Ironias do Amor escrita por Tortuguita


Capítulo 14
Escondido na música


Notas iniciais do capítulo

Obrigada aos que estão sempre comigo, agradeço ao apoio mais uma vez.
E bem, divirtam-se ♥



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Emily Sanders

Meu cérebro despertou, mas não fui capaz de abrir os olhos. Tentando prolongar o aconchego por mais alguns minutos eu me remexi afundando ainda mais no cobertor quentinho. A sensação de conforto se espalhou novamente, mas antes que pudesse cochilar o clima de paraíso se apagou, com algo escorregando ao meu lado.

Sentei-me na cama assustada, tentando dar algum foco a minha mente entorpecida pelo sono e entender o que tinha acabado de acontecer. Um amontoado de fios castanhos se fez presente ao lado da cama e após um olhar assassino eu percebi que Melanie tinha caído. Um sorriso surgiu em meus lábios. Mel levantou do chão xingando até a minha quarta geração como se eu tivesse culpa, os olhos dela estavam semisserrados e vermelhos, o rosto amassado e o cabelo armado até os dentes. Sinceramente parecia que ela tinha acabado de sair da guerra.

Por incrível que pareça a boa disposição tomou conta de mim naquela manhã, me fazendo saltar da cama e puxar o edredom até a ponta do colchão, deixando a terceira garota, que ainda dormia tranquila, totalmente destapada. Melanie pulou para cima da cama e empurrou Julia para o chão.

A morena realmente não tem cara de garota que fala palavrões, mas alguém que a viu acordar naquela manhã pode afirmar com convicção que ela tem um vocabulário desse tipo bastante extenso.

Depois de palavras feias e resmungos nós três descemos e tomamos café sozinhas, já que os meninos só saíram da cama na hora do almoço. Não pude deixar de sorrir quando meus olhos caíram sobre os azuis intensos de Ricardo e inesperadamente um sorriso nasceu nos lábios dele também. Não era muito dificil de decifrar: ele tinha aceitado minha vitoria dessa vez.

(…)

– Emily é só uma musica, para de drama. – A voz sempre calma de Mateus atravessou a madeira que nos separava. – Abre essa porta!

– Eu já disse que não vou abrir e também não vou a lugar nenhum.

– Amy, eu vou derrubar a porta se você não sair dai! – Dessa vez foi Jean quem disse aos gritos.

Como se não bastasse todos os meus problemas, esses garotos ainda queriam me trazer mais um. Quando eu descobrir de quem foi a ideia de ir nesse maldito bar essa pessoa vai se arrepender por ter nascido. O problema na verdade não é o bar em si e sim o fato de que graças a esses imbecis eu teria que cantar na frente de todo mundo.

Tudo isso começou quando depois da brilhante ideia de passar a noite lá, Julia ou Melanie – Eu não sei qual das duas abriu a boca gigante – resolveu comentar na frente de Michael que eu costumava cantar algumas musicas e tocar violão quando elas iam passar a tarde lá em casa.

Michael é o filho do dono do bar, que por sua vez teve a brilhante ideia de colocar algumas pessoas para cantar a noite e aquela babaquice toda de agradar os clientes. Enfim, ele decidiu que eu seria uma dessas pessoas e meus amigos geniais amaram a ideia e agora estão dispostos a me levar nem que seja arrastada e é exatamente por isso que eu não vou sair desse banheiro.

– Qual é o seu problema? Você estava cantando ontem no karaokê sem se importar com nada, é a mesma coisa. – Jean esmurrou a porta.

– Não é a mesma coisa! – Gritei. – Eu não vou e acabou.

– Ah, quer saber? Já chega! – Ricardo se pronunciou pela primeira vez. – Eu perdi o resto da minha paciência.

Pelo tom de voz ele parecia bem irritado e por alguns segundos eu pensei que ele fosse quebrar a porta, mas através do som causado por seus passos na madeira da escada eu percebi que ele se afastava. Estava indo sem mim provavelmente.

Um baque forte de algo caindo estrondou, algumas coisas pareciam ter se quebrado. Um fio de preocupação me atingiu e eu consequentemente me joguei contra a porta fazendo pressão para tentar ouvir alguma coisa que me informasse o que tinha acontecido.

Meu mundo ruiu quando ouvi um grunhido de dor, e desabou de vez quando percebi que aquela voz era de Ricardo. Vários comentários preocupados foram feitos em seguida, as vozes totalmente desesperadas. Meu coração doeu e minha mente frutífera formulou varias quedas. Tudo o que eu podia pensar era na culpa, que nesse caso, era totalmente minha. Se eu não estivesse dando esse show só por causa da minha estúpida insegurança ele não teria se machucado.

Eu comecei a me desesperar, relutei por alguns instantes com uma das mãos na chave, mas bastou ouvir a voz de Ricardo novamente para que eu destrancasse a porta e corresse atrás do garoto.

– O que acon... – Soou mais desesperado do que deveria, e eu nem pude acabar a frase.

Congelei.

O rosto de Jean foi o primeiro que vi. Como um balde de água fria a realidade me atingiu e me odiei por cair em algo tão velho. Girei o corpo para entrar no banheiro novamente, mas Ricardo já tinha impedido a passagem, um sorriso convencido estava em seus lábios. As mãos dele caíram sobre meus ombros, e então lá estava eu indo para o maldito bar, sendo arrastada entre protestos.

(...)

Depois de me debater, xingar e lutar contra o moreno inutilmente, eu acabei cedendo e me obrigando a acreditar que aquilo não podia ser tão mal assim.

O bar era muito espaçoso, com luminárias de luz fraca que davam um ar misterioso, romântico e aconchegante ao lugar. Em uma das paredes tinha um aquário gigante e eu por alguns segundos pensei na ideia daquilo estourar e inundar tudo. Estava tudo muito limpo e o cheiro era uma mistura de lavanda com madeira, o ultimo provavelmente com origem nos sofás rústicos acolchoados que estavam encostados nas paredes do salão. Eu olhei em volta uma ultima vez antes de chamarem por meu nome, quase todas as mesas estavam ocupadas. Permaneci calma até colocar os pés em cima do mini-palco que montaram estrategicamente em uma das extremidades do lugar.

Perante todos aqueles olhares a confiança que tentei cultivar dentro de mim evaporou. Peguei o violão e me sentei no banquinho que uma das funcionárias arrastou para o centro, ela me deu um sorriso confortante e eu retribui. Nivelei a altura do pedestal do microfone tentando desviar minha atenção dos olhos que estavam grudados em mim.
Meus dedos se arrastaram suavemente pelas cordas dando inicio a melodia.

Love, it's a special day

We should celebrate and appreciate

That you and me found something pretty neat

And I know some say this day is arbitrary

But it's a good excuse to put our love to use

Baby I know what to do, baby I will love you

I'll love you, I'll love you



No inicio minha voz tremia ligeiramente, mas com o entoar das notas foi ficando cada vez mais fácil. Os sentimentos eram trazidos de dentro da minha alma pela musica, com o conforto e a confiança aquilo deixou de ser apenas uma canção.

Love, I don't need those things

I don't need no ring

I don't need anything

But you with me, cause in your company

I feel happy oh so happy and complete

And it's a good excuse to put our love to use

Baby I know what to do, baby I will love you

I'll love you, I'll love you

Eu ergui meus olhos avaliando os espectadores por alguns segundos, respirei fundo antes de conseguir coragem o suficiente para procurar aqueles olhos. Meu olhar perfurou o azul intenso e isso me aqueceu por dentro. Os olhos de Ricardo são capazes de fazer a minha alma reluzir. E eu no fundo maquinava essa hipálage para não aceitar que ele mexia comigo.

Yeah, it's a good excuse to put our love to use

Baby I know what to do, baby I will love you

I'll love you, I'll love you

So won't you be my honey bee

Giving me kisses all the time

Be mine, be my valentine

Um sorriso torto se apossou dos lábios dele e isso quase me fez errar a nota. Desviei olhar buscando concentração longe daquele gesto tão típico dele. Até olhar para aquele garoto estava se tornando perigoso ultimamente.

So won't you be my honey bee

Giving sweet kisses all the time

Be mine, be my valentine

A adrenalina e o entusiasmo borbulharam dentro de mim assim que as pessoas começaram a aplaudir. Levemente corada eu sai do palco e me juntei aos meus amigos que me elogiaram me deixando ainda mais envergonhada. Ricardo apenas sorriu, um sorriso que cavou um buraco profundo e enterrou a necessidade de qualquer palavra.

Uma banda bem legal ocupou o lugar no palco e depois de algumas musicas, bebidas e conversas nós voltamos para casa.


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Notas finais do capítulo

Musica: https://www.youtube.com/watch?v=840NbiFF1zM

Pergunta: Querido leitor, o que você acha que vai acontecer no próximo capítulo?