Circulo De Paixões. escrita por Lorys Black


Capítulo 14
Capítulo 13 - Virando a Pagina


Notas iniciais do capítulo

CAPITULO EDITADO EM JUNHO DE 2022

Músicas do capitulo.
Je te laisserai des mots - Patrick Watson.
Warning sign - Coldplay.



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https://www.youtube.com/watch?v=_L14qXlyYeI&t=1405s

 

Abri os olhos, respirei fundo sentindo a areia macia nos meus pés, e uma brisa leve em meu rosto. Tenho a estranha consciência que estou apenas sonhando, mas é tão real, simplesmente e maravilhosamente real.

Caminhei lentamente aproveitando a sensação de leveza. Então o vi. Meu sorriso surgiu natural e incontrolável como sempre acontece ao vê-lo. Meu coração disparou frenético, e lágrimas de alegria molharam meu rosto, como sempre acontece quando o vejo em meus sonhos.

Jake caminhou no mesmo ritmo tranquilo que eu caminhava. Nos aproximamos. O aroma amadeirado na pele dele invadindo meu corpo todo.

 – As vezes me pergunto, se existe alguma maneira de trocar minha vida, por esses sonhos, será que é possível Jake?

Ele sorriu.

 – Por qual motivo você faria isso? – Jake estendeu a mão em minha direção.

O som da voz dele… estou sentindo uma emoção imensa.

Fechei os olhos, tentando grudar esse tom na minha alma.

 – O clima nos meus sonhos são mais agradáveis. – tentei fazer piada. – Existe essa tranquilidade, você sabe, não ando tendo muito disso… Tranquilidade. – o encarei séria e segurei sua mão. – E posso te ver.

Ao tocar em suas mãos, o calor na pele dele me aqueceu por completo, como se após todos esses anos, eu voltasse a minha temperatura normal somente neste momento. 

 – Não conseguimos trocar nenhuma palavra nas últimas vezes que estivemos aqui. – ele girava o polegar em minhas mãos, e me observa enquanto fala, verificando se vou mentir quando responder.

— Acho que foi a saudade. Quase três anos sem te ver – tentei não me emocionar ao lembrar o tempo sem contato algum com ele, entretanto, falhei miseravelmente. – Eu sei que estou sonhando, então posso falar tudo, certo? – Jacob sorriu, com um certo receio no olhar.

Ele suspirou e apertou minhas mãos.

— Claro, claro. – meu coração disparou frenético, sem controle.

— Eu achei que acabaria, sabe? Essa saudade, amar você, mas nossa Jacob, parece que você partiu ontem, e sinto todos os dias sua ausência. – as lágrimas molharam meu rosto.

Vi lágrimas reluzirem no rosto dele.

— Eu sinto sua falta todos os dias Leah, não existe um único movimento em que você não esteja na minha mente, eu só não posso voltar, ainda não, e por isso…– o interrompi.

— Não, sem palavras cruéis okay, não neste lugar, hoje seremos somente nós. – sorri tentando descontrair o clima.

— Claro, claro. – ele baixou a cabeça como se estivesse pensando no que falar.

Jacob sentou-se na areia. 

— Como estão as coisas, mais tranquilas? Se adaptou em liderar a matilha? – ele sondou.

— Eu sim, mas acredite, mesmo sendo escolha deles, ficarem ao meu lado, você sabe como os Lobos amam receber ordens de uma mulher, certo? Eles me servem chá aos domingos até hoje. Muito britânicos. – ele cruzou os braços no peito e lançou em minha direção seu olhar de “agora a verdade Leah”, o sorriso debochado em meu rosto sumiu. – Okay Black,  estúpido. – Jake gargalhou, e por segundo, um único segundo, eu realmente me sinto ao lado dele, suspirei e continuei. – O início foi meio complicado, na verdade muito mais para mim do que para eles, Sam, Seth e cada um dos meninos tiveram paciência. Eu assumi a matilha diante uma situação complicada, porém, é estranho explicar, mas até aquele momento eu não me sentia à vontade sendo uma Loba, achava toda a situação um fardo, agora é como se a minha vida tivesse começado realmente naquele momento, entende? – Jake me observa com um sorriso lindo nos lábios.

— Eu entendo sim. Às vezes precisamos aprender da forma mais difícil qual é o nosso lugar e por qual motivo, acontecem determinadas coisas em nossas vidas! – Jake me encarava sério, com o olhar firme, e cheio de sentimentos que não consigo decifrar neste momento. – Você nasceu para liderar, Leah.

— Assim como você nasceu para ser um alfa. – afirmei, ele sorriu.

— Sim. E se a vida tivesse sido como queríamos? Certamente estaríamos em outros lugares mais confortáveis, e não no caminho que nascemos para traçar, escrever, viver – sentei ao lado dele.

— Será? – respirei fundo, para absorver o aroma que emana dele.

— Tem dúvidas ainda? – ele me encarou divertindo-se pois sabe a resposta. Foi minha vez de sorrir. 

— Não. – admiti – Se a vida fosse como eu quero Jake, não estaria aqui conversando com uma alucinação criada pela minha mente, por conta de uma saudade que não passa.

— Leah… – ele tentou iniciar alguma frase, o interrompi.

— Sem palavras cruéis, certo? – respirei fundo, e ele também. – Como você está, Jacob? – perguntei já tentando conter as lágrimas, sentindo um desejo opressor e necessário pela resposta. Torcendo com toda força na minha alma, para ele dizer que voltará em breve.

— Estou mudando, buscando ser quem a matilha precisa, buscando ser o homem que a merece, e não posso voltar antes de conseguir isso, entende Leah? – seu suspiro pareceu pesar cem quilos, ele parece ler meus pensamentos. 

— Talvez eu entenda Jacob, mesmo não aceitando esse entendimento. – sorrimos juntos. – Acredito que o seu caminho é esse, hoje consigo enxergar isso de uma forma mais clara, contudo, acreditar e desejar não andam sempre juntos, e estão sempre em conflito, quando sentimos a falta de abraçar e estar ao lado da pessoa que amamos.

— Eu sei… estou aprendendo sobre isso também, o que desejo, e o que acredito, pois, todos os dias eu desejo, te sentir em meus braços novamente, mas acredito que ainda não devo, pois, estou longe de ser tudo aquilo que posso e devo me tornar, entende? – ele concluiu com pesar.

— Infelizmente sim. Estamos distantes há três anos, e tenho milhões de coisas para falar, mas neste momento, só consigo dizer que os meus braços estão abertos para você, e estarão sempre. – senti a necessidade esmagadora de abraçá-lo, como se estivesse realmente diante dele.

— Eu também quero falar milhões de palavras, você merece todas elas, saber sobre tudo, mas hoje preciso dizer algo e mesmo não sendo justo, você tem o direito de saber… – ele suspirou emocionado. – Foi nos seus braços, o lugar onde eu realmente fui feliz, genuinamente e da forma mais intensa. Tenho essa consciência há algum tempo, sentir a leveza desse sentimento e tê-lo como combustível diário, é um dos motivos que me trouxeram aqui hoje. – Jake, respirou fundo, nitidamente querendo encontrar as palavras para o que está prestes a dizer.

Mas estou aqui, extasiada com as palavras dele sobre nós. E neste momento elas seriam o bastante para me manter dormindo eternamente, pois meu desejo mais sincero é ouvir todas essas palavras acordada, o que definitivamente é impossível acontecer.

— Sem palavras cruéis… – sorri sem humor algum.

— Claro, claro. – Jacob me encarou, emocionado, o coração frenético em seu peito. Ah… esse continua sendo meu som favorito no mundo inteiro. Fechei os olhos.

Jacob pareceu perder o ar por alguns segundos.

Senti sua respiração se confundir com a minha, como acontecia sempre que nos beijávamos. Ou ele se aproximava para me tocar. Resolvi empurrar as palavras.

— Fale de uma vez, arranque o band-aid. – pedi. Minha voz saiu como um sussurro.

Foi a vez dele respirar fundo. 

— Você precisa parar de me chamar Leah. – abri meus olhos para encará-lo, sua expressão é dolorosa de ver, e as lágrimas em seus olhos, não conseguem acompanhar as palavras saindo de seus lábios. – Se você me chamar eu vou aparecer, e isso não é justo com você.

Me senti ofegante, e mais uma vez as lágrimas rolaram livres pelo meu rosto.

— Eu tento Jacob, há três anos eu tento inúmeras coisas, é uma luta que perco todos os dias. Não te querer, amar e precisar tanto tê-lo por perto. Entretanto, é algo incontrolável. A minha realidade é tão injusta, então não me peça para deixá-lo ir daqui também. Sonhar com você tem me feito feliz. Sentir o cheiro da sua pele nos meus sonhos é meu refúgio. Eu preciso acreditar na sua volta Jacob. – desabafei.

— Você precisa seguir em frente, e como fará isso presa a mim desta forma? – comecei a chorar não conseguia controlar, ele está me dizendo adeus mais uma vez. 

— Tudo é tão injusto, tão pesado. – levantei em um rompante. A dor conhecida, causada pela despedida novamente. Jacob levantou e segurou minha mão.

— Escuta, eu estou aqui, e também estou lutando por nós, e por isso eu sei, que amar é deixar a pessoa livre, ficar feliz em vê-la voar, torcer por cada movimento que a faça crescer, mesmo estando longe dela. Porque se a pessoa está escrita no seu destino Leah, ela voltará, não importa onde a vida a tenha levado. – a voz dele continha algo indecifrável. – Eu a vejo voar todos os dias, e mesmo distante, sei o quanto é necessário.

Não consigo dizer nada. Parei diante dele, olhando nossas mãos entrelaçadas. Ficamos assim durante um tempo, que é insuficiente de qualquer forma.

— Eu, desejo do fundo do meu coração com todas as minhas forças, que um dia você volte. Torço para não ser tarde, já que tenho uma certeza; você está escrito no meu destino Jacob. – o encarei magoada.

Até nos meus sonhos é difícil dizer adeus a ele. Insuportável.

— Você está tatuada no meu Leah Clearwater. – ele soltou as palavras.

Respirei fundo, inundando meu corpo com o cheiro dele.

— Até logo Jake. – puxei minha mão.

Me virei e comecei a caminhar para me afastar dele. Deixá-lo para trás é tão insuportavelmente difícil.

— Leah! – ouvi seus passos apressados em minha direção. Senti a mão quente dele em meu braço, ele girou meu corpo. – Não esqueça disso.

Jacob colou nossos corpos e selou nossos lábios. Senti o beijo queimar tudo ao meu redor. A saudade massacrante, e a necessidade de sentir meus lábios nos dele… É exatamente aqui o lugar onde me sinto realmente completa… Nos braços de Jake.

Circulei minhas mãos em seu pescoço e senti um vazio.

 

— Jacob! – abri os olhos rapidamente procurando por ele. Fitei o vazio escuro do meu quarto enquanto abraçava o travesseiro. O despertador ao lado da minha cama tocava incessante – Droga de sonhos, droga de vida, droga de despertador.

Arremessei longe o objeto culpado por me trazer de volta a consciência.

Deitei novamente cobrindo minha cabeça com o travesseiro, a raiva dominando cada parte do meu corpo.

Então senti algo diferente desta vez. Senti um aroma amadeirado no ar. O calor das mãos dele em meus braços.

Passei a mão por meus lábios, que tinham um sabor diferente. Meu coração acelerou com a lembrança do último momento no meu sonho.

— Jacob. – abracei minhas pernas, tentando me juntar.

Ouvi uma batida leve na porta do meu quarto.

— Leah, está tudo bem? – a voz preocupada da minha mãe, arrancou-me dos devaneios.

Foi apenas um sonho, infelizmente.

— Está sim, Mãe. – sentei na cama. – Foi só um sonho, ou pesadelo já não sei mais. – admiti derrotada.

Sentindo o vazio da despedida tentando me sugar novamente.

— Você vai se atrasar para o primeiro dia de trabalho filha. – seu tom de voz animado, é reflexo da minha animação desde que consegui este trabalho, que com certeza, fará os meus dias melhores.

Dei um salto da cama. E deixei o sol iluminar meu quarto.

— De modo algum. – Abri a porta e puxei minha mãe, para um abraço. – Vou tomar banho, preciso verificar como foi a ronda esta madrugada. Se não houve nenhuma visita indesejada, se foi tudo tranquilo.

Minha mãe me entregou a toalha, com um imenso sorriso no rosto.

— Você está feliz, e isso me faz muito bem. – ela sorria orgulhosa.

— Estou feliz Mãe. Caminhando para isso todos os dias. – fui parcialmente sincera. Mas explicar a ela sobre, é tão complicado quanto sentir.

— Isso minha filha. – ela se aproximou e me deu um beijo na testa. – Para minha felicidade ser completa, só preciso dos meus dois filhos aqui.

Sorri com a expressão desgostosa dela.

— Eles estão voltando Mãe. – tentei tranquilizá-la, mais uma vez. Todas as manhãs há seis meses, minha mãe lamenta a ausência de Seth, que está viajando pelo mundo com os Cullens. No último ano eles tem viajado muito, ficam dois meses, viajam mais alguns.

— As coisas andam mais calmas desde que Nessie saiu de Forks não é? Há meses nenhum vampiro tenta entrar na cidade. – ela afirmou pesarosa. 

— Estão sim, Mãe. – fui sincera. – Contudo, Nessie, e os pais estão voltando, logo as coisas vão ficar agitadas novamente. Por enquanto estamos nos revezando entre as matilhas, para que todos possam curtir a vida uma semana. Porém, com o retorno dos Cullens, vamos voltar a patrulhar normalmente, as duas matilhas unidas. – percebi a tensão dela. – Mas já estamos acostumados.

Minha Mãe, soltou um longo suspiro.

— Gostaria simplesmente de ter os dois, tranquilidade, e meu filho de volta, será possível? – a expressão dela é quase infantil.

— Seth está voltando Mãe, e por enquanto isso é o que nos basta, certo? – dei um abraço apertado nela. – Agora preciso tomar um banho, não quero chegar atrasada no primeiro dia.

— Não vai. Vou descer e colocar a mesa, você tomará um belo café, farei isso enquanto toma seu banho. – minha mãe, saiu animada em direção ao andar debaixo.

Entrei no banho e deixei a água morna relaxar meu corpo todo. 

Meus pensamentos voltaram para o sonho desta noite.

Todas as coisas que desejo dizer a ele todos os dias. E só consigo chorar igual uma idiota. 

Refazendo a conversa mentalmente, neste momento responderia diferente quando ele perguntou; Como estão as coisas, mais tranquilas?

Diria a ele toda verdade, como esses três anos foram difíceis, sem a presença dele, e com vários sanguessugas tentando capturar Reneesme, após, os Volturi tornarem a existência dela conhecida. Contaria a ele, sobre as escolhas que fazemos para um bem maior, como por exemplo a minha em ouvir Sam, inúmeras vezes pelo bem da matilha. E hoje o agradeço por isso, e já consigo caminhar sozinha na liderança dos meninos. Ensaio tanto, e no momento que estou perto dele nos meus sonhos, só consigo dizer o quanto o amo, e sinto sua falta.

Chega a ser ridículo, mas assim como não controlo meus sentimentos, não controlo meus sonhos. Porcaria.

— Droga de vida. – peguei a toalha irritada, com a minha falta de atitude diante dele, mesmo em um sonho. – Foco, Leah!

Me troquei rapidamente, vestindo a roupa foi indicada pelo dono da loja onde vou trabalhar, o Sr. Webber. 

Parei diante o espelho admirada com o reflexo ali. Parece alguém completamente diferente.

Hoje será o primeiro dia trabalhando fora desta reserva. Já trabalhei por aqui, porém, jamais fora.

Estou ansiosa, embora ainda esteja tentando negar isso.

Desci as escadas e o aroma maravilhoso do café feito pela minha Mãe, já preenchia o ar.  Sentei a mesa, e ela fez questão de me servir. 

— Está orgulhosa da sua filha, dona Sue? – ela parou de tomar seu café, e me encarou séria. 

— Eu sinto orgulho de você, desde seu nascimento Leah. Hoje estou extremamente feliz por você, pois eu sei o quanto ter essas horas longe da Reserva, fará bem a você, minha filha!

Senti a emoção nas palavras dela.

— Obrigada Mãe, eu te amo. – me levantei tirando o prato de ovos e bacon deliciosamente preparados por ela. – Agora realmente preciso ir.

— Vá, minha filha. Deixe a mesa que eu tiro. – apenas assenti.

Peguei a bolsa e as chaves do carro, e ao olhar para trás minha mãe, tinha um sorriso no rosto.

— Está feliz com a volta de Seth, dona Sue? – disse debochada. – Quer o filho debaixo da asa não é mesmo?!

— Claro. Gosto de ter vocês por perto, e é a primeira vez que eles demoram tanto para voltar. Para uma mãe, seis meses, tornam-se anos. – ela disse tranquila. Uma confissão.

Dei risada.

— Preciso ir mãe, preciso checar como foi a ronda. – voltei à mesa, peguei alguns muffins para comer no meio do caminho.

— Está tudo bem, certo? Pode ter ocorrido algo? – ela parece preocupada.

— Não aconteceu nada Dona Sue, está tudo tranquilo. Confio na matilha, e durmo com um ouvido aqui, e o outro na floresta, se algo acontecesse eles uivam em alerta. É apenas uma precaução. Ficarei parte do dia fora e preciso saber como estão as coisas. – abri a porta e quando estava na varanda ouvi os passos apressados de dona Sue.

— Boa sorte minha filha!! – minha mãe correu e me abraçou depositando um beijo na minha testa. – Eu te amo.

— Alguém precisa amar dona Sue. – ri com a piada e com a cara zangada dela, ao ouvir isso. – Obrigada Mãe. Também Te amo.

Entrei no carro apressada. 

Dirigi até a parte próxima aos penhascos. Desci e já podia ouvir a movimentação de Embry e Collin.

Adentrei a mata. Embry me aguardava, já se vestindo atrás de algumas árvores.

— Como foram as coisas por aqui? – perguntei olhando no exato ponto onde Embry saia caminhando em minha direção. 

— Calmas, chatas. Sonolentas quase. – ele arrumava os cabelos. – Estou feliz com a volta da monstrinha, sabe? Ela agita as coisas por aqui, já que sempre tem alguém tentando matá-la ou roubá-la. Isso torna nossa vida bem movimentada. – ele ria da própria piada.

— Ridículo. Quer movimento na vida? Faça aulas de dança Embry. Não é engraçado viver como ela. – o lembrei. – E pare, de chamar a garota de monstrinha. – pedi nada educada.

— É brincadeira Leah, eu gosto muito dela, assim como você. – ele me olhava sarcástico.

— Bem, as rondas da matilha de Sam, vão começar essa semana, Paul e Jared devem chegar logo. Assim que eles assumirem você, e Collin devem ir descansar eu assumo quando chegar. – cortei o assunto Nessie, e meus sentimentos em relação a ela.

Embora não esconda o quanto gosto da monstrinha. 

— Não se preocupe Leah nós podemos revezar as rondas... – o interrompi.

— Obrigada. Embry! Não é preocupação, confio em todos vocês, só é minha responsabilidade, e não deixarei de cumpri-la. Escolhi trabalhar e tenho que conciliar. – me senti feliz e orgulhosa com a preocupação dele por mim. – Agora preciso ir, mais tarde nos falamos. Okay?

— Okay, okay! Bom trabalho Alfa. – ri com a maneira como ele me chamou. – E boa sorte aos pobres clientes dessa loja. – ele gargalhou da própria gracinha.

— Engraçadinho!! – fingi um olhar de indignação, ao me virar para caminhar até o carro, sorri com a piadinha dele.

No início foi difícil me enxergar liderando a matilha, chegava a ser engraçado. Porém, fomos aprendendo juntos, e agora é parte de mim, não conseguiria me afastar mesmo se quisesse, e não quero!

Entrei no carro, e novamente bufei irritada com o presente de aniversário maravilhoso dado por minha mãe, já que ele não para de tocar. O infeliz celular.

— Alô. – dei a partida no carro, não posso me atrasar!

— De mau humor, no primeiro dia de trabalho? Pensei que estivesse animada? – a voz feliz de Kate me fez sorrir involuntariamente.

— Esta é minha maneira de ser animada, após este celular. Bem vinda, e bom dia. – manifestei todo meu desgosto com esse presente. 

Kate gargalhou.

— Ai Leah, são as modernidades. Você está dirigindo? Sabe que não pode, certo? – Kate me repreendeu. 

— Na verdade, estou parada no acostamento. – menti.

— Céus, mentirosa. – Kate tem o estranho dom, de saber quando estou mentindo. – Vou falar rápido, você está dirigindo. Quero desejar um maravilhoso primeiro dia de trabalho, e dizer que estamos todos felizes por você. –  Kate é uma pessoa tão feliz, por este motivo sempre que conversamos e mesmo com toda distância, acabo absorvendo essa boa energia que emana dela, pois, sempre após nossas conversas me sinto leve, e em paz.

— Obrigada Kate. Confesso, estou um pouco ansiosa, ou nervosa, não sei identificar ao certo, enfim veremos o que vai acontecer. – confessei.

— Dara tudo certo, Leah. Há… Por favor, não esqueça a minha festa. Sem desculpas, você prometeu. – seu tom de voz continha uma ameaça não explícita, mas compreendi.

—Não esquecerei Kate, acalme-se. – até porque ela não me deixará esquecer seu aniversário de casamento, de qualquer forma.

— Ótimo e excelente dia. Te amo, e vou desligar pois não vou colaborar com nenhuma infração de trânsito, já que a senhorita está falando comigo enquanto dirige, não negue, até logo. – sorri com a bronca sútil dela. 

— Também te amo, Kate. Mais tarde nos falamos. – desliguei o telefone, já entrando em Forks.

Senti um estranho e desconhecido frio na barriga. Essas pessoas todas desconhecidas, seres humanos comuns que a partir de hoje verei diariamente.

Nossa, me sinto como na época da escola, onde precisava fazer apresentação de algum trabalho, diante toda turma. Minhas mãos estão suando.

— Acalme-se Leah. É apenas seu primeiro dia. Você vai conseguir. – repreendi meu reflexo no espelho, ao parar meu carro no local reservado para funcionários indicado pelo Sr. Webber. 

Desci me sentindo tensa, e ansiosa, e bati a porta do carro causando um eco alto, chamando a atenção do vigia na entrada.

— Tudo bem moça? – o desconhecido perguntou.

— Sim, só meu carro que é um pouco mais velho, e precisa de uma forcinha maior. – menti, examinando o carro para ter certeza que ele está inteiro.

Caminhei saindo do estacionamento e tentando me acalmar. Cheguei à praça e notei que estou muito tempo adiantada. 

Resolvi aguardar em um dos bancos tentando me acalmar.

— Um passo de cada vez e você constrói um recomeço Leah. – respirei fundo.

Então um grito me surpreendeu.

— Booooooooooo. – saltei alguns metros de distância. – Uoooooooou. – a criança diante meus olhos puxou a máscara para cima.

— Nossa, que susto. – tentava controlar minha respiração.

— Você deu um baita salto. – a vozinha espantada de quem obviamente se assustou assim como eu.

— Thomás!!! – a voz da mulher preocupada se aproximando de nós, respirando aliviada ao ver a imagem do menininho.

Primeiro ela abaixou e o abraçou, em seguida o repreendeu. 

— Não corra para fora do parquinho, ou ficará sem sobremesa por uma semana. – só agora ela olhou ao redor, percebendo minha presença ali. 

— Ela deu um grande salto. – a criança apontou em minha direção.

Meu coração disparou. Estou a tanto tempo lidando com seres sobrenaturais, e isso me faz perder o costume de conviver com seres humanos comuns, e lidar com situações mais simples.

Antes que eu pudesse me explicar, a mulher se adiantou.

— Claro, que sim. Você a assustou. – ela me olhou constrangida. – Me desculpe, ele está na fase da fantasia, e pregar peças, se esconde nos lugares mais improváveis para assustar quem ele conseguir. Perdão. – ela se virou para o garotinho, com um olhar severo.

— Imagine. Ele é só uma criança. – afirmei sem graça. 

— Um garotinho terrível às vezes, confesso. Bem até logo, e me desculpe mais uma vez. – ela sorriu e partiu apressada segurando o garotinho com firmeza.

Olhei minhas mãos suadas e me senti ridícula. 

— Porcaria, estou tentando enganar quem?! Sou uma loba, e  pequenas coisas podem me fazer perder o controle. Hoje fui surpreendida por um garotinho, e se amanhã for algo fútil, mas que denuncie quem sou? Preciso realmente permanecer na reserva.

Sentei no banco, e fechei meus olhos com força.

Não é medo, eu acho. Talvez seja um receio, de começar algo novo. Este lugar me trará coisas novas, um novo começo, com novas pessoas e situações. Desde a minha transformação não convivo diariamente com desconhecidos. Kate e sua família são as únicas pessoas totalmente humanas, e fora da reserva, com quem tenho amizade, assim mesmo não convivemos diariamente. 

Permaneci com os olhos fechados, aceitando o fato, que não sou um ser humano comum, como ter uma rotina normal? Céus, como farei dar certo? E se não der? Jamais me senti assim em relação a uma escolha.

Apoiei meus cotovelos nas pernas, e a testa nas mãos.

Senti uma brisa conhecida soprar no meu rosto.

“Você consegue.” — tenho certeza, escutei a voz dele. Meu coração disparou frenético. Fiz um esforço imenso para não abrir os olhos.

— Jacob. Não consigo. – sussurrei. 

“Você consegue. Não desista!” — seu tom de voz grave, firme. Encorajador.

Abri os olhos lentamente. Preciso ter certeza que Jacob, não está aqui. Olhei ao redor, e mesmo não o vendo por perto, sinto sua presença.

A lembrança do sonho esta manhã preencheu minha mente.

... Se a vida tivesse sido como queríamos? Certamente estaríamos em outros lugares mais confortáveis, e não no caminho que nascemos para traçar, escrever, viver.”  

Respirei fundo.

— Sim, estou exatamente onde devo. E vou conseguir, pois é necessário escrever minha própria história. – repeti as palavras para a única pessoa que precisa ouvi-las hoje… eu!

Talvez, esse seja meu maior medo, perceber que estou seguindo um caminho completamente novo, sem ele. Passei a vida toda tendo Jacob, por perto. Costurando memórias. Este lugar será o primeiro com lembranças só minhas.

 Levantei e caminhei até a loja onde estarei grande parte do dia. Vou conseguir.

Antes de entrar, respirei fundo novamente.

Ao entrar, o mensageiro de vento anunciou minha chegada.

O Sr. Webber veio dos fundos da loja com um sorriso simpático nos lábios.

— Bom Dia Leah. – ele estendeu a mão para me dar boas vindas, retribui o gesto. – Esperava você, só daqui meia hora, está adiantada. – ele afirmou tranquilo.

— Estou ansiosa para o primeiro dia. Estava sentada na praça, para o senhor não achar que estou querendo ganhar com horas extras, mas resolvi vir, e ficar falando sem freios, sobre horas extras. – droga, o nervosismo me domina…. surpreendentemente. 

O Sr. Webber gargalhou.

— É completamente normal, e não se preocupe, você pode se adiantar quando quiser, não terei problemas em pagar as horas extras. – a calma na voz dele, me fez sorrir. – Agora seja bem vinda ao seu primeiro dia. Vamos conhecer a loja?

Assenti sorrindo enquanto seguia ele,

O Sr. Webber ia mostrando a loja, calma e tranquilamente. Me entregou um caderno, e uma caneta para que eu anotasse o que estava aprendendo, e para me lembrar também o que farei diariamente. À medida que ele vai explicando, minha empolgação sufoca a ansiedade e o nervosismo inicial. E percebi certo orgulho nele, por notar que prontamente realizo perguntas, após as primeiras explicações e as anoto como indicado por ele.

O tempo passou rapidamente e antes que eu percebesse, já estava na hora de almoçar. 

A caminho do restaurante que fica na mesma calçada da loja, o Sr. Webber, foi me apresentando o comércio local.

Chegamos ao simpático restaurante, e o aroma é delicioso. Nos acomodamos e pedimos rapidamente.

— Nesses primeiros dias estarei com você até a loja fechar, e quando se habituar, ficará sozinha, assim posso focar nas obras dos demais negócios que estou abrindo aqui no centro. – ele me informou calmamente enquanto comíamos. 

Quase engasguei.

— Er… er… Sr. Webber, não é cedo para me deixar só na loja? – perguntei sem graça.

Ele sorriu.

— Acalme-se Leah, não farei isso amanhã, e sinceramente, observando você esta manhã, tenho certeza que estará pronta antes do que imagina. Acredito na sua capacidade. – ele afirmou confiante. –  E pode me chamar de Toshiro, já que teremos uma relação de confiança. – as batidas tranquilas de seu coração e a sinceridade em seus olhos… dissiparam de uma vez minha ansiedade.

Assenti satisfeita a confiança que ele está depositando em mim. 

Me senti no lugar certo.

 

………………………

 

Há uma semana iniciei minha nova rotina, que traz novos desafios diários.

Nos primeiros dois dias, minhas funções aqui me fizeram duvidar da minha capacidade sobrenatural. Cuidar de uma loja de artesanatos locais é desafiador, entretanto para quem precisa matar vampiros é tecnicamente leve, contudo não é simples. 

A parte burocrática me traz certa paz, não tive nenhum problema. Lidar com números, metas de vendas, é agradável. A loja está em ampla expansão, e isso traz um vigor ainda maior. Já entendo minhas funções e aprendo diariamente.

Agora lidar diariamente com os seres humanos comuns, tem sido um desafio maior, parecido com a batalha contra os recém criados há anos atrás, com a diferença que eu não posso arrancar partes de ninguém, mesmo que às vezes, arremessá-los longe seja um desejo bem presente.

A Sra. Karen Newton, é um dos seres humanos comuns, que há uma semana testa o meu bom humor e paciência diariamente. Desde o primeiro dia afirmando, que meu lugar é em Nova York, desfilando como modelo nas passarelas por lá. Inúmeras vezes me falou como o filho poderia me ajudar, já que tem diversos contatos, e está a cada dia se tornando mais influente na grande selva de pedras, como ela costuma bradar. 

Confesso que nas cem primeiras vezes que ela falou sobre o assunto eu ri. Virou piada na matilha inclusive, ficamos tentando me imaginar de salto alto, e envolta em casacos de pele. Uma loba, desfilando  em Nova York, e explodindo em roupas caras, na primeira oportunidade, sendo agenciada pelo filho almofadinha dela.

Agora esse assunto já se tornou exaustivo, além de notar que esses comentários vêm acompanhados de olhares investigativos, e conotação mais maldosa. Karen, não fala sobre minha vocação para modelar, por me achar bonita, ela simplesmente quer afirmar que meu lugar não é aqui.

Agradeço sempre que o Sr. Newton, atravessa a rua, e a leva de volta para a loja, onde acredito sinceramente que ela esqueça que é a dona algumas vezes, já que passa o dia cuidando do comércio alheio, ao invés de parar no próprio.

Ao fim de mais um dia tranquilo, fechei a loja e caminhei até meu carro. O sorriso em meu rosto, por ser meu primeiro dia completamente sozinha e tudo ter dado certo.

Essa normalidade que estou aprendendo a alimentar, já me faz muito bem.

Dirigi satisfeita para casa quando um pensamento preencheu minha mente. Não penso em Jacob, quando estou ali. 

Este local não me traz lembranças como La Push, onde tem um pedaço dele em cada canto, me lembrando sua ausência. Aqui sou apenas eu escrevendo um recomeço ao qual Jake, não faz parte.

Senti meu coração acelerar, e afastei esse pensamento, pois viver somente de lembranças é triste, mas pensar em não tê-lo na minha vida novamente também é, logo não existe um meio termo nesta situação.

Estacionei o carro, em frente a minha casa, ao descer pude ouvir alguém se aproximar. A velocidade e o martelar tranquilo de seu coração fizeram o meu disparar. Corri ao seu encontro.

— Seth! – o abracei com força. – Que saudades meu irmão.

— Leah!! Eu também estava morrendo de saudades, suas, da Mamãe, e de todos por aqui. – ele retribuiu meu abraço, emocionado.

— Dessa vez vocês demoraram. – afirmei, fazendo uma bela análise para verificar se está tudo bem.

Ele sorriu percebendo que eu o estava examinando.

— Eles não arrancaram nenhum pedaço meu Leah, fique calma. – ele falou divertido.

— E Nessie? – perguntei tentando não parecer preocupada com a pequena.

Seth respirou fundo.

— Algo errado? Aconteceu algo? – a preocupação com ela é algo inevitável. Infelizmente me apeguei.

— Errado, não, mas fora do previsto. Por este motivo demoramos mais para voltar, fomos tentar buscar mais informações sobre a condição dela. – Seth tenta medir as palavras, parece esconder algo.

— Fala logo Seth, o que está acontecendo? – pedi já impaciente. 

— Algumas coisas, mas Nessie quer falar pessoalmente. Ela está te esperando na clareira. – meu irmão está visivelmente ansioso.

Antes de adentrar a mata e iniciar a corrida, Seth segurou meu braço.

— Por favor. Só tenha cautela. – assenti, tentando não demonstrar minha preocupação.   

O que diabos está acontecendo? Droga.

Corri ao lado de Seth, pela mata. Próximo a clareira já podia ouvir o coração acelerado de Reneesme. Ela andava de um lado para o outro. 

Diminui a corrida, percebendo antes dela entrar no meu campo de visão a presença que Quill ao seu lado, pude notar que todos estavam na mata. Óbvio que meu irmão não a deixaria sozinha.

Reneesme, parece ansiosa, ou nervosa posso ouvir sua respiração acelerada e pesada metros a frente.

— O que diabos está acontecendo? – olhei para Seth irritada. Ele permaneceu em silêncio.

Ao chegar na clareira, e Nessie entrar no meu campo de visão, fiquei surpresa. Talvez, esse seja o motivo pelo qual Seth, pediu cautela.

Reneesme, está completamente diferente. 

— Espero que esse nervosismo todo, seja por minha causa. Não admito menos. – brinquei tentando disfarçar meu espanto com a aparência dela.

Reneesme, saiu da reserva com a aparência de uma criança de no máximo doze anos, sua mente sempre mais evoluída, não sei ao certo se algum dia ela pensou com uma criança, tenho quase a certeza que não.

Agora, diante os meus olhos está uma adolescente de dezesseis!! Ou mais.

Ela correu em minha direção e me abraçou forte.

— Céus, você está mais forte. – parei para medir.

— E mais velha também, não disfarce. – seu tom de voz é melodioso como sempre, porém não existe mais nenhum traço juvenil nele.

— Não tentaria, estou há seis meses sem te ver, e parecem anos. – fui sincera, não mentirei a essa altura. 

Nessie sorriu, buscando o olhar de Seth, por cima do meu ombro.

Algo está errado.

— O que está acontecendo? – minha irritação ficando aparente. – Você não está preocupada com a minha reação diante sua aparência, certo? – afirmei impaciente.

Ela assentiu. O coração frenético em seu peito.

— Vou falar rápido, eles já estão se aproximando. Poderia apenas mostrar, mas… – Nessie segurou minhas mãos.

— Eles quem? – perguntei confusa, já assumindo uma postura defensiva.

— Meus pais. – ela olhava para um ponto específico na mata.   

—  Falem de uma vez. – sibilei. 

Olhei para Seth, e fui surpreendida mais uma vez, com sua expressão claramente irritada, algo raro acontecer.

— Leah, me ajude! Por favor! Preciso que você me treine, ensine-me a lutar, não somente me defender. Minha família não consegue entender meus desejos, e o assunto tornou-se algo  proibido. Estou farta de ser tratada como um cristal. Meus pais querem partir definitivamente de Forks, por decidiram ser perigoso para todos nossa permanência aqui. – olhei para meu irmão e uma dor parecia rasgar seu peito com as palavras dela. – Eu não julgo isso melhor para a minha vida. – ela olhou para Seth, e pelos céus, não pude acreditar no que estou percebendo, a interrompi.

— Eles querem levá-la para onde? Quando ? – foi a vez de ela me interromper.

— Sim, eles querem, e em breve. Somente nós três. – não olhei para o meu irmão neste momento. Não faço a menor ideia do que isso pode causar a ele.

— Nessie… não sei como posso ajudar, se eles não querem treiná-la, querem levá-la embora… – ela me interrompeu.

— Eu não vou partir como uma fugitiva Leah, não posso e não quero viver assim. Meus pais acham desnecessário aulas para minha defesa, por alegar que jamais vão permitir que eu corra tal risco. Recusam-se a me ensinar e Seth concorda com eles. – ela olhou séria em direção ao meu irmão.

— Nessie, queremos o seu bem!! – meu irmão tentou defender os Cullens, bufei irritada com o conformismo dele.

— Então, você deve concordar também com a minha partida, não é mesmo Seth? – ela o encarava com uma expressão desafiadora. 

— Não, eu não... – a voz dele falhou.

— Acho insanidade treinar apenas para se defender, pois,  em algum momento pode ser insuficiente, mas, essa é só a minha opinião, e ela não muda nada. – pensei em voz alta, eu acho. – Nessie, como você acha que posso ajudá-la com essa questão? Minha relação com seus pais, não é das melhores, acredito que não vão me ouvir e… – a frase morreu ao encará-la, e constatar suas intenções. – Você quer que eu a treine, mesmo sem a autorização do seus pais? – a encarei séria.

— Você é a única que não faz tratados com a minha família Leah, eles a respeitam. Minha mãe e meu pai a respeitam. E se você autorizar eu não sairei mais daqui, e eles não vão entrar sem a sua autorização.

Arfei surpresa com as palavras dela.

Confesso, fazer algo contra a vontade de Bella faria meus dias adoráveis, interessantes e alegres. A simples idéia de causar desgosto na sanguessuga me anima de uma maneira inexplicável e diabólica. Contudo, eu gostando ou não dela, a respeito como Mãe.

Não tenho o direito de intervir…. eu acho.

— Nessie, acredito que posso… – antes de finalizar a frase e dar minha negativa a Nessie, Sam me interrompeu. Sua voz firme ecoando na mata.

— Leah não se meta em brigas de família. – revirei os olhos. – Isso é algo que deve ser resolvido entre Edward, Bella, e Seth. Se os Cullens não querem treiná-la, sabem bem o que estão fazendo, e desejam o melhor para ela. – respirei fundo para não xingá-lo.

— Mas que diabos. – sibilei. – Agora eu tenho um pai, ou porta voz? – o tipo de atitude que eu detesto, pessoas me dizendo o que fazer.

— Estou apenas tentando ajudar… – foi minha vez de não deixá-lo finalizar uma frase.

— Não me lembro de ter pedido. Mas já que se manifestou, devo lembrá-lo que Reneesme também é dona da própria vida, não é um objeto a ser carregado, quando e para onde quiserem. Não cabe somente a Seth, e os pais dela decidirem o que ela quer fazer, eles podem conversar, entretanto só ela pode escolher. – o lembrei. Tentando controlar o tom de voz.

“Leah me ajude, só você pode!!!”— Reneesme tocou minha mão, apenas transmitindo imagens do seu pedido de ajuda.

— Seth, você tem um excelente treinamento, e de uns anos para cá evoluiu muito, qual motivo de não treinar Nessie? – Sam questionou.

Seth baixou a cabeça escolhendo as palavras para responder. E continuou em silêncio.

— Seth não a treina, pois ele e os Cullens, acham que a garota é uma boneca de cristal, que pode ser facilmente colocada em uma caixa de metal, para não correr o risco de se partir a qualquer momento. – intervi, encarando Seth, incrédula e com a irritação estampada no olhar. – Ele anda passando tempo demais com os Cullens só isso. Mas posso corrigir isso também.

Sam olhou em minha direção, com o mesmo olhar que eu direcionei a Seth, a poucos segundos atrás, quando ouviu minhas últimas palavras. 

— Leah, me ouça. Faça seu irmão treiná-la, só peço, na verdade suplico, para você não se envolver nessa situação Não neste momento de recomeço. – ele se refere a minha história de ódio com Bella, certamente.  

O encarei séria. Essas palavras me deixam extremamente irritada. Respirei fundo para me acalmar e não ser exageradamente mal educada, afinal estou diante minha matilha, e de uma situação delicada, uma atitude impensada aqui e posso causar dores de cabeça desnecessárias futuramente.

Antes de conseguir formular uma frase e responder a Sam. pudemos ouvir a corrida praticamente silenciosa dos Sanguessugas. O aroma nauseante, e ausência de batimentos cardíacos, fazem meu instinto natural de proteção gritarem.

Nessie se aproximou calculadamente da linha que separava as terras Quileutes, com a dos sanguessugas.

— Reneesme, estávamos preocupados. Você saiu repentinamente. – Bella desceu das costas do marido. Uma cena linda de ver. 

Quase vomitei.

— Mãe, precisamos conversar. – ela olhava para Edward, que já tem uma expressão nada simpática estampada no rosto pálido.

— Não. – ele falou enérgico em direção a Nessie. – Você não fará isso de maneira alguma!!Já dissemos, você está segura!! – Bella olhava interrogativa para os dois.

— O que está havendo aqui? – Bella questionou, e Edward sussurrou em seu ouvido, provavelmente o que viu na mente de Reneesme.

Bella virou-se em minha direção, claramente irritada.

— De forma alguma. Nessie tem a família, e não vai treinar com outras pessoas fora dela. Venha filha, vamos para casa. – Bella, olhou para Reneesme e estendeu a mão.

Reneesme não saiu do lugar. Respirei fundo tentando conter a irritação que as palavras de Bella, já estão causando no meu corpo todo.

— Os lobos, são minha família também. – a voz de Nessie, saiu firme e sem receio.

— Não foi isso que eu quis dizer. – Bella, tentou corrigir.

— Mas, foi exatamente o que disse, aliás o que vem dizendo. – Nessie deu alguns passos para trás, e a expressão de Edward e Bella cedeu a cada passo dado por ela. 

— Nessie, entenda por favor! Queremos o melhor para você, vamos lutar por isso sempre. – Edward interviu.

— Não. – Reneesme se afastou mais da linha do tratado.

— Prometemos confiar um no outro para sempre. – o tom de voz magoado e choroso de Bella me causou náusea.

— Justamente, e vocês não confiam nos meus julgamentos, nas minhas visões e desejos. – Nessie, respondeu desafiadora. – Se preocupam com tudo, segurança, locais, estudos, se posso ou não ter amigos, se tenho ou não condições e mentalidade de julgar, se posso ir ou se devo, mas esquecem o principal… se preocuparem com a minha opinião, sobre cada atitude que muda minha rotina, ou altera a minha vida.

— Não vamos deixar nada machucar você, e prefiro tê-la magoada, do que me arriscar a perdê-la. – Bella respondeu decidida.

— Vocês já estão perdendo, acham que vou viver desta maneira até quando? – Nessie, afirmou, o tom magoado evidentes tanto na voz, quanto no olhar.

— Conversamos em casa Reneesme, agora venha, não deveríamos ter essa conversa aqui. – Bella sentenciou, dando um passo à frente, a milímetros da linha do tratado.

Nessie deu dois passos para trás deixando claro, que não quer ir com os pais.

Basta.

— Não ouse. – avisei, me aproximando de Nessie. – Você não fará nada contra a vontade dela.

— Não queira me dizer o que fazer para garantir a segurança da minha filha. – Bella disse entre dentes.

— Já estou dizendo. – sibilei. A cautela indo para o espaço.

—Eu sou a mãe dela Leah. – Bella afirmou entre dentes.

— E somos os cães de guarda a quem vocês pedem ajuda sempre que precisam. – cuspi as palavras, lembrando com quem ela está falando.

— Leah, não é isso… – Edward tentou intervir. 

Mas a expressão de Bella mudou drasticamente enquanto o marido tentava amenizar a situação. Ela olhou  em direção a Seth, como lembrasse de algo, e isso fizesse todo sentido neste momento. 

— Leah, quando você vai parar de me punir pelo que houve com Jacob? – senti cada mínima parte do meu corpo queimar de ódio. – Eu não posso ser responsável pelas escolhas dele sempre, e Reneesme, não tem nada a ver com isso!! – o tom de voz dela era tranquilo e didático, causando espasmos no meu corpo todo.

— Bella, não! – Seth falou irritado. Quase um aviso.

Avancei em direção a ela, e Nessie, segurou meu braço.

— Leah, por favor, não faça isso!! – Nessie pediu entre lágrimas.

“Eu sei que isso não tem nada a ver com este assunto, ela está magoada. Por favor não!”— Nessie me enviava as palavras tentando amenizar o que a mãe acabara de dizer.

— Não ouse deturpar minhas ações, e transformar em algo relacionado a suas atitudes!!! Quando vai parar de achar que todos vivem por você? Isso aqui não tem nada, absolutamente nada a ver com as suas atitudes no passado,  ou sua segurança, e bem menos com sua opinião. Não é sobre o que você quer, tem a ver com uma atitude ser inteligente ou não. – cuspi as palavras, tentando não explodir e arrancar a cabeça oca dela.

Bella olhava na direção de Reneesme, claramente arrependida com as palavras usadas em minha direção.

— Desculpe Leah, eu me exaltei. Eu sei o quanto vocês protegem Nessie. Mas não é justo, uma decisão ser tomada dessa maneira. – Bella me encarou, e pela primeira vez após sua transformação enxerguei desespero nela.

— Justo? Olhe o que estão fazendo? Vocês acham justo ela passar a eternidade, sem poder ter amigos, ou viajar caso não estejam ao lado? Ela viverá em cárcere por toda a eternidade, pois vocês não enxergam como ela é forte. Isso não é justo, beira o ridículo. – encarei Bella. – Isso não é viver, pelos céus, é simplesmente sobreviver. Olhe para ela, sua filha é um ser humano único, extremamente poderosa, e vocês precisam lidar com ela.

— Estamos fazendo isso!! – Bella murmurou com a voz falhando.

— Não estão!! – quase gritei. – A solução de vocês, é fugir, enfiar a cara em um buraco, e não pensar em nada além dos temores de vocês? Nessie, valoriza, a vida as pessoas ligadas a ela, escutem-na, por favor. Parem de pensar nos medos de vocês, e prestem atenção nos dela. – estranhamente meu tom de voz, tornou-se extremamente calmo.

— Nessie, o que você realmente deseja? – Carlisle, surgiu por entre as árvores na mata, ladeado pela esposa Esme.

Reneesme sorriu ao vê-lo.

— Quero ser tratada como uma Cullen, não como uma boneca de cristal. – ela afirmou decidida.

— Você está pronta a se arriscar, e lidar com as consequências das suas escolhas? – ele perguntou taxativo.

— Sim, estou! – mais uma vez, Nessie afirmou decidida.

— Vamos conversar, e te apoiar. – ele estendeu a mão na direção dela. – Prometo.

Nessie sorriu, respirou fundo e deu alguns passos em minha direção. 

— Ele é confiável, certo? – encarei o Dr. Caninos, que sorriu divertido com a minha provocação. 

— Sim ele é. – Nessie olhou confiante para Carlisle, um sorrisinho preenchendo os lábios. – Leah, obrigada. Seu apoio é valioso na minha existência, e conto com ele sempre. – ela me abraçou emocionada. – Vou com eles, e vamos conversar. 

Assenti.

Nessie, caminhou em direção a Carlisle, e o abraçou. Antes deles partirem me aproximei. Senti um aperto no peito, e um nó na garganta.

— Nessie, escute. – ela se virou para me encarar. – Nada disso tem a ver com Seth, não mais. No início manter você segura, era o mesmo que manter meu irmão e isso me assustava, confesso. Mas há muito tempo, não é por conta dessa magia estúpida que estou ao seu lado, hoje acredito que tudo aconteceu pois, você deveria estar exatamente aqui. – respirei fundo. – Acredito em você, no ser humano que é, em tudo que ainda vai se tornar, sei que seu nascimento tem um propósito maior. Caso você não saiba, vou te falar… nossa relação não tem a ver com a sua mãe, Jacob ou imprinting…  é sobre família, e você é parte da nossa, e sempre será onde quer que esteja! – Nessie sorriu e correu em minha direção, me abraçando novamente.

— Eu te amo Leah Clearwater. E já sei há muito tempo que sou parte da sua família, mesmo quando você não admitia isso. – sorri derrotada. – Obrigada, por me salvar mais uma vez, e sempre de formas diferentes. – senti uma sensação poderosa de paz, amor, e tranquilidade.

Antes que eu pudesse dizer algo, Nessie correu para os braços de Carlisle, e eles desapareceram na mata.

Sam, me olhava com aquela expressão orgulhosa e irritante.

— Estou orgulhoso. – ele disse, revirei os olhos, debochada.

— Que declaração mais linda para a monstrinha. – Paul zombou.

— Não a chame assim!! – Seth quase rugiu.

— Ou a Leah, vai ficar brava! – Quill debochou.

— Chega. – Sam, disse rindo. – Vamos nos preparar para as rondas, com a volta dos Cullens, os cuidados ficam intensificados. Até mais Leah. Que bom tê-lo de volta Seth. – Sam deu um abraço fraterno em Seth.

— Estou feliz, por estar em casa novamente. – Seth afirmou.

Iniciamos a caminhada de volta para casa.

— Obrigada Leah, por tudo o que faz por mim, por Nessie. – Seth, circulou o braço esquerdo em meus ombros.

— Seth, escute mais a si, e menos os Cullens, você não é um cão de guarda particular, pelos céus. – o repreendi.

Seth interrompeu a caminhada.

— Leah, nenhuma situação em que Nessie vá correr perigo, eu deixo de intervir. É natural, eu sinto antes. Mas ela não precisa de alguém concordando o tempo todo, e apoiando também, precisa aprender a lutar por si, acredito que é sobre isso que o imprinting se refere, ser o que a pessoa precisa e não o que ela quer. Eu acho, né! Não tenho certeza de mais nada após essa viagem.

— Desculpe Seth, não tenho o direito de dizer como você deve reagir, já que não faço ideia de como o imprinting te faz sentir. – o abracei forte. 

— E mas admito, tenho medo de machucá-la, e só esse pensamento torna inviável treiná-la. – Seth confessou.

— É tem isso também. – respondi sarcástica, a expressão nítida de quem já tinha conhecimento sobre este detalhe.

Seth sorriu. E tenho a impressão que ele está ansioso ainda, noto um certo nervosismo nele.

— Percebi que você está calma, com uma expressão leve. O trabalho está revigorando seus dias, não é mesmo? – Seth sentou-se em uma pedra, na metade do caminho para casa.

 – Sim está, estou descobrindo coisas além da reserva, além de ser uma Loba, é gostoso, me preenche e faz bem. – suspirei feliz, mas levemente incomodada ao lembrar da troca de olhares entre Bella e Seth durante a conversa há poucos minutos atrás.

— Isso é bom, muito!! – Seth, disse com uma falsa animação. Cerrei os olhos analisando com mais calma.

Estranhamente no momento que o incômodo com a situação na clareira se instaurou, notei meu irmão esfregando as mãos no joelho, suavemente. Seth faz isso quando está tentando achar solução para algo, ou me dizer alguma coisa. Ele não percebe que o faz, eu sim.

— Como foi a viagem? – como sempre faço, comecei uma discreta investigação sobre as reações dele.

— Muitas coisas, e informações. – o coração de Seth disparou frenético, e um estranho alerta comprimiu o meu.

— Conte-me, com calma. – tentei tranquilizá-lo.

— Primeiro descobrimos que em um ano Nessie, atingirá a maturidade se continuar se desenvolvendo na velocidade que está, diferente da informação que tínhamos. – Seth tem uma expressão carregada.

— Céus. Muito rápido. – senti uma preocupação imensa, mesmo sabendo não ser esse sentimento, que está causando o vazio no meu peito. – Mas já era uma desconfiança nossa, certo?

— Sim, só não achamos que seria assim, de uma vez, você viu a diferença em seis meses? Foi a maior em todos esses anos. – meu irmão, está claramente preocupado.

Seth continuou esfregando as mãos nas pernas, e apertando o joelhos.

Algo no meu peito, está me avisando, que definitivamente esse nervosismo, não tem nada a ver com Nessie, ou os Sanguessugas.

— Vamos comer, estou faminta, e você também deve estar. – caminhei alguns passos e Seth, não se moveu.

Estranhamente, neste momento, mesmo não sabendo ao certo as palavras que ele usará, meu coração já sabe sobre quem é.

— Eu o vi Leah. – meus pés travaram no chão. 

Seth assumiu um tom de voz cauteloso.

Senti um torpor que me paralisou.

— Encontrei Jacob, em Santiago. Conversamos, ou tentei... – ouvir o nome dele fez meu coração disparar frenético.

Fechei os olhos e pude vê-lo no meu sonho. Ouvir exatamente as palavras ditas por ele: Você precisa seguir em frente, e como fará isso presa a mim desta forma?

Senti cada mínimo pedaço do meu corpo sair do torpor.

Respirei fundo. As lágrimas preencheram meus olhos, sem permissão.

Me virei para encarar Seth.

— Eu quero vê-lo, se transforme, por favor. – empurrei as palavras, e mesmo assim minha voz saiu um pouco mais alta que um sussurro. 

— Leah, ouça. A situação foi desastrosa, sabemos que ele envia cartas para Billy, mas nunca, após a saída dele de La Push conseguimos mandar notícias daqui ... – o interrompi.

— Seth!!! – sibilei. – Transforme-se. – quase ordenei, mesmo tentando controlar meu tom de voz.

— Só preciso te preparar, por favor deixe-me explicar. – Seth quase implorou.

— Não!!! – não o deixei finalizar a frase novamente. – Entenda, nada do que disser, vai me ajudar agora. Não existe uma maneira, uma palavra, nada que possa me ajudar agora, então, por favor, transforme-se. – minhas palavras saíram como uma súplica, desesperada.

Droga.

— Eu sinto muito. – Seth entrou atrás das árvores. Se transformou. Ele voltou caminhando cautelosamente em minha direção.

Respirei fundo, tentando fazer o vazio não me tragar.

Encarei Seth, e saltei explodindo em minhas roupas.

Leah eu sinto muito. – Seth repetiu antes das imagens começarem a preencher minha mente.

Os olhos de Seth eram meus agora. E estou no mesmo lugar.

Eles estavam em um hotel, e Seth está verificando se estão em um lugar seguro, quando chegou no saguão o coração de Seth disparou quando sentiu o aroma amadeirado conhecido, mesmo fraco, ele tem o faro mais aguçado do que todos nós, e percebeu que algo estava sendo usado para encobrir esse rastro, ele sentiu e o seguiu, até a área externa do hotel, próximo a mata.

Jacob estava sentado, e parecia aguardar alguém.

Meu coração disparou frenético, como só Jacob faz disparar. Céus ele está lindo. Cabelos completamente raspados, bem vestido, imponente. 

Antes mesmo de se virar, Jacob levantou-se num rompante, ao perceber Seth se aproximando.

Ele ficou alguns segundos paralisado, os olhos emocionados. Não havia uma emoção definida, todas estavam contidas. 

E definitivamente ele não se parece em nada o garoto Quileute que cresceu em La Push, e trazia em seu rosto sempre milhões de emoções.

— Seth!!! – Jacob caminhou em direção ao meu irmão e o abraçou. 

— Jake. – Seth se emocionou. – Minha nossa, você está diferente. – o aroma amadeirado invadindo cada mínima partícula do meu corpo.

— Você está bem? – Jake, fez um rápido exame verificando se meu irmão está bem, então o abraçou novamente. – O que está fazendo aqui? 

— Estou em uma missão. Como você está? Minha nossa Jake, você quase nos matou. – Jacob sorriu emocionado.

Estava ali… o sorriso conhecido, iluminado que me aquece.

— Estou tentando, ser o que todos acreditam que eu seja, ser digno da confiança de vocês novamente. – os dois caminhavam juntos pela área externa rumo a área que cerca o hotel. – Agora me conte, como estão todos na reserva, qual motivo o trouxe até Santiago?

Antes que Seth tivesse a chance de responder, os passos leves e rápidos de Nessie chamaram a atenção dos dois.

A postura petrificada de Jacob fez o alerta de proteção disparar no peito do meu irmão.

— Jake, Nessie, está aqui, acalme-se. – Jacob, fechou os olhos, o corpo dele dava espasmos leves, porém constantes.

— Nessie? O que diabos está havendo? – Jake perguntou enquanto Reneesme, parou diante seus olhos, e de Seth, paralisando-o por completo. 

— Não, é possível. Essa é… é… é? –Jacob deu um passo em direção a Nessie, calculado e sutil.

— Jake… – Seth se colocou sutilmente, entre os dois. Estava cauteloso. 

— Acalme-se Seth, se eu quisesse, teria feito algo três anos antes. – Jacob afirmou dando um passo em direção a Reneesme, que não se moveu.

— Como isso é possível? – Jacob olhava para Seth, intrigado, e um sorriso começava a despontar em seus lábios. – Céus, isso é completamente… – antes que ele pudesse finalizar a frase o sorriso desapareceu do  seu rosto. Ele ficou paralisado.

O coração falhou por alguns segundos em seu peito. 

Seth, voltou a se posicionar entre Jacob e Nessie, um alerta de perigo gritou em seu peito.

Jacob não se movia.

— Jake. – a voz melodiosa dela parece tê-lo despertado do torpor. O coração dele disparou frenético.

— Vá Nessie, por favor. – Seth pediu, e Reneesme, saiu sem contestar.

— Você sobreviveu, pelos céus. – Jacob se apoiou em uma mesa, sacudindo a cabeça.

Bella deu um passo em sua direção, estava caminhando contra o vento, o aroma na pele pálida preencheu o ar, fazendo Jacob saltar alguns metros para trás.

— Jake, ainda sou eu. – a voz melodiosa, fez com que Jacob trincasse os dentes.

— Ainda é você, isso é alguma brincadeira? – o corpo dele começou a tremer levemente, Jacob se abraçou e respirou fundo fechando os olhos.

— Jacob, eu procurei por você, durante meses, eu precisava contar que sobrevivi. – Bella deu alguns passos em direção a ele.

— Nem mais um passo. – os olhos fechados, o tom de voz gélido. – Ou eu arranco a sua cabeça aqui mesmo! – Jacob abriu os olhos, o olhar completamente diferente. – Durante três anos, eu vivo arrastando uma culpa que jamais foi minha. Todos os dias a sua imagem me assombra. Frágil, sofrendo… morrendo. Me culpo, por não ter conseguido, por não ter lutado, por ter prometido ao seu pai que cuidaria de você, e não conseguir ficar para encará-lo. Como você pode fazer isso comigo? – Jacob, tinha fogo no olhar. E um sentimento que conheço como ninguém… o ódio.

— Durante meses, Edward e eu te procuramos, meses atrás de uma pista sua, e não encontramos nada! – Bella, assumiu um tom de voz urgente.

— Meses? Já se passaram anos!!! – ele gritou, as lágrimas correndo livres molhando seu rosto. – Anos, eu acreditei que a minha melhor amiga estava morta! Como você pode me deixar no escuro dessa forma? Eu lutei por você antes, lutei durante, lutei após ser destruído. Eu não pedi nada em troca, eu simplesmente fiz, quando concordei, não concordando. – a respiração dele estava completamente irregular.

— Jake, eu sinto tanto. Não pude continuar te procurando, mas não existe um único dia em que não pense em você! – ela tentou se aproximar mais uma vez.

— Maldita mentirosa, me deixou acreditar que morreu, durante três malditos anos, e vem dizer que pensa em mim todos os dias? Como você consegue ser tão dissimulada assim? Eu teria ido ao inferno até te encontrar, jamais a deixaria pensar ou conviver com algo assim. Meus Deus, como… – a frase morreu no caminho e Jacob, baixou a cabeça.  

— Jake, eu não pude, sinto muito. – as lágrimas que ela não tem, estampadas em seu tom de voz quase colérico.

— Não sinta. – ele levantou a cabeça, e ao encará-la novamente, seu olhar foi completamente novo, como se ele tivesse acabado de montar um quebra cabeças e tudo se encaixasse. – Acreditei no certo, você morreu mesmo. Talvez essa tenha sido você o tempo todo, gelada e sem emoções e só eu não a enxergava realmente, fui um idiota. Se eu a tivesse deixado se afogar naquele penhasco teria me destruído muito menos. – ele deu um passo na direção dela, e respirou fundo.

— Jacob, se acalme, vamos conversar. – Seth pediu.

— Deixe Seth, ele precisa desabafar, eu mereço ouvir. – Bella ficou parada a centímetros de Jacob. – Perdoe-me Jake, por favor, eu continuo sendo sua amiga. 

Jacob sorriu sem humor algum.

— Você não foi minha amiga, nem quando esteve viva Bella, me usou para ter alucinações com seu vampiro, para te ajudar a encontrar a campina onde ficavam, depois para manter sua filha em segurança, quando ninguém mais o faria. E eu fiz por amor. Seja ele qual tipo foi, estive ali por você. Eu fui seu amigo. Poderia dizer um milhão de coisas neste momento, mas quero que olhe nos meus olhos. 

— Jacob, jamais poderei reparar todos os meus erros com você. Mas não se pareça comigo. – Jacob sorriu encarando Bella. – Volte e siga a sua vida. – ela tentou tocar as mãos dele, Jacob se afastou alguns centímetros.

— Escute, você é exatamente a mesma pessoa que foi quando tinha alma, e só eu não enxergava, mas não sou mais aquele garoto Quileute, imbecil que quase morreu com você naquela mesa de parto. Nada do que estou fazendo agora tem a ver com você, então jamais seremos parecidos. Cada passo meu é para proteger os meus, é para jamais deixar o que aconteceu na reserva, me destruir novamente, e por isso, estou fora de La Push. – o tom de voz dele é enlouquecedoramente seguro.

— Jacob, eu sinto muito. – ela tentou se aproximar novamente.

— Não sinta, estou onde estou graças a você, e isso tenho que admitir. Não saberia o que sei hoje, se você não me destruísse. Obrigado. E jamais se aproxime novamente. Da próxima vez não serei paciente como hoje. – Jacob virou-se e partiu em direção a mata.

 

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Seth o seguiu.

— Jake, volte comigo, vamos para casa. – meu irmão pediu emocionado.

— Não posso, ainda não Seth. – Jacob virou e encarou meu irmão nos olhos, respirou fundo. – Leah, sei o quanto você sofreu, não a culpo se me odiar. Só posso pedir perdão, mesmo que não seja o suficiente. Me perdoe. Eu só não consegui fazer diferente naquele momento. Você esteve certa o tempo todo, e sinto muito não conseguir ser quem você mereça. Quero que saiba de algo… estou lutando todos os dias para ser a pessoa digna do seu perdão, sem culpas, sem medo ou dor. Um dia eu voltarei, te prometo. – o olhar conhecido estava ali. – Até lá, preciso te pedir mais uma vez, mesmo sem ter direito algum de fazer isso, mas eu imploro, não destrua a sua por ninguém, seja quem for não valerá. Siga em frente, sem olhar para trás, você consegue Clearwater. Seja tudo aquilo que é capaz de se tornar, vou tentar o mesmo. Obrigado por ser simplesmente você e me desculpe por ser tão… tão eu. – Jacob olhava para os meus olhos, não os de Seth. – Até um dia Leah. – ele se virou e continuou  caminhando em direção a mata.

— Jake, me escute, por favor. – Seth correu atrás dele.

— Seth, cuide da sua irmã. Minha hora de voltar não chegou, e preciso continuar. – Jacob iniciou a corrida, e antes que meu irmão continuasse atrás dele, sentiu os pés travados no chão. – Não me siga Seth. – o tom alfa na voz de Jacob, impediu meu irmão de continuar a corrida.

 

…………………….

As árvores passavam por mim como um borrão. Iniciei a corrida sem saber em qual momento exatamente. Me pergunto diariamente, como alguém consegue sofrer com as mesmas palavras, repetidas vezes? E hoje tenho certeza… jamais irei descobrir.

Jacob nunca mentiu, jamais me enganou. E mesmo com toda a escuridão dominando seus olhos, sempre foi sincero. Eu escolhi amá-lo antes, e continuar amando hoje. Mesmo o vendo tão diferente, não me arrependo. Faria novamente.

Jacob está mudando, reconstruindo a vida, amadurecendo. Se tornando tudo aquilo que é capaz de ser, sendo quem ele nasceu para se tornar, e não vai desistir, não voltará até que esteja com isso nas mãos.

E Eu? Estou parada, tentando refazer uma relação que acabou, esperando alguém que jamais disse que ficaria, não prometeu me amar, e nunca mentiu sobre seus sentimentos.

Entendo neste momento que sou importante para Jacob. Como faço parte da sua vida. Assim como ele sabe sua importância na minha. Não é questão de ser ou não suficiente, para alguém, é sobre ser o bastante para si. Mesmo com toda importância que temos um para o outro. 

Jacob, está atrás de entender a importância de quem ele é.

E eu precisava entender minha importância na vida dele.

O que vivemos juntos merece essa compreensão. É doloroso vê-lo partir sempre, e viver de lembranças, mas não ter vivido cada momento ao lado dele, e ter isso tatuado na alma, seria inimaginável. 

Não sou mulher de cultivar “e se”.  Sofri por algo consistente, intenso e não há espaço para arrependimentos nisto.

Agora, é tempo de seguir adiante. Virar a página.

Parei na beira do penhasco. Olhava o céu sem nuvens, repleto de estrelas na noite fria. 

Saltei na água. Quando meu corpo encontrou o mar, já estava na forma humana.

Mergulhei o mais fundo que pude, nadando em direção ao nada. Todas as palavras ditas por ele, dizem muito mais do que ele pode imaginar. Era realmente ele naquele sonho. Fechei os olhos ouvindo cada palavra novamente; “Escuta, eu estou aqui, e também estou lutando por nós, e por isso eu sei, que amar é deixar a pessoa livre, ficar feliz em vê-la voar, torcer por cada movimento que a faça crescer, mesmo estando longe dela. Porque se a pessoa está escrita no seu destino Leah, ela voltará, não importa onde a vida a tenha levado.”

Submergi sorrindo.

Sinto a minha alma lavada. Uma leveza que só um amor de verdade traz.

Seguirei em frente sim!! Não por Jacob, e sim por mim, é o certo a fazer. Eu mereço.

Chega de buscar finais, apoio, quem me faça sorrir. Eu farei isso sozinha. Lutando, aprendendo, recomeçando, como tenho feito sempre em minha vida.

Nada de planos por enquanto, viverei um dia de cada vez.

Estou pronta. 

Hoje começo minha história. Será totalmente nova, a partir deste momento estou escrevendo o capítulo um.

O que ficou para trás, só pode estar lá.

 


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Notas finais do capítulo

CAPITULO EDITADO EM JUNHO DE 2022.