O Natal foi mesmo incrível, mas algo me dizia que a noite de Ano Novo ia ser melhor. Na manhã seguinte, Percy me levou para o parque e ficamos o dia todo brincando de guerra de bolas de neve e namorando. Éramos duas crianças crescidas, e eu amava aquilo. Voltei para casa congelando, meus dentes batiam de tanto frio que eu sentia. Minha mãe ficou louca comigo.

– Onde você estava com a cabeça para se enxer de neve desse jeito? Estou congelando! - ela disse um tanto estressada.

– Não estava congelando quando chegou descalça na segunda! - eu disse. Juro que aquilo saiu sem querer.

Minha mãe me fuzilava com os olhos. Ela não gostou de ouvir aquilo.

– Annabeth! - me repreendeu.

– O que? Onde a senhora estava, falando isso? - lhe disse tentando parecer autoritária.

– Isso... não... interessa. - ela gaguejou.

Cruzei os braços e arqueei a sobrancelha. Ela estava onde não deveria estar, e eu sabia disso.

– Mãe... você... e o papai... - comecei a falar mas desisti ao imaginar a cena.

– Annabeth! - minha apenas disse ficando vermelha. E para minha ter ficado vermelha daquele jeito, era porque algo sério tinha acontecido.

– Mãe, eu já sou crescida, então se você vir com aquele papo de novo de...

– Eu transei com seu pai, está satisfeita? - ela gritou.

Senti minha cara queimar nesta hora. Afinal, ouvir de sua mãe que ela fez com seu pai, não era legal. Fiquei a encarando por um tempo. Não sabia o que dizer. Minha mãe parecia ainda mais nervosa. Ela pegou uma toalha que estava na bancada e colocou em minhas mãos.

– Vá tomar um banho se não quiser morrer congelada. - me disse e voltou para seu quarto.

Fiquei encarando o nada por alguns miinutos. Não pude deixar de me sentir feliz por eles. Sempre sonhara em ver meus pais juntos novamente. Decidi parar de enrolar e fui tomar um banho. Estava mesmo muito frio. Só Percy mesmo para me enxer de neve. Subi para meu quarto e tirei meu casaco e minhas botas. Quando tirei meu celular do bolso, vi uma nova mensagem de Percy:

"Annabeth, prepare seu melhor vestido, porque nós vamos jantar em um lugar incrível dia 31"

Fiquei com um pouco de medo. Ele nunca fora um cara romântico. E, definitivamente, jantar fora, era um programa romântico. De qualquer forma, fui tomar banho pensando em qual vestido usaria. Ainda faltava praticamente uma semana, mas eu sentia que teria de me vestir. Sai do chuveiro e me vesti com um moletom velho, que eu geralmente usava para ficar em casa. Depois, me deitei em minha cama e me puz a pensar nos mais prováveis lugares onde meu namorado poderia me levar.

– Não vai mesmo dizer para onde está me levando? - eu disse descendo as escadas. Notei que, por um minuto, Percy pareceu babar.

Eu usava um vestido azul-marinho de mangas longas, que era amarrado nas costar. Deixei meus cabelos soltos, naturais, e passei um pouco de maquiagem. Nos pés, meu bom e velho peep toe preto. Estava levando um casaco preto bem grosso, afinal estava muito frio lá fora.

Percy estava com uma calça jeans escura, uma camisa social branca e um blaiser por cima. Estava lindo como sempre. Ele fora me buscar em casa. Era dia 31 e tínhamos combinado de ir para um lugar. O único problema era que ele não tinha me contado onde era. E eu estava muito curiosa.

– Espero que cuide bem de minha filha, Percy. - minha mãe disse chegando perto de nós e lhe lançando um olhar que me deu medo.

– Pode deixar, Atena. A senhora pode ficar tranquila. - ele disse ficando ligeiramente vermelho.

Me aproximei de meu namorado e lhe dei um selinho. Notei que ele não segurou minha cintura, como sempre fazia. Pelo contrário, ficou o tempo todo com as mãos nos bolsos. Mas tenho que confessar que aquilo lhe dava um ar de mais velho.

– Vamos? - Percy disse estendendo o braço.

Assenti e o segurei.

– Filha, eu vou para a casa de Sally, que horas vocês voltam? - minha mãe nos perguntou enquanto tentava encontrar as chaves do carro.

– Não... sabemos. - Percy gaguejou.

Normalmente, ele não ficava nervoso quando minha mãe estava por perto, achei aquilo mais do que estranho.

– O. K., se divirtam. - minha mãe disse ainda não encontrando suas chaves.

Precisei dar um cutucão em Percy para que ele retornasse para a realidade, seja lá para onde ele tivesse ido. Ele sorriu para mim e fomos até seu Volvo. Notei que não estava tão frio assim. A neve tinha cessado, pelo menos por hoje. Entramos no carro e logo Percy ligou e aquecedor. Agradeci, porque, mesmo não tendo neve, ainda estava frio.

– Já pode me dizer para onde vamos? - perguntei.

– Não. - ele me disse, tentando parecer sério.

Me aproximei dele e lhe dei um selinho.

– E agora? - disse ainda com os lábios perto dos seus.

Ele balaçou a cabeça negativamente e selou nossos lábios novamente. Decidi aprofundar nosso beijo. Segurei em sua nuca enquanto Percy me puxava pela cintura. Mas então ele parou de repente. Vi em seus olhos que tinha mais alguma coisa ali. Eles me encaravam de uma forma... diferente. Senti meu coração bater mais rápido.

– Percy... o que está acontecendo? - perguntei tocando seu rosto.

Ele sorriu para mim e me deu mais um beijo. Bem mais urgênte do que o primeiro. Não entendi o que estava acontecendo com ele. Continuamos nos beijando até que me lembrei que precisava respirar. Me separei dele ofegante. Meu gloss já havia sumido de meus lábios.

– Gosta de strogonoff? - Percy me perguntou dando risada.

Sorri para ele também e voltei a me sentar corretamente no acento.

– É claro, quem não gosta?

Ele sorriu e ajeitou o cabelo.

– Que bom, pois será isso o que iremos jantar esta noite. - ele disse colocando o cinto.

Fiz o mesmo e Percy ligou o carro. Fiquei ainda mais confusa. Dias atrás ele tinha me pedido para que eu preparasse um vestido para irmos a um lugar incrível. Pensei ser um restaurante fino. E, pelo que eu saiba, não se serve strogonoff em restaurantes finos. Achei melhor deixar quieto. Me concentrei no caminho. Fiquei surpresa ao notar que estávamos saindo da cidade, e não indo para o centro. Log Island, reconheci na hora. Mas não tinham restaurantes por perto. Pelo menos eu não conhecia nenhum.

Percy dirigiu com calma, não sabia a quanto tempo estávamos naquele carro. Até que paramos em um chalé que ficava na beirada da praia. Não era totalmente isolado, tinham vários chalés em volta. E de repente, entendi o que Percy pretendia. Me senti feliz e nervosa ao mesmo tempo. Ele parou o carro e ficou encarando o mar. Estava bem escuro, mas várias luminárias presas ao chalé nos permitiam enxergar claramente o caminho.

Percy desligou o carro e colocou as duas mãos no volante. Elas tremiam, quase mais do que as minhas. Meu coração batia forte, de uma maneira que nunca tinha batido. Desde a formatura de Percy ano passado, quando eu o beijei.

Abri a porta do carro e desci. Estávamos na areia. Naquele momento, me arrependi em ter vindo de salto. Tirei meus sapatos e pisei na areia gelada. Fiquei encarando o mar. Me lembrei daquela praia, daquele chalé, até das pedras mais à frente. Aquele pequeno chalé pertencia a Sally, as vezes, Percy e eu vínhamos até aqui nadar um pouco, mas o mar era sempre gelado demais, não aguentávamos muito tempo dentro d'água. Cruzei os braços tentando afastar o frio. Até que algum me abraçou por trás.

Senti seu perfume. Era cíttricamente adocicado, e adocicadamente cítrico. Percy era mesmo incrível. E eu confiava nele. A partir daquele momento, senti dentro de mim que estava pronta para ele. Seja lá o que estivesse prestes a acontecer, eu ficaria ao seu lado.

– Vamos entrar? - eu lhe disse.

Ele então segurou minha mão. Sua mão estava gelada e um pouco escorregadia. Não acreditei que Percy poderia estar quase mais nervoso do que eu. Caminhamos até chegar na porta do chalé. Segundo minhas lembranças, ele era um tanto velho e cheio de teias de aranhas, motivo pelo qual eu odiava dormir ali. Tudo era cheio de areia e sal, tinha a cor clara e as cortinas desbotadas. Mas quando Percy abriu a porta, me surpreendi.

Estava tudo limpo. TInha um tapete vermelho na soleira da porta, velas perfumadas espalhadas por todo canto, o que dispensava o uso da eletricidade. O perfume floral me invadiu, me fazendo reprimir algumas lágrimas. A sala, que geralmente era somente um sofá velho e uma TV, agora estava tomada por uma bela mesa com dois lugares já arrumados, uma rosa branca dentro de um vaso com água ocupava o centro. Sorri como uma boba ao ver que estava tudo perfeito.

– Isso é... lindo! - eu disse me virando para encarar Percy.

Ele estava um tanto corado, e ainda parecia nervoso, ficava mexendo as mãos, não conseguia mantê-las paradas. As segurei e olhei no fundo de seus olhos.

– Olha Annie, você me disse aquilo outro dia e... eu fiquei pensando e... veio essa ideia... Vou entender se você não quiser, juro. Mas eu só queria mesmo que... você sabe... a gente... nós dois... e... eu... - Percy estava todo atrapalhado com as palavras. Não consegui segurar o riso.

Segurei seu rosto com as duas mãos e lhe dei um beijo. Começou leve, mas resolvemos aprofundar um pouco. Eu o queria, tanto quanto ele me queria, estava sentindo isso. Percy passou o braço por minha cintura e me puxou para mais perto dele. Pudia sentir seu coração batendo, estava tão rápido quanto o meu. Nos separamos e lhe disse:

– Eu adoraria passar a noite com você, Percy. Porque é você quem eu quero, mais ninguém. - estava olhando em seus olhos.

Ele sorriu e tirou um fio de cabelo do meu rosto.

– Mesmo que eu não seja um... príncipe encantado?

Dei risada e depois lhe dei um selinho.

– E quem disse que eu quero um príncipe? Príncipes são perfeitos, e perfeiçãos é entediante.

Rimos juntos.

– Eu te amo. - ele sussurrou no meu ouvido, fazendo com que eu me arrepiasse.

– Eu também te amo. - eu disse e então selei nosso lábios novamente.

Deixamos com que o desejo de possuirmos um ao outro nos conduzisse. Os beijos começaram nos lábios, mas logo senti os lábios de Percy em meu pescoço. Beijos e mordidas de leve. Era isso que eu queria, eu queria ele! Como nunca quis homem algum. Larguei meu sapatos e tirei o casaco. Percy o pegou e o pendurou no trinco da porta. Depois, me puxou pela cintura e me beijou novamente. Suas mãos desceram para minhas coxas, ele me puxou para cima fazendo com que minhas pernas se enrolassem em torno de sua cintura. Continuamos nos beijando. Tirei seu blaiser e o deixei jogado em algum lugar da sala. Ele então caminhou comigo em seu colo enquanto nos beijávamos. Sabia para onde estávamos indo, e sabia o que estava prestes a acontecer. Mas não fiquei com medo.

Seria uma longa noite.