Abri a porta e me encontrei com ele...

Logo ali...

Sua roupa estava inteiramente encharcada, e só agora eu me lembrei que...

estava chovendo...

Por Deus...

Esquecera completamente do tempo enquanto falava com Mamoru...

- Mando-chan? - sussurrei ao ver sua figura ensopada.

- Oi, Usa... - ele falou com um sorriso.

- Entre, entre... - peguei o seu braço, puxando-o para dentro. - O que está fazendo aqui? Achei que já estivesse em casa! - ele tirou os sapatos na porta. - Vou pegar uma toalha para você se secar - corri até a área de serviço, peguei uma toalha que estava pendurada e voltei correndo até ele. - Tome!

- Arigatou... - começou a se enxugar. - Sua mãe ligou para a minha, algum tempo atrás... e pediu para eu ficar aqui com você... - ele murmurou, e engoli seco.

Nani?

Ele colocou a toalha em volta do pescoço, e continuei parada, olhando para ele. Seus olhos se fixaram em mim por algum tempo, como se esperassem por minha resposta.

- A-ah... sei, sei...

Mama havia chamado Mando-chan para ficar comigo?

Mas por que ela não havia me falado?

- Se for incômodo para você... eu posso-

- Iie, Mando-chan! - falei rápido. - Que ótimo que está aqui... - sorri para ele, e Mando sorriu de lado. - Eu vou pegar umas roupas para você... - falei já indo em direção à escada.

Fui em direção ao quarto de Mama e abri o guarda-roupa. Fiquei na ponta dos pés para alcançar a caixa de papelão que ficava lá em cima e a puxei para mim.

Eram as roupas de papai...

Ao abrir a caixa, o cheiro de mofo se espalhou pelo lugar.

“Cof... cof...”

Já estava na hora de voltar a lavar as roupas de papai.

Mama e eu preferimos guardá-las... mas, como Mama e eu não tínhamos muito tempo para lavá-las... elas acabaram desse jeito.

E, se amanhã não estiver chovendo, vou lavá-las...

Papa...

Eu sinto tanto a sua falta...

Peguei a camisa que era preferida dele e sorri, lembrando quando ele a vestiu pela primeira vez. A cor dela era azul... que nem a cor dos olhos dele...

Balancei a cabeça, tentando segurar as lágrimas, e voltei a colocar a camisa novamente dentro da caixa.

Eu não tinha uma roupa para Mando-chan usar...

Coloquei novamente a caixa em cima da prateleira e fui em direção ao meu quarto.

Talvez pudesse ter alguma roupa ali que servisse para Mando-chan.

Revirei o guarda-roupa e finalmente achei uma blusona que provavelmente poderia vir a servir em Mando, e por sorte encontrei também um pijama bem largo.

Voltei correndo para onde Mando estava e lhe entreguei as roupas.

- Aqui, Mando-chan, espero que sirva...

- Arigatou... – ele sorriu enquanto as pegava.

- Tome um banho quente também... se não, você pode acabar pegando um resfriado! Você sabe onde fica o banheiro, não é? - ele assentiu sorrindo e tocou em minha cabeça.

- Arigatou, Usa... - sorri ao vê-lo se afastar e me sentei no sofá para esperá-lo.

########

Peguei alguns lençóis, um cobertor e dois travesseiros, colocando tudo em cima do sofá.

Tirei as almofadas, ergui o lençol e coloquei por cima do sofá.

- Er... Usa... - ouvi a voz de Mando e me voltei para ele.

E tive que me segurar para não rir, a blusa que eu pensei que fosse servir nele estava muito apertada, e havia até uns desenhos com alguns coelhinhos mostrando "positivo" e piscando, que realmente eu nem havia notado na hora.

- Você fez isso de propósito, não? - Mando parecia até um pouco corado.

- Iie... - soltei uma gargalhada, não aguentando. - Realmente não tinha percebido, Mando... gomen! - coloquei a mão na boca, tentando abafar minhas risadas.

- Hum... - ele passou a mão atrás da cabeça, ainda vermelho, e eu achei fofinho o jeito dele.

Voltei a arrumar o sofá e vi, pelo canto dos olhos, Mando-chan se sentar na poltrona ao lado. Coloquei o travesseiro e dobrei o cobertor, deixando ao lado.

E, de repente, havia um silêncio esquisito entre nós.

Não sei o porquê de me sentir assim perto dele... mas era estranho, sabe?

Meu coração não fazia doki-doki como antes...

E, a cada vez que eu pensava no que poderia falar para Mando-chan... me lembrava de Mamoru me beijando...

- Se fôssemos crianças... eu teria ido ao seu quarto, certo? - levei um susto com a sua voz, e me voltei para ele.

- Huh?

- Não vai dizer que não se lembra... - seus olhos fitavam os meus seriamente. - Quando você era pequena... você chorava para dormirmos juntos...

Corei ao me lembrar.

- Hum! - assenti olhando para o outro lado.

- Não vai chorar para dormirmos juntos? - percebi que ele brincava pelo tom de sua voz, e o fitei de soslaio.

- Como você falou... eu era pequena...-  fiz um bico.

- Desde o dia em que seu pai faleceu, você ficou um grude comigo... - ele sorriu de lado, e eu segurei meu sorriso.

- Eu era pequena, Mando-chan! - falei para ele brincando, embora eu estivesse mesmo nervosa, e coloquei minhas mãos na cintura.

- Mando isso... Mando aquilo... Mando, fica comigo... - ele ainda insistiu imitando minha voz, e não aguentei, começando a rir.

- Pare, Mando-chan! - empurrei seu ombro e comecei a afastar minha mão, mas senti seus dedos me segurarem.

Levei um susto com a sua ação.

Pisquei algumas vezes, com dificuldade na respiração.

Seus olhos me fitavam sérios.

Olhei para o lado tentando puxar minha mão, mas ele a segurou, e me voltei para ele.

- Mando-chan?

- Diga que quer dormir comigo, Usa...

Engoli em seco...

Meu coração batia numa velocidade assustadora, era como se fosse sair logo, logo. Nossos olhos estavam fixos um no outro, e minhas pernas começaram a tremer.

Kami-sama...

O que Mando está dizendo!?

- Po-por que está dizendo isso? - murmurei tremendo um pouco.

Mando me olhou por algum tempo e abaixou a cabeça, sua mão aos poucos se afastou da minha, e ele se levantou com um suspiro.

- Gomen... não... não estava pensando...  - ele ajeitou as cobertas.

E eu continuei o fitando, sentindo dificuldade de respirar.

Kami-sama...

O que fora isso?

Ele não estava pensando?

Como assim?

E...

E por que fiquei assustada...

... quando ele me segurou?

Era Mando-chan!

MEU MANDO-CHAN!

Como eu poderia ficar assustada com seu movimento?

Eu não entendo...

Mas havia algo dentro do meu coração que dizia... que o que eu sentia por Mando...

... não era certo...

Não era certo o quê?

Por que estou tendo esse sentimento?

Droga...

Onde estavam meus sentimentos por Mando-chan? Eu não gostava dele? Por que eu não parava de pensar em Mamoru?

Droga, droga, droga!

Eu não quero sentir nada por Mamoru...

Não quero sentir nada!

Eu só quero sentir isso por Mando-chan...

Só por Mando-chan...

Ergui minha mão e segurei sua camisa, olhando para baixo. Vi que ele sentiu meu toque e parou.

- Mando-chan... - murmurei. Apertei firme sua camisa e levantei minha cabeça, passando meus olhos por suas costas, e parei em seus cabelos.

- Fique comigo, Mando-chan... – sussurrei. - Só esta noite... - ele se virou e encontrei seus olhos cinza - como antigamente...? – examinei todo seu belo rosto.

Mando-chan não disse nada.

Continuou parado olhando para mim seriamente.

Abaixei minha cabeça e larguei sua blusa, pegando seu pulso. Aproveitei e peguei meu coelhinho que estava no sofá.

Dei-lhe as costas e comecei a puxá-lo.

Mando me seguiu em silêncio, e subimos as escadas.

Entramos no meu quarto, e soltei seu pulso. Sentei na minha cama, me voltando para ele com um sorriso.

- Só hoje - murmurei esperando por alguma resposta.

Mando continuou me fitando com seriedade, abaixou a cabeça e sorriu.

- Como antigamente... - ele murmurou se aproximando.

Sorri quando ele se sentou e deitou ao meu lado.

Eu me ajeitei e vi Mando encolher as pernas por causa do tamanho da cama.

- Muito pequena para você? - falei sorrindo.

- Bem pequena... – ele sorriu de lado e se aproximou mais de mim. Deitou em cima de seu braço e ficou ali me olhando. - Estava com medo? - ele murmurou.

Sinceramente não estava, por alguma razão...

Mas apenas queria que Mando ficasse ao meu lado, enquanto eu dormia. Eu me sentia segura com ele ali... mas... não sei até que ponto eu me sentia assim.

- Hai... - murmurei escondendo a verdade.

Ele sorriu bonito novamente.

- Você é tão medrosa...

Fechei minha cara, olhando para ele.

- Não tenho culpa se os trovões me deixam dessa forma... - murmurei.

- Mas não há nenhum barulho nesse instante...

Era verdade... os barulhos já tinham acabado.

- Deve ser porque você chegou... e afastou todos eles... - sorri fazendo Mando também sorrir também. - Você é o meu salvador, Mando-chan... - corei ao dizer isso, e mostrei a língua para ele.

- Usa-baka... - ele suspirou, ajeitando-se um pouco mais naquele pequeno espaço.

E ficamos assim...

Um ao lado do outro, ouvindo apenas o som da chuva lá fora.

Observei seu rosto...

E percebi que meu coração não reagia enquanto eu o olhava.

Ele ergueu a mão e começou a acariciar minha cabeça, bem devagar, retirando uns fios que estava em meu rosto.

- Seu cabelo fica mais comprido a cada dia... – ele disse baixinho.

E não falei nada, apenas o observando.

Droga...

Por que meu corpo não está reagindo enquanto ele me toca?

Por que minha pele não se arrepia?

Será que eu estou com algum problema na minha cabeça?

Pois parece!

Porque eu não consigo distinguir mais o que EU SINTO POR MANDO-CHAN!

UAAAAHHHHH!

- Tente dormir... – ele sussurrou. - Vou ficar aqui até você adormecer... - sua voz estava tão calma...

Continuei observando seu rosto e, aos poucos, fechei meus olhos.

Por Kami-sama...

O que há comigo?

continua