A Mais Bela Flor escrita por VitoriaPrince


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpe pela demora. Estou escrevendo o capítulo 6 neste exato momento USHSUSHUSHUSHSUSH e irei responder os reviews agora, ok? Espero que gostem do capítulo.
Ah, me desculpem se haver um ou outro errinho no texto, não consegui revisar a tempo.



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Já era de tarde, antes do sol se por, quando Perséfone saiu do palácio acompanhada por quatro ninfas. Usava um belo vestido rosa claro sem mangas, com alguns detalhes em dourado. Os seus belos cabelos caiam pelas suas costas nuas e calçava pequenas sandálias de fios de ouro nos pés. Repousando em sua cabeça havia um belo diadema dourado, que a indicava como a princesa Perséfone.

As ninfas levavam todas as ferramentas de jardinagem necessárias para cultivar os mais variados tipos de flores. A deusa estava feliz em fazer o que gostava se vendo livre de sua mãe por uma noite. A amava muito, só que às vezes (ou seria sempre?) ela era rígida demais.

– Hoje será noite de lua cheia, minha senhora – comentou Chiara, enquanto saiam do palácio. A luz alaranjada do sol se pondo no horizonte manchava o céu anil. A noite estava começando a surgir: pequenas estrelas começavam a brilhar timidamente no céu.

– Adoro lua cheia – respondeu a deusa, sorrindo – É tão lindo. Tudo obra de minha querida irmã, Ártemis.

Ouvindo esse nome, o rosto de Chiara se entristeceu. Ela olhou para grama abaixo de seus pés, envergonhada. Perséfone percebeu e achou estranho.

– Algo aconteceu, minha cara amiga? Por que se amuou tão de repente?

– Ela se envergonha muito, lady Perséfone – outra ninfa se intrometeu, os olhos verdes claros faiscando.

– Fique quieta, Zheres! – Chiara replicou, visivelmente irritada – Você não tem nada a ver com essa história. Nem a nossa senhora. Ela não precisa ouvir as desventuras de uma ninfa desgraçada.

– Muito desgraçada, por sinal. Conte a ela! Vamos. – Zheres provocou. A deusa das flores olhou Chiara, curiosa. O pequeno grupo parou no meio do caminho para o bosque. O palácio ainda era visível, erguendo-se imponente sobre os campos. A noite já estava chegando.

Chiara olhava com desprezo para Zheres. As duas não se davam bem, lembrou Perséfone. Pelo que recordava, as duas ninfas se apaixonaram por um mortal muito belo, chamado Narciso. Mas isso era um caso muito antigo. O que seria então?

– Conte-me, amiga.

– Bem – começou a ninfa, muito constrangida. Ela largou uma bolsa repleta de frutas no chão. As outras ninfas a olhavam com tanta curiosidade quanto a sua senhora – Depois de ter me decepcionado como Narciso, eu...

– Claro que se decepcionou! Sempre soube que ele me amava! – Zheres interrompeu, batendo a mão no peito com orgulho.

– Como você é frívola, Zheres! Todos sabem que Narciso nunca amou ninguém, apenas ele mesmo. Deveria se conformar em ser uma das rejeitadas, como eu.

– Certo, parem as duas! – Perséfone interrompeu. As duas ninfas já se preparavam para se atacar – E Zheres, não a interrompa. Chiara, continue me contando.

– Como eu ia dizendo antes de ser brutalmente interrompida, Narciso me magoou muito. Disse friamente, assim como deve ter dito para todas as pretendentes, que ele não amava ninguém. Que o seu único ídolo era si próprio.

“Naquela noite eu estava em prantos. Era uma noite parecida com a que está chegando. Eu estava sentada no chão de um bosque, não muito longe dessas terras. Lembro-me como se fosse hoje. Pensava que a minha vida não valia mais a pena. Que tudo estava perdido. Então, eu ouvi uma voz feminina atrás de mim. Ela disse que eu não precisava chorar por um homem, principalmente um como aquele. Eu estava tão frágil que nem me virei para ver seu rosto e respondi que eu não conseguia tirá-lo do coração.”

“Então a dona da voz se sentou ao meu lado. Assustei-me, porque a reconheci. Possuía cabelos castanhos avermelhados que caiam por suas costas brancas e nuas, usava um vestido azul cor da noite e carregava um diadema prateado no topo da cabeça.”

“Senhora Ártemis, eu disse, fazendo uma reverência. Ela sorriu para mim e disse que não precisava de formalidades: era uma deusa livre, da floresta. Segurou minhas mãos e disse que tinha a solução perfeita para mim. Entrar na caçada e abdicar a companhia dos homens, jurando virgindade eterna. Entenda, aquele era o meu primeiro amor. Estava tão confusa que fiz o juramento. E me tornei uma caçadora.”

Chiara parou por uns segundos para respirar. Perséfone tinha a sensação que já sabia como a história terminava.

– Você quebrou o juramento – ela supôs – Se apaixonou de novo e não conseguiu controlar seus impulsos.

– Exatamente – a ninfa confirmou – Me dediquei alguns anos a caçada, mas me apaixonei de novo. Admito, errei. Não tive a decência de conversar com a minha senhora Ártemis e explicar a situação. Então ela me descobriu quebrando o juramento. Foi horrível. Nunca fiquei tão envergonhada. Pedi perdão, mas ela não aceitou. Disse que eu havia desonrado a caçada.

– Pobre Chiara! – Exclamou Perséfone, penalizada. Abraçou Chiara, no instante em que uma grande lágrima caia de seus olhos.

– Mas é passado. Agora a minha senhora é a doce Lady Perséfone – disse a ninfa, limpando a lágrima. – Mas enfim, vamos continuar a caminhada! Veja, já é crepúsculo. E, se me permite senhora, conheço uma ótima clareira para a nossa atividade.

– Uma clareira? Mas que ótima idéia. Nada melhor do que ser iluminada pela luz da lua!

– Então vamos.

Pegaram as coisas que tinham colocado no chão e continuaram o seu trajeto, sem trocar muitas palavras. Perséfone admirava o céu que se erguia acima dela. Estava púrpura, com muitas estrelas formando pontos. A lua cheia brilhava e uma leve brisa soprou nos cabelos da deusa.

E então, ela sentiu um toque na sua nuca. Um toque suave, comportado. Sentiu os seus pêlos se arrepiarem. Olhou em volta, mas não via nada mais do que campos e bosques.

– Algum problema, senhora? – perguntou uma das ninfas, quando viu a deusa olhando para os lados, confusa.

– Não... Nenhum problema, Layla.

Deveria ser só a brisa que soprava, concluiu. Embora aquele toque lhe parecesse caloroso demais para ser só o vento. “Mas é só o vento, Perséfone.” Relaxou um pouco e começou a conversar com as ninfas, esquecendo-se completamente do toque que a assustara.

Ela não sabia, mas a uns poucos metros dela estava Hades, completamente invisível. O deus dos mortos só estava esperando uma única oportunidade para se rebelar.

XoooXoooX

O deus dos mortos quase pôs o seu plano a perder.

Deveria ter tido mais cautela. Mais autocontrole. Deveria ter tido o mínimo senso de razão, mas ele já sabia que havia perdido a pouca que tinha quando elaborou esse plano. Enfim. Ele poderia ter dito para si mesmo para esperar. Afinal, quando estivessem casados estaria totalmente livre para tocá-la. Mas então ele a viu, tão delicada com aquele vestido que parecia uma segunda pele, as costas nuas... Quem conseguiria resistir?

E então ele se aproximou perigosamente dela, roçando os seus dedos pela pele suave das suas costas e nuca. Ela sentira, claro. Olhou confusa ao redor, mas chegou à conclusão de que era apenas uma brisa. Como se as mãos de Hades fossem leves o bastante para isso.

Continuou a andar, cuidadosamente, atrás do pequeno grupo. Ainda estava surpreso em encontrar Perséfone fora do palácio tão facilmente. Pensara que Deméter teria proibido a saída da filha até a resolução dos problemas. Mas ele já tinha um plano, caso isso acontecesse. Colocou a mão dentro de um bolso de suas vestes e tirou um pequeno pedaço de papel. Um bilhete anônimo chamando a deusa para um encontro noturno. Hades sabia que ela era muito curiosa: seria apenas uma questão de minutos para ela sair, livre e desprotegida.

Mas ela própria facilitara tudo. O único revés da situação era que agora ela tinha um grupo de ninfas a protegendo. Não que isso de fato fosse impedir o deus dos mortos, mas ele queria que tudo fosse silencioso. Seria muito mais fácil se ela estivesse sozinha.

As ninfas conversavam animadamente com a deusa, que ria. Ele estava relativamente longe para ouvir todo o assunto, mas conseguia captar algumas partes do diálogo. Elas falavam sobre amor, um assunto que Hades desprezava até pouco tempo.

– Quem me dera se um deus se apaixonasse por mim! – dizia uma ninfa de pele verde e olhos castanhos claros.

– De preferência, um deus rico e poderoso - acrescentou outra.

– Eu não me importo – disse Perséfone – Não me importo se for o dono do mundo inteiro, desde que me ame como a única e me faça feliz.

Hades sorriu. Eu irei te fazer muito feliz, minha querida, pensou. Mas não irei lhe abdicar de toda a riqueza e conforto possível.

As seguiu para dentro do bosque. Uma ninfa em especial parecia estar guiando todas por entre as árvores. Durante alguns minutos elas caminharam, com ele as seguindo. O barulho da conversa e os passos pareciam abafar o som de que havia outra pessoa ali.

Finalmente chegaram numa clareira. Era um espaço não muito grande, com o espaço o suficiente para todos se acomodarem, com as árvores e arbustos cobrindo o perímetro. Dentro havia apenas grama e um tronco de árvore seco caído do chão, que deveria servir como banco. Dali dava para ver a lua cheia em toda a sua plenitude. O local não era escuro, pois a grande lua iluminava com uma bela luz prateada, que só servia para deixar o local ainda mais belo e (talvez) romântico.

Perséfone ficou encantada com o local. Logo tratou de colocar a bolsa que trazia consigo no chão, gesto seguido por todas as ninfas. Elas tiraram algumas ferramentas, mudas de plantas e frutas para o caso de terem fome. Amontoaram-se no chão, deixando a deusa das flores com mais espaço. Ninguém notaria que Hades também entrara naquele recanto e se sentara no tronco, que estava um pouco afastado delas. Porém, ele conseguia ouvir toda a conversa.

– Chiara, esse lugar é incrível! Como nunca me mostrou? – Perséfone perguntou, enquanto tirava outra muda de uma das bolsas.

– Estava esperando uma ótima oportunidade, milady. – respondeu uma das ninfas. – Oh, que bela planta! É um...?

– Sim, é um enlace lunar – a deusa respondeu com um lindo sorriso no rosto que fez Hades sorrir também. Segurava uma pequena muda de uma planta com o brilho prateado, que pareceu realçar quando ela colocou contra a luz da lua.

Cavou um pouco de terra e plantou a muda. Imediatamente uma planta com folhas prateadas começou a crescer sob a luz da lua. Perséfone e as ninfas olharam, admiradas.

Não posso esperar a noite inteira. Tenho que colocar o meu plano em prática,pensou Hades. Durante aquele tempo em que as observara, o deus dos mortos elaborara um ardiloso plano. Com um sorriso malicioso nos lábios, ele resolveu iniciá-lo.

Estava na hora de cobrar aquele pequeno favor de Hécate.

Ele pensou na deusa e uma voz feminina surgiu na sua cabeça. Senhor Hades,imagino que finalmente queira cobrar aquele favor – disse a voz. O deus dos mortos apenas pensou positivamente, enquanto ouvia uma risadinha de escárnio da deusa. Tem certeza de que o usará com ela?

Não se meta na minha vida, Hécate. Apenas faça o que tiver que fazer. Enfeitice as ninfas, as atraia para bem longe de Perséfone.

Hades ouviu outra risada. Sim, meu senhor, farei o que precisa.

XoooXoooX

Perséfone não sabia bem ao certo, mas tinha certeza que tinha ouvido alguns sons de passos perto da clareira. Olhou para as ninfas e percebeu que elas também distinguiram o som.

– Mas o que...

O barulho de passos se intensificou. À medida que os estranhos se aproximavam, os rostos das ninfas se iluminaram. Elas largaram as pás e as frutas no chão e se viraram admiradas. Perséfone estava confusa: eram só barulhos de passos. Como elas poderiam estar tão encantadas com isso?

– O que está acontecendo? – perguntou confusa.

– Não ouve, minha senhora? – Agnes perguntou ,com os olhos desfocados.

– O quê?

– Esse som maravilhoso!

Perséfone a olhou, assustada. Não ouvia nenhum som, só os passos.

– Como assim? Não ouço nada!

Mas ninguém respondeu.

– Estão nos chamando – comentou Zheres, os olhos brilhando.

– Temos que ir – disse outra ninfa.

– Sim, temos que ir – concordou Chiara, os olhos brilhando tanto que era até incômodo de olha. Então, por um minuto, os olhos dela voltaram ao normal – Mas não podemos deixar Lady Perséfone aqui. Ordens de Deméter!

As ninfas olharam para Perséfone, que ainda as olhava com assombro. A muda de enlace lunar estava sendo esmagada sob suas mãos.

– A senhora se sentiria sozinha e indefesa se nós fossemos? – perguntou Layla.

– Não, mas...

– Então podemos ir! Quero encontrar a origem desse belo som!

– Sim, vamos! – concordaram as outras ninfas, até Chiara. Lançaram um olhar de encantamento para a deusa, que não fez nada para impedir a passagem das companheiras. Elas apenas murmuraram um adeus simples e saíram da clareira, deixando Perséfone sozinha.

Ótimo, pensou. Simplesmente ótimo. Fora abandonada pelas suas ninfas de companhia, que a deixaram sozinha por um som quem nem a deusa conseguia ouvir.

Ela se levantou e andou pela clareira, pensando no que faria para sair dali, já que Chiara fora embora com as outras ninfas. Cansou-se e se sentou no tronco de madeira, suspirando. E então o viu.

Um homem surgiu das sombras. Trazia o seu elmo negro nas mãos e sorria para Perséfone. Com um sobressalto, ela o reconheceu: seus belos cabelos negros, seus olhos da mesma cor, a pele pálida e o sorriso que havia admirado ela.

– Hades! – ela exclamou, quase caindo do tronco de susto. Porém ele foi muito ágil e a segurou pelos braços antes de cair.

– Perséfone – ele recitara o seu nome como um poeta recita sua poesia.

Ele esperou ela falar alguma coisa, mas ela não o fez. Sendo assim, ele se aproximou da deusa e se agachou na frente dela. Colocou a sua mão direita do rosto iluminado pelo luar e a olhou nos olhos, acariciando a pele macia. Ela estava assustada, mas não pode deixar de sentir que as mãos dele eram fortes, mas ao mesmo tempo leves.

– Tão linda – ele disse, com os olhos brilhando de tanto encanto. Ela então tirou a mão dele do seu rosto inesperadamente.

– O que quer Hades? – perguntou, com um tom de impaciência que escondia o medo.

Ele se levantou, sorrindo maliciosamente para ela.

– Minha querida, ninguém lhe contou? Vim te buscar para o nosso casamento.

Perséfone sentiu o rosto queimar. Também sentiu as lágrimas prontas para descer, mas elas não desceram, pois o choque era grande demais. Então ele era o seu noivo. Ele morava no mundo dos mortos. Ela teria que viver lá, para o resto da eternidade. Agora entendia o motivo de sua mãe ter se irritado tanto com a notícia do casamento dos dois. Pior ainda era Zeus: a deusa das flores não conseguia acreditar que o seu próprio e querido pai havia feito isso com ela.

– Não! – exclamou, finalmente reagindo a notícia – Não, Hades! Não irei me casar com o senhor. Minha mãe não deixará!

Sabia que estava soando extremamente infantil com aquela fala, mas esse era o único conforto dela. Afinal, estava sozinha, num bosque à noite, com o deus dos mortos que queria desposá-la.

Hades reagiu de um jeito diferente do que ela pensava. Em vez de gritar ou ficar irritado, balançou a cabeça, como se já esperasse por isso. Andou até Perséfone, que sentiu seu corpo encolher contra sua vontade. Ele a puxou do banco – por incrível que pareça, educadamente – e a olhou novamente. Dessa vez não havia sorriso, mas uma expressão de tristeza, como se ele realmente se importasse pelo fato dela não o querer.

– Se não vier por bem, virá pelo mal.

E segurou o braço de Perséfone mais forte, que olhou para o belo céu escuro com a lua e as estrelas e para as plantas ao se redor, antes de fechar os olhos. Tinha a sensação de que não veria nada disso por muito tempo.

E então, desapareceram em sombras.



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Notas finais do capítulo

Ficou bem grande, né? O próximo capítulo também ia ficar enorme,mas eu o dividi em dois.



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