- Hera! - Annabeth disse.

- A tal bruxa do mar? - perguntei confuso, ela fez que sim com a cabeça.

Tínhamos ouvido a voz, mas não conseguia ver ninguém por perto, só os marinheiros e a tempestade cada vez mais próxima.

Annabeth começou a olhar em volta, estava fazendo o mesmo que eu, procurando a tal bruxa.

- Conseguiu o que queria criança, e bem a tempo! - a voz disse de novo. Sentia uma arrepio cada vez que a ouvia.

- Sim, eu consegui. Não serei sua prisioneira! - senti o alívio na voz de Annie - Onde você está Hera?

- Não se preocupe, não estou por perto. Ou você se esqueceu que eu sou uma bruxa?

Sim, ela era uma bruxa. Na certa estava em sua caverna comendo alguns bichinhos asquerosos e rindo de nossas caras de assustados.

- O que você que? - Annabeth perguntou desconfiada, mas parecia com medo do que ela ia responder. No fundo, eu estava com medo.

A bruxa deu uma gargalhada de arrepiar. Cheguei mais perto de Annie,

- Minha criança, parece que seu tempo na superfície está acabando. Logo você vai ter que voltar para sua casa, e vai deixar este belo moço para trás. - meu peito apertou, não queria me lembrar disso.

Annabeth continuou calada.

- Não é horrível? Uma moça linda como você, ter que passar o resto da vida longe de seu primeiro e único amor? - a bruxa disse de novo. 

Senti que desta vez, tinha um pouco de sarcásmo em sua voz.

- Por que acha que eu insisti para que você viesse ao invés de seu irmão? 

Annabeth ficou assustada. Ela não tinha me contado nada sobre a bruxa querer ela. Como ninguém disse nada, Hera continuou:

- Olhe só para este belo rapaz de olhos verdes, que garota poderia resistir?

Então era isso? Hera queria que Annabeth viesse porque sabia que ela se apaixonaria por mim? Mas ela sabia que eram apenas 3 dias, e depois Annie voltaria para o mar e sofreria todos os dias. A não ser que...

- Era isso que você queria, desde o começo, tudo o que você queria era ver Annabeth sofrer! - eu disse e me virei para Annie - Hera sabia de algum jeito que aconteceria algo entre nós, por isso mandou você!

Minha sabidinha estava pasma. Hera deu outra risada maléfica.

- É mais esperto do que parece Percy Jackson!

Ela sabia meu nome inteiro, como isso? Não tive coragem de perguntar, afinal ela era uma bruxa, podia facilmente me transformar em algum bicho estranho.

- Por que... por que você fez isso? - Annabeth perguntou.

"Porque ela é uma bruxa, e é isso que as bruxas fazem, elas gostam de fazer os outros sofrerem!" eu quis responder isso, mas para variar, achei melhor ficar quieto.

- De onde você acha que eu tiro meus poderes? Do sofrimento de cada um dos seres que vivem aqui em baixo. - estremeci. Como alguém poderia ser tão cruel assim? - E eu vi em você Annabeth, uma fonte muito forte de energia.

Então era isso? O único motivo pelo qual Hera nos queria juntos, era para que Annabeth sofresse depois? Eu estava com raiva, com muita raiva. Ninguém tem o direito de manipular a vida de ninguém deste jeito!

- Quando Annabeth contou do marujo que ela havia salvo naquela noite, pude sentir que algo mais estava para acontecer. Uma pequena sereia estava aprendendo a amar.

Annie segurou firme minha mão.

- Agora, cada dia que passar, você vai sofrer por estar longe dele. E quem ficará mais poderosa?

Hera deu mais uma risada. Desta vez fora mais alta, ecoava pelo céu. E então foi silênciada por um trovão, o mais alto que já tinha ouvido. Logo após, começou a chover.

A chuva começou fraca, mas foi ficando cada vez mais forte e gelada.

Puxei Annabeth para fugirmos da chuva. Ficamos embaixo da "sacada" do navio. A maioria dos homens continuaram lá, trabalhando mesmo debaixo da chuva.

Percebi que Annie estava com o pensamento longe. Não resisti, tinha que saber sobre o que Hera tinha falado.

- Annie, acho que você me deve uma explicação, não acha?

Ela me olhou e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

- Naquela noite, quando fomos falar pra ela sobre... o que queríamos, Charles queria vim, ele disse que não me queria perto de humanos asquerosos. - ela sorriu com aquela lembrança - Mas Hera disse que só faria o que nós estávamos pedindo, se eu viesse. Agora eu entendo porquê.

Só de pensar que eu poderia ter passado esses últimos três dias ao lado de Charles já me deu náuseas.

Annabeth olhava para baixo. Será que ela tinha se arrependido de ter vindo? Não podia culpá-la. Agora, tanto ela como eu, passaríamos a vida toda sofrendo pela falta um do outro.

- Queria poder voltar no tempo, assim eu te convenceria que poderia impedir sr D. sozinho. Quem sabe assim, você não sofreria tanto. - era mentira minha. Eu não queria voltar no tempo porque eu não a queria longe de mim.

Annie me olhou assustada.

- Se eu pudesse voltar no tempo, eu o faria Percy, mas seria para reviver esses últimos três dias. Vir até aqui e... te conhecer, foi a melhor coisa que já me aconteceu! Não me importo com a dor porque eu sei que daremos um jeito.

Não sabia explicar como eu estava feliz por ouvir aquilo. A beijei, Annabeth retribuiu. Se dependesse de mim, ela nunca mais sairia do meu lado.

O céu já não estava tão negro, mas ainda chovia forte. O vento de aquela hora agora era apenas uma brisa. E o mar começava a se acalmar.

Percebi que os marujos estavam tendo dificuldade em desamarrar as velas. Normalmente, eu e mais alguns homens fazíamos este serviço. Achei melhor ir até lá ajudá-los.

Comecei a andar, mas Annabeth segurou meu braço.

- Onde vai cabeça de alga? - não entendi aquela preocupação.

- Vou ajudá-los com as velas!

Annabeth me olhava insegura, ainda segurando meu braço.

- Está tudo bem. - eu disse tentando passar confiança.

Ela me soltou um tanto receosa e eu corri pela chuva até o mastro. Apesar de mar estar um pouco mais calmo, o navio ainda balançava.

- Precisam de ajuda? - perguntei aos marujos. Estavam todos enxarcados.

Um deles veio até mim preocupado.

- Deve ter um nó na corda em algum lugar lá em cima. As velas não querem se soltar!

As vezes isso acontecia. Quando enfrentávamos grandes tempestades, as cordas acabavam se enrolando uma nas outras. Então eu tinha que subir e, pelo menos tentar, desamarrá-las. Sabia o que tinha que fazer.

Comecei a subir no mastro que nem um macaco sobe em uma árvore. Percebi que Annabeth chegou mais perto.

Eu subia com um pouco mais de dificuldade de que o normal, porque, além do mastro estar molhado, aquela chuva estava me atrapalhando. Continuei subindo sem olhar para baixo. 

Finalmente cheguei até o topo.

Me sentei na madeira onde a vela principal estava presa, deixando uma perna de cada lado, e comecei a "andar" sentado. Logo avistei o nó, estava praticamente na ponta. Eu tinha que tomar cuidado, qualquer vacilo e eu poderia cair, e não seria muito legal.

Fui até lá e comecei a desamarrá-lo. O vento começou a soprar novamente.

Consegui desamarrar as cordas. Comecei a voltar de costas, até que uma de minhas mãos escorregou e eu quase caí. Precisava manter a calma.

Senti que o navio começou a balançar, o mar tinha começado a se enfurecer de novo. Eu estava escorregando, não conseguia me manter parado porque tudo estava molhado. Olhei para baixo e percebi que, se eu caísse, cairia direto no mar.

O balanço estava cada vez mais forte, e eu não sabia quanto tempo aguentaria ali. Vi que uma das cordas que eu tinha soltado, estava ao meu alcance, decidi segurá-la.

Numa das balançadas no navio, eu acabei escorregando para frente, pensei que ia cair, mas esqueci que estava com a corda na mão. 

Agora minha situação piorara. Eu não teria nem a chance de me despedir de Annabeth, sabia que, se caísse daquela altura, morreria na certa.

- Eu te amo Annabeth! - disse para mim mesmo e senti as cordas escorregarem.

- Percy! - sua bela voz foi a última coisa que escutei antes de cair na água e apagar.