Julia Branson

Felipe parou a moto em frente de casa, eu desci, tirei o capacete e sorri para ele que retribuiu na mesma intensidade, ele tinha um sorriso tão bonito. Eu me aproximei timidamente e depositei um beijo em sua bochecha, ele fez uma cara de desapontado e eu ri me afastando um pouco, não queria apressar as coisas

— Eu adorei a noite – Disse sentindo meu rosto esquentar me obrigando a desviar os olhos para o chão. Tínhamos falado sobre várias coisas, bandas e series e o que ele gostava e o que eu gostava, tínhamos muito em comum. Tomamos sorvete como um casalzinho e houve um ou dois momentos que eu achei que ele ia me beijar, mas ele pareceu desistir a medida que eu desviava o roto tentando evitar aquilo

— Eu também adorei, espero que a gente possa fazer isso mais vezes – Voltei a encarar o garoto – Quero continuar te vendo

— Nós vamos – Eu sorri dando alguns passos para trás sem cortar o contato visual – Vejo você amanhã na faculdade? – Ele assentiu e eu me virei para abrir o portão, acenei para ele que pouco tempo depois arrancou desaparecendo rapidamente.

Fazia tempo que eu não me encontrava com ninguém, me sentia quente por dentro, uma sensação de conforto que me fazia rir sozinha. Peguei a chave na bolsa e abri a porta, entrei limpando os pés no pequeno tapete e fechei a porta atrás de mim. Ricardo estava sentado no sofá jogando, o som estava muito baixo, o que era quase assustador se tratando dele

— Você demorou! – Ele colocou o jogo na pausa e se ergueu no sofá virando para mim – A mãe da Mel estava ligando, deve estar preocupada com ela, é melhor você ligar e dizer que ela está aqui

— Ela está aqui? – Perguntei surpresa me aproximando do sofá. Os cabelos loiros estavam espalhados pela colcha preta do sofá num contraste bonito, ela estava no espaço que sobrava ao lado de Ricardo, tapada até ao pescoço com uma coberta

— Ela acabou dormindo – Ele disse e voltou a jogar. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa o telefone começou a vibrar em cima da mesa, com a foto da mãe de Mel – Atende

— Ela deve estar super preocupada, porque você não atendeu e disse alguma coisa? – Eu peguei o telefone nas mãos

— Claro, ela liga para a filha e um garoto atende dizendo que ela não pode atender porque está dormindo – Ele disse com sarcasmo na voz

— Acordasse ela – Eu reclamei e ele olhou de soslaio para a loira – Sim? – Disse após atender o telefone e caminhei em direção a cozinha – Oi senhora Sanders, é a Julia!

— Julia? Está tudo bem? – Ela perguntou num tom preocupado — Eu tentei ligar algumas vezes, mas ninguém atendia. Melanie me disse que ia sair com você, eu só liguei para saber se jantou

— Sim, ela jantou aqui comigo, é que ela acabou por adormecer, então eu atendi o telefone porque não sei se deveria acorda-la – Ela fez um som de compreensão – Como ela estava com dor de cabeça talvez seja melhor deixar que descanse, a senhora prefere que a acorde para ela ir para casa, ou ela pode dormir aqui?

— Não, não se preocupe, ela pode dormir ai, só não se esqueça de acorda-la mais cedo amanhã para pegar a mochila antes de vocês irem

— Claro, pode deixar – Eu sorri. Era fofo o quanto a mãe de Mel era preocupada e atenciosa, não que os meus pais também não fossem assim, mas eles passavam tanto tempo fora que eu sentia falta dessas coisas as vezes. Me despedi da mãe de Mel e voltei para a sala. – Você pode me ajudar a levar ela lá para cima? – Perguntei a Ricardo – Não queria deixar ela dormindo aqui, é muito desconfortável

Agora que estava na frente do sofá conseguia ver o rosto da minha amiga, ela dormia como um anjinho. Me pergunto se ela não foi porque realmente estava com dor de cabeça como disse na mensagem que me enviou ou se fez de propósito para me deixar sozinha com Felipe. Não que ela parecesse muito interessada em sair com Jason, dava para ver que não estava com muito animo, por isso também podia ser apenas uma desculpa para cancelar as coisas com o garoto.

Meu irmão desligou a PS3 e a televisão dirigindo-se a garota, retirou cuidadosamente a coberta de cima dela que se encolheu um pouco fazendo nós dois sorrir para a cena, ele passou uma das mãos por trás do pescoço da loira e outra em baixo dos joelhos a erguendo em direção ao seu corpo, Mel resmungou alguma coisa que nem sequer foram palavras e ele aninhou ela em seus braços sussurrando um “shhh” como para um bebezinho. Era engraçado ver ele ser tão cuidadoso quando na maior parte do tempo eles queriam se matar, não que meu irmão fosse um troglodita, geralmente ele era muito carinho seja com as garotas que de vez em quando apareciam com ele, com Jean e Mateus de um jeito mais agressivo de se importar com eles, ou até mesmo comigo, apesar de todas as implicâncias de irmão habituais de uma família normal.

As garotas geralmente passavam a odiá-lo só depois, pelo desprezo posterior quando ele não queria mais saber, porque enquanto ele estava entretido era quase um príncipe, acho que seu único problema era não se apegar a nenhuma elas, ele fazia de propósito. E olhando para o moreno subindo as escadas devagar com um olhar atencioso sobre o rosto de Mel me fazia temer por ele. A situação não era como as outras, ele não estava deixando ela entrar como uma garota que ele sabia que ia “pegar” e ia embora, ele estava deixando ela entrar como alguém que ele convive e não “pega”, ou seja, ele não está se preparando como normalmente faz, sinceramente eu acho que ele não está sequer notando que se importa com ela.

Eu puxei as cobertas da minha cama indicando para ele colocar Mel ali, ele foi até a beira e deitou a garota, puxou em seguida as cobertas para cobri-la novamente até ao pescoço, retirando os fios de cabelo que caíram sobre o rosto claro quando ele a colocou sob a cama.

— O que foi? – Ele perguntou quando olhou para o meu olhar acusador e provocativo sobre ele

— Você está se afundando maninho

— Do que você está falando? – Ele estreitou os olhos passando por mim em direção ao corredor

— Nada – Eu sorri para ele antes de fechar a porta do meu quarto