Adam não sabia o que fazer ou o que pensar quando Sara tombou no chão e o sangue manchava seu moletom por inteiro. Foi então que se ouviu um grito agudo e longo antes do silêncio espalhar-se pela grande rua sombria e fria. Sara não sentia nada, e a única coisa que pôde ouvir antes de adormecer foi à voz de Adam gritando "Fique comigo Sara, fique comigo" e as gargalhadas de satisfação da Kate ao fundo, que fazia com que o momento fosse ainda mais assustador.

- Acorde-se logo. - ouviu-se uma voz doce e conhecida, embora mal humorada - Eu não tenho o dia todo.

 Sara ainda não se sentia boa a suficiente, mas ao acordar percebeu que o lugar onde estava já era conhecido, o bastante para que o pânico tomasse novamente o seu corpo a fazendo levantar e observar o lugar com mais atenção, ela estava certa.

- Droga! - exclamou - E agora?

- Nota zero como justiceira, querida. - riu-se a voz atrás de Sara, esta se virou rapidamente.

- Dora? - disse surpresa

- Eu te devolvo a vida, e você a perde de uma maneira tão fútil? - disse Dora, parecendo indignada.

- Não tive culpa, eu... - pensou por um segundo - Como assim me deu a vida? Eu vou para o inferno depois.

- Ah! Deixe de drama. - disse Dora - Afinal, hoje é seu dia de sorte.

 Dora aproximou-se de Sara.

- Ei! Eu me lembrei de você, você é... - mas antes de terminar a frase, Dora a tocou e...

 Tudo que Sara queria era acordar nos braços de Adam, o beijar e agradecer por ainda estar "viva", pular em Kate e arrancar seus olhos os dando pros cachorros comerem, e fugir dali em direção a felicidade, maldita esta, que em nenhum momento chegara à sua vida, muito menos na sua morte. Mas feliz ou infelizmente não foi o que aconteceu.

 Sara podia ver a chuva lá fora pela janela, estava mais uma vez perdida em seus pensamentos. Era tão bom sentir o ar sentada na janela de seu quarto no segundo andar da casa de seus pais. E seu diário nas mãos revelava todos os seus segredos, fossem eles bons como da vez em que passou à tarde na casa de seus avós e comeu o biscoito com gotinhas de chocolate mais gostosos que já vira alguém preparar, ou maus como da vez em que o cachorro do vizinho rasgava seus all star novo agressivamente. O aroma daquele lugar era tão fascinante quanto o perfume de sua mãe que podia ser sentido do quarto onde Sara estava sem nenhum esforço sequer.

- O jantar está pronto. - disse sorrindo sua mãe, Samantha, enquanto abria a porta do enorme quarto.

 Sara não pensou em outra coisa que não fosse correr até a sua mãe e a abraçar com toda a força que pudesse ou suportasse, o abraço foi respondido e uma lágrima escorreu dos olhos de Sara. Seria impossível assim que descer não reconhecer aquela adolescente de cabelos cacheados e loiros, eram de Dora. Se fosse um sonho, Sara não queria acordar, se fosse real, ela torcia com todas as forças que haviam dentro de si para que ela houvesse lhe dado uma chance de recomeçar. Mas de repente tudo ficou preto e a única coisa que pôde ouvir foram palavras fora de sintonia e um sorriso, antes de ser transportada para um lugar cheio de escadas, que começavam a cair e Sara a cair com elas, e então ela acordou com a respiração ofegante.

- Você é imortal? - perguntou Adam impressionado enquanto olhava para a marca do tiro - Ele sumiu.

- Ninguém é imortal, Adam. - sorriu - Nem mesmo os anjos são.

 Respostas surgiram na sua cabeça como uma grande onda de informação.

#Flashback ON#

 Sara esperou aquele jantar durante dias. Acabara de vestir o seu melhor vestido quando a campanhia finalmente soou. Era Agatha, a chefe de sua mãe, Samantha, e ela trazia consigo sua filha Dora, é claro que Sara não demorou a perceber que ela era diferente, pois olhava para Sara como se soubesse todos os seus segredos, seus olhos eram tão sombrios que chegavam a dar medo, mas tinha uma voz suave e doce, e era a pessoa mais criativa que Sara já conhecera. Elas se viram apenas uma vez, pois Dora morrera na semana seguinte, sofria de câncer no cérebro. Foi lamentável, mas com o tempo Sara a esqueceu, afinal.. Quem se lembra de alguém com quem se encontrou apenas uma vez?

#Flashback OFF#

- Onde está Kate? - perguntou Sara quando finalmente percebeu que ela não estava ali.

- Ela achou que você estivesse "morta" dessa vez. - riu-se Adam fazendo aspas com as mãos em morta.

 Ela levantou-se e seguiu até o carro escorando-se na porta do passageiro.

- Me leve até a casa de Thomas. Tenho contas a acertar. - disse sorrindo - E por falar nisso, como soube que eu estava "viva" e que Kate havia me trancado?

- Eu não soube. Fui avisado por um anjo, era loira e..

- Dora! - exclamou Sara entrando no carro - Eu adoro você garota.

 Adam apenas riu sem entender, e entrou no carro também, a casa de Thomas ficava do outro lado da cidade, e Sara já dormia usando o ombro de Adam confortavelmente quando chegaram, ele então adormeceu também e quando acordaram já havia amanhecido, Sara sussurrou muito baixo, de maneira que somente ela pudesse ouvir "Quarto dia".

 Já passavam das 10 horas quando eles finalmente invadiram a casa de Thomas e o encontraram jogado no sofá.