Prólogo

Comecei a correr e, inconscientemente, cheguei ao campinho. Não sou de chorar, então, obviamente, não estava chorando. Meus cabelos batiam pelo meu rosto e eu já não fazia idéia de para onde eu estava indo. Eu só queria sair daquele lugar, ou melhor: apagar a minha existência do mundo. Ou a do Cebola.

Quando cheguei a cansar de correr, encostei-me a uma árvore, piscando furiosamente para impedir as lágrimas que ousavam tentar escapar. Quando tive certeza de que não choraria em hipótese alguma, fechei meus olhos e senti meu corpo deslizar contra a árvore atrás de mim enquanto colocava meus próprios braços em volta de mim, como se tentasse juntar os pedaços que sobravam de mim.

Queria jurar a mim mesma que nunca mais seria tão cega no amor e me entregaria tão facilmente, mas sabia que a carne é fraca, e todo juramento acaba sendo quebrado. Eu mordia meu lábio inferior enquanto flashes do acontecimento que havia me machucado pela última vez dançavam pela minha mente.

Pelo que eu havia entendido, eu não era boa o suficiente pra ele. “Você não tem auto-suficiência, Mônica. Agora entendi porque todas as vezes, desde que éramos crianças, você usava a força e batia em mim. Você é incapaz de amar alguém além de você mesma, e não agüenta ouvir críticas... E eu não agüento mais.” Foram as palavras dele. Na casa dele.

Eu não fui grossa com ele. Eu me levantei da cadeira que estava sentada e lhe desejei o melhor na sua vida, apertando sua mão levemente. Mantive minha postura forte e decidida, apesar de ter certeza de que meus lábios tremiam quando saí da casa dele. E então, novamente, quis prometer a mim mesma que nunca mais choraria por algum garoto, mas eu sabia que isso ainda aconteceria; a vida não é fácil. Então prometi a mim mesma que eu nunca mais choraria pelo Cebola.

Fiquei ali pelo que me pareceu horas, apesar de que, quando eu olhei no meu relógio, eram apenas cinco e cinqüenta da tarde. O sol já estava quase pondo completamente e o vento havia ficado mais frio, mas eu continuava ali, de olhos fechados, apenas sentindo a dor que eu sentia. As pessoas dizem que quando a gente se decepcionava, o nosso coração se quebra; mas na verdade, eu sentia meu corpo todo doer.

Estava dispersa, mal prestava atenção ao que acontecia á minha volta e, particularmente, eu não me importava. Mas então senti alguém se abaixar na minha frente e, logo depois, uma voz despropositalmente melódica fez-se presente:

“Mô? O que houve?”