Believe escrita por emeci


Capítulo 8
6- Só preciso ver você um pouco mais


Notas iniciais do capítulo

Oiiii gente! minhaslindas! Como as princesas estão? Então, antes de tudo, DESCULPEM PELA DEMORA! É que foi meio complicado, porque eu vou ter exames e estava sem saco para escrever e tals... E, tirando o facto de que estou triste sabe?
É que das leitoras que eu tenho nem metade comentou no último capítulo. No capítulo que me deu mais trabalho, em que eu me esforcei mais para tudo ficar perfeito... E não tive nenhuma recomendação, então eu fiquei triste e sem vontade de escrever :c
Mas, ok, eu tou de volta e espero que dessa vez vocês deixem muitos reviews para mim ficar contente e, dedico esse capítulo à minha Táh linda, por toda a ajuda que ela me deu, devido a um concurso que aconteceu aí. Então é isso, eu espero que vocês gostem. Não está perfeito, mas, até lá em baixo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/202997/chapter/8

6º Capítulo

(…)I just need to see it some more (…)

– Pick Me

Tinha o comando da televisão nas mãos e os meus dedos passavam por ele, agilmente, procurando algo de interessante que estivesse dando naquele momento. Mas não havia nada. Nem filmes, nem séries. Nada que chamasse a minha atenção. Bufei irritada. Me encontrava na sala do meu quarto de hotel, onde eu e papai estávamos instalados. Era um quarto que tinha cozinha, banheiro, sala de estar, e um pequeno escritório, por isso, mais parecia um apartamento. O melhor era que, como papai estava em Espanha por causa de reuniões e do trabalho e não para se divertir, a empresa pagava tudo.

Suspirei não conseguindo mais evitar. Ainda sentada no sofá, fitei a parede e deixei que meus pensamentos voassem. Tentava olhar para dentro de mim e perceber o que se passava com meus sentimentos. Levei as mãos à cabeça e fechei os olhos, respirando fundo. Não podia esconder. Não conseguia enganar a minha mente. Durante aqueles quatro dias tinha andado desapontada. Cada dia um pouco mais do que no dia anterior.

Podia fingir que tinha estado feliz e que só me encontrava aborrecida por não ter nada que fazer, nem com quem sair. Mas essa não era a verdade. A verdade, é que uma parte de mim tinha desejado que…que algo acontecesse. Não sabia o quê, mas, algo poderia ter acontecido. Eu queria que assim tivesse sido.

Suspirei. Ele não me saía da cabeça. Mas era de esperar. Eu era fã dele. Porém, aquela noite… Involuntariamente um sorriso surgiu de meus lábios. Tinha estado com ele não tinha? Tinha o meu sonho realizado, certo? Tinha me divertido muito. Tinha-o beijado. E, ah, que beijo! O meu sorriso idiota aumentou e toda agonia que andava sentindo se evaporara. A sensação dos lábios dele nos meus continuava fresca na minha mente. Do meu corpo em contacto com o dele. Da música que ecoava enquanto nos encontrávamos no palco. Sonhava com isso. Com aquele mundo, com aqueles momentos.

Tudo tinha parecido tão natural. Tão calmo. Tão tranquilizante, como se não fosse acabar. O sorriso desapareceu e agonia voltou. Nunca mais o ia ver. Talvez num outro concerto, no próximo ano. No entanto ele já não se lembraria de mim. E quando visse nas revistas que o garoto que eu amava tinha arranjado uma namorada? Como me iria sentir?

Então era por isso? Era por causa dele que eu me encontrava assim?

Trinquei o lábio. Faria tudo para o ver outra vez. Apenas para o ver. Será que ele já tinha saído de Espanha? Aonde estaria? Uma onda de perguntas encheu minha cabeça. Todas sobre ele.

O que, na realidade, aconteceria dali para a frente? Se é que aconteceria alguma coisa…

Me estiquei no sofá e deixava meus pensamentos voarem, até que encontrasse algo que me chamasse a atenção. Estava dando noticiário, tem mais chato que isso?

Me perguntei a que horas papai iria chegar em casa. De noite, provavelmente. Deveria ser quase uma da tarde, mas eu não tinha fome para almoçar. Estava tão cansada, tão mole… Tão sem vontade de fazer fosse o que fosse.

Embrenhada brincando com meus dedos, despertei quando a voz do jornalista me cativou.

“… O cantor Justin Bieber teve, há quatro dias, um concerto de grande sucesso aqui em Espanha. Neste momento, se encontra a dar uma entrevista para o programa. O adolescente confirmou que as espanholas são muito queridas e que ele adora todas as suas fãs…”

Deixei de ouvir o que ele dizia. Justin estava naquela entrevista. Num estúdio que não ficava muito longe do meu hotel. Levei menos de um segundo a tomar uma decisão. Eu precisava vê-lo. Com urgência. Apenas isso. Só o ver, a ele e aos seus olhos cor de mel. Saltei do sofá onde estava deitada num salto e desliguei a tv, indo para o meu quarto me calçar e pegar minha bolsa roxa. Pus também o meu boné roxo, aquele extremamente especial e não me preocupei com o tempo. Se ontem tinha estado sol, hoje também estaria. Dei uma olhada rápida no espelho, pus um gloss, e com passo apressado, me dirigi à porta.

*****

Havia mais gente do que eu esperava. Mais Beliebers, gritando. E eu estava no meio delas. Uma sensação de déjà-vu me apanhou de surpresa. À minha frente, havia uma enorme grande, maior que eu. O edifício onde Justin estava se encontrava lotado. Meu coração batia forte e eu me perguntava quando mais tempo a entrevista ia durar. Desde que vim já tinham passado quinze minutos. E desta vez, não havia Maffy para fazer o tempo passar mais rápido. Pensando nela, como estaria a minha fofa?

Ela era a única, tirando eu e Justin, que sabia do que tinha acontecido na noite do concerto. Quando lhe liguei, no dia seguinte, perguntando se podíamos sair, ela me obrigou a relatar o que ocorrera. E, para mais, eu não conseguia guardar aquilo só para mim. Poderia ter contado a Nini, a minha melhor amiga da escola, mas não era a mesma coisa. Ela não me ia entender. Não sabia o que era ser fã. Não sabia o que era ser Belieber. E eu confiava em Maffy. Muito. Sabia que ela não ia sair por aí dando entrevista para todas as revistas que quisessem saber algo sobre o Biebs.

Estava tão nervosa. As minhas mãos se apertavam à volta da grade de metal, como se a quisessem abrir. Parecia que estava numa prisão. E se eu não o visse? Aí estava tudo perdido. Respirei fundo rezando para que isso não acontecesse. Sentia o tempo se arrastando. O vento um pouco frio demais ricocheteava no meu corpo, coberto por uma t-shirt preta de alças e umas calças cinzentas, arrepiando-o. Agora sabia que devia ter trazido um casaco. Mas não importava. Só o queria ver, mais nada.

No entanto o meu lugar não era dos melhores. O carro que eu calculava ser o dele, estava em frente à porta e era preto com os vidros fumados. Quem quer que saísse da porta nunca ia olhar para onde eu estava.

A ansiedade aumentou. E se ele não se lembra-se de mim? Era um tanto impossível, mas podia acontecer. Meu estômago deu uma cambalhota de medo. O tempo se arrastava, minutos pareciam horas. Pensei no que poderia acontecer. Ele podia sair dali e me ver. Sorrir para mim. Quem sabe, correr até este lado, me entregar um papel qualquer que dizia o celular dele ou algo que fizesse com que nos encontrássemos. Me abraçar. Um sorriso idiota escapava dos meus lábios só de o imaginar outra vez. Todavia, ele também podia sair do edifício e ir direito para o carro sem me notar. Sem olhar para aqui. Respirei fundo, descartando esta ultima hipótese. Tinha que pensar positivo.

Até que ele saiu da porta de vidro, fazendo com que todos os meus cinco sentidos se focassem nele. Os gritos ecoaram com toda a intensidade e um sorriso escapou dos meus lábios. Estava com uma t-shirt vermelha, uma jaqueta branca, umas jeans e umas supras vermelhas. Estava lindo, como era de esperar. O coração bateu forte como se fosse sair pela garganta. Como na primeira em que o vira. Todas as emoções estavam, novamente no auge. Aquele déjà-vu, me perseguia. No entanto, reparei que algo estava correndo mal. Que algo estava errado. Ele ainda não me tinha visto. Ainda não me tinha notado. Caminhava para o carro, com um passo apresado, sem ter sequer olhado para o local onde eu estava. Mais Beliebers gritavam por ele. O meu pensamento obscuro de há poucos minutos estava se tornando realidade e eu não podia deixar isso acontecer.

Fiquei desesperada. Eu precisava falar com ele! Era mais evidente que nunca! Queria saber quando tempo ele ia ficar aqui em Espanha. Queria saber um monte de coisa. Qeria esclarecer dúvidas que me tinham vindo a atormentar desde aquela noite. Queria esclarecer actos, palavras que ele tinha dito. Porque aquela noite tinha acontecido? Olhei, ansiosa e desesperada em volta. Eu tinha que fazer alguma coisa. Algo que o fizesse olhar para cá. Um monte de Beliebers estavam gritando. Eu também podia gritar. Talvez ele me ouvisse. Talvez ele reconhecesse minha voz. Talvez ele se virasse.

Vendo que, aos poucos, ele se ia aproximando mais do carro, gritei com todas as minhas forças.

–-Justin!

Fiquei olhando para ele, esperando que ele se virasse. Esperando que parasse os malditos passos que o conduziam até o automóvel. Aquele era a minha última chance. Já tinha esquecido o frio, já tinha esquecido as outras Beliebers, os seguranças, os paparazzis. Só estavam ele e eu. E, por favor, ele tinha que olhar para aqui. Para mim. Para saber que eu ia continuar do lado dele, não importasse o que ia acontecer.

–-BIEBS! –gritei de novo, dessa vez, com toda a força que minhas cordas vocais permitiam, libertando todo o ar que os meus pulmões deixavam, todas as emoções que estava sentindo. Desde desespero a saudade.

E após o grito tive a certeza que ele ouviu. Nós não estávamos tão longe assim. A única coisa que incomodava era o barulho de fundo. No entanto ele se virou.

Um sorriso brotou como uma flor através de meus lábios. O coração palpitou forte. Ele girou a cabeça, provavelmente procurando quem o tinha chamado, até que me fitou. Fiquei sem ar e com as pernas bambas. Meu sorriso aumentou mais ainda.

Porém, ao contrário da cena bizarra que minha mente tinha produzido algum tempo atrás, ele não correu até onde eu estava. Não me abraçou ou entregou qualquer papel rabiscado. Ficou no sítio, hirto como uma pedra. Não sorriu sequer. Apenas me olhou. Não deixou que do semblante transparecesse nenhuma emoção. E com aquela atitude tão normal, mas tão anormal da parte dele, meu sorriso fugiu e voou para longe, como um pássaro que é finalmente libertado da sua gaiola. Ele não fez nada. Nada mesmo. E após alguns segundos, voltou a caminhar para o carro, dessa vez com mais velocidade que antes, como se não me quisesse ter visto.

Trinquei os dentes com força. Porque ele tinha feito aquilo? Assim, daquela maneira, tão pouco interessada? Como se me ver, fosse algo que ele realmente não queria? E o que tinha sido aquela linha fina em que seus lábios se transformaram? Aquele gesto de raiva? Então era isso? Raiva que ele sentia de mim?

Fiquei estática, dirigindo o que vira, tentando encontrar uma explicação, enquanto via o carro em que ele entrara partir.

*****

–-Você não é a garota que foi a Only Less Lonely Girl, no concerto do Justin? – uma voz disse.

Deixei de encarar minhas sapatilhas e ergui a cabeça em direção à voz. Estava sentada à porta do edifício em que Biebs tinha tido a entrevista, numas escadas feitas de pedra. A chuva caía, inundando a calçada. A minha sorte, era que as escadas do prédio amarelo tinham cobertura, evitando que eu ficasse encharcada.

Foquei minha atenção na garota que estava à minha frente. Tinha cabelos pretos, lisos, compridos e s olhos castanhos. Ela sorria para mim. E era brasileira! Automaticamente, um sorriso surgiu dos meus lábios. A garota vestia umas calças pretas, justas, umas all-stars também pretas e uma t-shirt com a cara do Justin estampada bem engraçada. Também devia ter ouvido a notícia no noticiário.

–-Sou sim. – sorri mais me lembrando daqueles momentos recheados de magia em que estive no palco – Quer se sentar aqui? – perguntei.

Naquele momento, nada melhor do que alguém para me livrar dos meus próprios pensamentos. As perguntas que se associavam ao comportamento de Justin continuavam ecoando em minha mente. E, ela era Belieber! E brasileira! Porque estaria em Espanha?

No entanto em vez de ela se apresentar e se sentar do meu lado, uma vez que parecia cansada, ela sorriu e começou a falar alto, entusiasmada com a minha revelação.

–-É sério? Ai Meu Deus, garota! Você tem tanta sorte! – ela mexia exageradamente com as mãos e me fazia rir – Véi, como foi a sensação? Me conta? – os olhos dela brilhavam e parecia super entusiasmada.

Eu sorri com a reação dela. No entanto, estava ligeiramente admirada. Se eu, alguns meses atrás encontrasse alguma garota que já estivesse estado com ele tão pertinho como fiquei era capaz de a estrangular de tanto ciúme. Não, brincadeirinha. Nunca faria isso. Por outro lado, eu ficaria bastante contente e orgulhosa dessa minha “irmã” uma vez que as Beliebers eram todas uma família.

–-Eu conto, na boa. Mas primeiro, não quer se sentar aqui? - perguntei.

Ela sorriu, um tanto acanhada e tímida e se sentou do meu lado, como eu pedira, momentos antes.

–- Ah, desculpa. Eu meio que tive um colapso nervoso, aqui. – eu ri. Ela era engraçada. – Eu sou a Taís, mas pode me tratar por Táh. E, você é a Carol, né?

Meu sobrolho se ergueu. Como ela sabia meu nome? Será que havia vídeos no youtube meus sendo a Only Less Lonely Girl, em que diziam o meu nome ou algo do género? A ideia nem me ocorrera, mas, agora, me apercebia que era provável.

–-Como você sabe meu nome?

–-Ahmm… - ela fez uma pausa e me fitou olhos nos olhos - A Mafalda me disse que ela era sua amiga e aí me contou.

Eu abri a boca em sinal de espanto. Ela conhecia a Maffy? A minha Maffy? Aquela garotinha super fofa, que eu adorava, com cabelos cacheados e que tinha permitido que os meus sonhos se tornassem realidade? A Táh a conhecia?

–-Você conhece a Mafalda? – perguntei ainda estupefacta. Os minhas pernas estavam estendidas pelas escadas, porém o tempo tinha arrefecido e, a cada segundo, eu me castigava mentalmente por não ter trazido um casaco.

–-Sim – ela disse, numa voz calma, olhando ora para as unhas, ora para mim - Nós nos conhecemos enquanto comprávamos o ingresso para o show. Mas depois ela foi para a zona do camarim e eu fui comprar qualquer coisa para comer e aí nos perdemos – contou.

Eu sorri. Tinha que falar com Maffy contando quem tinha conhecido acidentalmente. Sempre pensei que Portugal era pequeno, mas pelos vistos, em Espanha era fácil encontrar Beliebers. Eu nem tinha tempo de formular alguma pergunta na minha cabeça que Táh, logo intervia, com sua voz doce e contagiante.

–-Você não é poser, certo? – eu sorri, abanando a cabeça. Claro que não era. Quer dizer, eu tinha plena noção de que o meu amor pelo Biebs não era passageiro. E eu sabia tudo o que poderia saber sobre ele. Como poderia ser poser? – Ah, ainda bem – ela suspirou – É que eu odeio poser sabe? E elas sempre são sortudas. Um monte delas já estiveram com o Justin, o abraçaram, subiram no placo, receberem um ramo de rosas vermelhas, mas se for preciso, nem sabem o nome completo dele. Enquanto que nós, Beliebers que lutamos durante anos só irmos num show dele e sabemos quase tudo sobre ele, nem o ver conseguimos.

Eu acenei com a cabeça. Sabia o que aquele sentimento era. Ver garotas que o abraçavam e diziam que o amavam, mas bastava aparecer uma nova modinha, uma nova banda, que já diziam que nunca tinham gostado dele. Ou então deixavam de gostar dele por uma berteira qualquer. Eu tinha plena certeza que, um dia, quando o Justin cortasse o cabelo, isso iria acontecer. Porque honestamente, eu não achava que ele ia ficar com o hair-flip para sempre. E tinha medo que isso acontecesse, pois sabia que ele ia ficar triste.

–-Mas, e aí, me conta como foi vê-lo assim de pertinho.

Após eu lhe ter contado, com todos os pormenores como tinha sido a experiência de ter o meu ídolo bem pertinho de mim, me dedicando uma música, Táh falou sobre o show e ambas comentámos sobre coisas fúteis, como a roupa do Justin ou as luzes. Porém, eu notava que algo a incomodava. E, um pouco ousada, lhe perguntei o que se estava passando.

Devido a essa pergunta, Táh, libertou tudo. Falou sobre seus problemas, sobre a vida no Brasil, sobre o amor pelo Justin entre outras coisas. Ela não parecia se importar com meu silêncio. E, eu gostava de a ouvir falar. Tem coisas que só outras Beliebers entendem e, nós precisamos nos libertar de determinados discursos que nos perseguem durante muito tempo com outras pessoas, tendo a certeza que elas não nos vão achar loucas, ou se rir na nossa cara, por amarmos alguém que nunca vimos. De alguma maneira, apenas em alguns minutos nos tornámos muito próximas comparadas com outras pessoas que conhecíamos a anos. Quase como o que aconteceu comigo e Maffy, mas com algumas diferenças significativas. Táh era mais louca, mais aberta e me fazia rir com suas maluquices. E também era muito faladora. E, devido ao facto de me ter contado tudo o que a atormentava em tão pouco tempo, me conhecendo tão mal, mas me conhecendo tão bem, nós já nos poderíamos considerar muito amigas.

–-Desculpa eu te ter contado tudo isso, só que precisava falar com alguém. – Ela falou, se referindo a uma história complexa que tinha acontecido entre ela e um garoto da sala dela, um pouco triste e talvez arrependida.

Eu sorri calorosamente. Ela não precisava se desculpar por isso. Todo mundo tem problemas. E, por vezes, falar com um amigo que conhecemos à pouquíssimo tempo é melhor do que desabafar com outro de longa data, com medo que este nos deixe ou nos troque por causa da nossa confissão.

–-Então, que é isso? Não tem qualquer problema é sério. – passei a mão pelo ombro dela, fazendo uma carícia, tentando animá-la -Eu compreendo. Às vezes há coisas que só conseguimos contar a determinadas pessoas, mesmo que as conheçamos a pouco tempo. – eu sorri para ela, amavelmente.

–-Obrigada. – ela disse sincera. – Precisava mesmo falar com alguém. – ela fez uma pausa, me olhando com mais atenção – No entanto, não pareço ser a única com problemas. Me conta, que se passou?

Suspirei. Não sabia se lhe devia contar. Para explicar o porquê de estar assim tinha que voltar a falar do beijo que eu e Justin demos, da noite toda que passei na companhia dele, e do que eu achava ter visto, agora no carro. E depois será que ela ia acreditar? Será que ficaria chateada comigo por ser o ídolo dela? Ficaria com ciúmes? Espalharia por todo o mundo.

–-É que… eu não se devo contar…e… depois você pode não acreditar…e…

Ela me interrompeu, e com um olhar determinado, disse:

–-Você pode me contar o que quiser Carol. Eu não te vou julgar por causa disso.

Aquelas palavras foram a chave para que a minha boca se abrisse e libertasse tudo o que eu tinha para dizer. Além disso, se ela era amiga de Maffy, era minha amiga também. Táh era de confiança e eu o soube, naquele momento. Lhe falei do beijo, da noite, da semana sem nada de novo, do que aconteceu naquele dia. No entanto não usei nomes. Tive o cuidado de referir apenas “ele” e “ela” como se se passasse com uma amiga minha. Conforme ia contando via ela sorrindo feita boba ou suspirando. Outras vezes, ficava fitando as suas mãos, ou a chuva. Quando acabei a minha narrativa de acontecimentos, olhai para ela, esperando alguma reação histérica ou algo do tipo. Talvez isso não fosse acontecer, porque ela não sabia a quem eu me referia. Táh estava com um sorriso gigante no rosto.

–-Do que você está rindo? – perguntei, levemente irritada. O assunto era sério. Eu estava triste. O que tinha de graça nisso?

Ela encolheu os ombros, me encarando com os seus olhos castanho escuros.

–-Bem… se a “ela” for quem eu penso que é e o “ele” for quem eu penso que é, como poderia eu não ficar contente por tudo isso ter acontecido com uma amiga minha? – ela perguntou.

Eu sorri, pondo uma mexa de cabelo atras da orelha. Mas depois a recordação daquela tarde voltou a minha mente e o sorriso desapareceu.

–-Você deve-se ter esquecido do que aconteceu hoje. – murmurei, encarando a chuva que caía de uma forma lenta, mas e quantidade, exalando humidade e frio. As pedras onde eu estava sentada, também estavam geladas, porém, já me tinha habituado.

–-Carol… O que importa o depois se tudo isso aconteceu? – ela perguntou – Já pensou quantas garotas choraram essa noite por não o terem ao lado delas? Tenho certeza que isso também já aconteceu com você – acenei com a cabeça – Já pensou em quantas Beliebers não conseguiram o bilhete para o show dele no sábado? Já pensou em tudo o que milhares de meninas fariam apenas para o ver a 200 metros? Nas loucuras que elas fariam? – assenti me sentindo culpada.

Táh parou as suas perguntas retóricas e esperou que eu dissesse algo. Mas que poderia eu dizer? Que me sentia um lixo por ter ficado triste por ele me ter ignorado, enquanto que outras fãs nunca o vão ver? Que me sentia o ser mais cruel desse mundo? Mais egoísta? Mais frio, mais distante, mais convencido? Porque era assim que eu me sentia naquele momento. Culpada. Uma traidora, por estar triste por alguma coisa tão insignificante. Comprimi os lábios numa linhas fina e fechei os olhos por momentos, deixando de encarar a chuva. Todas as Beliebers do mundo me deviam odiar naquele momento. Até o Justin me devia odiar naquele momento.

Se calhar tinha sido isso. Ele ficara com raiva de mim, porque, mesmo depois dos maravilhosos momentos que ele me tinha fornecido eu o continuava procurando, não dando a chance a outra Belieber. Eu me lastimava quando nem tinha motivos para isso. Devia ser mesmo por isso. Tudo indicava que sim.

–-É… você deve me odiar nesse momento. – eu disse num sussurro, ainda incapaz de encarar Táh, mas observando cuidadosamente cada movimento de cada gota que caía do seu.

Mas o som da gargalhada divertida da Táh, me despertou e me fez olhar para ela. A Táh ria. Mas eu não percebia qual era a graça. Ela metia s mãos na barriga e inclinava a cabeça para trás enquanto o riso escapava de sua boca.

–-Odiar?! Como eu poderia te odiar, garota? – ela perguntou, incrédula, ainda rindo.

–-Então mas você mesma disse. Eu estou aqui me queixando depois de tudo isso ter acontecido, enquanto que outras garotas nunca o vão ver, logo eu sou a pessoa mais egoísta do mundo e …

Táh me interrompeu como um olhar divertido. Porém a sua voz estava calma, serena, me mostrando que o que eu dizia não era correto.

–-Você percebeu tudo errado. Eu disso isso sim, mas não é para você se sentir egoísta. É exatamente por estar aqui, sentada, se queixando em vez de fazer alguma coisa. – a olhei confusa. Como assim? Eu tinha que contar para alguém o que estava sentindo. Ela percebeu o meu olhar e continuou, com aquela voz doce – Carol, o Justin beijou você. Ele foi legal com você. Foi simpático. Acha que ele faz isso com qualquer uma? Então, eu, se fosse você, estaria procurando por ele para tirar essa história a limpo…

Dessa vez, fui eu quem a interrompeu, um pouco indignada.

–-Mas eu fiz isso! Eu vim procurá-lo hoje e ele me ignorou! Nem olhou direito para mim!

Ela revirou os olhos com um sorriso no rosto.

–-Já pensou que ele pode ter feito isso por estar muita gente à vossa volta? Ou por qualquer outra coisa? – ela perguntou, me fazendo refletir.

Agora que via as coisas daquela perspetival até fazia sentido. Bastante para dizer a verdade. A vontade de esclarecer aquela história era enorme, mas como eu o poderia fazer? Nem sabia onde ele estava, ou se continuava em Espanha…

–-E aonde é que eu o encontro? – perguntei, desanimada. Ali, sentada naquelas escadas, não havia noticiário, não havia panfletos, nem setinhas no chão que me indicassem para onde Biebs tinha ido.

Apoiei a cabeça sobre as mãos que estavam apoiados nos joelhos agora dobrados me sentindo desesperada. Respirava fundo. Ouvi Táh se levantar e um barulho de um papel sendo rasgado. Não tive vontade de olhar, estava melhor ali, naquela escuridão, onde tudo podia voltar atrás. Onde eu podia voltar a ter Justin ao pé de mim, sem ter que percorrer Espanha inteira à sua procura, ou, talvez o mundo inteiro. Quem me dera que as coisas fossem mais fáceis. Ouvi Táh escrevinhando qualquer coisa num papel. Depois ela tocou no meu ombro, obtendo minha atenção e me entrgou um papel.

–-Esse aqui – ela me estendeu um papel rasgado – é o número do meu celular para você me poder contactar – ela sorriu e eu o peguei, colocando no bolso da calça. Tinha essa mania, colocar as coisas nos bolsos. Depois nunca me lembrava delas. – E esse – ela me esticou outro – é o nome do restaurante onde o Justin está almoçando nesse momento. – Abri a boca de espanto, sentindo o meu estômago se embrulhar de ansiedade – Sei disso porque o meu tio trabalha lá e me avisou que um tal de Scooter Braun tinha feito uma reserva para o dia de hoje, por volta das duas da tarde. – ela me informou – O restaurante fica aqui perto. Dá para você ir a pé, mas ainda fica um bocado longe. É sempre nessa rua, durante um quilómetro. Depois você encontra uma florista e corta para a direita, continuando a andar. Aí você encontra um restaurante chamado “Bob’s Place” (tou meio sem criatividade xp) e é esse. Eu não sei que horas são, mas, certamente, você ainda chega a tempo.

Minha garganta continuava seca, segurando o papel com o nome do restaurante e meus olhos ora olhavam para ele, ora olhavam para o papel. Estava ansiosa e as batidas do meu coração descompassadas.

–-Porque você está fazendo isso? Você… também o poderia ver… - disse numa voz rouca, devido ao choque.

Táh sorriu e com simplicidade, disse uma frase que me fez abraça-la, com muita força e a enchar de beijinhos e de obrigadas.

–-As amigas servem para isso, não é?

Antes de me levantar e de me despedir refleti sobre minhas opções.

Eu podia pegar um táxi, com o dinheiro que tinha e chegar ao restaurante sem estar molhada e de uma maneira mais rápida. No entanto corria o risco de ser roubada, de entrar num táxi que não era um táxi, mas sim um carro em que te pediam todo o seu dinheiro e te roubavam. E, eu estava de sobreaviso, uma vez que papai me tinha alertado para não andar em táxis enquanto estivesse sozinha.

Ou eu podia ir a pé, ficar mais cansada, chegar mais tarde, toda molhada, mas saber que nada corria mal. E o dinheiro guardaria para a viagem de volta que seria mais longa, e me informaria de um ónibus ou coisa parecida para voltar no restaurante.

Antes de me enfiar por baixo da chuva catastrófica, me despedi de Táh, a minha mais recente amiga.

Porque existem anjos que não têm asas, e eles são os nossos amigos. E Táh foi colocada no meu mundo, de uma forma milagrosa, resolvendo os meus problemas. Talvez eu devesse acreditar em destino. Ou então, no facto de que nada acontecia por acaso.

*****


Estava quase chegando ao maldito restaurante. Sentia os meus pés frios, as minhas mãos geladas, as minhas roupas encharcadas, os meus braços encolhidos procurando uma fonte de calor e os meus dentes tremendo. Do céu caíam gotas de chuva fortes, numa grande quantidade, que escorriam pelo meu cabelo. Se não fosse o meu boné roxo – que, infelizmente, também estava molhado - certamente não conseguiria ver nada. Me amaldiçoei por ter vindo a pé, mas depois me arrependi. Já tinha passado pela florista e já avistava o restaurante com o nome “Bob’s Place”. Ficava no fim da rua e não era nada de muito luxuoso. Pelo contrário, era uma pizzaria. As paredes da frente eram brancas, muito simples. Não tinham vidros e não dava para ver o interior, a porta era feita de madeira.

Meu estômago protestou de fome e água se formou na minha boca. Só naquela hora, é que eu percebi com quanta fome estava e que a última coisa que entrara pela minha boca tinha sido um copo de leite, de manhã cedinho. Continuei andando, com todo aquele frio acumulado no meu corpo. É sério, custava muito eu ter trazido um casaco?

Por fim, alcancei a porta de madeira e a abri, sendo recebida por um vento quente que logo fez o meu corpo se arrepiar. Nunca entrar num restaurante me soube tão bem.

*****

Se calhar ele não vem nesse carro, era o único pensamento que dançava na minha mente. E eu já tinha tido melhores pensamentos que aquele.

Esperava por Justin, sentada num banquinho que havia ligeiramente perto do carro em que o Biebs se dirigira para o local onde almoçaria, nas traseiras do restaurante.

Tinha entrado no “Bob’s Place”, toda encharcada, exausta e cheia de fome. No entanto, quando perguntara à senhora do balcão onde Scooter Braun estava almoçando, ela me respondeu que ele já tinha saído, o que me deixou arrasada. Outra crise de deceção teria começado se não fosse Vinícius, um garçom. Ele me chamara para a cozinha do restaurante, onde ninguém nos ouviria e me informou que a irmã, Táh, tinha ligado para ele, pedindo para que ele me dissesse a verdade. Mais uma vez, aquela garota era um anjo. Prometi a mim mesma não esquecer de pedir um autógrafo a Justin para ela. Na realidade, Scooter, já tinha sim saído, mas Justin tinha ficado, acabando de almoçar. O garoto de cabelos pretos, parecidíssimo com a irmã, mas com os olhos verdes, com os seus dezassete anos, me informou que o carro onde Justin tinha vindo, estava nas traseiras e para eu me dirigir para lá e esperar por ele. Tal como a irmã, ele era um amor de pessoa.

E, agora estava eu ali, novamente no frio, há mais de meia hora, exausta, encharcada e cheia de fome, esperando que o meu ídolo viesse só para esclarecer o que tinha acontecido nesses dias que decorreram.

Prestes a desistir, respiro fundo tomando a decisão de me ir embora quando a porta da frente abre. Minha atenção se focou totalmente nela e quando Justin sai para fora, eu fico deslumbrada, com o coração batendo a milhas só por o ter tão perto, sem nenhum segurança, sem nenhuma grade que me impedisse de o abraçar.

Ele estava maravilhosamente lindo. A t-shirt vermelha fora certamente feita para ele, porque era justa e lhe delineava o tronco. A jaqueta branca tinha estilo e era muito legal. Parecia quentinha e aconchegante. O cabelo estava alinhadinho, penteado. Ele estava simplesmente perfeito.

Porém, ele não notara a minha presença. Se dirigia rapidamente ao carro devido à chuva. À chuva que eu estava suportando por horas por causa dele. Quando ele abriu a porta do carro, entrando e a fechando de seguida, eu parei de o observar e me toquei do que estava acontecendo. Ele não podia ir-se embora! Eu não tinha feito tudo aquilo para ele nem me ver!

Desesperada, e um pouco atónita, me levantei de um pulo com o coração acelerado e corri até à porta do carro por onde ele tinha entrado. Ele enfiava a chave na inguinação, quando eu decidi fazer um “toc toc” no vidro para captar a sua atenção.

Ele parou o que fazia e olhou para janela, fazendo com que nossos olhares se cruzassem e arrepios quentes, contrastando com a temperatura da minha pele, se formassem no meu ser. Como eu tinha sentido falta daqueles olhos cor de mel que se acorrentavam aos meus! No entanto eles transmitiam sentimentos estranhos… Admiração, susto, mágoa, raiva… Mágoa, raiva? De quê? De mim?!

A boca dele se abriu uma vez e se voltou a fechar enquanto a minha se convertia num sorriso rasgado, ignorando a chuva que por cima da minha cabeça caía. E num ápice ele abriu o vidro, fazendo com que nosso contacto visual não tivesse nada que o perturbasse.

Eu era para dizer “oi”, ou algo do género, no entanto, ele foi mais rápido.

–-Oi – Ah! Como eu tinha saudade daquela voz! Então ele não tinha me ignorado ou não estaria falando comigo. O meu sorriso se abriu mais. Sentia vontade de pular e gritar e uma felicidade extrema me dominava. Sentia vontade de o abraçar, de encher aquela bochecha fofa de beijinhos tamanha a minha felicidade. – Você quer um autógrafo?

O meu sorriso se fechou e o meu sobrolho se ergueu. Como assim, se eu queria um autógrafo? O meu coração bateu rápido e eu fiquei confusa. Ele se tinha esquecido de mim? Em quatro dias? Não. Não era possível. Ele só podia estar brincando comigo. No entanto no rosto dele estava um sorriso muito bonito, que não demonstrava que aquilo fosse uma brincadeira. A felicidade que eu sentira se tinha evaporado. Você quer um autógrafo?

–-Não…eu… eu… - tentei formular alguma frase coerente, mas não deu, porque ele me interrompeu, com aquela voz doce, suave, que desta vez transbordava um pouco de malicia e insatisfação.

–-Ah, quer uma foto é isso? – ele perguntou com o sobrolho erguido e com um sorriso trocista nos lábios – Afinal você é minha fã, certo? É, apenas minha fã, não é mesmo?

Eu engoli seco e senti um nó se formar na minha garganta. Ele estava zoando com a minha cara. Estava brincando comigo. Com os meus sentimentos. Como se eu tivesse sido apenas mais uma fã dele o tempo todo. Como se aquela noite não tivesse significado nada. Como se o nosso beijo não tivesse significado nada. É, apenas minha fã, não é mesmo?

Continuei olhando para ele, para o garoto de que eu gostava, abrindo e fechando a boca diversas vezes, esperando que saísse algum som. Mas não saía. Minha garganta parecia trancada e até respirar estava se tornando ligeiramente difícil. Ele não podia estar brincando daquela maneira comigo, me fazendo de idiota. Como eu pensei que ele nunca faria. Como eu tive a certeza de que ele nunca faria. E quando senti as lágrimas embaciarem minha vista, caminhei para trás, ainda com o olhar preso no dele. Justin estava ainda olhando para mim com aquele sorriso trocista, aquele sorriso que eu nunca vira em revistas, aquele sorriso que eu nunca vira quando ele estava com fãs. Aquele sorriso de gozação que eu nunca pensei que existisse nele, e muito menos, que fosse dirigido a mim. Talvez eu me tivesse enganado. Talvez ele não fosse a pessoa que eu pensava que ele era.

Aquilo não podia estar acontecendo. Mas não mesmo! Continuei andando para trás, mantendo o nosso contacto visual, perplexa com a atitude dele perante a minha pessoa. Ele tinha me humilhado! Posto o meu orgulho no chão!

Quando já estava suficientemente longe dele, me virei de costas e comecei a correr. Comecei a correr por aquela rua fora, que eu nunca tinha visto. A correr de verdade. Sentia minhas pernas doerem a cada passo que dava porque estavam exaustas e com poucas proteínas. A qualquer momento eu podia cair e ficar sem forças. Sentia a chuva gélida me perfurar. Sentia uma dor aguda no coração. Mas continuei, porque nem em sonhos, eu o ia deixar ver lágrimas escorrerem dos meus olhos. Não depois do que ele me tinha feito. Não lhe ia dar esse prazer. À medida que corria, minha raiva aumentava assim como um sentimento doloroso de perda. Porque de alguma forma, o garoto que eu pensava que existia, o garoto que eu pensava ser perfeito, fofo, não passava de um famoso metido que não liga para os sentimentos dos outros.

Uma parte de mim gritava que ele era um idiota. Que ele me tinha humilhado e que nem o meu respeito merecia mais. Que ele não era ninguém mais que eu para me tratar daquela maneira. E que mesmo se lembrando de mim, sabendo o que tinha acontecido naquela noite, ele zoara na minha cara. Me fizera de burra e eu só deveria querer distância dele. Essa parte estava puta de raiva. Irritada, frustrada por aquilo ter acontecido. Essa parte de mim tinha vontade de lhe gritar umas quantas verdades, de o fazer sentir tão humilhado, tão mal como eu estava. De o fazer ver que ele não podia fazer isso com os outros só porque era rico e tinha fãs.

Passei as mãos pelos olho, tentando fazer com que as lágrimas parassem. Depois de tudo o que eu tinha feito por ele, ele ainda me tratava assim? Daquela forma?

Porém, a outra parte – uma mais pequenina e quase se extinguindo – estava despedaçada. Triste, dececionada. Querendo acreditar que ele logo se desculparia e que tudo ficava bem. Que aquele não era meu Biebs. Que ele me tinha confundido com outra fã.

Mas mesmo se fosse outra fã, mesmo se ele estivesse num dia mau, não tinha qualquer direito de descarregar em cima dos outros. Fosse qual fosse a razão!

Meu coração só não estava partido em pedacinhos porque eu ainda não acreditava no que ele tinha feito. Tentava esquecer aqueles momentos horríveis. Mas não dava. Por que ele não passava de um cafajeste! Idiota! Imbecil! Babaca! Otário!

Ao longe ouvi, uma porta de um carro bater e uns passos me seguirem. Corri com mais força. Não o queria ver. Nem queria que ele me visse. Que fosse viver a sua vidinha com luxo, cheio de fãs. Eu estava me cagando. Nem sabia quem ele era. Justin Bieber?! Peço desculpa mas não conheço. Eu sabia que tinha que correr mais. Ele era mais rápido que eu. E tendo em conta que eu não comia havia horas, que as lágrimas despedaçadas e tristes me toldavam a visão, de que todo o meu corpo estava vulnerável, frio, a minha situação não era propícia para uma boa corrida.

–- C, espera! – ele gritou, agora mais perto do que eu pensava que ele estaria. Os paços dele sobre as poças de água que no chão se formavam indicavam que ele ia ficando cada vez mais perto.

Meu corpo se arrepiou ao ouvir a alcunha que ele me dera, mas não deixei que me afetasse. Então ele se lembrava de mim, não é? A minha raiva era tanta…

Senti um braço quente me agarrar o pulso e fazer com que eu parasse de correr. O braço dele. Num reflexo puxei o meu braço com força. Não queria qualquer contacto com ele. Imbecil! No entanto não resultou, porque ele me agarrou com mais força, me fazendo parar a corrida.

–-ME SOLTA! – gritei com todo o ar que havia em meus pulmões, mostrando toda a minha indignação, raiva, frustração e nojo por estar sendo agarrada por ele. A chuva continuava caindo. Eu não ia olhar para ele. Ele que fosse para bem longe de mim. Não precisava dele. Não precisava dos posters que tinha dele, das fotos no meu celular, das músicas no meu Ipod, do meu livrinho onde tinha apontado tudo o que sabia sobre ele… Não precisava de nada daquilo!

Um aperto mais forte surgiu no coração, quando me dei conta do quão ele era importante e da quantidade de coisas que eu tinha dele. Da quantidade de coisas que eu tinha feito por ele. O que só aumentava minhas lágrimas, meu desespero e minha cólera por ele me ter tratado como se eu fosse apenas mais uma da sua listinha de garotas.

–- Olha para mim e me ouve. – ele pediu, com uma voz calma, perto de mim. A mão quente dele estava ainda à volta do meu pulso e eu sabia que era impossível fugir. Mesmo que quisesse, ele me agarraria. E naquele momento até a voz dele me irritou. Com um impulso, me virei encarando-o com toda a raiva, com todo o ódio que estava sentindo contidos no olhar, porque, por mais que eu negasse, eu ainda não era capaz de resistir a um pedido seu.

Quando me virei, o encarando e os nossos olhares se cruzaram, ele sorriu vitorioso. Aquele sorriso babado que ele fazia após ler um tweet fofo de uma fã. Aquele sorriso que eu adorava e que me derretia. No entanto, ignorei o calor bom que se espalhou pelo meu corpo ao senti-lo tão perto. Menos de um metro nos separava e ele estava debaixo da chuva, só com a t-shirt vermelha, as jeans e as supras vermelhas. Deveria ter deixado a jaqueta no carro. Realmente, foi um ato de muita esperteza.

–-O que você quer? – perguntei fria, com todo o ódio dirigido a ele na minha voz. Os meus lábios se convertiam numa linha feita apenas de fúria e libertei o meu braço do dele, cruzando-os em frente ao peito, mostrando minha determinação e que não me estava agradando nada o facto de vê-lo.

–-Falar com você. – ele disse, novamente com aquele sorriso lindo, mas com uma voz um tanto quanto nervosa e arrependida, que me irritava e me deixava nervosa, com medo que toda a minha a determinação se evaporasse e a parte boazinha de mim acabasse ganhando. Eu ri, sarcástica. Um riso de gozação, forçado porque eu nunca o tinha feito para ninguém, parecido com o que ele tinha feito para mim, dentro do carro.

–-Eu não vou ouvir uma porra daquilo que você tem para me dizer! – disse, quase aos gritos. Pouco me importava o que ele ia pensar de mim. Estava me cagando. Podia me achar uma histérica, podia até chamar a polícia que eu não me importava. A opinião dele já não era importante e nunca mais seria. Um novo aperto se formou no coração por saber que aqueles pensamentos eram mentira - Quem você pensa que é?! Só por ser rico e ter garotas a seus pés não significa que me possa tratar como bem entender! Seu idiota! Seu idiota metido! Seu imbecil! - tinha intenção de jogar nele tudo o que sentia, tudo o que pensava e esfregar bem na cara dele, para se sentir culpado. Eu não estava me conhecendo, nunca fora dessas garotas que ama arranjar escândalo, mas era o que estava acontecendo. - Eu estou aqui, morrendo de fome, de frio, esperando por você e a única coisa que você me diz É SE EU QUERO UM AUTÓGRAFO? - me aproximei mais dele, olhando- o bem nos olhos. Ele olhava para mim, com um olhar culpado, mas não deixava de me fitar - Que merda é essa?! – eu perguntei, bem pertinho dele. Sentia a minha determinação se ir esgotando e isso, não era bom, nada mesmo. – Eu… eu pensava que você era diferente dos outros garotos… - sentia minha voz tremer, minhas mãos tremerem, mas não era do frio. Era de saber que estava perdendo a coragem devido ao efeito que os olhos dele tinham em mim. Ele ainda não tinha dito uma única palavra desde que o meu discurso começara. Mais lágrimas escorriam pelo meu rosto, mas nem eu nem ele, tinha feito algo para as limpar. Covarde. - … mas afinal parece que me enganei – apontei para ele, no ombro e a vontade de ficar mais próxima dele era quase irresistível. A minha temperatura devia estar tão baixa, que só o fato de tocar no peito dele com o dedo indicador me arrepiava - … você é tal e qual os outros garotos… sem… sem sentimentos… egoísta – minha voz ia ficando mais confusa devido ao choro e minha vista embaçada, enquanto a coragem e determinação de momentos atrás se esgotava – … eu sempre fiz tudo por você e … você… você… me magoou – admiti, percebendo que já não havia mais raiva em mim. Só carência, tristeza e um enorme vazio. Como se algo importante tivesse sido tirado de mim. Porém, meus olhos se arregalaram quando viram o estado dele. Ele estava todo molhado! Com o cabelo escuro devido a chuca, com a t-shirt encharcada! – ONDE VOCÊ TEM A CABEÇA? – gritei novamente fitando-o e ele pareceu um pouco assustado. Será que ele não percebia a gravidade de estar na chuva? - Tá louco garoto? Você vai ficar todo molhado … e constipado e sem voz – as minhas mãos se mexiam rápido e os meus dentes batiam. Eu tentava fazê-lo perceber que ele tinha que ir para o carro, imediatamente, mas ele continuava ali, olhando para mim, como se eu fosse divertida, porque ele estava sorrindo. Sim, o meu estado devia estar pior, mas ele era mais importante - depois não vai mais puder dar mais shows, nem vai mais puder cantar e as outras Beliebers vai ficar despedaçadas e…e…

Parei de falar quando me apercebi da distância a que nos encontrávamos. Apenas um pequeno espaço separava nossas bocas e um espaço ligeiramente maior nossos corpos. Eu queria dizer qualquer coisa, mas nossos olhos estavam acorrentados. Aqueles olhos cor de mel, tão quentes… E eu estava com tanto frio. Abri boca mais duas vezes, fechando-a de seguida me apercebendo que não conseguiria dizer mais nada. Ele estava maravilhoso com o cabelo molhado, mais escuro do que o normal, com gotas de chuva escorrendo pela sua cara, com sua boca tão convidativa, tão morna… Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele colocou uma mão na minha cintura me puxou para si, colando ao corpo dele. Nossos olhos não se largavam. Eu ora fitava os olhos dele, ora aquela boca que era o encaixe perfeito para a minha. A diferença térmica entre os nossos corpos era tão grande, tão gigante que eu me apercebi que deveria estar perto de ter hipotermia. Se aquilo tivesse acontecido momentos antes, eu teria feito de tudo para me soltar e para o empurrar para longe. Mas ele estava tão quentinho, e eu estava cheia de frio e era tão vulnerável a ele que a única coisa que consegui fazer foi aconchegar as minhas mãos que ainda tremiam nos ombros dele. Meus dentes continuavam batendo e eu me senti uma idiota por aquilo estar acontecendo num momento como aqueles. Me senti envergonhada. Eu sabia o que ia acontecer, e estava desejosa para que acontecesse. Ele se aproximou mais, sorrindo com aquele sorriso bobo. Eu simplesmente o fitava, vendo-o afastar a pala do meu boné roxo preferido para trás e tomar, com a mão que não estava na minha cintura, e depois a poisar na minha face fazendo um carinho leve, mas que me arrepiou por inteiro.

Toda eu estava tremendo então me aconcheguei mais em seus braços enquanto ele se aproximava, fazendo carinho na bochecha. Naquele momento eu não me lembrava de nada. Nem de quem era, nem de que estava chovendo. Só sentia a respiração quente dele na minha face, com sabor a caramelo. E devido a uma força invisível, meus olhos se fecharam.

Os lábios quentes dele roçaram com os meus gélidos, me provocando. Apertei seus ombros em sinal de protesto. Ele os roçou, mais calmamente mais uma vez, para me provocar. Idiota lindinho. Depois, finalmente, chocou nossos lábios, fazendo com que os pêlos da minha nuca se arrepiassem. A língua dele, pediu passagem pela minha boca e eu rapidamente concedi. Não conseguia esperar mais. Esperar aqueles quatro dias já tinha sido o suficiente. E quando nossas línguas se tocaram, eu senti urgência. Tanto da minha parte como da dele. Urgência dele para, com a sua língua escaldante aquecer a minha e urgência minha para ser aquecida. Meus braços fugiram até o seu cabelo molhado, puxando-o mais para mim, enquanto o aperto em minha cintura se tornava maior. Como se nos fossemos fundir. Nossas línguas dançavam trocando temperaturas. Nossas bocas se moviam com perfeição. Nossos lábios se cruzavam com perícia. Meus dedos puxavam o cabelo dele, de uma forma delicada, assim como as carícias que ele fazia em meus rosto e minha cintura. O quente e o frio eclodiam um com o outro. Derretiam juntos. Naquele beijo eu libertava todas as emoções que tinha vindo a sentir naqueles quatro dias. Medo, alegria, frustração, deceção, cólera, felicidade, ansiedade. E ele fazia o mesmo. À medida que o tempo passava o beijo se tornava mais urgente, tentando acabar com a saudade que eu tinha daquele boca, daqueles lábios, daquelas sensações.

E quando nos separámos e ele encostou as nossas testas, não permitindo que eu fugisse, ambos estávamos ofegantes e demasiado quentes por baixo da chuva gélida. Sua respiração com sabor a caramelo batia na minha face e o meu batimento cardíaco tentava atingir a normalidade. Quando abri os olhos ele também abriu os seus e o sorriso dele se abriu. Eu fiz um sorriso um tanto quanto envergonhado por ter gritado com ele. Ele deslizou a mão que estava na minha bochecha até meu pescoço e a descansou ali.

–-Você tá gelada. – ele comentou, me abraçando mais pela cintura, como numa tentativa de me aquecer, e roçando nossos narizes, no típico beijo de esquimó.

–-Você tá quentinho. – respondi sorrindo, perante a atitude boba dele. Ele também sorriu e eu me derreti, com os meus braços descansados à volta do pescoço dele. Nossos corpos continuavam colados, e eu não me importava minimamente com isso. – E deveria ir para o carro ou ainda fica doente. – eu avisei, preocupada.

Ele soltou um riso abafado.

–-Você é que está há sei lá eu quanto tempo aqui na chuva, sem comer, me esperando e eu é que vou ficar doente? – ele perguntou, numa voz doce, como se estivesse falando com uma garotinha de três anos.

Eu acenei com a cabeça, olhando para os olhos cor-de-mel, que estavam presos em mim. Ele me deu um selinho, fazendo com que eu sorrisse feita uma boba de seguida, e pegando uma das minhas mãos e entrelaçando os nossos dedos, disse:

–-Vamos para o carro. Se você ficar doente e não puder sair de casa amanha, eu não me vou desculpar.

Eu sorri, acanhada. Ele era um bobo. Um bobo lindinho que eu adorava e que me deixava vulnerável. Um bobo lindinho com quem eu não me conseguia zangar mesmo que, às vezes, fosse um imbecil. Então, os dois corremos até ao carro dele, sobre a chuva, e ele me abriu a porta do passageiro, para eu entrar, se mostrando um cavalheiro e me fazendo derreter.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

QUERO MUITOS REVIEWS OUVIRAM? :D E então o que acharam dessa Carol... eu tive peninha dela, o Justin foi mauzinho, não foi? Mas no próximo capítulo vocês entendem porquê :) E a Carol estressadinha? Bem e o beijo? Owwwn eu amei o beijo. Fiquei sorrindo que nem uma boba aqui depois de o descrever (:
Beijos lindinhas!