Ela saiu da minha mira. Eu olhei pelos lados... Jade onde você está? Por que sempre some da minha vista? Escorrega pelos meus dedos? Olhei novamente ao redor...

Ela acendeu a sua lanterna. Finalmente, segui a luz.  E ela estava lá...

- Ah, como são estúpidos. – Jade disse sorridente, enquanto andava em meio aos lápides e ao chão de barro úmido do cemitério. Era por volta das 9;30 da noite, e acho que éramos os únicos aqui.

- Jade, são lápides. Você tem que respeitar essas frases, são de pessoas que já morreram. – Eu disse, abaixando a luz da minha lanterna, ainda dava para ver ela com o clarão.

- Isso é uma lei por acaso? – Ela perguntou, levantando uma sobrancelha.

- Não. Mas você tem que respeitar. – Eu disse a ela.

- E se eu não quiser? – Ela disse se aproximando de mim.

- Você é uma garota muito mal. – Eu respondi, antes de beijar seus lábios.

Ela quebrou o beijo rapidamente, me olhando com certa surpresa.

- E então, eu realmente não vou querer... – Ela cantarolou, tirando minhas mãos de sua cintura, e dando passos para trás.

Eu revirei os olhos, num suspiro... Jade.

- Uh! Olhe esse daqui! – Ela disse, zombando. Rindo de um tumulo em que a última frase do cara morto, havia sido um palavrão.

- Você não deve fazer isso. Vamos, logo será 10 da noite... – Eu falei, pegando na mão dela.

- Oh... Eu não quero ir... – Jade soltou seu braço, de um jeito manhoso e infantil. - Eu vi algo se movendo por ali. – Ela disse apontando, curiosamente se aproximou de um canto bem mais escuro ainda. Iluminei com a lanterna.

- É uma rocha. Uma grande rocha... Rochas não se mexem... – Eu falei, inclinando minha cabeça ao ver a reação dela.

- Eu tenho certeza que era um gatinho. – Ela disse. O que?

-  Hãn? – Eu perguntei, indignado. Desde quando Jade preza gatos, e desde quando ela usa o diminutivo?

Olhei novamente para aquela grande rocha,vi dois olhos pequeninos me fitando. Talvez seja mesmo um gato.

- Alguém precisa salvar ele. – Jade começou... Desde quando ela liga para a vida de um gato? - Ah Beck, tira ele de lá. Por favor? Salva ele? Por favor, por favor, por favor, por favor, por favor? – Deus, eu nunca vi Jade implorando tanto na vida. O  que fizeram com minha garota?

- Ok, ok... – Eu disse passando a mão pelo cabelo. Rezei mentalmente para que aquele gatinho não fosse algum guaxinim louco para me arranhar até a morte.

Eu me inclinei um pouco e estiquei meus braços. Consegui sentir algo pequeno e macio. O provável cachorro começou a latir e a se mexer. Deveria ter apenas algumas semanas de vida. Eu consegui tirar meu casaco rapidamente para embrulhá-lo e o impedir de escapar. Assim que eu o tirei da gruta no meio da rocha, o entreguei para a Jade. Que o colocou gentilmente perto dos seios, o segurando com os dois braços, como uma mãe faria com um filho recém nascido.

Corremos para o carro, na tentativa de não deixar o gatinho escapar. Assim que sentamos no banco, Jade desenrolou o casaco para ver se ele não tinha se sufocado durante esse caminho. Vimos que ele estava realmente assustado com isso tudo, ele tinha mesmo algumas semanas de vida...

- Deixa eu ficar com ele? – Jade me perguntou suavemente.

- O que? –  Ok, ok... O que fizeram com a Jade West que eu conheci há três anos?

- Deixa eu ficar com ele? – Ela deixou a voz um pouco mais forte.

- Bom,ok... acho que pode parecer bom. – Eu disse, meio confuso. Comecei a dirigir de volta para casa. Ela nunca gostou de animais de estimação... Eu sempre quis um cachorro, mas ela nunca pareceu aceitar por seu ódio a animais, e agora? Olhe só... Ela me implorou para resgatar um gato de dentro de um cemitério. Eu nunca vou entendê-la.

Logo chegamos, e Jade trancou a porta do RV rapidamente. Colocado o gatinho no chão para evitar que ele fuja. Eu nunca a vi tão obcecada por alguma coisa.( Além de café, tesouras e... Eu)

Com a luz do RV podemos ver como era ele, tão pequeno que cabia facilmente em uma mão. Tinha o pelo todo preto. Jade deveria estar se apaixonando por ele...

Uns minutos depois, Jade foi tomar um banho rápido... Ela me pediu para cuidar dele.

- Ei,não se troque ainda... – Ela disse rapidamente enquanto voltou.

- Por que não? – Eu perguntei.

- Você tem que ir comprar algum alimento para ele. – Ela pediu.

- Jade, ele pode comer algum de nossos alimentos... – Eu falei.

E 20 minutos de discussão depois, eu fui obrigado a ir em alguma loja para animais que é aberta 24 horas para comprar um saco de ração para o nosso novo gatinho.

- Você não vai querer ficar com ele de verdade, não é? – Arrisquei, quando vi ela colocando a ração numa tigela.

- Claro que eu vou! – Ela entendeu isso como um insulto.

- Ah, Jade... Ele deve ter doenças,e tudo mais... – Eu disse, enquanto a observava. Não acreditava que estava acontecendo isso...

- E daí? – Ela falou sorridente, com aquele gatinho preto no colo. – A gente leva ele no veterinário amanhã... – Ela se interrompeu no meio da frase.A voz subindo uma oitava – Ei! Beck, ele é menino ou menina?

- Bom, eu não sei. – Eu disse,enquanto observava a Jade levantando o gatinho no ar e observando ele.

- Eu acho que é um menino. – Ela respondeu a si mesma.

- Que nome vai dar a ele? – Eu perguntei.

- Eu não sei. Posso escolher um nome para ele amanhã. Não é, coisinha fofa? – Ela falou isso com uma voz super meiga e olhando para o gatinho.

- Deus! – Eu disse tentando não morrer de rir. – Eu nunca, nunca achei que viveria para ver um dia a Jade fazendo uma voz meiga enquanto dizia que alguma “coisinha” é fofa!

- Oh, cale a boca. Beck! – Ela resmungou.

- Ele vai dormir aonde? – Eu perguntei, depois de engolir o riso.

- Como assim aonde? Não está obvio? É claro que ele vai dormir aqui. Não lá fora. Aqui dentro. – Ela disse, o carregando no colo.

- E se ele fazer xixi? – Eu perguntei.

Ela pegou ele rapidamente,e  saiu pelo RV. Eu esperei, decepcionado. Agora ela mantinha toda atenção naquele gato estúpido. Mas pelo menos, ela estava mostrando um lado doce com isso.

- Ele tem uma bexiga pequena.  – Ela disse, voltando alguns minutos depois. E agora o gatinho sem nome, considerado fofo pela Jade West, estava enrolado em um pano.

- Ok... Vamos dormir. -  Eu falei, deitando na cama. Logo sendo seguido por ela, que se deitou com o gatinho nos braços.

Assim que eu abracei a Jade por trás, o gato começou a grunhir.

- Beck, ele não gosta de você. Vire para o outro lado.  – Ela pediu. Pelo menos ela pediu gentilmente. E eu fiz, por que ela não havia gritado comigo.

Com um suspiro eu rolei na cama, me perguntando como foi que eu estava sozinho, enquanto minha malvada namorada estava abraçada com um gatinho.Esperei alguns minutos antes de tentar abraçar-la  mais uma vez, mas parei de me mover antes que eu pudesse entender a Jade.

- Beck, eu disse ficar por ai! – Ela disse.

Esqueça; Jade mostrando um lado doce não vale isso.Amanhã, o gatinho pode "fugir".