My Dear Devil escrita por ana_christie


Capítulo 7
Capítulo 7




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- Está tudo bem mesmo, Usagi-chan? – Hotaru falou novamente vendo o band-aid em minha testa, seus olhos cheios de preocupação.

- Sim... Setsuna-san que exagerou no tamanho do curativo, apenas... – o toquei novamente.

- Se estiver doendo, me avisa... aí eu peço para Mamoru dar uma olhada... – meu pulso acelerou - pois é Mamoru que sempre cuida de mim!

- N-não, e-eu estou bem assim, Taru-chan... - ter aquele infeliz me tocando mais uma vez seria a última coisa que eu queria! - Arigatou... – ela sorriu.

- O seu quarto é enorme, Taru-chan! - falei olhando tudo em volta pela décima vez. Estávamos sentadas na cama dela, e havia muitas, muitas bonecas.

- Arigatou, Mamoru disse que eu podia ficar nesse quarto – ela sorriu. – Era dele antes... – ela olhou para baixo por um momento - do ocorrido - seus olhos se voltaram para mim com um belo sorriso. - Mas aí ele resolveu pegar o quarto de nossos pais, e eu fiquei com o dele. Foi ele também que comprou todas essas bonecas para mim também...

- Elas são lindas... – toquei o cabelo de uma.

- É... – a voz de Hotaru parecia triste - mas não gosto muito delas... – me voltei surpresa para ela. - Mamoru ainda acha que eu sou criança, por isso ele ainda as compra para mim – pegou uma boneca, fitando-a de modo sério, e a colocou em outro lado sem interessante.

- É por que você é a irmã dele, e ainda é a mais nova...

- Mas eu não sou tão nova assim... – ela olhou para fora pela janela. - Eu já tenho dezesseis anos, Usagi.

Senti uma forte pancada no interior de minha cabeça...

Dezesseis anos? Ela tem a mesma idade que eu? AH! E eu achando que ela tinha somente doze ou treze anos!

- Hehe... Você também achou que eu era nova, não é? – ela sorriu de lado, me olhando.

- Go-gomen... mas você realmente parece ter menos... – passei uma mão na minha cabeça. Ela riu.

- Está tudo bem, todos se confundem mesmo... – sorri. Os olhos dela voltaram para a janela. - Você não sabe o quanto estou feliz por ter você aqui, Usagi-chan... – ela abaixou a cabeça. - Nunca tive a oportunidade de convidar amigas para vir aqui... e, bem.. nunca tive amigas... você é minha primeira amiga... – vi as bochechas dela ficarem vermelhas. - Vo-você me considera sua amiga?

- Mas é claro!!! E espero ser sua amiga por um longo tempo! – Hotaru sorriu, novamente me olhando.

- Arigatou... – nós ouvimos barulho de chuva e voltamos para a janela - Já que está aqui, Usagi-chan... você quer treinar um pouco de balé comigo? – pisquei algumas vezes e sorri, assentindo. Hotaru se levantou rapidamente da cama. - Eu vou pegar sapatilhas e algumas roupas confortáveis para nós... – correu para um enorme armário e o abriu.

Minha boca só faltou cair... havia roupas e mais roupas ali... uma mais linda que a outra. Os sapatos estavam todos alinhados e organizados na parte de baixo. Ela pegou um controle e clicou... logo as roupas e os sapatos começaram a caminhar para o outro lado.

- Uaauu... – eu falei, levantando-me e ficando ao lado dela, observando. - Sugoi... – Hotaru riu. E eu senti vergonha. Kami, como ela era rica...

- Aqui... – ela jogou o controle para o outro lado e pegou algumas calças e blusas folgadas, e logo duas sapatilhas pretas. - Acho que esse serve em você... – colocou a blusa na minha frente, analisando-a e então ao meu corpo, e depois fez o mesmo com a calça.

- Arigatou... – falei novamente, segurando firme a roupa.

- Venha... – ela pegou minha mão novamente e me levou onde havia vários e vários espelhos. Tudo isso no quarto dela! Senti-me tão pobre...

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Ela começou a tirar a roupa e fiz o mesmo.

Logo estávamos prontas. Não falei nada, mas Hotaru era tão magrinha! Foi difícil de entrar na calça. Eu me olhei no espelho e pude ver alguns pneuzinhos.

EU HAVIA ENGORDADO!

- Vamos, Usagi-chan... – Taru-chan novamente pegou minha mão e saímos do quarto. Passamos pelo longo corredor e começamos a descer as escadas. - Eu vou te mostrar o lugar onde minha mãe treinava balé todos os dias... e é onde eu treino agora. Já falei para você que minha mãe fez balé? – seus olhos voltaram para mim. Eu neguei com a cabeça. Ela pareceu feliz.  - Minha mãe era incrível! – seus olhos voltaram para frente com um sorriso. - Ela treinava todos os dias... e quando eu fiz seis anos, ela começou a me ensinar. Não vou negar... eu odiava! Odiava a forma como tudo tinha que estar perfeito, tanta as roupas, as sapatilhas e as posições – ela tinha o cenho franzido, e senti uma leve pressão de sua mão na minha. – Mas... agora... tudo é diferente...  – ela se calou, e pude sentir sua tristeza. Mordi meus lábios.

- Gostaria de tê-la conhecido... – foram minhas únicas palavras. Hotaru piscou e sorriu mais ainda... e fiquei contente por fazê-la sorrir.

- Aposto que ela também adoraria... – voltou-se para frente, continuando a me puxar. Nós ouvimos uma conversa como se fosse entre várias pessoas, e Hotaru parou.

- Ah! Eles já estão aqui! Que rápido! – Hotaru disse com alegria. Ela virou num outro corredor sem me soltar, e continuamos a andar agora em direção às vozes.

Olhei ao meu redor enquanto andávamos e percebi vários quadros. Alguns tinham imagens de lindas flores, outros, de paisagens maravilhosas... mas então meus olhos se fixaram em um quadro em especial. Nesse, havia a pintura de duas pessoas. Uma belíssima mulher e um homem de semblante forte e poderoso.

Segurei a respiração enquanto Hotaru me puxava.

Os olhos da mulher eram azuis. Tão azuis que pareciam vivos.

Parecia que ela olhava diretamente para mim...

O homem, no entanto, tinha os olhos púrpura, como os de Hotaru, porém não tinham a mesma vivacidade. Tentei observar melhor as feições de ambos, mas acabei não conseguindo, pois Hotaru já me puxara para outro corredor.

Paramos em frente a uma porta grossa. A luz estava acesa dentro da sala... e as vozes vinham de lá. Hotaru abriu a porta, e entramos ali.

Ela largou minha mão e acenou para os que estavam lá dentro com um enorme sorriso.

- Olá para todos! – disse animada.

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Havia cinco rapazes naquela nova sala.

O primeiro que me chamou atenção, o rapaz em pé e de costas, tinha cabelos bem longos e tão loiros que pareciam prateados. Seus olhos azuis claros se viraram no exato momento em que Hotaru cumprimentava a todos. Outro loiro, esse de cabelos curtos, estava sentado num sofá encostado na parede. Pude ver que seus olhos eram azul-escuros e também fitavam a nós duas. Os outros dois rapazes estavam sentados no sofá em frente ao do loiro. O primeiro tinha longos cabelos castanhos, seus olhos verdes pareceram surpresos por um momento. Ao seu lado estava o que tinha cabelos entre louco e prata, num tom bem claro, presos num rabo de cavalo. Seus olhos também eram verdes.

O maldito do Chiba estava sentado num sofá transversal aos outros dois, o que fazia com que ficasse em frente à porta, ou seja, a nós duas. Seus braços estavam abertos, apoiados no encosto do sofá, e ele apoiava os pés na mesinha de centro. Seus olhos estavam em Hotaru.

Todos estavam muito bem vestidos...

Bando de playboys...

- Ei, Hotaru-chan... – disse o de cabelos loiros e curtos.

- Oi, Josh! – ela acenou com um sorriso. - Mike, Zack, Nathan! – os rapazes sorriram. E todos voltaram para mim ainda sorrindo.

Levei um susto... Olhei os quatros e rapidamente olhei para Chiba, que me fitava com aquele olhar que odeio.

- Ah! Essa é Usagi-chan... – disse Hotaru com um sorriso e segurando minha mão. - Minha amiga! – ela se voltou para mim com um enorme sorriso, e eu sorri carinhosamente para ela. Porém, ao voltar para frente, fechei meu sorriso na hora, apenas os cumprimentei com um aceno de cabeça. Não quis parecer antipática... mas não iria ficar sorrindo para aquele bando de babacas.

Pude sentir o olhar dos cinco em mim.

Como se me comessem viva.

- Por que trocaram de roupa? – a voz do maldito idiota soou.

- Nós vamos dançar! – Hotaru disse entusiasmada. Eu olhei para o baka com raiva... só de ouvir a voz dele me fazia ter vontade de estripá-lo vivo!

- Anda treinando muito ainda, baixinha? – disse aquele de cabelos platinados, do qual nem lembro mais o nome.

- Sim... – ela sorriu, mas logo fechou o semblante. – Não me chame de baixinha. O rapaz apenas sorriu de forma... carinhosa, eu diria.

- Você é de nosso colégio, certo, Usagi... – o de cabelos castanhos falou primeiro. Pude perceber que não parara de me olhar desde que Hotaru me apresentou. Meu coração acelerou. Eu demorei um tempo para responder.

- Hai. – falei bem baixinho.

- É Tsukino Usagi, Nathan. Chame-a de Tsukino... – o desprezível teve que falar novamente, porém eu pude sentir certa ironia em seu tom. Ele colocou o queixo sobre a mão cerrada, apoiando a cabeça. Pude perceber que seus amigos miseráveis seguraram o riso. Eu apertei minha mão, louca para dar um soco no rosto deles.

- Vocês vão dançar onde? – o loiro de cabelos presos falou.

- No salão perto da escada... – Hotaru ergueu um dedo confirmando.

- Hum... nós podemos ir para lá também, Hotaru-chan? – o loiro de cabelos curtos se levantou do sofá e caminhou em nossa direção.

- Não... Josh... isso é a última coisa que eu quero! Vocês tratem de ficar por aqui!! Não quero nenhum de vocês nos bisbilhotando! – ela disse séria.

- Ah, Hotaru... você é má! – continuou Josh parando em minha frente. Ele sorria para Hotaru, mas quando virou para me olhar, seu sorriso aumentou um pouco mais. Como se quisesse mostrar a perfeição de seu sorriso.

Deus...

Agora entendo o porquê de todas as garotas falarem tanto deles... e-eles tinham um jeito encantador... Algo que conquistava você no primeiro encontro. Sem dizer que a beleza deles era incrível!

Josh tinha dois brincos pequenos em cada orelha, seus olhos eram tão profundos, diferentes do de Chiba. Seus cabelos estavam todos espalhados, mas ele continuava bonito daquela forma. Suas roupas... eu diria que pareciam extremamente caras...

Aqueles playboys não usavam qualquer tipo de roupa...

- Estou de olho em você, hein, Josh! – Hotaru falou se afastando, indo em direção a uma mesinha de centro para pegar algo, e eu me voltei para o rapaz à minha frente.

- Hum... Engraçado eu nunca ter visto você pelo colégio... – Josh disse de um jeito suave e sedutor, e eu só faltei vomitar. Ele se aproximou mais um pouco e ficamos nos encarando. - Se eu tiver essa oportunidade um dia... eu não vou deixar escapar – e ele piscou.

Aposto que qualquer garota cairia aos seus pés agora. Mas eu me mantive firme, com o coração a mil e as pernas tremendo, mas firme.

- Sabe por que nunca nos encontramos? – falei sussurrando, com um sorriso falso em meus lábios. Josh sorriu de lado (como se fosse Ah, ela tá no papo) e se aproximou mais como um maldito playboy para me ouvir - Por que eu evito pessoas como você! – ele piscou surpreso com a minha resposta e eu dei dois passos atrás, me afastando. Fechei completamente meu semblante. Josh me olhava perdido.

Hotaru voltou ao meu lado segurando duas garrafas de água.

- Eu vou roubar isso aqui de vocês... – disse sorrindo.

- Está tudo bem, Hotaru-chan... – o de cabelos castanhos disse com seus olhos atentos em mim e Josh. Como se quisesse saber o que estávamos falando.

- Vamos, Usagi-chan... – Hotaru pegou minha mão e me puxou para fora daquela sala.

Não voltei a olhar para trás, mas senti ainda os olhares em mim...

######

Hotaru abriu as portas, revelando um imenso salão.

Engoli em seco...

O piso era liso e estava brilhando de tão bem encerado, havia uma longa barra para se segurar e um enorme espelho que cobria a parede inteira, de ponta a ponta.

Mais ao lado havia um piano de calda negro, também brilhando. Hotaru foi correndo em direção à uma mesa que estava no lado direito e colocou as garrafas ali, correu para as cortinas e começou a puxá-las, revelando as gigantescas janelas.

Lá fora ainda chovia, e agora estava forte.

- O que achou? – Hotaru voltou para mim com ansiedade.

- É... é... lindo... – eu disse, finalmente encontrando minha voz.

- Esse é o meu lugar preferido... pois ele está cheio de recordações... – Hotaru tinha um sorriso triste. E eu não tive palavras para confortá-la. - Mas bem... vamos lá! – sua animação voltou e ela correu para o outro lado, entrou numa pequena sala. Caminhei em direção à barra, olhando meu reflexo no espelho.

Kami-sama...

Eu estou tão gorda!!

- Aqui está! – Hotaru voltou novamente com um aparelho de som, colocou em cima de uma mesa e, em seguida, clicou no botão. Logo uma suave música começou a tocar. Eu respirei fundo, já sentindo a música entrar em minhas veias, e soltei a respiração. Quando voltei a abrir meus olhos, Hotaru me olhava com um sorriso.

- O que houve? – pisquei algumas vezes, a fitando.

- Eu gosto de ver a sua reação quando começa a tocar música, é como se você pudesse absorvê-la... – ela sorriu, e eu me senti envergonhada. Ela se encostou à barra, olhando para o seu reflexo, e se ergueu, ficando na ponta dos pés. Fiz o mesmo e ergui meus braços.

########

Já estávamos há horas ali, meu corpo inteiro estava suado. E Hotaru estava no chão, também cansada. Ela sentou cruzando as pernas e me olhou.

- Lembra o novo movimento que a professora nos mostrou? – eu a olhei e assenti. - Eu achei tão difícil! Aquilo foi novo para mim... – começou a bater na perna. - Eu preciso esticar mais a minha perna e ficar bem reta cada vez que pular, mas eu não consigo! – levantou-se e começou a se movimentar e em seguida fez o movimento que falava, e eu percebi o seu erro. - Você viu? – disse, parando e batendo na perna. - Essa coisa não consegue ficar reta! – nós duas rimos e eu me aproximei dela.

- O que você está pensando? – ela me olhou sem entender. - Só me diga o que está pensando...

- Em como esticar minha perna! – riu.

- Eu estava te observando enquanto você dançava, Taru-chan. Você realmente tem uma boa elasticidade, seus passos são perfeitos quando você acompanha a música, mas... cada vez que você dança, sua mente parece estar trabalhando o tempo todo. Como se você estivesse preocupada com seus movimentos – os olhos dela se abriram surpresos. - Você precisa deixar a mente livre. Esquecer se o que você está fazendo é certo ou não. Você precisa se soltar! – sorri dessa vez. - Ouça a música... – fiquei em silêncio, deixando-a “sentir” a música. - Tenha só ela em sua mente, deixe-a entrar em seu corpo, deixe-a fazer você sentir... – fechei meus olhos. – Faça a música e você serem uma só. Quando eu danço... parece que tudo some e eu me transformo... não sei como explicar...

- Mostre-me, Usagi... – na voz dela havia seriedade. – Me mostre esses passos, Usagi-chan... – seus olhos estavam esperando por minha resposta, e eu assenti. Hotaru se afastou e se sentou no chão. Voltei a fechar meus olhos, sentindo a música em meu corpo...

Fiquei nas pontas dos pés e comecei a dançar...

...o som era suave... tão suave... como se não existisse nada ao meu redor... a música parecia tão triste... e eu podia sentir a tristeza da pessoa que tocava...

...o som das teclas do piano era maravilhoso...

Eu gostaria de saber quem tocava...

Eu fiz um passe complicado com um salto e voltei ao chão...

Eu estava voando novamente...

Eu era eletricidade...

Eu era fogo...

Pude sentir no meu coração uma angústia tão profunda... estava vindo da música...

Quem tocava? Por que essa pessoa estava tão triste? A música era linda... mas na forma que a pessoa tocava...

Novamente fiz o mesmo passo...

Meus movimentos se tornaram tão leves, minha respiração estava calma... e eu estava triste, jamais havia dançado uma música dessa... os sentimentos eram intensos...

Como se... como se a pessoa tivesse perdido alguém muito especial...

Lágrimas vieram aos meus olhos...

Não sei o porquê, mas a imagem daquela mulher no quadro apareceu em minha mente... o olhar dela era tão vivo...

No final da dança, eu tinha que fazer aquele movimento que Hotaru havia me falado. Precisava pular, fazer um rodopio e parar com uma perna ao ar esticada.

Em minha mente apareceu o rosto de Hotaru e suas tristes palavras... Havia tanta dor em seus olhos... e isso me fez lembrar daqueles..

Olhos azuis...

Os momentos daquele tarde voltaram à minha memória...

E do quanto eu me senti tão...

Quente...

Meus olhos se abriram no momento em que eu estava quase tocando o chão, acabando de cair completamente errado. Meu pé virou e o peso do meu corpo foi todo para cima dele...

A dor veio à tona.

Continua


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