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Dor. Era isso que eu sentia.

Abri meus olhos e me deparei com o mais puro céu. Sentei-me e olhei ao redor. Tudo era puro. As rosas eram puras, o ar, a terra, o céu, as nuvens... Tudo.

Pisquei os olhos e os esfreguei, pois eu pensava que estava sonhando. Voltei a abrir meus olhos e ainda existia aquele campo puro e majestoso.

Levantei-me e olhei em volta.

Eu estava sozinha.

Suspirei e comecei a andar. Aquela dor que eu sentira se foi e agora estou curada. A dor em meu lado esquerdo passou. Tudo estava curado.

Sorri e parei. Como uma coisa tão perfeita pode acontecer. Eu poderia viver aqui para sempre... Mas...

Onde eu estava?

Senti uma forte presença. Não sabia distinguir se era boa ou ruim. Acionei minhas garras, mas não pude senti-las. Olhei para minha mão e fiquei surpresa. Minha mão era totalmente humana. Peguei uma mecha do meu cabelo e ele estava negro. Coloquei minhas mãos onde estariam orelhas de cachorro, mas não existiam.

Mas... O que é isso?

Eu estava humana.

É isso que você quer, certo? Disse uma voz masculina.

Abri minha boca, mas minha voz falhou.

Aqui é um mundo mágico, todos os sonhos estão relacionados à pessoa. Decida-se. A voz hesitou. Você quer ser uma humana para o resto de sua vida ou um monstro?

Arregalei os olhos surpresa.

Eu... Humana... Já me acostumei tanto com esse corpo de hanyou, mas... Ele quer que eu decida... Para o resto da minha vida...

Confusão. Disse uma voz feminina. Tudo nessa garota é confuso. Não consigo escutar o seu coração.

Mas ela tem que decidir. Disse a voz masculina. De que adianta ela estar aqui se não pode escolher? A vida é cheia de escolhas e você tem que escolher ser humana ou um monstro! Gritou.

Mas...

Por que “mas” Azumi? Você sabe que ser hanyou é melhor! Todos não precisariam se preocupar com você. Você voltaria para sua época e viveria sua vida patética que sempre foi. Uma voz maliciosa entrou no ar.

Não. Sua vida não é patética. Você só precisa escolher qual é o melhor: humana ou um monstro? Disse uma voz mais suave.

Estou falando. Essa garota está confusa. Disse a voz feminina.

Eu... Eu...

Balancei a cabeça tentando expulsar qualquer tipo de coisas não legal. Eu tinha que me decidi, mas...

“Mas, mas, mas...” É só isso que falas? Disse a voz maliciosa. Você quer ter poder? Seja algo melhor!

Não! A voz suave gritou. Ela está destinada a ser humana!

Entende a confusão que criaste? Você não está pronta. Disse a voz feminina irritadiça. Que a Escuridão comece.

Depois que ela disse isso tudo ficou escuro. Era como se apagassem a luz e o vazio começasse. Senti-me mais confusa do que já estava.

Onde eu estaria? Onde estão os outros?

A Escuridão se alimenta das inseguranças, das desesperanças... Do desespero. Uma voz aveludada encheu a escuridão.

Abracei meu corpo, como se estivesse com frio – e estava. Eu não queria isso. O que eu fiz? Sinto-me tão só!

Uma lágrima escapou de meus olhos.

Não! Eu não podia chorar, mas...

Mas... A voz aveludada repetiu. Só é isso que sabe falar? Você tem que confiar em si, não nas coisas. Azumi-sama, a Escuridão está dizendo que você é o melhor alimento que ela podia ter.

Arregalei os olhos. Eu não podia mais viver dessa insegurança! Desse desespero! Dessa confusão...

Senti algo segurar meus ombros. Era um toque delicado e bom.

Isso, Azumi-sama... Essa voz...

Meu corpo ficou estático. Essa voz fez minha alma parar e minha bile subir.

Na-Naraku. Minha mente processou esse nome. Ele se pôs a minha frente e me olhou nos olhos.

Aquela alma sombria. Aquele ar demoníaco. Tudo era escuridão e trevas. O que ele estaria fazendo aqui? O que eu estou fazendo aqui?

Azumi-sama, tão linda e delicada. Como Inuichi pode fazer isso com você? Uma doce garota. Disse numa voz grossa e sarcástica.

Ele tocou em meu rosto e acariciou minha bochecha. Meu corpo tremeu com seu toque gélido e aquela alma. Ele sorriu com malicia e me abraçou.

Azumi, você quer pertencer a Escuridão para sempre? Indagou. Inuichi fez algo muito ruim. Como ela pode condenar sua alma para esse lugar asqueroso e... Escuro? Disse ele monotonamente. Ela realmente odeia você. E você quer saber o por quê? Certo? Sua voz era como uma canção, ela entrava em minha mente e pairava por ela, tentando ficar e comandar. Acho que tenho uma boa causa para isso. Ele parou de me abraçar e me olhou nos olhos. A grande paixão que você tem com Sesshoumaru-sama.

Meu coração parou de bater.

Por que Inuichi teria ciúmes e inveja de mim? O que eu fiz para ela? Eu sou igual àquela hime que Sesshoumaru amava, mas... Por que motivo, Inuichi?

Acho que ela amava o irmão também. Naraku respondeu rapidamente.

Aliás... Por que estou concordando com ele? Naraku a tirou de Sesshoumaru!

Ele disse que ela era desnecessária. Sabe quando eu realmente comecei a existir? Antes de Kikyou lacrar Inuyasha, fui eu o motivo para ela fazer aquilo. Porque eu me disfarcei de Inuyasha e Kikyou. Disse calmamente.

Ele também enganou Inuichi fingindo ser Kikyou e... Sesshoumaru...

Abri a boca, chocada, e olhei para aquele ser na minha frente. Quer dizer que era ele na lembrança e não o verdadeiro? Sesshoumaru não sabia disso e ela queria tirar satisfação... Naraku estava ao lado dela quando aconteceu...

Onore! Maldito! Pensei. Eu realmente fiquei com raiva. De todas as coisas que Naraku fez para ela, essa foi à pior. Colocar-se contra o irmão que tanto ama! Inuichi nunca o perdoou, mas...

Ainda tem o fato de ela se separar de mim, certo? Interrompeu.

Ela descobriu o que ele fez e quis tirar mais uma vez satisfação, mas esse foi o pior erro de Naraku e Inuichi. Ambos eram vazios, pois não tinham aqueles que os amava.

Você não amava Inuichi. Você ainda pensava em Kikyou. Minha mente dava voltas por causa disso.

Sim. Respondeu. Eu ainda amava Kikyou. Inuichi, para mim, era uma serva. Ela era forte e Sesshoumaru não quis admitir isso e então eu libertei a força dela...

E o monstro. Interrompi.

Ele me olhou e abaixou a cabeça.

Meu primeiro erro.

Franzi a testa. Por que seria seu erro, se foi ela que pediu? Inuichi estava fazendo uma coisa que nem Naraku gostava.

Entenda: Inuichi não é a vítima.

Tudo parou para mim. Inuichi era a vilã. Ela quis ser o que ela era, porque ela quis.

Desde quando? Perguntei assustada.

Desde sempre. Respondeu.

Um holofote apareceu naquela imensidão negra. Era como se ele quisesse mostrar algo para mim e me fazer mudar de ideia.

Será que meus pensamentos estavam tão submissos em eu querer continuar hanyou que nem percebi o que se tratava a Escolha?

No holofote, aparecia a figura de Inuichi pequena. Ela estava parada olhando para nós, mas depois retirou seu olhar e foi se concentrar em algo.

– Inuichi-sama! Você tem que ir ao funeral de seu pai. – disse um guerreiro.

– Por quê? Meu pai me tirou da minha mãe e de meu irmão. Por que eu iria ficar lá? – disse ela rudemente.

– Inuichi-sama... – a voz do guerreiro se perdeu e o resto que eu pude ver foi Inuichi o matando e lambendo seu sangue que permanecia em suas garras.

– Por quê? – ela disse e o holofote apagou.

O que isso significava?

Mais outro holofote acendeu. Nele mostrava a Inuichi indo para o castelo da Azumi-hime-sama. Seus olhos estavam perdidos na imensidão escura e vazia de seu coração. Tudo o que ela queria era que ela morresse.

Depois de algumas partes, que eu já sabia quais eram, o holofote mostrou Sesshoumaru deitado com a hime, abraçados (o que me deu um pouco de inveja daquela Azumi, pois ela tinha Sesshoumaru no coração dela e eles estavam juntos), Inuichi saiu daquele lugar e foi para a parte mais escura da floresta.

Ela viu alguns youkais e pediu para eles atacarem o castelo daquela hime ao amanhecer... E foi isso que aconteceu.

O holofote se apagou.

Inuichi tinha matado única mulher que Sesshoumaru amou.

Meu peito começou a ficar pesado. Minha respiração ficou pesada... Tudo em mim não queria processar aquelas informações. Por quê? Isso era pesado demais para mim ou meu bom senso – se eu ainda tivesse um – estava pedindo para parar?

Mas não. Continuou contra minha vontade. As coisas começaram a se encaixar a cada imagem que eu via de Inuichi e suas maldades. Ela tinha roubado os poderes de miko de uma das amigas que encontrou no caminho quando estava com Sesshoumaru – o que explica a situação de Hino e essas coisas de “miko-youkai”. Todos os inimigos dela eram seus amigos – como Monka-chan e Ikko-kun.

O holofote se apagou e acendeu de novo. Nele mostrava uma Inuichi com o corpo nu se exibindo para... Hino.

Uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

Tantas coisas que Inuichi pôde fazer para o bem ela fez para o mal. Ela seduziu o avô de Setsu. Seduziu Hino e outros amigos, tornando-os inimigos. Ela traiu a confiança de Naraku. Matou amigos. E ainda por cima se aproveitou dos poderes da Tasseiga – a espada que foi leal até o último milésimo de vida de sua dona.

Inuichi era a verdadeira vilã de tudo.

E tudo começou quando ela foi tirada de perto de Inuyasha.

Eu a matei depois de tantas maldades. Eu fiz isso, pois eu não agüentava mais ver minha companheira fazer esse tipo de coisa. Naraku se manifestou depois que tudo acabou.

Eu ainda continuava abraçada com meu corpo e com o olhar estático.

Inuichi só tinha a cara de anjo, mas todas as maldades que Naraku fez foi plano dela. Pois, ela queria se livrar de todos para ter mais poder. Porém, sua maldade teve “O” fim. Naraku injetou seu miasma por aquela flecha. Parando-a.

No final de tudo, Inuichi queria poder.

Respirei fundo, finalmente encontrando ar, e olhei para Naraku.

Por quê? Perguntei confusa.

É para você entender que ser hanyou te faz fraca e, com isso, você tenta achar poderes para se tornar forte e capaz. Inuichi era poderosa para uma hanyou, mas ela nunca descobriu isso. Pois, estava fraca demais para pensar direito. Ela acabou sendo o monstro da história. Explicou.

Agora você entende? Disse aquela voz feminina. Você entende porque não queremos que isso se repita?

Assenti. Olhei para Naraku, mas ele não estava mais lá.

No final, Naraku se mostrou forte e gentil. Pensei e sorri.

Uma coisa chamou minha atenção. Uma pequena luz brilhava naquela escuridão.

Agora escolha. Disse aquela voz masculina. Você quer ser humana para o resto da vida ou ser um monstro? Perguntou rapidamente.

Sorri e respondi:

Humana. Não importa se eu voltar para casa, pois eu sei que tenho amigos maravilhosos para descobrir. Mesmo eu sendo humana, eles vão reconhecer que Inuichi já esteve dentro de mim. O que eu quero é que o ódio deles pela Inuichi pare, mas não porque isso soe estranho, mas pelo fato de saberem por quê.

Silêncio. Foi isso que eu pude sentir naquela escuridão com um pingo de esperança.

Bela resposta. Disse a voz feminina. Você está certa. Sua missão neste mundo é acalmar o ódio que Inuichi fez e encontrar as Pérolas...

...Mas não porque você veio até aqui com a alma de Inuichi e sim porque você estava destinada para isso. A voz masculina completou.

Agora você merece ir e cumprir sua missão. Disse a voz feminina.

Sorri com gratidão.

Aquela pequena luz se expandiu, mandando-me para a vida real.

Acabou uma parte da história, mas até lá, continua...