Verdade Ou Desafio? - 9a Temporada escrita por Eica


Capítulo 19
Primeiros contatos


Notas iniciais do capítulo

Milhares de perdões pela grande demora!



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Leonardo

O amigo de Duda nos convidou para conhecer a chácara que seu tio há pouco comprara. Como havia perguntado se algum de nós sabia dirigir e tinha carro, ofereci-me para nos levar no carro de minha irmã (bem, não dei certeza de nos levar, afinal, eu precisaria pedir emprestado a ela antes de tudo).

Para meu infortúnio, não fiquei muitos momentos ao lado de Eduardo, pois, como era sua festa de aniversário, este passou maior parte do tempo com seus colegas, indo aqui e ali, ora mostrando seus presentes, ora roubando salgadinhos de cima da mesa, ora correndo pela casa após ser chamado para uma brincadeira. Por conta disso, acabei num canto da casa em companhia de Donatelo. Na mão de cada um, um pratinho descartável com salgadinhos.

- Lembro do meu aniversário de treze anos... Cara... Essas festas infantis são incríveis. - disse Dodô, rindo.

- É, às vezes dá saudade dessa época.

- Época de inocência, primeiras experiências com a adolescência... Mas também época das nossas primeiras burradas. Nossos primeiros erros.

Olhei para ele, admirado.

- Nossa, está bastante filosófico hoje.

- Aaah, é que fiquei com saudade mesmo... De ser criança.

- Você pode ser criança, mas as pessoas vão achar estranho um cara de vinte anos agindo igual a um tonto.

Ele riu e levou um quibe à boca.

- Não, veja bem, acho que ainda somos crianças. Ainda jogamos vídeo game. Ainda cometemos erros. Ainda somos crianças.

- Mas crianças com responsabilidade. Isso é uma droga. São as responsabilidades que acabam com a vida.

- Ah, claro.

Mastiguei uma coxinha, refletindo sobre o assunto. Naquele instante, Duda passou pela sala com Rafael, Lucas e mais um garoto que não me recordo o nome. Haviam deixado o rádio da casa ligado, de maneira que ouvimos todo tipo de música. Assim que acabou uma música, começou “I will survive”. Alguns convidados que estavam na sala se sacudiram um pouco. Incluindo um homem que, acho, devia ser tio do Duda.

- Minha tia já dançou essa música. - disse Dodô, balançando a cabeça.

Ri da cara dele. De provocação, ele bateu palmas levando as mãos ora para a esquerda ora para a direita, seguindo o ritmo da música.

- Uma vez, num aniversário de um amigo dos meus pais, eles tocaram só músicas velhas dos anos oitenta, setenta... Soltaram a franga, meu amigo.

Depois da música, tocou Cindy Lauper. A essa hora, os salgadinhos do meu prato haviam acabado. Tive que ir até a cozinha para pegar mais. Tornei a sentar ao lado de Dodô, que roubou salgadinhos do meu prato.

- Me explica, como foi fazer amizade com um pirralho como ele?

- Jean.

- Ah, verdade! São primos.

- É.

Às vezes a cabeça do Donatelo parava de funcionar. Já havíamos conversado sobre isso.

Lucas

Mais tarde fomos jogar futebol lá na rua. O dia estava fresquinho. Muito bom. Ainda estava surpreso com a presença do Rafael. Mais surpreso fiquei ao perceber que Duda havia gostado dele. Toda hora dava risada com alguma brincadeira que ele fazia. Quando paramos de jogar, Rafael ainda tentou ensinar Duda a arrotar. Sem sucesso.

Um pouco antes do parabéns, fui terminar de comer meu salgadinho na garagem, e Rafael apareceu.

- Hei.

Olhei para ele.

- Você vai à chácara com a gente?

- Não sei.

- Eu deixo você ir. - disse ele, me olhando um tempo depois. - Já foi a uma chácara antes?

- Não.

- Pois é uma oportunidade... Pra você ir.

- Tenho que ver se meus pais vão deixar.

- Ah.

Leonardo

Na hora do parabéns, todos os coleguinhas de Duda ficaram com ele atrás da mesa onde haviam posto o bolo e os doces, e os adultos ficaram em frente da mesa. Alguns tirando fotos. Dodô ficou ao meu lado. Consegui ficar num local estratégico, onde não ficara ninguém na minha frente. Pude ver Duda, com um boné preto na cabeça, a mandar olhares aos parentes que chamavam sua atenção, para ele olhar diretamente para a câmera.

Estava lindinho como sempre. Os olhinhos azuis iam e vinham, e as bochechas de vez em quando ruborizavam. Tirou foto com os amigos e depois com os parentes. Também cheguei a tirar foto com ele.

Quando a festa chegava a seu fim, a casa estava quase vazia. Seus amigos já tinham ido embora e eu também já me preparava para ir.

- Aê, Lê. - disse Dodô, no momento em que saí do banheiro.

Nos topamos no corredor.

- Estou indo. Quer que te dê carona?

- Carona?

Não. Não era uma boa receber carona dele. Tentei me esquivar, mas acabei, sabe-se lá como, sobre a moto dele. Com medo da morte, agarrei-o forte e permaneci agarrado a ele o percurso inteiro até chegar em casa.

Lucas

Era sábado quando meu pai me deixou em frente à Praça 9 de Julho onde eu iria me encontrar com Duda, Rafael e seus amigos. Avistei Duda sentado no ponto de ônibus. Fui até ele.

- Mais alguém chegou?

- Não.

- Aaaaah, está usando aparelho! - disse.

Ele me deu um sorriso metálico.

- Minha mãe falou que era pra eu usar. Meus dentes estão muito tortos.

Duda falou engraçado. Tão engraçado que ri. Sentei ao seu lado. Não havia ninguém no ponto de ônibus. A praça onde estávamos – parte dela – era muito arborizada e suas grandes árvores nos protegiam do sol, que a esta hora do dia já estava alto e forte. A praça era cortada por uma avenida por onde passavam muitos carros. Muitos ônibus paravam aqui. Rafael desceu por um deles.

Ao se aproximar, notou o aparelho em Duda e fez um comentário a respeito. Ficou de pé em frente a nós. Trazia uma mochila nas costas, assim como Duda e eu. Com certeza levava toalha e roupas secas para poder usar a piscina da chácara.

Donatelo

Quando cheguei à Praça 9 de Julho, dei-me com os três pirralhos em frente à banca de jornal. Fui até eles.

- Só está faltando a nossa carona. - disse Rafael.

Ficaram de papinho dentro da banca. Afastei-me um pouco e corri os olhos pelas revistas até encontrar aquelas sobre jogos. Peguei uma, depois outra. Ao olhar para os meninos, vi que trocavam mangás.

- Vocês leem isso aí? - indaguei.

Olharam para mim.

- Isso? Mangá? Eu sim. - respondeu Rafael.

- É, eu também. - disse Duda.

- Hm.

Minutos depois, saímos da banca e ficamos debaixo de uma árvore, à espera de Leonardo.

- Quero uma bala... Ou chiclé. Alguém tem algum aí? - disse Rafael.

Quando respondemos que não, o garoto quis ir para uma bar que ficava na esquina.

- Peraê, você não vai sozinho. Vou com você. Vocês também venham com a gente. Melhor ninguém ficar sozinho.

- Já estávamos sozinhos antes de vocês chegarem. - disse Lucas.

- Mesmo assim. Se algo acontecer com vocês, serei responsável. Vamos lá. É logo ali.

Fomos todos juntos ao bar. Em frente ao balcão, Rafael escolheu um tipo de bala e um tipo de chiclete. Assim que pagou, voltamos para a praça.

Não acreditava que estava nesta situação: junto de três crianças que mal entraram para a adolescência. Mas tinha que admitir, os carinhas eram engraçados. Especialmente Rafael. Só não achei graça quando me chamaram de “tio”. Eu lá tinha cara de tio? Só porque era mais velho, isso não me classificava como “tio”. Felizmente Leonardo apareceu, entramos no carro e iniciamos nossa viagem tão esperada à chácara.

Para não ficar no silêncio, coloquei meu CD do Iron Maiden para tocar. Os garotos perguntaram que banda era.

- Não conhecem o Iron? - disse, me fingindo insultado.

- Eles são inocentes. - riu Leonardo.

- Por favor, não me digam que escutam Britney ou outra porcaria que eu me atiro do carro.

- Não escutarei Britney nem aqui nem lá no inferno! - disse Rafael. - Pode aumentar o volume. Até que o som desses caras é legal.

- Vocês escutam o que? Pop, rock...?

- Rock. - disse Lucas.

- Ah, menos mal.

Houve muito falatório pelo caminho até chegarmos à chácara (com direito àquela velha musiquinha do “roubou pão na casa do João”). Rafael desceu do carro e abriu o portão para entrarmos. Leonardo deixou o carro em frente da casa e saímos do automóvel. O lugar era bonito. Vi um campinho de futebol à nossa esquerda e, logo atrás da casa, a piscina.

- Meus tios estiveram aqui semana passada. Tem refrigerante e comida na geladeira.

- Opa! Maravilha! - disse.

Conhecemos o interior da casa. Em seguida, fuçamos a geladeira. Cada um pegou um copo e o encheu com refrigerante. Depois nos preparamos para cair na piscina. Tirei meu jeans e vesti uma bermuda. Todos fizeram o mesmo.

- Que?? Tem que encher a piscina? - disse.

- É. - riu Rafael.

O interior da piscina foi limpo e, enquanto se enchia de água, fomos conhecer o rio que passava atrás da propriedade.

- Meu tio falou que tem uns peixinhos aí. Mas não são grande coisa não.

- Sou eu ou o sol está de rachar? - disse Leonardo, levando a mão ao topo da cabeça. - Minha cabeça está torrando.

- Vamos lá pra varanda. - disse Lucas.

Fomos para lá. Sentei na mureta enquanto os demais se ajeitaram como puderam.

- Você fala estranho.

- Estranho como? - indaguei, olhando para Rafael.

- Algumas palavras saem... Estranhas, sei lá. Não dá pra explicar. Não escutou o que acabou de dizer? Você disse “estránho” ao invés de “estranho”.

Leonardo riu e comentou que eu não nascera no Brasil. A partir daí, estendeu-se uma longa conversa sobre o caso até notarmos que a piscina se enchera por completo. Mergulhamos. Foi extremamente refrescante. Perfeito. A criançada não parou de brincar. Riram, apostaram corrida, mergulharam até o fundo, pularam de todos os modos possíveis na água e ainda jogaram vôlei dentro da piscina.

Mais tarde jogamos futebol no campinho. Depois, quando a fome apertou violentamente, fomos para a cozinha e assamos chikenitos. Tomamos mais refrigerante e voltamos para a piscina.

Leonardo

Houve um momento em que saí da sala – onde todos estavam vendo TV – e vi Duda se acomodar na rede da varanda. Fui até ele.

- Cansado?

- Um pouco. - respondeu, me mostrando o aparelho ao sorrir.

Pedi licença e sentei ao seu lado, permitindo que descansasse as pernas sobre meu colo.

- Como vai a escola?

- Bem... Mal.

- Mal? Por quê?

- Não gosto de estudar.

- Ah! Vai deixar sua mãe só nos nervos.

- Ela já está. - riu. - Disse que se eu ficar de recuperação, fica um ano sem me dar nada.

- Um ano? É muito tempo. Melhor começar a se esforçar mais.

- Esforçar... - disse, emburrado. - Já me esforço demais.

- Pois não parece do jeito que você fala. - ri.

No instante em que ele mordeu o lábio inferior e assim permaneceu, apertando-o com os dentes, senti um chocalhar no peito. Admirei-o sem ele saber que o admirava, pois naquele instante, ateve-se à pulseira de elástico no pulso direito.

Lucas

Dei uma volta pela chácara e parei em frente ao rio. Sentei na margem, sobre um pedaço de madeira. De repente, Rafael passou por mim e andou pela margem. Ri quando ele deu uma escorregada.

- Não vi graça. - disse ele, voltando os olhos para mim.

Ri outra vez.

De súbito, após um tempo de silêncio entre nós, ele disse:

- Fala sério, Lucas. Por que você me odeia tanto? Por que não quer ser meu amigo? Sou tão desprezível assim?

- Por que quer tanto ser meu amigo?

- Por que não quer? É por que te atropelei? Por que te chamei de garota?

- Você não vai me deixar em paz, vai?

- Infelizmente para mim, você me obriga a isso. Vem, vamos fazer as pazes, vamos ficar legal. - disse, se aproximando com o dedo mindinho esticado.

Olhei para ele.

- Vaaaamos! - sorriu.

Cedi e cruzei meu dedo mindinho com o dele. Isto o fez sentar ao meu lado.

- Lega, Lucas. Legal. Sou um bom amigo. Você vai ver.

Rafael

Depois desse dia, minha relação com Lucas deu uma super melhorada. Nos dias de semana, depois da escola, chamava Lucas para brincar. Um dia andamos de bike pelo bairro. Descíamos a rua à mil por hora, e subíamos numa lerdeza sem fim, para depois descer tudo de novo. (Neste dia, uma pedrinha chegou a entrar no meu olho esquerdo, me dando certa aflição e me forçando a parar a brincadeira).

Outro dia, eu e a galera desbravamos as construções da rua. Alguns meninos ficaram de gracinha com as meninas e até chegou a rolar uma paquera entre eu e a Anielle. Nesta mesma tarde de sol, nós, meninos, tarados que éramos, insistimos para que as meninas olhassem pra gente quando abaixássemos nossas bermudas. Insistimos à nossa maneira e por fim elas cederam. Quatro colegas meus abaixaram as bermudas (incluindo Lucas) junto comigo. Pus meu ‘companheiro’ pra fora. As meninas olharam e riram pra gente, encabuladas. Depois desse momento cheio de malícia dentro da construção, sentamos na calçada e brincamos de Salada Mista. Rolou aperto de mão, rolou abraço, rolou beijos e também chegou minha vez de ter os olhos tapados para escolher a quem eu ia dar o que quisesse dar.

- É essa?

- Não. – respondi ao meu amigo que tapava meus olhos.

- É essa?

- Não.

- É essa?

- Não.

- É essa?

- É.

- Pera, uva, maçã ou salada mista?

Depois de pensar um pouco, respondi:

- Maçã.

Quando meus olhos foram destapados, vi que tinha escolhido o tonto do Lucas.

- Vai ter que beijar, cara!

Meus amigos não pararam de rir e de fazer piadinhas.

- Beija sua mulher, Rafael.

Tínhamos fama que éramos um casal (já que a galera nos via muitas vezes juntos). Eu não me importava com isso. Era apenas brincadeira. No fim, Lucas deixou que eu o beijasse no rosto. Brinquei junto com meus colegas: coloquei o braço sobre o ombro dele.

- Devia ter a opção ‘Abacaxi’, pra quando alguém quer dar um tapa em alguém, né? – falou Lucas.

- Quer me bater, amor? – brinquei.

- Quero sim!

- Quer não. Você me ama.

- No dia em que eu te amar, eu me mato.

- Ah, é o primeiro beijinho que eu dou em você e não será o último.

Meus amigos riram:

- Eeeeeeh, são casados mesmo!

As meninas cantaram:

- Beija, beija, beija, beija!

Certa noite, em que brincamos de esconde-esconde, Lucas e eu acabamos escolhendo o mesmo local para nos esconder (atrás de um muro). Todos os nossos amigos se dispersaram pela rua enquanto Luís terminava de contar para começar a nos procurar. Lucas e eu ficamos lado a lado, esperando, sem olhar demais para a rua, senão poderiam nos descobrir.

- Deu vontade de fazer xixi.

- Também. - concordei.

Naquele instante, Lucas levou uma mecha de cabelo atrás da orelha e quando olhou para baixo, seu cabelo comprido balançou. Nessa hora, senti uma sensação estranha no peito, que geralmente sinto quando acabo gostando de uma garota. Achei esquisito sentir aquilo por ele numa hora como aquela, e foi a partir deste dia que tudo mudou.

Se antes achava que tudo o que ele fazia era legal, agora achava que tudo era incrível!

Como se estivesse gostando de uma menina, procurei agradá-lo em tudo, a me mostrar sempre quando possível, a fazê-lo rir e gostava de tudo o que ele fazia. Foi inevitável. Não dava para segurar. E continuava achando estranho. Quando na escola, pensava nele, quando em casa, pensava nele, quando com ele, pensava nele... Um dia, estávamos na rua com nossos colegas jogando futebol. E começou a chover. Tomamos banho de chuva e assim que a chuva acabou, sentamos na guia para descansar. Senti aquela sensação estranha quando vi Lucas com o cabelo todo molhado. A boca estava mais rosada que o habitual, e os olhos mais claros.

- Vai chover de novo. - disse Alessandro.

E choveu. No entanto, não voltamos para nossas casas. Tomamos banho de chuva outra vez.

Num domingo de brincadeira numa pracinha próxima de casa, Carolina chegou a abraçar Lucas e dizer, beijando seu rosto:

- Aaaaah, gosto de você, Lu!

Foi aí que algo iluminou minha cabeça confusa, e eu percebi que gostava dele também. Era a explicação mais plausível para tudo o que eu vinha sentindo por ele. Gosto dele. Estranhamente, não foi tão assustador dar-me conta disso. Consegui levar numa boa, sem perder a cabeça.

Na sexta-feira, pedalei até sua casa e o chamei em frente ao seu portão. Ele saiu, carregando seu skate. Abriu o portão social.

- Que houve com o seu olho? - indaguei, quando percebi que estava inchado.

- Às vezes isso acontece. Ele incha mesmo. A pálpebra.

- Ah.

Ri.

- Está engraçado.

- Eu sei. - disse, dando um meio sorriso.

Atravessou o portão e o fechou atrás dele. Pôs o skate no chão.

- Pra onde vamos?

- Até os trilhos do trem? Não. Não nos trilhos. Mas até a rua que dá acesso a eles.

- Certo.

Subi na minha bicicleta e pedalei até a rua. Quando comecei a descer a rua, ele segurou no meu ombro, e naquele instante, senti dar um nó no meu estômago. Olhei para ele. Ele olhava para o skate. Em seguida me soltou e deixou ser levado pelo skate, que tomou cada vez mais velocidade.

- Me espera, pô!

Michelangelo

Este meu encontro com Leonardo já era o décimo do mês. Nos encontramos no shopping Sorocaba. Conversamos sobre a faculdade e entramos numa sala de cinema. Leonardo me comprou refrigerante. Agradeci a ele. Numa parte do filme, toquei em seu ombro para conseguir sua atenção. Aproximei seu rosto do meu e o beijei. Ele retribuiu de forma quente e deliciosa. Acabamos passando vinte minutos nos provando no escurinho da sala sem sermos vistos por ninguém, já que havíamos sentado no fundo e no canto.

- E o filme? - perguntou ele, certa hora, sem fôlego.

- Quer mesmo ver o filme?

- Não. - riu.

Ele tocou em meu rosto e tornamos a nos beijar. Saímos da sala completamente satisfeitos, e sem ter entendido o final do filme. Passeamos pelo shopping e paramos numa lanchonete para comer. Ao final de nosso lanche, quando já terminávamos nossos sucos, resolvi arriscar:

- Lê?

- Hm?

- Nós nos damos bem.

- É, bastante. - sorriu.

- Eu gosto de você... Você gosta de mim... Sei que essa nossa “relação” agrada a nós dois, mas eu queria saber se... Não te interessaria ter algo mais sério comigo.

- Está falando de namoro?

- Estou.

Olhei-o bem, até dizer:

- Você namoraria comigo?

- Claro, namoraria sim.

Minha alegria durou pouco e me senti um idiota por tê-la demonstrado cedo demais, porque ele acrescentou:

- Mas no momento não estou querendo um relacionamento sério. Espero que entenda.

Quis perguntar se havia outra pessoa (foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça), todavia, não me atrevi, pois poderia me decepcionar mais.

- Você quer namorar?

- Não, quero dizer... Sim, ou não.

- Mick, eu te acho lindo em todos os sentidos. De verdade. Adorei te conhecer, adoro ficar com você, adoro te ter por perto. Mas não posso te enganar e tenho que ser sincero com você. Não quero me relacionar agora. Não é por sua causa. Não há nada de errado com você. Eu...

- Entendi. Entendi o que quer dizer.

- De verdade?

- Verdade. Entendi.

- Espero que não fique chateado.

- Não estou.

No silêncio entre nós, ele pegou minha mão e me sorriu.

Como não esperava sua negativa, fiquei um tanto quanto deprimido pelo fora que levei. Por conta disso, parei de ir ao banheiro com ele para dar amassos mesmo que gostasse quando ele me tocava nos lugares mais pervertidos. Acho que ele só queria curtir mesmo. Ficar com os rapazes, sem nenhum envolvimento que não o físico. Senti-me lisonjeado por ser um dos escolhidos, no entanto, eu não era especial o bastante para ser chamado de seu namorado.

Fiquei para baixo. Um dia minha depressão foi tão insuportável que não o esperei na saída da faculdade. Fui para a rua querendo pegar o ônibus e ir para casa. Na distração do momento, dei de frente com alguém na calçada.

- Desculpa. - disse a Donatelo.

- Está chorando?

A pergunta me fez verter mais lágrimas.

- Eu... Tenho que ir. Não dá pra conversar agora.

- Que aconteceu?

Me esquivei dele, com pressa, e corri pela calçada, até o ponto de ônibus.

Dois dias mais tarde, ao fugir de Leonardo outra vez, dei com Donatelo na rua da faculdade. Estava sentado sobre a moto.

- Hei! Está melhor?

Parei na calçada, ao seu lado.

- Estou. Obrigado.

- Toma.

Recebi um chiclete e agradeci.

- Você estava malzão daquela vez. O que tinha acontecido?

- Eu... - desembrulhei o chiclé. - Levei um fora.

- Ah! Isso detona qualquer um. - disse, sorrindo.

- Nem me fale. - disse, mascando. - Eu não estava legal naquele dia, mas estou tentando melhorar. É complicado, mas estou tentando.

- Pra ter chorado, devia estar afinzão dela.

Ri.

- É, estava... Eu... Obrigado pelo chiclete, mas tenho que ir agora. Senão perco o ônibus... Você pode não comentar isso a ninguém? Prefiro que não saibam.

- Tudo bem.

- Obrigado.

Afastei-me dele e peguei o ônibus.

Numa quinta-feira, vi Donatelo em frente da faculdade, sentado no chão, encostado ao muro, certamente para fugir do sol quente. Fui até ele e dei uma bala que tinha para retribuir sua gentileza do outro dia.

- Esperando o Leonardo?

- É.

Ele olhou para minha camisa.

- Escuta Motörhead?

- Escuto.

Sentei ao seu lado e acabamos tendo um papo sobre nossos gostos musicais que nos levou a outra longa conversa. Deu tempo de todos os alunos saírem da faculdade, até mesmo Leonardo e Jean, e ainda não havíamos terminado nossa conversa. Tínhamos gostos em comum. Ouvíamos os mesmos estilos musicais, assistíamos aos mesmos programas, tínhamos opiniões parecidas sobre diferentes assuntos, sem contar que era agradável conversar com ele, e aquele papo me ajudou a esquecer o fora que levei.

Leonardo, Jean, Donatelo e eu passamos a conversar ao final das aulas, quando Donatelo resolvia aparecer. Era tão legal falar com ele que esperava ansioso por estes encontros.


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