Talvez eu não queira cuspir.Já estou cansada disso tudo e meu pai sabe como sofre quem ganha os Jogos.Melhor morrer logo na Cornucópia.Cato e todos os outros já cuspiram o resto e estão me olhando.

-Cospe.Por favor. –Cato fala me olhando fixamente.

Pronto cuspi.É, a vida é assim.Eu começo a correr até o lago onde lavo a minha boca junto com os outros.Peeta parece estar machucado mas eu não ligo.Um aerobarco sacode com uma ventania forte várias árvores e dele caem duas escadas.

Eu vou na primeira que vejo, e, quando olho para trás, percebo que Katniss está com uma certa dificuldade para ajudar o Conquistador a subir.Cato e eu voltamos e os ajudamos.Como eu sou estúpida.

-Vai na frente Katniss, nós ajudamos e não vamos terminar de arrancar a perna dele –eu digo com a voz propositalmente monótona.

Ela dá uma última olhada pro seu namorado e se vira hesitante para subir alguns degraus acima de Peeta, Cato e eu.Cato deixa que ele apoie seu braço no seu ombro e eu vou subindo vagarosamente atrás.

Quando chegamos em cima é algo absolutamente diferente.O ar gélido parece ter sido borrifado com álcool e anti-séptico.Katniss nos esperava ansiosa encostada na parede enquanto médicos com roupas brancas da Capital tentavam convencê-la a ir para um quarto.Mas quando vê Peeta se lança em sua direção e se recusa a permitir que o levem para o tratamento.

-Não! –ela berra enquanto levam Peeta e Cato pra um lado e nós duas para outro.As pessoas com roupas nauseantemente brancas da Capital estão apertando nossos braços e nos trancando em uma sala.É como seu eu estivesse berrando também.

Eu realmente começo a berrar e esmurrar a porta junto com ela quando penso o que podem fazer com ele.Quer dizer, era pra ter sobrado só um, sobraram quatro.Todos engoliriam a velha desculpa “morreu à caminho do socorro”

Eu estou chorando e minha mãos sujas estão vermelhas de tanto dar socos no vidro inquebrável do qual é feito a porta.As pessoas não parecem se importar comigo e eu não gosto disso.Me dirijo até a mesa cheia de medicamentos que fica ao lado de uma das camas brancas e a derrubo no chão.

Alguns cacos de vidro me perfuram levianamente com o impacto da queda, mas eu não me importo.Talvez a dor me faça voltar ao normal.Eu volto a pressionar minha testa contra o vidro tentando ver algo além de um amontoado de roupas brancas e o reflexo dos meus olhos selvagens.

Katniss está ajoelhada no chão, se contorcendo e berrando.Eu aperto meus olhos enlouquecidos e vejo que nós paramos no Centro de Treinamento.Duas pessoas as Capital entram no quarto e tentam me acalmar e a Katniss.

As palavras me fazem pouco sentido e têm o mesmo significado.

-Se acalme, tudo vai ficar bem...

Eu estapeio a mulher de cílios laranja que me repete essas palavras pela quinta vez.Talvez eu a conheca de algum lugar.Ela recua com uma expressão de ódio e surpresa no rosto e eu continuo a berrar.

-Cato!

Meu corpo está doendo pelos murros e chutes que eu sou sem sentido, minha visão está embaçada pelas lágrimas e...Eu sinto uma agulhada nas minhas costas.

***

Abro meus olhos e tento enxergar tudo de uma vez só.Eu estou aparentemente em um quarto sem paredes ou janelas ou até mesmo portas.Apenas a minha cama.Talvez não tenha mesa pelo desastre que eu causei...Mas que dia foi? Onde eu estou?

Eu estou nua e a roupa de cama é macia.Minhas unhas estão perfeitas e sem nenhumas quebra.Minha queimadura está...Ela sumiu! Estou sem nenhuma cicatriz ou sujeira.Meus cabelos negros estão soltos e sedosos novamente.

Eu tento me levantar mas algo me mantêm presa.Algo que eu não consigo ver e isso me deixa em pânico.Tento mais uma vez até que uma pessoa familiar aparece.

-Enobaria? O que você está fazendo fora do Distrito 2?

-Olá Clove.Parabéns!Ocorreram alguns acidentes no início dos Jogos que me impossibilitaram de ser a sua acompanhante.Você e a garota do fogo deram um bom show... –ela diz como se estivesse orgulhosa.

Enobaria me dá um sorriso que deixa à mostra suas presas douradas antes de ir ao painel ao lado da minha cama e me colocar numa posição sentada.

-Temos muito o que conversar.Mas aqui você tem que descansar.

Entendo isso como um “Aqui não é seguro.Vão nos ouvir”.

-Cadê ele? –eu pergunto me lembrando.

-Cato? –Ela pergunta com um sorriso. –Está na sua sala de recuperação assim como os outros vitoriosos.

Entra uma Avoz e traz uma bandeja com o meu jantar, ou seja lá qual for a refeição de agora.

-Só isso? –eu pergunto ao ver uma tigela rasa de caldo, uma porção de maçã e um copo d’água.

-O que você esperava?

-Quando eu era uma simples tributo, eu tinha de tudo, agora que sou vitoriosa tenho isso?

-Aposto que você não consegue comer nem isso.A comida é a mesma para todos os vitoriosos.Come e tenta dormir por umas cinco horas...

-Cinco horas? –eu a interrompo –Para quê Enobaria?!

-Se você ficar acordada, cada vez que você tentar levantar, provavelmente vai desmaiar de novo...Se você quer assim...

-Não. –eu respondo grossa.

-Já foi mais meiga... –ela fala rindo pra mim. –Ótimo.Bem melhor trabalhar com gente assim...Quem diria...A meiguinha e o brutal tendo um...como é mesmo que o menino do 11 falou? Um lance...Parece que os papéis se inverteram.Layran esta com raiva.Disse que você resistiu demais à Cato.Poderiam ter ficado juntos desde o primeiro momento na arena.

-Eu estou aqui não estou?Ela já vai ter a “honra” de ter supostamente cuidado dos vencedores 2.Isso devia bastar pra ela considerando o fato que Carreiristas ganham dádivas durantes todo o período dos Jogos.Ela não devia estar fazendo o trabalho dela direito porque eu e Cato só ganhamos um.

-Você podia maneirar suas palavras.

-Eu não estou com vontade.Só quero sair daqui.

Esnobaria continua com o seu sorrisinho à lá Cato e só o dele me desce.O dela me irrita.

-Sai. –eu digo pra ela.

É quando eu sinto outra agulha me picando.