Renesmee se encontrava sozinha em seu quarto na mansão dos Cullen. Deitada na cama, esperando o sono chegar, ela refletia sobre tudo o que queria, aproveitando que seus pais estavam caçando na floresta, não muito longe dali, e que, com certeza, Edward estava com coisas bem mais interessantes em mente do que vigiar a cabeça de Nessie.

Era quarta-feira, já fazia três dias que seu pai, Emmett, Alice e Carlisle haviam falado com a humana, Raven, e até agora ela só havia ligado uma vez para dizer que encontrou o paradeiro do tal homem que viu os “vampiros nojentos bebedores do próprio sangue”. Mas, para Edward, aquela era uma ótima informação e, amanhã mesmo, ele, Bella, Jasper e Emmett iriam atrás do cara para conseguir mais pistas. Até agora Renesmee não entendia direito onde sua família queria chegar com tudo isso. Existem mais vampiros? Que ótimo, deixem eles serem felizes então, e deu! Pra quê querer saber toda vida dos caras? O quê Alice via de tão impressionante em suas visões que deixava todos tão apavorados? Bom, só pra variar, seus pais não contavam muita coisa, pois, segundo eles, Nessie era muito nova. Ah, muito nova eles iam ver.

Fazia também quatro dias que ela havia visto o homem com vestes de couro e cara de assassino. E era quase impossível não pensar nele.

Aquela imagem voltava a sua mente toda hora, mesmo ela tentando afastá-la a todo custo, e só Deus sabia dizer como seu pai não havia visto nada ainda. Mas Renesmee havia evitado ao máximo tocar nas pessoas para não transmitir sem querer alguma coisa, e isso sim estava sendo notado, principalmente por Jacob, a quem ela sempre esteve abraçada compartilhando imagens. De fato, o pessoal estava vendo que Nessie escondia alguma coisa. E isso não era muito bom.

Mas ela precisava ver aquele homem de novo. Era uma necessidade mental e física. Queria conhecê-lo, queria ouvir sua voz e estar junto dele de qualquer maneira. Mas como? Tinha a família mais super protetora do mundo, nunca alguém naquela casa a deixaria sair sozinha. Nunca deixaram. O único jeito era fugir. Precisava arranjar uma maneira de sair de casa sem ser vista, pelo menos por um tempo, pois sabia que não teria muito tempo de se esconder dos poderes de sua família. Precisava de um dia em que muitos deles não estavam em casa, talvez quando eles fossem caçar, ou namorar…

E, de repente, uma ideia começou a se formar em sua mente. Seu pai, sua mãe, Emmett e Jasper iriam procurar o humano amanhã, bem longe dali. Alice e Rosalie já estavam combinando há um tempão de ir caçar juntas amanhã também. Amanhã à noite apenas Jacob, Esme e Carlisle estariam em casa, isso se não houvesse plantão no hospital.

Renesmee sentou-se na cama, eufórica. Era perfeito!

Imediatamente ela tratou de pensar em outra coisa. Não podia se dar ao luxo de deixar que Alice visse sequer um vulto dessa decisão. O plano já havia se formado em sua mente, estava pronto em 2 segundos e só amanha, quando Alice já houver saído, Renesmee voltaria a pensar nisso. Refletiu sobre como queria que as aulas voltassem logo, para finalmente poder sair de casa e conhecer outras pessoas, fazer amigos e aprender coisas novas. Ah, não via a hora de esse dia chegar…

Se tinha uma coisa que Nessie aprendeu nesses seus poucos anos de vida, foi a controlar sua mente. E agora era a hora de usar esse controle para alguma coisa realmente importante.

__________________________________

– Se comporte, hein – disse Bella dando um beijo na testa de Renesmee, que estava na cama do quarto com o notebook no colo. – Quando voltarmos, quero que já esteja na cama, ouviu mocinha? Nada de virar a noite na internet mais uma vez.

– Tudo bem, só vampiros que não dormem podem fazer isso né?

Bella a olhou com cara feia e Nessie sorriu.

– Tá mãe, eu sei. Não vou ficar muito tempo mesmo. Estou com sono hoje.

– Okay. Alice e Rosalie também já foram, qualquer coisa é só falar com seus avós. Jake está descansando no quarto.

– Vovô Carlisle não tem plantão hoje no hospital? – ela perguntou ingenuamente.

– Não, ele conseguiu um substituto para poder ficar com você e Esme. Por que, Nessie?

– Ah, nada não. Só pra saber – ela sorriu.

– Tá bom então. Tchau filha.

– Tchau.

Renesmee escutou Bella descendo as escadas e dando tchau a Carlisle e Esme, avisando-os de que Nessie estava no quarto e que ela não era pra dormir muito tarde. Mães, nunca mudam. Continuou concentrada no que estava fazendo na internet até que não escutou nem mais um movimento de sua família. E então seu cérebro enlouqueceu.

Acalme-se Nessie, você precisa estar concentrada. Não pense muito no que vai fazer de fato. Pense em como vai fazer. Lembre-se de que, se tomar qualquer decisão repentinamente e se fixar nela, Alice saberá na hora, mesmo que ela esteja super concentrada na caça.

Agora que chegava a hora de tomar uma atitude, de executar sua fuga, as pernas de Renesmee tremiam. Ela nunca tinha feito isso, nunca tinha mentido para seus pais tão seriamente. Mas agora era a hora. Nunca mais conseguiria um momento tão perfeito como esse para fugir. Se era isso mesmo que queria fazer, tinha que ser hoje, agora.

Ela levantou-se da cama e arrumou-se rápida e lindamente sem fazer nem um ruído. Em questão de 15 minutos, ela passou de simples adolescente que passa os sábados em casa, para uma linda moça pronta para uma festa, com maquiagem, vestido e penteado básico. Desceu as escadas. Realmente Jacob estava no seu quartinho, ferrado no sono e Esme e Carlisle estavam no andar de cima com a televisão ligada, Nessie só imaginava o que eles poderiam estar fazendo…

Ela parou em frente à porta durante uns 2 segundos. Respirou fundo, e saiu em disparada.

____________________________

Ela não esperava que fosse tão fácil. Sabia que não era bom ficar se gabando da facilidade com que conseguia uma coisa impossível antes do tempo, mas realmente havia sido fácil demais. Isso porque ninguém nunca suspeitaria que Renesmee um dia fosse fazer uma coisa dessas. Várias vezes já havia acontecido de ficar apenas uma ou duas pessoas em casa com ela em casa e foi tudo tranqüilo. Claro que sua família imaginava que ela não precisaria de uma babá do seu lado toda hora, e por isso nem suspeitaram de que ela saiu do quarto. Se escutaram, por acaso, um barulho, certamente pensaram que ela estava pegando algo para comer, ou levantou para esticar as pernas. Com esses pensamentos, Renesmee se sentiu mal imediatamente. No fundo, seu coração doía profundamente por ter que fazer isso. Amava demais sua família e era muito grata por tudo o que eles já haviam feito para ela, pois sabia que sempre foi por amor. Mas ela não tinha escolha. Necessitava ver o homem de novo e essa era única saída possível, então ela tinha que tentar. Afinal, qual adulto nunca foi um adolescente com uma fase rebelde? Até Bella havia mentido descaradamente sobre Edward para Renée e Charlie. Além do mais, nada iria acontecer de ruim a Nessie, ela tinha certeza de que o cara não iria machucá-la por nada nesse mundo.

Ela seguiu direto para o Screamers. Foi o primeiro lugar que pensou em ir, porque o tinha visto lá da última vez. Mas sua ideia não era encontrá-lo ali, pois tinha quase certeza que ele não estaria lá me plena quarta-feira. Ela pretendia ir até lá, captar seu cheiro (o que seria difícil, mas não impossível) e rastreá-lo até onde ele estivesse. Sim, parecia loucura, mas ela tinha um pressentimento de que ele também estava querendo encontrá-la e que, nessa noite, isso aconteceria.

E então ela avistou o clube noturno no meio de dois prédios altos, não muito longe. Ela poderia fazer toda volta na quadra, por onde estava bem movimentado, ou simplesmente cortar metade do caminho por uns bequinhos escuros. Obviamente ela escolheu a segunda opção afinal, ela era meia vampira, o que poderia acontecer?

Mas aconteceu.

Ela estava na metade do caminho quando sentiu uma dor muito intensa na coxa direita. A dor passou rapidamente para um formigamento e daí para um entorpecimento total de toda a sua perna. Renesmee caiu no chão do beco, sem poder mais se sustentar. O que estava acontecendo? Quem havia atirado nela? O formigamento foi crescendo e se espalhando por todo o seu corpo até que tudo parecia adormecido. Ela escutou vozes e sentiu um cheiro terrível, adocicado e diferente de tudo o que já sentira na vida. As vozes se aproximaram e o cheiro se intensificou ao extremo, embrulhando o estômago de Nessie.

– Ela não parece muito com os outros, seu cheiro é diferente – disse um dos caras. Renesmee queria protestar, mas não conseguia, estava fraca demais e não achava o caminho até sua boca e membros para poder fazer alguma coisa. – Parece… – ele fungou algumas vezes – com aquele que sentimos lá no norte…

– Não, acho que não. É bem diferente. Mas ela é sim uma vampira. Humana não pode ser, senão já estaria morta com a quantidade de anestesiante que recebeu – disse o outro homem, com voz rouca.

– Sim, mas se levarmos mais um que não sabe de nada, é capaz de o chefe esquartejar nossos corações…

– Ah deixe de ladainha Sr. P. Temos é que agradecer por conseguirmos pelo menos um hoje. Você sabe o quanto é difícil os vampiros saírem em uma noite clara como esta, ainda mais em plena quarta-feira, quando ninguém sai para festas. Pegue logo ela e vamos.

– Mas o chefe havia dito para ir mais para o norte caçar vampiros, lá a chance de algum saber o que está acontecendo é maior.

– Eu não ligo para o que o chefe diz Sr. P – Ele aumentou o tom de voz. – Não me interessa o que tem no norte, para mim é tudo bobagem esses boatos que andam contando. Vamos levá-la de uma vez. Se ela não souber de nada a culpa não é nossa, cumprimos com a nossa parte.

– Não sei não, hein. Essas ordens não são só do chefe, mas de Omega, se eu fosse você, não pensaria assim… – resmungou o tal Sr. P, mas depois calou-se e cumpriu o que o outro havia dito.

Renesmee sentiu mãos frias encostando nela, levantando-a e carregando-a para longe. Ela queria gritar, espernear, dizer que não era uma vampira e que não ia ajudar ninguém. Estava com nojo daquele cheiro, com medo daqueles homens e se ficasse mais alguns minutos naquele colo nojento, ia vomitar na cara daquele homem. Aonde pretendiam levá-la? Com que direito a pegavam no colo assim e arrastavam-na para onde quisessem? O que queriam dela, afinal?

– Está viva ainda? – perguntou o homem rouco.

– Sim respira rapidamente, assim como seu coração, que bate furioso. Acho que daqui a pouco ela acordará.

– Mas ela não era para acordar tão cedo. A quantidade de sedativo que lhe demos dura pelo menos uma hora, mesmo em machos fortes. Porque com ela é diferente? Parece tão miúda.

– Acha que devemos dar mais uma dose então?

– Vamos dar metade, mal não vai fazer já que ela parece ser tão forte. Só não podemos nos dar ao luxo de permitir que ela acorde, pois daí sim teremos problemas, como anteontem.

Eles param e colocaram Nessie no chão. Ela ouviu uns barulhinhos e então sentiu mais uma fisgada extremamente dolorida, dessa vez no braço esquerdo. Queria gritar com todas as suas forças, mas essa tentativa só piorou as coisas. Tudo formigou novamente e dessa vez o torpor agiu e se espalhou muito mais rápido. Ela foi caindo, caindo até que tudo escureceu de vez.