Logo Jessica perdeu o ar de seus pulmões, empurrando Derek bruscamente para frente com seus pulsos moles. Aquela cena seria considerada hilária se não fosse crítica: Os dois assustados, as pupilas dilatadas, as bocas inchadas enquanto um sorriso perigoso dançava entrecortado em seus lábios. Eles sabiam que aquilo tinha sido errado, mas também sabiam que aquele poderia ter sido o melhor beijo da vida deles.

– Mas que droga, Derek! - Jess afundou seu punho no tronco do amigo, que já esperava a atitude - Eu disse pra você fazer o quevocêqueria, não... - ela respirou fundo -Não o que eu queria.

A expressão de Derek depois de ouvir a frase da amiga foi hilária. De algo perto de lamento e culpa, voou para confusão e indagação. Ele não sabia o que fazer depois daquilo, o que raios Jessica queria dizer? Será que tinha tido seus neurônios dissipados enquanto o beijava?

– Hã... - ele não sabia como agir mediante aquilo, coçando a nuca como um adolescente.

Jessica apenas riu enquanto o puxou pelo colarinho novamente.

– Meio lerdinho você, não acha? - indagou retoricamente antes de atacar seus lábios novamente, sorrindo estranhamente ao sentir os lábios do amigo se retorcendo para cima enquanto a enlaçava novamente.

E ali eles ficaram, do jeito que sempre quiseram. Do jeito que sempre desejaram secretamente. Não podiam estar tão felizes, nunca quiseram algo tanto assim. E tudo que McCann pensava naquela hora era:"Caralho, ela é linda mesmo."

***

No dia seguinte, Jessica despertou junto com o sol. Quando se situou - inclusive reconhecendo os braços que a enlaçavam, tais quais não eram de seu namorado - arregalou os olhos. Percebeu que o lugar que estava deitada não era uma cama, longe disso, era algo... Desconfortável. Irritante. Quando apertou os olhos e virou a cabeça para o suporte de seu corpo, viu um lençol bege se decompondo, parte dele em seu cabelo e rosto. E suas roupas, e seu braço...

"Mas que droga!"

– Não acredito que dormi na praia. - murmurou espreguiçando-se. Logo colocou os pensamentos no lugar - NÃO ACREDITO QUE DORMI NA PRAIA.

Logo o pânico lhe tomou. Porque, claro, alguém poderia ter visto, aquela droga de lugar era pública. Logo lembrou que não tinha dormido em seu quarto, Connor podia estar procurando-lhe. Mas nada disso superou o maior problema de todos, tal qual estava possessivamente enlaçando-a pela cintura, enquanto dormia com um leve sorriso permanente nos lábios.

Jessica e Derek haviam se beijado.

Eles haviam se tocado. Derrubado a barreira da amizade. Forçado as regras de conduta social. Jessica havia... Traído Connor de alguma forma. Quando a realidade lhe atingiu, tudo que ela quis fazer foi voltar no tempo. Não por não ter gostado, - porque puta que pariu, aquele beijo foi perfeito - mas sim... Pela situação que ela se encontrava. Ela havia beijado alguém que não era seu namorado! Aquilo não era certo, era... Traição! Algo gravíssimo! Como ela pôde ter se deixado levar?

Ou pior: Como ela pôde ter começado uma relação com outro quando Derek estava ali, o tempo todo?

– Eu tenho que sair daqui. - concluiu completamente tonta enquanto se desvincilhava dele sem se importar se o acordaria ou não. A sorte é que Derek tinha um sono particularmente pesado.

Vacilando na oscilação das areias, ela se arrastou para o hotel, olhando repetitivamente para trás, onde via Derek adormecido se afastando cada vez mais de seu campo de visão. Suas reações lutavam freneticamente em alegria e culpa, e tudo que ela queria era chegar finalmente na droga do hotel que não parecia tão longe como naquela hora e tentar se controlar dali pra frente em relação a Derek. As coisas mudariam muito daqui para frente.

***

– Hm... Jess? - Derek perguntou ao vento, que levava grãos de areia aos seus olhos, irritando-os - Jessica?

Quando finalmente abriu os olhos vermelhos de tanto coçar, viu que estava sozinho naquele ambiente calmo e pacífico. A ventarola da manhã bagunçava seus cabelos enquanto ele sentava-se, tirando superficialmente uma quantidade significativa de areia de suas roupas e braços. Logo a memória tomou-lhe como um tijolo, algo que acontecia constantemente naquelas últimos dias. Só que, desta vez, não foi uma expressão de dor que pintou seu rosto. Foi um sorriso. Um sorriso bobo, feliz, satisfeito. Derek tocava seus lábios com o dedo médio sorrindo como um verdadeiro retardado mental, como se tivesse feito uma das coisas mais perigosas de sua vida.

E o pior é que era verdade.

– Oh meu Deus. - murmurou finalmente em meio a tantos pensamentos - Eu... Eu não acredito nisso.

Ele realmente tinha beijado-a. Realmente tinha sentido aqueles lábios perfeitos, doces e cheios. Derek nunca imaginou que um dia chegaria perto de Jessica desta forma, mas agora que realmente havia acontecido... Ele queria mais. Queria mais de Jessica. Mas ele sabia que era algo totalmente impossível, já que agora ela provavelmente iria evitá-lo até o começo da Terceira Guerra Mundial. Logo relevou, se Connor descobrisse o que eles haviam feito,talvez Jessica não o evitaria por tanto tempo assim.

Resolveu sair daquelas areias e voltar para o hotel, suas filhas deviam estar preocupadas. Saiu daquele ambiente maravilhoso e correu para o caminho de arbustos, só desejando um pouco mais de sono e um belo colchão para descansar.

***

Enquanto se equilibrava nas pontas dos pés, Jessica tentava, praticamente em vão, adentrar os cobertores do colchão do namorado sem ser percebida. Connor já sabia que ela havia dormido fora, e ainda que soubesse que ela havia"saído para comer algo", tinha que ter uma ótima explicação para não ter voltado.

– Onde estava? - perguntou sem rodeios, reprimindo uma risada ao vê-la sobressaltar - Onde estava?

– Eu... Porquê? - perguntou como se não quisesse nada, nenhuma resposta esfarrapada havia contemplado sua mente ainda.

– Por que não voltou para dormir? Ou melhor... - sentou-se no colchão com um lençol desarrumado - Por que não dormiu aqui? Onde dormiu, Jessica?

Eram muitas perguntas para sua cabeça ainda dominada pelo sono. E o pior, ela não havia feito algo pequeno, como simplesmente ter saído para comer ou andar na praia. Ela havia feito algo muito pior.

– Eu... Estava... - nada ainda, nada ainda... - O que você fez ontem?

Connor revirou os olhos levantando da cama, andando de um lado para o outro logo depois, visivelmente confuso e angustiado.

– Jessica, pare com isso! - pediu com um tom suplicante - Eu... Eu não sei porque nós fizemos esta viagem. Ou melhor, não sei porque convidei Derek. Quer dizer, ele é ótimo, um cara muito legal e um ótimo pai... - ele comentou aleatoriamente a ótima conduta familiar do amigo da namorada - Mas... Eu sinto... Ah, isso é completamente terrível! - desabou de volta na cama, obrigando Jessica a afagar-lhe os cabelos, fazendo-o ceder aos seus toques macios.

– Connor, eu não estou entendendo nada. Você quer me dizer alguma coisa? - perguntou numa voz calma, doce, sem querer alarmá-lo.

Porém, aquilo era um pouco difícil. Connor precisava saber.

– Você ainda gosta dele? - perguntou num tom frio, que obviamente mentia um ar desesperado.

– De quem? - perguntou ela começando a arrepiar-se.

– Do Derek. Ainda gosta do Derek?

Jessica petrificou enquanto encarava a expressão de suspense de Connor. Aquilo, claramente, era um dos castigos por ter feito o que fez. Ele iria fazê-la confessar, devagar, com torturas por meio de perguntas objetivas e sutis.

Mas ela tinha que resistir.

Teria que mentir.

Mentir para Connor.

– Como assim?! - fingiu ofensa, tentando esconder o desespero - Não acredito que você está achando que eu ainda gosto dele...

– Não estou achando nada, estou fazendo-lhe uma simples pergunta. Não sei porque tanto alvoroço. - Connor cortou-a frio e indiferente enquanto apoiava o cotovelo nos joelhos dobrados e o rosto nos braços.

Jessica se puniu por não ter sido cuidadosa o bastante e ter ido rápido demais nas especulações.

– É que eu pensei que... - foi interrompida de novo.

– Responda a minha pergunta, mas que droga! - Connor explodiu levantando-se da cama num ímpeto e voltando ao padrão de andar de um lado para o outro do quarto, assustando Jessica que não conseguiu falar mais nada - Eu não consigo mais te entender, Jessica. Parece que... Eu estou tão distante de você! Percebeu que nós não ficamos juntos nesta viagem? Considerando o fato de estarmos aqui há cinco malditos dias? - perguntou num ritmo frenético de respiração, praticamente cuspindo as palavras - Considerando o fato de eu ser seu namorado? Você já percebeu isso?

– Connor, eu... - ela não conseguiria se explicar até o namorado despejar tudo que queria.

– Você não fica comigo, não dorme comigo, só fica fora, como se fosse uma solteirinha em busca de namoradinho. E sabe o que é o mais intrigante? Na mesma hora que você está ausente, Derek também está. Então eu fico me perguntando... - colocou a mão no queixo, teatralmente - Onde será que vocês estão? Será que estão juntos? Porque eu entendo que vocês sejam próximos depois da separação... - uma expressão confusa-pensativa tomou conta do rosto de Jessica - Mas eu nunca vi isso entre casais SEPARADOS! - frisou a última palavra como se quisesse martelar aquilo na cabeça da namorada.

– Separação? Do que está falando? - Jess havia se esquecido da situação toda. Antes que pudesse ser atropelada por mas uma golfada de perguntas de Connor, tentou consertar - Oh sim, separação! Eu entendi reconciliação!

Tudo bem, aquilo foi ridículo. Jessica fechou os olhos a fim de fazer o tempo voltar e desfazer toda aquela confusão, mas sabia que nada a desfazeria. E ainda foi idiota o bastante para esquecer o papel de ex-marido de Derek.Bom, pelo menos agora sabemos os efeitos do beijo de McCann, não?

– Bom, o que eu quero saber é... - Connor tentou ignorar a última fala de Jess - Eu nunca pensei que teria que te perguntar isso, por que eu achava que te conhecia tão bem... - aquilo apertou o coração de Jess de uma maneira incrivelmente desconfortável - O que você quer?

Jessica não entendeu no início, então ficou encarando o rosto apreensivo do namorado, que obviamente esperava alguma resposta. Mas o que aquilo queria dizer, afinal?

– Eu quero você.– disse contradizendo seus pensamentos idiotas naquele momento - Eu quero só você, Connor.

O menino finalmente descansou os ombros e deixou um sorriso aliviado brincar em seus lábios enquanto voltava a sentar-se na cama, onde Jessica se encontrava. Ela, sorrindo nervosa por ter pensamentos tão desagradáveis num momento tão delicado, tocou superficialmente em seus dedos, esperando permissão para prosseguir no carinho.

A permissão foi concedida por Connor, que num ato rápido e desesperado, jogou-se sobre o corpo da mulher, procurando seus lábios. Jessica não pôde deixar de assemelhar esta atitude com a outra, na noite passada, mas não podia contestar. Apenas retribuiu a carícia e permitiu que as mãos ágeis do namorado a tocassem em lugares estratégicos. Connor estava inseguro quanto a sua relação e, ainda que Jessica tenha tido seus sentimentos revirados depois do beijo com Derek, ainda assim gostava dele. Não o amava, mas gostava, sentia-se bem perto dele, sentiria falta se aquilo entre eles acabassem. Talvez, o amor que ela ainda não sentia poderia ser encontrado, para só assim ela poder ter a consciência tranquila. Connor era uma pessoa tão boa...

– Deixa eu te amar um pouquinho, deixa...– sussurrou ele enquanto beijava levemente o pescoço de Jessica, que só grunhiu em aprovação– Você é tão linda...

Ela não conseguia pronunciar nada, tudo saía como sussurros ou frases acabadas pelo sentimento que tinha ao perceber a proximidade da pele de Connor sobre a sua. Decidiu parar de pensar nos probelmas que havia criado e deixar-se levar pelo amor do namorado, tentando assim achar seu próprio que não se mostrava. Só assim teria seus problemas resolvidos.

***

Enquanto isso, Derek andava em direção ao saguão, vendo a - agora rotineira - cena de café da manhã na mesa central do salão. Chaz, Jazmyn e Julie conversavam animadamente, e ele simplesmente amava como o amigo podia deixar de ser tão pervertido para conversar com crianças, definitivamente seria um ótimo pai.

– Bom dia! - tentou parecer animado mas murchou ao ver o olhar feio de Chaz sobre ele - O que foi? - perguntou sentando-se ao lado dele, num tom discreto o bastante para suas filhas não ouvirem.

– Porque diabos você está cheio de areia? - perguntou Chaz confuso enquanto via alguns grãos se desprenderem da roupa do amigo conforme ele se mexia - O que aconteceu ontem?

– Tive uma experiência de morte lenta, foi como se tivessem jogado sal em meus machucados. - acabou ignorando a fala baixa e debochada de Chaz que murmurava"falou aí, Demi Lovato"– Enfim, foi uma bosta. E depois... - os pensamentos voaram para o beijo com Jess e seus lábios se entortaram num sorriso bobo - E depois foi... Muito bom.

Chaz logo desconfiou do que poderia ter acontecido, fechando os olhos discretamente ao imaginar... Aquilo. Derek havia perdido mesmo o controle.

– Ai meu Deus, não me diga que você fez a menina pular a cerca! - gritou descrente, o que fez Derek tampar sua boca rapidamente - Hum! Hum!

– Cale a boca, todos estão olhando! - exclamou ao ver metade da sala - inclusive suas filhas - com os olhos confusos direcionados para eles - Pelo amor de Deus, fique quieto. Depois eu te conto tudo.

Chaz se acalmou e, sob juramento de não gritar nenhuma vez mais, se acalmou, voltando a comer seu café da manhã ainda meio desorientado. Acabou ignorando algumas brincadeiras de Julie, fazendo Derek tomar seu lugar e rir como nunca de suas gracinhas.

– Muito bem, quem quer ir para o playground? - perguntou levantando e rindo baixo ao ver as filhas e Chaz gritando positivamente enquanto limpava a boca rapidamente com um guardanapo de papel - Então vamos!

Eles gritaram e saíram do salão agora quase vazio, em direção à sala de jogos, do outro lado do hotel. Enquanto caminhavam para lá, Derek cutucou Chaz levemente.

– Você... Hã... Viu a Jessica? - perguntou envergonhado enquanto coçava a nuca, como se não quisesse nada. Chaz obviamente não acreditou.

– Não, e mesmo se tivesse visto, não te diria. - disse bravo cumprimentando a recepcionista do playground. Logo voltou para o amigo - Derek, tem alguma ideia do que fez? Você beijou uma pessoa comprometida! Sabe o quão... Inadequado isso é?

– Você sempre me dizia para transar com as namoradas dos jogadores do time de basquete, no colegial. - Derek lembrou-se dos pedidos que o amigo fazia para se vingar dos grandalhões que zombavam do fato de ele ser pequeno e amigo de Derek.

– Eu só dizia isso porque sabia que você não faria! - disse Chaz tentando argumentar - E aqueles caras mereciam uns chifres no meio da fuça.

– Olha, não importa, ok? Já foi. - Derek tentou se distrair colocando Julie no pula pula - Já aconteceu e... Foi muito bom. - deixou escapar mais um sorrisinho bobo, fazendo Chaz bufar.

– Então me cooooooooooooooonta! - perguntou como uma garotinha, recebendo um olhar digno de reprovação de Derek - Depois de eu destruir um carro com um pedaço de metal, a gente começa uma briga de rua enquanto acabamos com uma caixa de cerveja, ok?

Derek riu e assentiu acenando para a filha maior, que brincava concentrada num jogo de luta ali perto. Ela estava se dando muito bem, tanto que Derek resolveu brincar com um aparelho ali perto.

– Depois do jantar horrível com Shay, eu tive que sair dali, antes que a enforcasse. Acredita que ela me assediou? - perguntou retoricamente indignado enquanto colocava as fichas na máquina e se preparava para o início do jogo - Enquanto engolia o namoradinho de merda, ficava passando a perna na minha. Idiota. - murmurou a última palavra atirando contra a tela, matando o primeiro pato do jogo com a pistola sensorial. Era um jogo bem... Adequado para a conversa.

– Wow, nunca pensei que ela faria isso. - Chaz disse impressionado, tanto com a ousadia de Shay quanto com a raiva repentina de Derek para matar meros desenhos gráficos com uma pistola de plástico - E então, o que ela disse? Sobre o que conversaram?

– Ela ficou jogando na minha cara como eu era louco por ela, contando para Jessica sobre nosso relacionamento no colegial.

– Nossa, até imagino como foi. - Chaz debochou observando o amigo jogar - Vocês eram BEM ativos naquela época. Pareciam coelhos, por Deus.

Derek riu convencido enquanto ficava alerta no jogo, levando um empurrão no ombro do amigo.

– Bom, e então, quando Jessica descobriu que ela se esfregava em mim secretamente, começou a... Agir como a minha... Esposa, sabe?

Chaz semicerrou os olhos, induzindo o amigo a continuar. Eles trocaram olhares indecifráveis enquanto Derek se dividia entre jogar e explicar tudo. Incrivelmente, estava indo bem nos dois.

– Juro por Deus, eu quase a agarrei ali mesmo. - confessou derrotado, suspirando - Ela começou a falar da"nossa viagem para o Brasil"e ficou sussurrando no meu ouvido... Eu quase cometi um crime em minhas calças, foi uma tortura sem fim.

– Tudo bem, vamos continuar, eu não quero ouvir seus detalhes sórdidos, dude. - Chaz o interrompeu com uma careta enojada, fazendo Derek rir - E então, o que aconteceu depois?

– Depois disso tudo, nós resolvemos parar. Eu agradeci mentalmente por isso, já estava ficando inquieto na cadeira. - Chaz semicerrou os olhos novamente - Desculpe, desculpe! - exclamou rindo - Então, Shay continuou a vomitar bobagens, e eu quase... - foi interrompido pelo amigo.

– Ela vomitou? - perguntou novamente com a expressão de nojo, aliviando ao ver o amigo negar.

– O que eu quero dizer é que ela falou coisas inacreditáveis. Disse queJuliaera a filhamaior.Acredita nisso? - Derek levou as mãos ao lado da cabeça e mexeu os dedos indicadores e médios, querendo expressar aspas.

– Tá brincando. - Chaz ficou chocado - Ela se esqueceu do nome da filha?

– Esqueceu. Nossa, me arrependo de ter tido qualquer coisa com ela, quer dizer, ela era muito gostosa... - acabou rindo ao ver Chaz concordar involuntariamente com a cabeça - Mas não tem cabeça, sabe? Não tem valores, preocupações, consideração pela família. Como é que eu pude me apaixonar por ela?

– A gente faz muitas bobagens no colegial, Derek. Algo a ver com homônios a flor da pele ou algo assim.

Derek acabou rindo com o acesso de informação que havia atingido Chaz naquele momento. Fitou Julie e Jazmyn, que agora brincavam numa máquina de dança, juntas, e sorriu. Shay poderia ter sido uma puta perda de tempo, mas nada havia sido melhor que a chegada daquelas menininhas em sua vida. Bom, pelo menos, Derek sabia que a ex-mulher havia feito algo útil na vida, não?

– Bom, e então... - retornou para o assunto - Eu saí de lá rudemente, não aguentava mais. E Jessica foi me procurar. Me achou na praia. Ficamos conversando um pouco e ela me disse algo sobre eu fazer algo que realmente queria, pois via que eu não era livre há muito tempo, sempre pensando em consequências e benefício alheio, mas não o meu próprio. E então, quando eu percebi, estava em cima dela, praticamente a engolindo. Foi isso. - terminou dando de ombros, ainda vacilando em sorrisos bobos toda vez que lembrava do gosto maravilhoso dos lábios de Jess.

– Bem romântico, tenho que admitir. - Chaz teve que aguentar mais um sorriso pretencioso de Derek - Mas isso não cancela a sua culpa, garanhão. - segurou o riso ao ver o sorriso do amigo murchar - Sabe que a amizade de vocês irá mudar, não sabe?

Derek não havia pensado naquilo. Porque, claro, como é que ele raciocionaria numa hora daquelas? Tudo que ele sabia naquele momento é que estava se deliciando com aqueles lábios maravilhosos, era impossível pensar em qualquer outra coisa a não ser aquilo.

Mas agora, que estava tudo lúcido e claro, veio a verdade.

Eles iriam se afastar.

Iriam se perder.

Aquele beijo não podia ter acontecido.

– Eu... Eu não pensei nisso. - murmurou olhando para o nada, visivelmente abatido pela ideia.

– Olha, eu sei que é ruim. Mas eu sou seu amigo, preciso lhe dizer isso. Ela é comprometida, Derek, você não podia ter beijado-a. Por mais maravilhoso e perfeito que tenha sido... - Chaz foi interrompido.

– E foi. Foi perfeito... - Derek sussurrou com os dedos tocando os próprios lábios, absorto em pensamentos.

– Então. Por melhor que tenha sido, foi num momento infeliz. Ela tem namorado e você só está fazendo-lhe um favor.

Foi então que ele caiu em si. Ele só estava ali para proporcionar a Jessica a felicidade com Connor. Tudo aquilo foi criado para conquistá-lo: a separação, as filhas, o relacionamento amigável... Depois daquela maldita viagem, tudo voltaria ao normal e Derek ficaria mais uma vez com o coração partido ao vê-la com outra, e o pior, sabendo que havia ajudado com tudo, com todo o processo.

– Oh meu Deus! - exclamou num leve tom de desespero - Eu... Eu não devia ter feito aquilo... Mas que droga! Você devia ter me parado!

– Hey, não me culpe não, tigrão! - Chaz levantou as mãos em rendição, indiferente - Enquanto você estava engolindo sua melhor amiga, eu estava mantendo os traídos longe da cena do crime. O único impulsivo aqui é você.

Derek quis argumentar, mas chegava a ser irritante o quão convincente e certo Chaz estava sendo naquela hora. Mas é claro, foi algo errado!

Mas tão bom...

Tão perfeito...

– Eu vou tentar contornar isso. - declarou confiante, tendo sua esperança dissolvido pela risada desdenhosa de Chaz.

– Ah é? E como vai fazer isso, vai pegar sua saliva de volta da boca dela? Olha, acho que é um trabalho perdido e um tanto irônico...

– Pelo amor de Deus, cale a maldita boca. - Derek bradou num controle obviamente falso de seus atos.

Atos = Estrangular Chaz até seus olhos explodirem.

– Eu vou agir como antes. Não vou fingir que esqueci do beijo, isso é infantilidade, - e praticamente impossível! - mas irei conviver normalmente depois dele. Vamos conversar e tudo vai ficar bem.

– Só espero que quando vocês forem conversar, não seja em um quarto, ou qualquer lugar"deitável"... - Derek revirou os olhos enquanto terminava de matar mais uma série de patos, secretamente imaginando que cada ave daquela era a cabeça do amigo - Porque senão... Fodeu, meu filho.Literalmente.

– Você é um babaca, é só o que eu digo. - Derek declarou matando o último Chaz... Quer dizer, o último pato e deixando a pistola no suporte enquanto marchava até as fichas e largando ali as que sobraram.

– Pelo menos eu não beijei a minha melhor amiga comprometida, senhor do adultério. Espere só eu pegar algumas pedras na cidade e você estará ferrado. - Chaz brincou observando uma garota que dançava numa máquina.

– Pelo menos eu tenho uma melhor amiga comprometida para beijar, baixinho. - Derek rebateu sem olhá-lo enquanto fazia um sinal para as filhas se aproximarem, pois já era a hora do almoço. Apenas riu alto ao ver a expressão de raiva do amigo e deu-lhe um tapa na cabeça antes de adentrar o salão de refeições.

***

– Ok, se todas as nossas reconciliações forem assim, vamos brigar todos os dias! - Connor exclamou ofegante enquanto via-se estirado na cama, com Jessica enfurnada em seu tronco, rindo baixo. Logo levantou seu queixo de leve, fazendo seus olhares se encontrar– Eu te amo.

Jessica petrificou enquanto o olhava. Não sabia o que responder. Quer dizer, sabia, mas também sabia que o namorado não iria gostar da resposta. Finalmente de volta ao mundo real, apenas desviou seus olhares e focou qualquer outra coisa, como o relógio.

– Olha, já é hora do almoço, vamos! - gritou numa animação exagerada enquanto colocava seu vestido, uma peça íntima e saía do quarto, deixando um Connor confuso enquanto lentamente se trocava.

***

Já no saguão, Jessica estava atordoada. Havia acabado de recusar um "eu te amo". Aquilo era horrível, ela se sentia horrível. E pior do que isso, ela via Derek se aproximando cada vez mais enquanto chegava perto da mesa onde almoçavam. Ela até pensou em dar meia volta e retornar ao quarto, mas os braços dos namorados a enlaçaram por trás e a empurraram para perto do grupo.

– Oi, gente. - disse receosa, tentando ao máximo não encontrar os olhos de Derek - Desculpe pela demora... Eu dormi demais.

– Nós nos reconciliamos, se é que nos entende. - Connor disse malicioso para Chaz, que automaticamente virou a cabeça para Derek, sem se importar com discrição ou qualquer outra coisa.

Derek estava... Desnorteado. Tentava cobrir os sentimentos diante de Connor e suas filhas mas estava difícil. Jessica tinha... Dormido com Connor depois de ter beijado-o? Ele estava atordoado, chocado, e o pior, machucado. Depois do que tiveram, mesmo que tivesse sido só um beijo, foi especial. E Jessica... Dormiu com o namorado logo depois.

Ótima maneira de expressar o que achou do beijo, não?

Mais um sentimento não correspondido, Derek.

"Eu devia cobrar para sentir essa merda."

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, teve sua atenção roubada pelo pequeno palco sendo construído a frente. Na verdade, todo a salão ficou intrigado com a suposta brincadeira que seria feita ali.

– Mas o que... - Chaz perguntou confuso. Um homem, provavelmente um funcionário, montava um microfone num tripé, junto com bancos e alguns violões - Será que veremos alguma banda?

– Não sei... - Derek murmurou interessado, ora olhando para o palco, ora para Jessica, que o olhava também.

Logo suas dúvidas e especulções foram dissolvidas e respondidas pelo mesmo funcionário que montou tudo, que sentou em uns dos bancos para falar com a "platéia" interessada e animada com que poderia acontecer ali.

– Então, como estão o almoço de vocês?! - perguntou animado, recebendo alguns gritos em aprovação. Derek, ao invés disso, não estava nem um pouco animado ou feliz - Nossa equipe se esforça para receber reações como essas. Nossa comida é ótima, modéstia a parte. - algumas risadas tomaram o salão - Mas... O que vocês acham de uma apresentação enquanto aproveitam nossos pratos incríveis? Quem não gosta de comer enquanto escuta uma boa música?

– Isso é novo, meu pai nunca fez algo assim. - Connor comentou interessado enquanto tinha Jessica sentada em seu colo, mostrando que aquilo não era comum no hotel - Parece legal.

Derek apenas bufou enquanto tentava não ouvir aquele garoto. Aquilo era ridículo, estava ele com raiva do namorado da melhor amigo simplesmente por falar? Ou talvez tê-la enfurnada em seu colo enquanto acariciava aquele cabelo maravilhoso?

Ele precisava se controlar.

– Mas, nós fizemos diferente. - o homem comentou, intrigando cada vez mais as pessoas que assistimos - Quem será a estrela hoje... É um de vocês!

Derek ficou interessado com aquilo, assim como o resto do salão. Ter a ideia de alguém cantando mal seria perfeito para sua fossa repentina, o faria rir e esquecer por alguns minutos aquele problema que havia acabado de começar e já estava matando-o por dentro.

– Então... podem me dizer, quem aí canta bem? - perguntou o funcionário numa animação suspeita.

Derek procurou com a cabeça por alguém que poderia levantar a mão, assim como os outros, mas acabou se impressionando quando ouviu a voz da filha menor, intrigando o resto da mesa.

– Meu pai canta!– comentou com sua voz doce, franzindo as sombrancelhas do resto dos integrantes da mesa. Jessica arregalou os olhos.

– Não, meu amor, o papai não canta. - tentou dispersar toda a atenção colocada em sua mesa, revirando os olhos ao perceber até um pequeno holofote direcionado em cima de sua cabeça.

Era meio-dia e trinta e cinco da tarde, pelo amor de Deus.

– Ora, ora, ora! Temos alguém, então? - o homem perguntou a Derek, que mantia a cabeça abaixada e os olhos apertados pela luz artificial que os atingia - Vamos, não é tão ruim assim.

Derek acabou cedendo e levantou, recebendo aplausos e alguns elogios interessantes de algumas mulheres ali perto. Jessica olhou feio para elas, porém tentou ignorar os assédios.

– Muito bem, um navegante corajoso! - o funcionário exclamou ao ficar ao lado de Derek, em cima do palco - Qual é o nome do bonitão?

– Derek McCann. - disse ele olhando estranho para o questionador, provavelmente pelo apelido que havia ganhado.

– Ótimo, Derek! Olha, você terá que cantar algo para nós... - Derek suspirou enquanto olhava para a plateia, tirando-lhe algumas risadas - Mas não poderá ser qualquer coisa.

– Como assim?! - perguntou ele numa voz afetada, mostrando seu desespero.

E Derek já começava a ganhar sua plateia.

– Você terá que fazer uma mistura de duas músicas. Boa sorte. - disse somente antes de deixar o homem desorientado no palco, tanto com a notícia quanto com aquelas luzes fortes direcionadas para ele.

Derek suspirou, respirou fundo e sentou em um dos bancos, sendo acompanhado por um outro homem, que carregava um violão. Logo sugeriu que aquele seria o que o ajudaria na performance. Enquanto pensava no que raios cantar, via Julie rindo e Jessica a acompanhava. E... Como aquela mulher era linda. Antes que pudesse perceber, já estava com as duas músicas prontas em sua mente.

– Como é o seu nome? - perguntou enquanto ajustava o microfone em sua altura.

– Dan, Dan Kanter. - disse o homem estendendo a mão direita - Então, o que quer cantar?

– Prazer, Dan, sou Derek. - Derek respondeu retribuindo o aperto. Logo respondeu - Sabe "U Got It Bad", do Usher?

– Sei sim. - Dan respondeu sorrindo - E a outra?

– "Because of You", do Ne-Yo. Conhece? - perguntou esperançoso. Sorriu ao ver o homem assentindo - Então tá, vamos começar.

Logo os primeiros acordes começaram a sair do instrumento enquanto Dan dedilhava as cordas, e a plateia calou-se enquanto Derek se preparava para cantar. Sorriu uma última vez para as filhas, e isso foi o que bastou para que ganhasse suas primeiras fãs e alguns gritos.

– Oooooooooooooh, no, no... No, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no... - começou prolongando o tempo de iniciar as letras, já ganhnado alguns gritos. Logo começou:

When you feel it in you body, you found somebody who, (Quando você sente em seu corpo, que você achou alguém)

Makes you change your ways, like hangin' with your crew. (Faz você mudar seu jeito como com quem você anda)

And you act like you're ready, but you don't really know, (E você age como se estivesse normal, mas sabe que não)

And everything in your past you wanna let it go. (E tudo de seu passado, você quer esquecer.)

I've been there, done it, went around... (Já estive lá, fui, andei bastante...)

And after all that, this is what I found... (E depois de tudo, foi isso que eu descobri...)

That everybody is just like me, yeah... (Que todos vocês são como eu, é...)

It's so bad that you can't see that you got... (É uma pena que você não consiga ver que você...)

Jessica já estava hipnotizada, assim como o resto do salão, enquanto Derek cantava. Acabou rindo ao ver que Derek mudou a letra por causa das filhas*, mas não importava, já que não mudou tanta coisa. Digamos que Usher não o processaria por aquilo. Resolveu parar de pensar besteiras e voltar a ouvi-lo.

You got it, you got it bad, (Você está, está apaixonado)

When you're on the phone, hang up and call right back. (Quando você liga pra ela, desliga, e liga de novo.)

You got it, you got it bad, (Você está, está apaixonado)

If you miss the day without your friend, and your whole life's off track. (Se você, quando perde o dia com seu amigo, sua vida sai dos trilhos)

And you got it bad, (E você está apaixonado)

When you're stuck in the house, you don't wanna have fun, (Quando você fica preso em casa, não quer se divertir,)

She's all you think about. (Ela é tudo que você pensa.)

You got it bad, (Você está apaixonado,)

When you're out with someone and you keep on thinkin' about somebody, (Quando você sai com alguém e fica pensando em outro alguém,)

You got it baaaaad... (Você está apaixonaaaaaaaado...)

Mesmo com o final da música, a plateia não vibrou tanto como era o esperado, já que havia mais uma música. A plateia estava totalmente chocada com a ótima voz de McCann, ela era simplesmente perfeita! Logo os acordes de Because Of You começou a reinar dos dedos de Dan, e Derek fez questão de ver a reação de Jessica ao ouvir sua música preferida.

Want to but I can't help it (Quero, mas não posso negar)

I love the way it feels. (Eu amo essa sensação)

Just got stuck between my fantasy and what is real. (Fiquei preso entre a realidade e fantasia.)

I need it when I want it, I want it when I don't, (Eu preciso quando quero, e quero quando não preciso,)

Tell myself I'll stop everyday, knowing that I won't. (Digo todo dia que vou parar, sabendo que não vou)

I got a problem with that, (Eu tenho um problema com isso,)

Don't know what to do about it. (Não sei o que fazer sobre isso)

Even if I did, I doubt it if i'd would quit (Mesmo se soubesse, duvido que desistiria)

But I doubt it, I... (É, eu duvido, eu...)

I'm taken by the thought of this... (Eu sou arrebatado só de pensar nisso...)

Jessica acabou corando ao ouvir as palavras saindo da bca do amigo, claramente aquilo era para ela. Mas ela só torcia para que ninguém percebesse, pois Connor estava do seu lado e já se mexia desconfortável enquanto apertava sua mão. Derek não parecia se importar com aquilo.

E ele não se importava mesmo.

And I know how much it's true, (E eu sei o quanto isso é verdade,)

Baby you've become my addiction. (Baby, você se tornou meu vício.)

I'm so strung out of you, I can't barely move, (Estou tão preso a você, mal posso me mexer,)

But I like it... (Mas eu gostei...)

And it's all because of you... (E é tudo por sua causa...)

And its all because of you... (E é tudo por sua causa...)

And it's all because... (E é tudo por...)

Never get enough, (Nunca é o bastante,)

She's the sweetest drug... (Ela é a droga mais doce...)

She's the sweetest... Drug... (Ela é a droga... Mais doce...)

Derek não se importou com a gritaria exagerada da plateia impressionada com sua voz, seus olhos estavam totalmente presos aos de Jessica, que não se importava mais com o resto das pessoas e as advertências leves de seu namorado bravo, apenas ficou ali, observando Derek e vendo seus sentimentos se transpassarem por meio daquelas palavras incríveis.

Derek era perfeito.

Mas era somente seu amigo.

Só isso.

Como é que ela resolveria este problema?

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*Gente, a letra, para quem conhece ou não e vai ver lá no Vagalume, ao invés de"I've been there, done it,wentaround"como eu coloquei, é, na verdade"I've been there done it,humpedaround". E isso não ficaria legal se o Derek cantasse aqui na história, com a Jazmyn e a Julie ali, ok? Então eu mudei a letra, pro ambiente da história, ok?

P.S: Eu consegui mudar a letra de uma música, velho! Tô muito orgulhosa LOL