Changes escrita por Bruna Pattinson


Capítulo 8
Experience


Notas iniciais do capítulo

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Sophie dirigiu cuidadosamente pelas ruas da cidade, parando no mesmo restaurante do dia anterior. Sua mãe continuava doente, o que tinha começado a me preocupar, assim como ela. Ela me disse que seu pai não a deixava vê-la, por que aparentemente era algo contagioso. O mais estranho era que eu não tinha visto nenhum médico entrar ou sair daquela casa. Decidi deixar para lá, para não preocupar Sophie ainda mais.

Comemos e coversamos, mas eu me sentia um pouco desconfortável. Eu tinha decidido, num momento de coragem, que iria entregar o diário a garota e fingir que não li.

Ao chegarmos ao colégio, procurei a garota no estacionamento, mas não consegui achá-la. Ao entrarmos, meu olhar varreu cada centímetro dos corredores, mas nada dos cabelos pretos repicados. Nada nas aulas.

A hora do almoço, percebi que a mesa onde sua família sentada estava vazia. Completamente vazia. Nenhum deles estava lá. Será que todos tinham combinado para faltar? Uma consulta médica coletiva? Que estranho.

Será que eles tinham saído do colégio? Me apeguei a essa hipótese. A última coisa que eu queria era enfrentar Alice, cara a cara. Olhar em seus olhos dourados (sua explicação sobre a cor dos foi bem no ponto: Vermelho = Sangue humano; Dourado = Sangue animal; Preto = Sem sangue) e lembrar de todas as histórias e explicações sobre um mundo que, até ontem, eu considerava mitológico.

As últimas aulas passaram rapidamente, e tentei prestar atenção em tudo o máximo que pude, apesar de que meus pensamentos sempre insistiam em voltar para as histórias do diário. Ao chegar em casa, eu estava exausta de tudo aquilo. Andei pelo quarto com o diário na mão, após meu banho, irritada, frustrada, assustada. Todas essas emoções misturadas faziam meu estômago se revirar, me deixando tonta. Eu queria devolver aquele livro idiota. Eu queria fingir que nunca li.

Na verdade, o que eu queria mesmo era nunca ter feito escolha de pegá-lo no restaurante.

Mas agora eu não podia fazer nada. Se Alice se fora mesmo, o que eu podia fazer? Ela provavelmente só tinha faltado, e estaria lá amanhã, mas eu não vou esperar até amanhã. Eu quero me livrar disso agora.

Fui à cozinha, pegando uma caixa de fósforos e um pouco a álcool. Peguei uma garrafa d’água e saí para o ar quase quente da rua. Andei em direção à floresta, adentrando em meio as árvores, caminhando até que não pude mais ver a casa de meu tio.

Coloquei o diário no chão, jogando algumas gotas do álcool para fazê-lo queimar mais rápido, e acendi o fósforo.

– Olá – uma voz desconhecida me assustou, me fazendo pular. Olhei para cima e vi um homem de provavelmente vinte e poucos anos me encarando de uma forma extremamente sensual. Olhei em seu rosto mais atentamente, e me apavorei ao reconhecer suas características: Pele extremamente branca. Olheiras não tão escuras abaixo de seus olhos.

Olhos vermelho sangue.

Entrei em pânico. Duaspalavras ecoaram em meus pensamentos: Sangue humano. Meu coração estava a mil. Balancei o fósforo no ar e peguei o diário, começando a andar de costas, mesmo sabendo que eu não tinha nenhuma chance de escapar.

– Olá... – respondi, e ele passou a mão em seus cabelos pretos. – D-desculpe, mas preciso ir.

– Por que ia queimá-lo? – ele me ignorou, apontando para o diário em minha mão.

– Era só uma experiência – murmurei, surpresa de que eu ainda conseguisse falar em meio a todo o medo mortal que tomava conta de mim.

– Gosto de experiências.

Eu não tive tempo nem de piscar e ele estava bem na minha frente, os olhos vermelhos me encarando de uma forma doentia. Deixei as coisas caírem no chão devido ao susto e quase gritei. Não me movi um centímetro por que se eu o fizesse eu estaria morta.

Eu estava morta.

– Pensando bem, estou pensando fazer uma nesse momento. Você podia me ajudar, não é? – seu hálito surpreendentemente doce batia em meu rosto, me deixando ainda mais tonta do que eu já estava.

– E-eu passo.

– Me desculpe. Acho que você não tem escolha... Qual é o seu nome mesmo?

– É tão importante para você saber o nome das suas vítimas?

Ele riu.

– Tem razão. Não é.

– Acabe com isso de uma vez – eu pedi, minha voz falhando duas vezes.

– E qual seria a graça nisso?

Não consegui responder, meu coração perdendo uma batida.

– Você parece ser muito rebelde. Ah, a juventude de hoje em dia – ele balançou a cabeça, suspirando. E então, do nada, ele deu um tapa tão forte em meu rosto que me deixou atordoada. Senti o gosto de sangue da minha boca, mas tratei logo de engolir, fazendo uma careta com o sabor metálico, com medo que ele sentisse o cheiro.

– Isso foi por não me deixar explicar minha experiência. Que falta de educação!

Não respondi, ainda sem equilíbrio por causa do tapa.

– Bom, já que nós dois amamos experiências, vamos fazer assim: Você vai correr o mais rápido que puder. Toda vez que eu conseguir te alcançar, você perde cinco pontos.

Arfei. Então, apesar de tudo, minha morte seria dolorosa. Eu pensava que eu já tinha sofrido o bastante. Mas aparentemente, não acabava. Nunca acabava. Eu fui estúpida de pensar que me mudar iria fazer alguma diferença na minha vida. O sofrimento me perseguia.

– Se você gritar, perde dois pontos – ele terminou, irônico.

– Por favor. Termine logo – implorei, sentindo que eu devia.

– Eu ainda não disse a sua parte. Eu não estou com tanta sede assim, mas você me provocou. Se no final eu conseguir parar, você saí vencendo. Veja como sou generoso – ele deu de ombros.

– Mas se você parar...

– Como eu disse, você saí vencendo – ele me olhou dos pés à cabeça. – Tenho até vontade de parar para saber como você seria quando virasse imortal. Tão linda...

Olhei com nojo para seus olhos vermelhos.

– Você é patético.

Ele balançou a cabeça, descontente.

– Mas quando começa a falar... É isso que eu odeio nas mulheres. Não calam a boca.

Ele me acertou com outro tapa, dessa vez na bochecha esquerda.

– Podemos começar?

– Não. Não vou correr.

Ele riu.

– Ah, vai sim. Você não é tão louca assim – ele correu em direção a mim, me batendo diversas vezes no rosto. Eu não sentia mais nada naquele ponto. Eu estava totalmente entorpecida pela dor. Meu rosto parecia pesar trinta quilos. Fiquei parada no mesmo lugar esperando por mais. O que quer que fosse. Eu não ia participar de seus joguinhos.

– Me mate logo, seu covarde.

Isso só provocou mais tapas. Dessa vez, esse socou minhas costelas, provocando uma dor interminável. Eu caí, gritando.

– Sabia que você ia colaborar. Menos dois pontinhos para você.

Coloquei minhas mãos em minhas costelas,como se isso fosse aplacar a dor. Nada melhorava.

– Acho que você não consegue mais correr – ele soou tristonho. – Você sabe o que eu sou, por alguma razão, mas mesmo assim demonstrou ousadia.

Eu mal conseguia processar suas frases em meio a dor.

– Uhm... Acho que merece – ele disse finalmente, e então senti dentes em minha garganta, e depois mais nada.

E nada.

E enfim, fogo.


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Notas finais do capítulo

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