Ironias do Amor escrita por Tortuguita


Capítulo 11
Vinho e sal


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpas pela demora, eu estou meio insegura em relação a esse capitulo, não é um dos meus preferidos, mas os dois capítulos seguintes estão bem mais legais.
Boa leitura, bjinhos :*



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Emily Sanders

Voltando meus pensamentos no tempo eu refleti em tudo o que o povo teve que suportar no passado e desejei que aparecesse uma princesa Isabel na minha vida, me livrasse dessa escravidão e fizesse de hoje a sexta-feira da liberdade.

– Você é louco? – Eu encarei o garoto a minha frente abismada. – Eu não vou fazer isso!

Tudo bem. Eu o suportei me explorando a semana inteira, pedindo para pegar água para ele, para entregar o livro na biblioteca ou ir comprar sorvete enquanto ele ficava com aquela bunda gorda sentada no sofá, – pelo menos ele me mandou comprar um pra mim, – mas aquilo ali já era abusar da sorte. Quem ele pensa que é?

– Vou ter que repetir? – Ricardo disse achando muita graça da minha cara.

– Porque você não procura um SPA? Ou pede a uma daquelas oferecidas que costuma se jogar em cima de você sempre que te vê? – Ele continuou me encarando divertido e eu bufei cansada. – Eu não vou fazer massagem em você! – Levantei furiosa do sofá andando de um lado para o outro – Você está passando dos limites! – Rosnei enquanto me aproximava dele. – Quando eu encontrar esse maldito papel você vai ver o que vai te acontecer.

No fundo sabia que teria que fazer aquilo por bem. Melhor do que fazer por mal, já que da ultima vez que neguei algo a ele resultou em Jean e Mateus morrendo de rir da minha cara e repetindo, incansavelmente, partes do meu infeliz discurso escrito naquele maldito papel, que eu nunca conseguia tomar de volta.

Definitivamente eu não quero toda a universidade fazendo o mesmo e para piorar Ricardo ainda ameaçou que a primeira pessoa a ler aquele papel seria Diana. Meu orgulho valia mais do que uma mera massagem na qual eu poderia aproveitar para esmagar os nervos daquele imbecil.
Eu estava a um metro dele quando o safado, filho de uma mãe, tirou a maldita camisa. Recuei no mesmo instante e ele fingiu nem perceber, apenas virou de costas para mim se acomodando no sofá.

– Não, não, não… – Repeti tão rápido que as palavras se embolaram. – O que você pensa que esta fazendo? – Questionei constrangida. – Dá para fazer massagem com a blusa no lugar. Coloca isso.

– Eu dou as ordens aqui Amy. – Ele riu e depois respirou fundo ao notar que eu não me movi. – Vai demorar muito?

– É “Emily” para você. – Rosnei mais uma vez depositando brutamente minhas mãos entre o ombro e o pescoço dele e apertando com toda a minha força. Ele grunhiu virando para mim furioso.

– Foi sem querer. – Sorri cínica e o virei com força para a posição em que estava antes. Deslizei meus dedos pelo ombro dele, dessa vez delicadamente, e o moreno pareceu relaxar um pouco. Eu confesso que aquilo era razoavelmente agradável.

Tá bom, era muito agradável. Ele tinha músculos bem definidos e uma pele macia que passava energia para as pontas dos meus dedos e me deixava meio perdida. Era irresistível e impossível não admirar aquele garoto e naquele momento eu tive certeza que deveria fugir dele, – principalmente quando estivesse sem camisa, – se quisesse permanecer com minha sanidade intacta.

Não sei por quanto tempo fiquei fazendo massagem nele, mas acabei chegando à conclusão de que estava ficando mais difícil me concentrar a cada minuto que passava. Ele suspirou, o que soou como um leve gemido, eu parei os movimentos, mas minhas mãos continuaram sob os ombros largos.

Ele cobriu as minhas mãos com as dele, estavam quentes e o toque me deu arrepios. Foquei-me em todas as garotas que já colocaram as mãos naqueles ombros, o que talvez se resuma em metade da população feminina da faculdade e aquilo me deu força para soltar as minhas mãos das dele.

– Já chega. – Murmurei o empurrando ligeiramente e me joguei no outro sofá.

– Você tem mãos de anjo. – Ele escorregou pelo sofá onde estava de modo a que ficasse deitado e permaneceu com os olhos fechados. Aquelas palavras ecoaram pela minha mente, com o mesmo tom de voz e o mesmo sotaque.

– Eu sei. – Sorri.

– Sabe o que? – Ele perguntou confuso e só então eu notei que já se tinha passado muito tempo desde a fala dele.

Tentei pensar em uma resposta coerente, mas para meu alivio a campainha começou a tocar. O som se repetia vezes de mais para poucos segundos, o que deixava claro que era o irritante do Jean do outro lado da porta e que ele estava brincando de piano com o botão da campainha.

Antes que pudesse me levantar para socar a cara do garoto, vi dois amontoados de cabelos castanhos aparecerem no topo da escada, Julia e Melanie desceram e foram até a porta colocando a cambada toda para dentro.

Mateus, Jean e Tiago entraram fazendo um estardalhaço. Já estavam vestidos formalmente e dava para ver a empolgação no rosto deles, possivelmente pela festa de hoje, que seria uma das melhores segundo os comentários que rolavam por ai.

– Porque vocês ainda não estão arrumados? – Reclamou Tiago. Sua voz chegava a ser estranha para mim, quase não o ouvia falar.

(...)

Julia se divertiu enquanto me emperiquitava, e sinceramente, eu achei que ia ficar parecendo uma palhaça com aquela maquiagem, mas para meu contentamento no final estava leve e natural e me deixou um pouco diferente.

Desci as escadas me escorando no corrimão, o salto alto dificultava um pouco a descida, mas era totalmente necessário para aquele vestido. Era preto, – assim como os sapatos, – com alças finas, um pequeno decote em “V” e um cinto branco que limitava a minha cintura fazendo o desenho perfeito da curva. Ao contrario da parte acima do cinto, que era colada ao corpo, em baixo o tecido era bem solto e o pano caía levemente até um pouco acima do joelho.

– Garotas, vocês já estão prontas? Por favor! Já chega de se arrumar! – Jean berrou impaciente. Ele estava de costas e ainda não tinha me visto descer.

Percebi quando Tiago notou minha presença, logo em seguida, os outros três olhares caíram sobre mim. Foquei-me no rosto do meu arqui-inimigo, seus olhos extremamente azuis percorreram todo o meu corpo e um sorriso safado surgiu no canto de seus lábios. Senti meu rosto esquentar ligeiramente.

– Até que enfim. – Mateus suspirou cansado captando minha atenção.

– Elas já estão descendo.

– Como assim? Ainda não terminaram? – Tiago questionou com uma ponta de irritação em sua voz.

– Como ela está gata hoje. – Com o tom divertido de Jean, em vez de envergonhada acabei rindo do elogio. – Então, tem conseguido controlar sua vontade de agarrar o Ricardo? – Ele caçoou e o meu sorriso morreu no mesmo instante deixando lugar para um olhar furioso para cima do garoto. Os outros dois riram e Tiago ficou boiando, mas não perguntou nada.

Passei por eles e segui até a cozinha, depois de beber água voltei até a porta me escorando no umbral de onde podia ter uma visão clara da impaciência que pairava no cômodo a minha frente.

– Querida Emily, por que você não aproveita e pega vinho para nós? – O imprestável pediu com seu sorriso canalha no rosto.

– Obrigada Jean, por relembrar a esse demente que ainda estamos em tempo de escravidão.

Virei sem reclamar diretamente com Ricardo e me arrependi logo em seguida, ele poderia desconfiar da minha calma. Enchi quatro taças com o vinho que estava em cima do balcão e procurei entre as prateleiras o ingrediente desejado. Meus olhinhos brilharam quando o encontrei. Sal.

Voltei equilibrando as quatro taças nas mãos, escondendo meu sorriso de contentamento, foi necessário quase um malabarismo para não derrubar o conteúdo escarlate.

– Era a garrafa – Ricardo reclamou.

– Você disse vinho – Revirei os olhos e entreguei uma a cada um dos garotos, me certificando que a taça correta ia parar nas mãos de Ricardo.

Subi as escadas o mais rápido que pude, parando no topo para observar a cena. Ou eu não sei disfarçar, ou ele observa demais, porque tenho certeza que desconfiou de algo, já que esperou os outros três garotos beberem para só então levar o líquido a boca.

Para qualquer uma das alternativas, eu e minha sutileza colocamos o gostinho especial só na taça dele. Assim que o garoto cuspiu o líquido eu corri para dentro do quarto de Julia, deixando apenas o som de minhas cruéis risadas para trás. Por fim, quando os outros perceberam o que havia acontecido deram continuidade aos meus risos.


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Notas finais do capítulo

Pergunta do Capitulo: Terror, comédia ou romance?