Enchanted. escrita por Jones


Capítulo 2
Vanished when I saw your face.




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All I can say is it was enchanting to meet you…

O que ele gostava a respeito de bailes de máscaras era a oportunidade de ser quem quisesse, caso a pessoa já não o conhecesse. Podia ter uma história mais decente que a de Draco Malfoy: rapaz loiro de vinte e um anos, prometido em casamento para a melhor amiga porre da ex-namorada mais chata ainda. Prometido em casamento para trazer a família de volta aos holofotes bruxos e a uma melhor posição econômica e, principalmente, para manter o sangue da família limpo.

Aquela história que antes era tão importante para ele, quando era impressionável e a maior preocupação era irritar pessoas de aquisições econômicas não tão privilegiadas quanto as dele, agora o enojava.

Não que quisesse se casar com alguém de sangue ruim. Não gostaria nem de se casar, para início de conversa. Porém para Draco, os dois podiam coexistir muito bem: ele de um lado e os mestiços e nascidos trouxas de outro. Os que quisessem se misturar tudo bem. Mas acima de tudo, eles não precisavam morrer. Ninguém precisava ser amaldiçoado e perder a vida, ninguém precisava sofrer a perda de um ente querido pelo capricho de alguns, pela ânsia de poder de outros.

Eu não precisava me casar pelo capricho dos meus pais. Eu não estou nem aí para essa alta sociedade que ele faz questão que eu participe: sociedade que condenava ‘o escolhido’ e que agora o enaltece como se nunca o tivessem perseguido!”. Draco repetia constantemente em sua mente enquanto via aqueles lábios venenosos se encherem de Whisky de fogo ou de vinho tinto das montanhas.

Mas estava com sua máscara e podia ser quem quisesse.

Conversou com os amigos do pai, falou sobre negócios, forçou risadas para piadas sem graça e até se arriscou em algumas. Fingiu sorrisos para as pessoas que a mãe o apresentava.

Sentia-se claustrofóbico naquelas paredes que exalavam insinceridade, fofocas e mesquinharia. Sentia-se tão mal que se permitiu recolher-se em seu universo particular enquanto saboreava algum daqueles vinhos de nome esnobe. Deixou seus olhos vaguearem por um instante, permitiu-se parar de prestar a atenção naquele lugar desprezível e concentrar-se em seus pensamentos desconexos. Solitário como sempre fora.

Pensou em como odiava pelo menos metade das pessoas que estavam ali, reconhecia a fúria de seus olhos dos tempos em que estiveram do mesmo lado da batalha. Pensou naqueles que sobreviveram como ele, com aquela marca permanente no braço, imaginou se eles tinham os mesmos remorsos e anseios que ele. Provavelmente não. Eram assassinos.

Estava a ponto de esmurrar a mesa quando a vira.

Todos os maus sentimentos pareceram se esvair quando ele viu o rosto dela – ou parte dele, já que ela usava uma máscara simples e dourada que cobria apenas a região em volta dos olhos.

Tudo o que ele podia dizer era que fora encantador encontrá-la.
Mesmo sem saber o que isso significava ao certo.

Não estava acostumado a olhar uma pessoa diretamente nos olhos por muito tempo, mas não gostaria de desviar os olhos dos delas. Tinha certeza que ela tentava reconhecê-lo por trás da máscara negra que cobria boa parte de seu rosto, pois seus olhos sussurravam “já nos conhecemos?” e apesar do brilho familiar nos olhos dela, ele não a reconhecera.

Resolveu atravessar o salão para conhecê-la.

E ela era ainda mais encantadora de perto, com os olhos amendoados esverdeados quentes e convidativos e os lábios perfeitamente desenhados em seu rosto destacados por um batom vermelho, os cabelos ondulados caíam negros sobre os ombros nus. Não costumava reparar nas roupas das pessoas, mas parecia ser uma tarefa impossível quando o vestido vermelho justo dela destacava curvas que pareciam ser nada além de perfeitas.

– Alguém já te disse que não é de bom tom ficar encarando as pessoas? – Ela perguntou, com um sorriso discreto nos lábios, mas que não parecia querer abandonar seu rosto.

– Certamente a senhorita já está acostumada. – Draco se surpreendeu com o tom jocoso de sua própria voz e o sorriso plantado nos lábios.

– E certamente seus flertes poderiam ser melhores. – A moça riu enquanto pegava uma taça de vinho da bandeja de um garçom, Draco a acompanhou na que parecia ser sua primeira risada genuína em tempos.

– Algo me diz que você odeia tanto estar aqui quanto eu. – Draco disse também pegando uma taça de vinho.

– Não odeio estar aqui. – Ela sorriu encolhendo os ombros. – Eu odiava antes de aprender a tirar proveito da situação.

– Como assim? – Draco gostava do tom divertido com que ela conduzia a conversa.

– Veja bem, daqui a uns vinte minutos, todos estarão embriagados o suficiente e a diversão começará. – Ela disse o puxando o mezanino, uma parte do salão de onde podiam ver todo o resto. – Por exemplo, veja aquela senhora ali colocando os doces de abóbora na bolsa ou aquela ali que comeu tanto que os botões de trás do vestido arrebentaram e ela nem se deu conta.

Draco nunca prestara a atenção nessas coisas, e as cenas não eram tão divertidas por si só, era divertido assisti-la imitando as pessoas com vozes esdrúxulas e rindo até os olhos lacrimejarem. Ela conseguia ficar ainda mais encantadora e convidativa quando agia como se não houvesse preocupações em sua vida. E talvez não houvesse.

Percebeu que não sabia nada sobre ela, além do fato de ela ser a criatura mais linda que já tinha visto e a pessoa mais divertida com quem já tivera contato. Diversão era novidade em sua vida, mas a descrição de diversão era compatível com aquele momento.

– Hey, acho que não nos apresentamos ainda. – Draco disse de repente.

– Ah, eu acho melhor assim. – Ela respondeu com uma careta e ele lembrou-se que também achava melhor assim, lembrou-se de que preferia ser qualquer um a Draco Malfoy.

– Eu também, não sei se você gostaria de mim se me visse sem a máscara. – Draco sorriu pesaroso.

– E quem disse que eu gosto de você? – A jovem respondeu e depois lançou uma piscadela. – De qualquer maneira, rapaz misterioso, a vida fica mais interessante assim.

Draco sorriu e estendeu sua mão, convidando-a para dançar.

– Não reclame se eu pisar no seu pé. – Ela avisou, antes de segurar a mão dele. Ele sorriu ao vê-la estremecer ao seu toque, sorriu por ver que provocava algum efeito nela, ainda que mínimo.

– Vou me lembrar disso. – Ele disse enquanto a conduzia na pista de dança.

– Agora me conte porque você detesta tanto estar aqui. – Ela perguntou, segurando a mão esquerda dele enquanto ele lhe apertava a cintura.

– Eu odiava. – Ele sorriu, olhando-a nos olhos.

– Seus flertes estão melhorando, rapaz loiro. – Ela sorriu docemente.

– Só estou sendo sincero. – Ele encolheu os ombros.

– Eu sei. – Ela continuava sorridente. – O que te destoa do lugar onde estamos.

– Me destoar desse lugar sempre foi minha maior ambição. – Draco sorriu genuinamente, e ela se sentiu mais encantada ainda por ele.

– De qualquer maneira, acho que já está na minha hora. – Ela disse olhando para o grande relógio na parede. – Minha irmã está perdida em preparativos de casamento e amanhã cedo viajaremos para Paris para ela encontrar o tão sonhado vestido de noiva.

– Sua irmã vai se casar? – Draco perguntou, absorto em procurar qualquer detalhe de sua identidade.

– Na verdade não houve ainda um pedido formal, foi mais um acordo entre nossas famílias. – A moça girou os olhos. – Não o conheço ainda, mas aposto que ele não está tão interessado em se casar assim.

– Eu acho que o entendo. Ninguém gosta de ser forçado a se casar. – Draco foi solidário a um noivo que ele nem bem conhecia.

– Aparentemente, minha desajuizada irmã sim. – Ela fez careta. – Ela é assim, acha que a vida é um conto de fadas e que ela acabará se apaixonando por ele eventualmente.

– As pessoas tem esse tipo de crença. – Draco lembrou-se da conversa que tivera com a mãe mais cedo.

– Eu não. – Ela respondeu. – De qualquer maneira eu tenho que ir, obrigada pela dança e pela companhia, talvez eu te encontre em um próximo baile. Foi encantador conhece-lo.

E sem explicação, munida por algum tipo de segurança que a máscara lhe dava, ela pressionou os lábios aos dele por uns instantes antes que ele transformasse a pressão em um beijo.

Então ela sorriu, e se afastou dele.

Correu atrás dela até que estivesse perto o suficiente para que ela o escutasse.

– Como poderei encontra-la em um próximo baile? – ele resolveu usar as palavras dela.

– Procure por Tori. – Ela olhou para trás e sorriu.

Tori.

Era tudo o que sabia sobre a bela moça que acabara de conhecer... E nem tivera a chance de dizer que estava encantado em conhecê-la também.


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