roçou o nariz na minha pele.

Isso é algo que ele ama fazer para me distrair... Como ontem a noite quando ele não me permitiu usar o computador dele. Não me deu permissão e ainda me destratou quando tentei ainda assim ligar o computador. Mas, bem, eu deveria saber... Isso não é a primeira vez que acontece. O que é pra mim, deprimente. O que diabos tem nesse computador?! Respirei pesadamente e me virei para ele.

– Vai me contar seus segredos com aquele computador?

– Porque a mudança de assunto? - Ele resmungou e franziu o cenho. - Você realmente sabe como acabar com o momento!

– Deixe de ser reclamão. - Eu fiz beiço.

– Então deixe de ser curiosa. Eu já lhe disse, não há nada demais no computador... Eu só tenho ciúmes das minhas coisas. - Ele falou ainda tenso.

– Desculpe. - Falei timidamente e olhei para ele com carinho.

– Só há uma maneira de você se desculpar... - Ele fala sugestivamente. Meu sorriso aumenta e eu sei do que ele está falando, mas em minha mente eu tenho outra maneira de me desculpar.

Eu me distancio e tiro uma alça do meu sutiã. Oh. Ele me olhou intensamente e senti os olhos dele se escurecerem um pouco, oh. Eu o quero e eu o quero nesse momento.

– Somente uma maneira... Certeza? - Eu digo divertida e Jonny sorri largamente pra mim com um olhar malicioso.

Eu me aproximo dele e mordo o lábio.

– Vou ter que despi-lo, Jonny. - Falo baixinho e começo a desabotar a sua camisa. Ele me olha com desejo e sinto uma pontada de orgulho, avidez e diversão.

___________

– Isso são horas de chegar?!

– Estive ocupada. - Falei com rispidez e o olhei com desprezo.

– São três e meia da manhã, pelo amor. - Fred falou com tristeza na voz e me cortou o coração, mas permaneci na pose de autoritaria.

Somente a luz da lua cheia que ilumina a sala, respirei fundo e procurei com o tato o interruptor. Liguei a luz da sala e olhei ao redor, duas garrafas wishy estando uma vazia e outra praticamente cheia. Fred não é de beber! Olhei atordoada para ele.

– Você deveria estar no trabalho, não? - Perguntei seca.

– Não. Trabalhei o bastante...

– O suficiente para perder a sua mulher...

– Está me pedindo o divórcio?! - Ele me perguntou com voz alta e se levantou.

Fiquei calada. Eu realmente não sei se quero o divórcio, pois ainda me dói saber que não terei ele depois disso. Mas... Fred me fez tantas coisas... Me mudou para me jogar de lado e me abandonar por esse maldito império de tecnologia que ele constrói a cada dia. Ele me esqueceu tantas vezes nas festas de inaugurações... E ás vezes aparecia nos jornais com outras mulheres em seu lado. Nunca comigo. Nunca mais se importou com meu bem estar ou se eu me sentia feliz. Ele entrou em um mundo somente dele, onde o que importa é o dinheiro e bens materiais.

Oh. Esse Fred eu odeio. Eu o odeio por me prometer a felicidade e me manter distante. Eu o odeio por me fazer o odiar, depois de tudo. Eu o odeio por me fazer perder tanto. Mas... Principalmente eu o odeio por ter trancado todo amor que sintia por ele em quarenta chaves dentro de um canto obscuro do meu coração. Eu o odeio tanto e por isso eu devo pedir o divórcio, certo?!

Eu quero isso.

– Sim. - Falei com convicção e ele começou a rir.

– Não. - Fred falou depois de minutos. - Você sai por aí e se deita com um funcionário... Vem e quer o divórcio? Não tem vergonha de si?

– Oh. - Exclamei sentindo meu sangue subir. - Então você realmente me seguiu?

– É CLARO! - Fred gritou com raiva. - Desde a semana passada quando uma carta chegou pra mim!

– Que carta maldita é essa? - Perguntei nervosa.

– Uma carta falando dos seus atos sexuais fora do casamento!

– Quem mandou? - Perguntei com temor.

– Uma pessoa que assinou com S61! - Fred falou mais alto e passou a mão nos cabelos. - Eu não sei quem é essa pessoa mas agradeço a ela por ter tirado a venda dos meus olhos... Olhe pra você... Agindo como um vadia!

– Eu não estou agindo como... - Respirei fundo e tentei me acalmar. - Mas se você acha que sim, devo dizer que eu amo agir como tal! Realmente é uma delicia me deitar com ele.

Falei com ódio por ele ter me xingado e senti os olhos dele se fecharem por um instante. Oh. Ele irá me ouvir falar como uma vadia, já que pensa que sou uma por procurar alegria em outra pessoa.

– O que foi? É dificil digerir isso? - Minhas palavras foram mais ásperas do que imaginei ficar.

– Você... Então... Você confessa... - Ele tentou balbuciar e abriu os olhos transbordados de dor, lágrimas e remorso.

– Oh, sim. - Falei parecendo divertida. - Ele é ótimo na cama, querido. Eu gosto de cavalgar nele, gosto de tê-lo na minha boca e muito mais quando ele... - Abaixo o tom de voz - Me tem por inteiro de todas as formas em uma só noite.

Fred parece tentar se controlar e eu fecho o sorriso. A dor que ele parece sentir é reconfortando e perturbadora pra mim. Reconfortante porque estou devolvendo toda a dor e solidão que ele me deu e perturbadora porque me dói vê-lo com esse olhar dilacerado.

– Pare.

– Porque? Estou tentando ver porque você está me chamando de VADIA! - Gritei com ele e ele fechou a mão com força. - Se me faz vadia querer um homem que me faça mulher...

Não pude terminar de falar, pois um golpe forte me fez cair bruscamente no chão. Meu rosto todo formigou e eu levei minha mão direita para o lado do meu rosto, gemi de dor ao tocar a minha bochecha. Minha boca teve gosto de sangue. Eu me senti horrível quando tocou no canto da minha boca e constatei o sangue escorrendo. Só então percebi que estava chorando, com o rosto molhado de lágrimas e provavelmente muito vermelho.

– Isso não me fará ficar. - Vociferei. - Nunca vou lhe perdoar!

Encarei o rosto do Fred e ele estava chorando também.

– Que droga, Sam. O que você fez?! - Ele falou com raiva e sua voz quebrou no final.

Tentei parar de chorar, mas não deu.

– Acabei com essa merda...

– Que merda?!

– Essa merda de casamento... - Falei com um soluço e me sentei direito no chão. Olhei para o Fred novamente e ele pareceu pior.

– Não precisa ir... Eu que vou embora...

O que realmente eu fiz?! Eu poderia ter tentado mais chamar a atenção dele, ou realmente ter mudado novamente meu closet. Eu sinceramente não sabia mais o que fazer para ele me notar e a conversa de Jonny me pareceu tão especial... Tão conveniente... Tão deliciosamente certa. Oh. Eu quis ter o Jonny, porque eu queria me testar. Eu não achava que seria capaz de chamar a atenção de mais nenhum homem, porém Jonny me percebeu! Coisa que o maldito do Benson não fez. Jonny me quis a cada segundo e suas palavras foram sempre tão certas...

Eu saí dos meus pensamentos quando vi o Fred se movimentar até a porta principal. Ele se virou pra mim e me olhou como se eu realmente fosse um vadia! Como se eu estivesse lhe jogando o dinheiro do programa de volta. Oh. Ele está me vendo como uma qualquer e pela primeira vez em todo esse tempo me senti suja por ter traído ele. Observei com cuidado ele bater a porta forte na minha frente e entao eu morri internamente.

Ele realmente estaria me deixando?! Oh. Não.

Meus olhos arderam e meu choro foi intenso por até o amanhecer.

O sol me incomodou e me arrastei até o banheiro mais próximo, ou seja, o banheiro do quarto de hóspedes. Entrei no boxer do banheiro de roupa e tudo. Liguei o chuveiro e deixei a água tentar levar toda a sujeira da minha alma...