Os Clichês de Rosemary escrita por Gabriel Campos


Capítulo 21
Apagaram a luz do final do túnel


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer a todos pelos 300 comentários que a fic completou :)



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Acordei cedo na manhã seguinte. Não me lembro como adormeci, tampouco como fui parar ali. Levantei-me da cama e pus meus dados pés desnudos no chão frio do meu quarto. Não. Não era o meu quarto na mansão de papai, e sim meu quarto na casa de Solange, minha mãe. Sentir o aroma de café típico de todas as manhãs quando eu acordava antes de ir à aula me trazia uma sensação de nostalgia. Nem parecia que fazia pouco tempo que eu havia fugido de casa. Saí caminhando em direção à cozinha até encontrar Dona Solange, passando café no seu velho coador de pano.

— Mãe... — chamei, ainda da porta da cozinha.

— O Rubem já saiu. Foi trabalhar. Achei que você fosse gostar de tomar café quando acordasse.

Sorri para minha mãe, puxei a cadeira da mesa de madeira e me sentei.

— Café com leite, por favor mamãe. — pedi.

— Claro, meu anjo. — ela me serviu com a bebida e um beijo na testa, saindo em seguida.

O vapor que saía da xícara levava consigo minha dor de cabeça e trazia as lembranças da noite passada: as palavras daquelas garotas antes da festa, as quais me feriram profundamente, ou quando eu disse à Dóris que eu não iria mais ao baile. Como Sebastian deve ter ficado após receber a notícia? Mal, aposto. Eu o decepcionei. Também havia decepcionado minha mãe fugindo covardemente de casa, sem dar explicações. E, naquele momento em que eu precisava dela, eu estava ali. Ela havia me acolhido de volta em sua casa. Eu trazia em minha consciência, contudo, que nem todo mundo tem a obrigação de perdoar. Nem todo mundo tem a obrigação de me perdoar.

Após tomar o café, procurei minha mãe. Ela assistia a um programa culinário na TV, num volume quase inaudível. Eu já ouvi falar mil vezes sobre aquele clichê de que um gesto vale mais do que mil palavras. Não havia sopas de letrinhas, enciclopédias ou dicionários que justificassem o que eu havia feito a ela. Como quando eu tinha seis anos, corri até ela, me jogando no sofá e a abraçando. Aquele era um gesto de desculpas.

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(por Rubem Maldonado)

Tereza já estava me esperando na sala da gerência quando eu cheguei à Folk Basfond. Era segunda-feira, e eu nunca gostei de segundas-feiras. Ainda mais aquela, em que eu teria de fazer a prestação de contas mensal com a dona da loja: Tereza respirava euros e inspirava dólares de tão chique que ela era. Mulher, me leva com você para a França pelo amor de God!

— Rubem, precisamos conversar. — afirmou ela. Puxei a cadeira de escritório e fitei os olhos de Tereza. Ela nem poderia imaginar que eu estava morrendo de medo da prestação de contas: eu tinha de passar confiança.

— O que houve, chefa?

— Eu estava conferindo os lucros da loja e... — Tereza começou a folhear os papeis presos numa prancheta até chegar em um em especial — ...percebi um grande desfalque nos lucros deste mês aqui. As contas não estão batendo Rubem. — ela me encarou com suas grandes esferas azuis — Alguma explicação sobre isso, Rubem?

Então chegara o momento o qual eu sempre temi. Martin, com toda aquela grana, sairia impune. Eu, todavia, teria de me ver talvez até com as autoridades. Será que eu ficaria bem com a roupa laranja da prisão? Já ouvi dizer que Orange is the new black.

— Então, Rubem?! Não vai me dizer para onde foram estes duzentos mil reais? — seu sotaque carregado de francês me fazia tremer nas bases.

Eu não sabia o que dizer. Mentir já não era mais uma solução. O que me restava era a verdade. A verdade nua e crua.

— Tinha um cara aqui... Um funcionário. — acabei confessando; Tereza, por sua vez, nem esperou que eu terminasse. A madame colocou a mão na testa e baixou a cabeça, suspirando:

— Oh, Deus! Tinha que ter um par de calças no meio disso tudo.

Eu sabia que seria demitido, na melhor das hipóteses. Iria embora do emprego dos meus sonhos sim, levando meus pertences do escritório e tudo o mais. Só que eu iria com estilo.

As recalcadas e invejosas que ficavam de plantão nos caixas da loja observando a vida alheia com certeza estavam explodindo de tanta alegria. Mas todas, todas elas se lembrariam de mim. Rubem Maldonado nunca por passa despercebido em lugar algum.

Enquanto Tereza passava seu sermão sobre caras e dinheiro alheio, eu ficava em silêncio. Beleza, eu fui um tremendo de um asno e merecia qualquer punição. Mas palavras podem ser mais tortuosas do que qualquer castigo.

— Eu confiei em você, Rubem! — exclamou, continuando — Achei que você fosse uma boa pessoa e que eu poderia confiar em você controlando a parte financeira da loja!

— Mas eu sou confiável, dona Tereza. Eu juro à senhora que sou.

— Quem jura acaba mentindo, mocinho. Acha que eu nunca descobriria?

— Eu garanto a senhora que eu vou pagar tudo. Meu pai é rico, eu vou falar com ele.

— Você tem uma semana, Rubem. — falou, um pouco triste — Ou eu serei obrigada a chamar a polícia. — ela apontou para a porta — Ponha-se daqui pra fora, Rubem Maldonado. Você está demitido. E por justa causa!


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Notas finais do capítulo

O forninho caiu pro Rubem :/