- Usagi-chan! – o grito de Hotaru me atingiu, e eu caí no chão.

Toquei de imediato o ponto que doía, e senti lágrimas nos olhos.

Hotaru sentou ao meu lado.

- Usagi-chan! – percebi nervosismo em sua voz.

- Eu estou bem... eu só caí errado... - eu sorri contendo a minha dor. Voltei para ela, e vi seus olhos arregalados.

- Gomen... gomen... – ela disse várias vezes.

- Por que está choran-

- Você consegue se levantar? – ela me interrompeu com sua voz trêmula.

- A-acho... – tentei apoiar o pé no chão, mas a dor atingiu meu cérebro e meus olhos se encheram de lágrimas - que não...

- Ohhhh... tudo por minha culpa... – ela se levantou. - Fique aqui... E-eu já volto... – e ela saiu correndo abrindo as portas e partindo rapidamente pelo corredor. Eu apenas olhei para onde ela havia ido...

Droga, droga... voltei minha atenção para o local dolorido.

Por que diabo Chiba aparecera em minha mente?

Droga!

Lágrimas me vieram novamente. Peguei a faixa que prendia meus cabelos e a puxei, fazendo com que eles caíssem por todos os lados. Peguei a faixa e comecei a enrolar em volta do local machucado, bem forte. Talvez assim eu pudesse ao menos me levantar. Rastejei até onde estava a barra e me ergui com ajuda dela. Apoiei-me apenas com um pé, mas mal pude encostar o outro no chão.

Droga...

- Usagi-chan! – olhei pelo espelho à minha frente e vi o reflexo de Hotaru correndo até mim, seguido do daquela pessoa odiosa alguns passos atrás.

- O que aconteceu? – disse Chiba parando e olhando de forma nervosa para mim. Hotaru tinha lágrimas por todo o seu rosto.

- Por que está chorando, Taru-chan? – perguntei preocupada, ignorando o que ele havia dito.

- Foi minha culpa, gomen, Usagi-chan, gomen. Se não fosse pelo meu pedido... você não estaria assim agora! Mamoru, Usagi se machucou po-por minha culpa, a-acho que ela quebrou o pé... – e vi mais lágrimas nos olhos da menina. Apesar de termos a mesma idade, ela ainda parecia uma menininha...

- Não consegue andar? – havia preocupação na voz de Chiba. Seus olhos fitaram meu pé enfaixado.

- Eu preciso de apoio... só isso... – olhei para o lado, sentindo um pouco de vergonha.

Argh... ótimo... simplesmente ótimo!

Ele era a última pessoa a quem eu pediria ajuda.

Ele se aproximou e me fitou de cima abaixo.

Uah... para que isso?

- O que voc... Ah! – foi tão rápido que, sem eu nem perceber, em menos de um minuto, ele havia me pegado no colo. Com o susto, acabei me agarrando em seu pescoço. – UAH! O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO, CHIBA!? DESÇA-ME AGORA!! E-EU POSSO MUITO BEM ANDAR! – falei irritada olhando para baixo.

Uah... ele é muito alto...

- Baka... – sua voz pareceu fazer cócegas em meu ouvido, e me encontrei com seus olhos... Eles pareciam tão calmos... – Mal consegue ficar de pé. E você acha que vou lhe fornecer apoio até chegarmos ao quarto de Hotaru? - meu pulso acelerou. - Isso ia demorar muito, ou por acaso você ainda não percebeu o tamanho de minha casa? – engoli em seco fitando seus olhos, havia tanto carinho ali e tanta... tristeza. Estando tão perto dele assim, eu acho que poderia até mesmo desvendá-lo.

- É verdade, Usagi-chan... – Hotaru falou com seus olhos brilhando ainda pelas lágrimas. - Deixe Mamoru te levar... será melhor e mais rápido... – a fitei por algum tempo e voltei para Chiba. Parecia que ele esperava por uma resposta minha. E lentamente eu assenti. Pude ver um pequeno sorriso surgir em seus lábios.

############

Nossa...

Ele era tão alto...

Seus braços eram tão fortes...

E seus dedos... tão firmes em mim...

Secretamente levantei meus olhos de volta para o seu rosto... e Deus... como minha respiração estava pesada. Nunca estive tão perto dele como estou agora...

Foi então que eu notei... minhas mãos ainda estavam em seu pescoço.

Senti meu rosto esquentar.

Lentamente fui as retirando dali e apoiei minhas palmas em seu peito.

Por um momento ele pareceu se arrepiar com o meu movimento.

Hmm...

Eu podia sentir as batidas fortes do seu coração.

E o aroma de sua colônia cara estava me deixando completamente fora de si...

E, droga... por que ele me atraía tanto...?

Por que eu não parava de olhá-lo...?

Mordi meus lábios.

Tracei com os olhos a linha de sua mandíbula.

Fitei sua orelha, seus cabelos...

Eu gostava do jeito como seu cabelo caía na frente dos olhos...

Secretamente deixei meus olhos percorrerem seu rosto... até seu pescoço.

E ali.. algo me chamou a atenção.

Aquela corrente, novamente, em volta de seu pescoço, e pude reparar mais nos detalhes do anel que estava ali.

Havia algumas coisas escritas por dentro.

Mas mesmo estando perto dele assim eu não conseguia enxergar.

Forcei meus olhos...

P- P- Pa... Pa? Par... para! Isso, para...

Forcei mais uma vez meus olhos...

"Para" o quê?

- Não se esforce tanto, um dia desses eu te deixo até tocar nele... – a voz rouca dele pareceu sussurrar em meu ouvido, e eu o fitei surpresa. Seus olhos estavam em mim. Não sei em que momento ele começara a me observar, mas teria ele percebido meus olhares? Kami-sama!! – Você está...corando? Que gracinha... – sussurrou de uma forma tão... argh... que minha pele chegou  a arrepiar dessa vez.

Mas, mesmo envergonhada, eu o olhei um pouca braba...

Não sei por que o olhei dessa forma... mas talvez seja por ele me deixar com essas sensações esquisitas.

Seus olhos semicerrados me fitavam de soslaio, com uma estranha intensidade.

- Coloque-a na minha cama, Mamoru... eu vou buscar gelo! – Hotaru virou para o outro lado, eu e Chiba começamos a subir as escadas.

- Indefesa... e ainda em meus braços... – ele murmurou algo assim e meu rosto esquentou novamente.

- Seu idiota... – retruquei me sentindo ainda estranha, e olhei para baixo. – Pare de falar bobagens – ele riu e eu senti seus dedos apertando minha perna.

- Hotaru chegou chorando até mim... soluçando sem parar... pensei que havia acontecido um desastre... – eu o fitei surpresa por um momento e abaixei a cabeça, sentindo-me culpada, mas ele apenas riu novamente. - Dia agitado para você... – voltei para ele, e seu sorriso permanecia no rosto.

Baka...

Ele abriu a porta do quarto e caminhou até a cama, me colocando lá. Meu corpo reclamou quando todo o calor dele desapareceu.

Chiba se ajoelhou ao lado da cama e começou a analisar meu pé.

Ah?

- O que você fez aqui? – tocou a parte dolorida e eu gritei de dor.

- CUIDADO! – bati na mão dele, afastando-a. - Não está vendo que tá doendo!? – ele me olhou por algum tempo e voltou para o meu machucado.

- Não, eu não sinto nada... – tive vontade de bater em sua cabeça. - Eu vou tirar isso daqui...

- O que vai fazer? – falei nervosa o vendo começar a tirar a faixa que eu tinha amarrado no pé.

- Eu disse que vou tirar isso daqui...

- MAS ESTÁ DOENDO!

- Baka... por que enrolou o pé dessa forma? Você pode ter quebrado... e só pelo fato de você ter enfaixado assim pode piorar! Preciso dar uma olhada melhor...

- Você é por acaso médico agora?

- Experiência própria... – foi sua réplica, eu gemi de dor quando ele tirou toda a faixa - É... – murmurou olhando seriamente, isso me deixou nervosa... Por que ele não continua?

- É o quê? – ele continuou em silêncio, analisando, meu coração acelerou. Estava tão feio assim? - Diga logo, seu idiota! – falei por entre os dentes.

- Acho que você vai ter que amputar... – foi sua frase final, seu rosto estava tão sério... Senti como levasse um soco no estômago... Amputar?

- O-o qu - calei ao vê-lo abrir um sorriso divertido. - Seu MISERÁVEL! NÃO DIGA ISSO DE UMA FORMA TÃO SÉRIA! – ele riu por algum tempo e tocou novamente meu pé.

- Aqui... aqui! – Hotaru apareceu correndo com uma pequena bacia cheia de gelo em uma das mãos e, na outra, uma maleta aberta com alguns remédios dentro.

- Por que demorou tanto, Hotaru? – Chiba resmungou pegando a bacia e a maleta.

- Fo-foi difícil encontrar tanto gelo assim... os rapazes tiveram que me ajudar... – ela se ajoelhou ao lado de Chiba, olhando meu machucado. - O-o que houve, Mamoru? Usagi-chan... vai poder voltar a dançar? – Hotaru estava tão preocupada assim comigo? Senti tristeza... Eu não queria que ela se preocupasse dessa forma.

- Está muito feio, duvido que Tsukino-san volte a dançar... – vi a respiração de Hotaru parar e ela paralisar.

- E-ela na-não vai poder mais dançar?

- É mentira, Taru-chan... seu irmão só está falando isso de brincadeira... É claro que vou voltar a dançar... – eu sorri para ela, mas Hotaru ainda me olhava com lágrimas nos olhos.

- Foi minha culpa, Usagi-chan... go-gomen.. – senti um aperto no coração.

- Não, Taru-chan, eu me distrai quando estava dançando! – por culpa de seu irmão idiota, que apareceu, não sei por que, nos meus pensamentos. - Você pode ver o que uma simples distração pode fazer... – sorri novamente. Senti algo gelado em volta do meu pé e gritei, assustando Hotaru e Chiba. – O que está fazendo? – disse por entre os dentes novamente ao fitar o miserável.

- Preciso colocar gelo. Trate de ficar quieta e deixe que eu cuido disso aqui...

- Você deveria ter me avisado, pelo menos! – falei novamente sentindo arrepio em cima de arrepio de frio. Vi o sorriso dele ao perceber o que acontecia com minha pele.

- A sua dança é linda, Usagi-chan... – ouvi Hotaru murmurar ao meu lado e me voltei para ela. - Parecia que você era movida pelo som da música. Realmente linda. Eu queria ser como você! Em cada movimento havia tanta paixão e tristeza, como se demonstrasse o que o pianista sentia. Há quanto tempo eu não via isso... – ela sorriu para mim, e eu pisquei surpresa. – Gomen, Usagi-chan, por você ter se machucado, mas eu queria tanto ver você dançando aquela música... – ela deitou a cabeça no colchão olhando para Chiba, que continuava a cuidar de meu pé machucado. - Você parecia com ela... – sua voz ficou bem baixinha, quase sussurrante, e vi Chiba a olhar, surpreso. - Gomen... – as lágrimas vieram aos meus olhos novamente e eu encostei minha mão na dela.

- Está tudo bem... – sorri. – Você não é culpada, por favor, eu me distraí por um momento. Essas coisas acontecem...

E ficamos em silêncio...

- Vá buscar um suco para Tsukino-san, Hotaru. Provavelmente ela está com sede, e traga um copo para mim também...

- Hum? – olhei para Chiba.

- Ah... sim, sim... Eu já volto, Usagi-chan... – Hotaru se levantou e saiu correndo novamente.

Silêncio...

- Hotaru é... – Chiba começou, enquanto abria a tampa de uma pomada. Colocou o creme em seus dedos e colocou na minha parte dolorida - muito sozinha... – pisquei tristemente ao ouvir suas palavras. - Nós perdemos nossa mãe quando ela tinha somente seis anos, e Hotaru sempre foi apegada demais a ela. E agora você é a primeira amiga que ela arranja depois de todos esses anos. Por isso peço para você não ligar quando ela agir dessa forma – Chiba levantou seu olhar para mim e vi seus olhos azuis tristes. Apesar disso, havia um sorriso em seu rosto.

- Você... sempre esteve ao lado dela durante esses anos... – murmurei pensativa.

- Eu sou o irmão mais velho. Tenho o direito de estar ao lado dela, tenho o direito de protegê-la. E prometi que faria isso. Hotaru é especial para mim, e, bem... Se ela tem alguém que realmente lhe importa, esse alguém será importante... para mim também... – e ele abaixou a cabeça. Minhas bochechas arderam.

Mordi meus lábios...

Chiba...

Ele pareceu diferente e tão maravilhoso para mim agora... Não era mais aquele "sedutor" de algumas horas atrás.

Suas palavras, não sei por que, me deixaram feliz.

E parecia que minha atração por ele aumentara um pouco mais...

Ele ficou em silêncio depois disso... Eu fitei seu cenho franzido enquanto ele enfaixava meu pé.

Retiro minhas palavras... Hotaru realmente merecia um irmão como Chiba...

Ele amava Hotaru...

Meus pensamentos sumiram quando senti sua palma e dedos contra minha pele... Estavam tão quentes...

Ele fazia uma massagem tão...  tão...

Ahn...

Segurei minha voz, me impedindo de gemer.

Olhei para a cabeça dele abaixada, um pouco longe da minha, e fechei meus olhos para sentir o perfume que vinha de seus cabelos...

Seus olhos se voltaram para mim...

Ele levantou um pouco a barra da minha calça até o joelho, e parecia que seus dedos brincavam a cada toque...

Kami... por que eu fui sentir atração por ele?

A cada sorriso que ele me mostrava... a cada olhar... a cada toque... Chiba parecia invocar algo dentro de mim, algo que pedia para senti-lo mais...

- Pronto... – ele falou com um sorriso nos lábios, sem que nossos olhos se separassem. - É uma pequena torção, daqui a alguns dias melhora...

- Okay...  – assenti lentamente. Ele abriu um pouco os lábios e respirou fundo, liberando a respiração quente em minha perna.

E ficamos assim... nos fitando...

Até ele lentamente se abaixar e deslizar seus lábios em minha perna...

Beijando-a.

Droga... de Chiba ...

Droga!!

O calor de seus lábios em minha pele pareceu me queimar. Ele era tão quente... E nossos olhos permaneceram conectados.

Tive vontade de gemer com esse contato... mas não lhe daria esse gostinho...

Hmm...

Gostinho...

Eu imagino como seria sentir seus lábios nos meus...

Sua boca se afastou lenta e quente de mim...

Minha razão pareceu sumir.

Coloquei minhas mãos no seu colarinho e o puxei, trazendo todo o seu maldito calor para mim. Seus olhos, por um minuto, se abriram com excitação, e ele veio para mim. De lábios abertos como se estivessem preparados para me tocar...

Suas mãos, por instinto, apoiaram-se ao lado de minhas pernas...

E beijei lentamente sua bochecha.

Liberando dessa vez minha respiração agoniada... para que ele sentisse o que ele estava fazendo comigo...

Abri meus lábios e toquei com minha língua a sua pele...

Ahaha Baka-Usagi

Quando me afastei, eu o olhei... Seus olhos estavam fechados como se ele gostasse de sentir a sensação.

Mas, pouco a pouco... as íris azuis surgiram por de trás de suas pálpebras, e ele me fitou intensamente... E, pela primeira vez, eu adorei esse olhar...

Ele parecia perdido... confuso... como se aquilo fosse novo para ele...

- Isso foi um agradecimento... – eu sussurrei ainda o olhando, meus lábios doeram como se quisesse repetir o movimento.

- A-agradecimento? - quis rir pelo jeito confuso em que ele se encontrava.

- Você foi gentil hoje... – eu sorri... Não acredito que estou sorrindo pela primeira vez para ele... para Chiba...

- Se foi por ter cuidado de seu pé... eu posso repetir de novo... – dessa vez não pude me conter e ri. Ele sorriu. - Ou podemos pular essa parte... e você pode tentar de novo... mas um pouco para o lado... – seus olhos mudaram, e eu o olhei com chateação. Afastei minhas mãos do seu colarinho e fui para trás, me afastando. - Não... não se afasta de mim... – ele sussurrou. E eu o ignorei.

- Não haverá próxima vez... – disse séria.

- Vamos, Usagi... me beija de novo... – sua voz saiu rouca.

- Aqui... o suco! – Hotaru apareceu à porta segurando uma bandeja, e eu sorri para ela. Vi Chiba se levantar e se encostar à parede ao lado da cama, me olhando daquela forma misteriosa. - Mamoru, onde estão todos os empregados? Na cozinha não havia ninguém, só os seus amigos! – ela me entregou um copo e o encostei na boca para tomar o líquido.

- Resolvi dar um dia de folga para todos... Estava a fim de ficar sozinho hoje em casa... – quase cuspi o líquido e meus olhos se voltaram para ele.

Minha respiração falhou.

Seus olhos fitavam o carpete, e, em seus lábios, havia um pequeno sorriso.

Hentai...

continua