Circulo De Paixões. escrita por Lorys Black


Capítulo 13
Capítulo 12 - Decisões e Atitudes.


Notas iniciais do capítulo

CAPITULO EDITADO EM JULHO DE 2022

Músicas no Capitulo:
Isak Danielson - Broken
Billie Eilish - Lovely
Florence and Machine - Blinding



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Pela primeira vez em meses, não dormi tão mal. Não foi um sono exatamente maravilhoso, porém, foi o melhor das últimas semanas.

Lavei meu rosto, pensando em todas as palavras do meu irmão na noite anterior. Estar com a minha família me faz tão bem.

Escutava a inquietude em cada passo dado por Seth. Seu coração parecia agitado durante todo tempo em que esteve no banho. 

Escutei quando ele desligou o chuveiro. Sua inquietude me deixou preocupada.

Caminhei pelo corredor e parei em frente a porta do banheiro.

  – Tudo bem Seth? — bati suavemente na porta. 

Seth abriu num rompante, quase me assustou.

 – Não sei. Acordei me sentindo estranho, inquieto e apreensivo. Não dormi bem, tive pesadelos que não consigo lembrar. — as palavras saíram assim, sem controle nenhum. Seu coração acelerou consideravelmente. — Preciso ver Nessie.

Ah claro, óbvio que seria algo relacionado ao maldito Imprinting.

Não o deixei notar meu maxilar cerrado.

 – Ei, calma. Você está impressionado com seus pesadelos Seth. — tentei confortá-lo, mesmo sem saber o que o aflige, só em vê-lo desta maneira sinto um aperto no peito. 

 – Pode ser. Vamos ver. — Seth passou por mim tão rápido que me surpreendeu. Se vestiu e saiu sem tomar café, ignorando minhas reclamações sobre isso.

Tento entender o propósito de todas as coisas que estão acontecendo em nossas vidas, contudo, é difícil aceitar, e ver  meu irmão entrelaçado aos Cullens para sempre. 

Como entender algo assim? 

Desci as escadas e minha mãe já havia saído.

Caminhei até a pequena oficina de artesanato da minha mãe, na parte dos fundos na minha casa, organizei os materiais usados por dona Sue para fazer artesanato. Limpei.

Organizei a casa toda. Estendi as roupas na área coberta, já que a neve está caindo fina, e deixando tudo ao redor branco e gelado. 

— Vamos tentar um filme hoje. Hábitos normais Leah. — falei comigo, tentando me convencer a estabelecer uma rotina novamente.

Preparei a pipoca.

Então o uivo de Seth cortou os céus na reserva. Um alerta para a matilha.

Corri pelos fundos e saltei. Ao tocar o chão já estava sob quatro patas.

Corri e me concentrei para falar com Sam.

O que está havendo? Seth, está bem? a preocupação com meu irmão tingindo meus pensamentos.

Sim está, mas aparentemente algo aconteceu. Sam transmitiu as imagens na mente de Seth. Uma Sanguessuga mostrando as presas ao meu irmão. Tudo o que eu não precisava hoje.

Acalme-me se Leah. Os Cullens estão perseguindo pelo caminho dos Penhascos, vamos ladear o contorno, caso ela tente escapar pela água.

Apenas assenti.

Me concentrei e cortei a comunicação com Sam. Foquei no rastro fresco da Sanguessuga. Quil e Jared logo atrás, então pude vê-la se atirar na água. Quill se lançou no mar. Eu e Jared continuamos a percorrer o contorno pela mata, caso ela tente sair ou tenhamos sorte que ela esteja nadando em uma linha reta.

Alcançamos a região dos Penhascos.

Algo chamou minha atenção. Uma mulher. Parecia perseguir a sanguessuga na outra extremidade dos penhascos. Meu coração disparou frenético. Minha corrida diminuiu. Era ela Isabella Swan.

Senti cada mínima parte do meu corpo arder em um ódio enlouquecedor.

Ver a Swan correr agilmente atrás da sanguessuga me faz ter tanto ódio, que não consigo me focar.  

O foco neste momento deveria ser a sanguessuga que mostrou as presas ao meu irmão, porém, não consigo tirar os olhos da Swan. Parei próximo aos penhascos, Bella parou do outro lado da fronteira pela extensão da mata.

Ficamos de frente uma para outra, e mesmo com toda a maldita distância e um abismo nos separando, foi como se ela estivesse ao alcance das minhas presas.

Os olhos carmim,  a pele pálida, uma ausência mórbida de batimentos cardíacos e mesmo longe a brisa trazia levemente o cheiro insuportavelmente adocicado que agora é o novo odor em sua pele.

Céus, quero esquartejá-la.

Inconscientemente, sem que pudesse controlar, uivei. Tão  alto e forte como jamais fiz antes.

Como eu vou conseguir assimilar, a convivência tão próxima do irmão, a uma criatura que destruiu algumas vidas de pessoas amadas, inclusive a minha? Como reprimir o instinto de arrancar aquela cabeça oca e sem vida dela?

Impossível!

É tão insuportável quanto não saber onde Jacob está!

Uma situação, indigesta, que me afasta do meu irmão, já que não tenho o menor interesse em saber sobre seu dia, pois, obviamente esse relato envolverá os Cullens. Achar Reneesme adorável, mas não conseguir, suportar ela na vida de Seth. Como Jacob simplesmente abandonou a matilha me fazendo ficar em seu lugar e me obrigando a viver este inferno diariamente? 

Hoje simplesmente perdi o controle, e meus pensamentos desordenados se conectaram à mente de Sam.

Acalme-se Leah. Bella não merece todos esses sentimentos ruins em você. Pense no seu irmão, que ele infelizmente não escolheu ter um Imprinting. Sam pedia cauteloso.

Seth é o que manteve a cabeça dela junto ao restante do corpo assim que descobri sobre a transformação tentei me acalmar. – Quem era a sanguessuga?

Amiga dos Cullens, ela desaprova os Lobos, segundo Carlisle. Estou voltando para ladear Seth.

Meu irmão está bem? minha única preocupação é ele. 

Sim ele está aguardando os Cullens voltarem, pois estão tentando falar com o clã da sanguessuga. Carlisle me informou.

 – Vou continuar percorrendo o perímetro com Jared e Quill. Mesmo que se trate de uma conhecida dos Cullens, ela mostrou as presas para o meu irmão.

Ele está bem Leah. Os Cullens conhecem essa Sanguessuga, vão resolver e tentar verificar o que houve. - Sam, mais uma vez tentando me acalmar.

Certo, vou correr pelos limites da cidade. Avise Jared e Quill, qual limite estou percorrendo, e me avise sobre qualquer novidade.

Claro, aviso. Sam se despediu e nossas mentes já não estão conectadas.

Continuei a corrida aliviada em saber que Seth está bem, contudo atormentada com a imagem dela. Bella. 

Os olhos vermelhos, a pele pálida. Uma agilidade surreal, forte e ameaçadora, completamente diferente da condição frágil, e aparência mórbida que atormentou Jacob, antes de parti-lo de vez.

É quase diabólico pensar que Jake, provavelmente, não tenha um dia de paz, se culpando por uma morte que não aconteceu da forma que ele imagina, tendo a imagem cadavérica da Swan impregnada na mente todos os dias. 

Minha corrida ficou mais intensa, e sem perceber já estava distante dos limites da cidade. O ódio me faz ganhar uma velocidade incrível.

Corri, por horas, ou um dia, não faço idéia, e não me importo. Preciso me afastar, e respirar sem que o ódio corra livre e sem controle por minhas veias, só necessito de um minuto sem sentir nada, absolutamente nada. 

Corro sem conseguir desfazer o nó crescendo na minha garganta, com a lembrança da expressão vazia de Jacob ao deixar a reserva. O olhar vazio, a voz sem vida, a dor estampada em cada linha na expressão de uma pessoa quebrada.

Senti uma dor tão forte que tropecei nas minhas próprias patas e rolei metros a frente, só parando ao bater em uma árvore.

Não senti nenhuma dor física. Nada. Nenhuma distração para essa maldita sensação constante de fogo queimando meu peito. 

Preciso gritar.

Me concentrei, e deixei a humana sentir a dor avassaladora que a ausência de Jacob, me causa, e de todo esse inferno tomando conta da minha vida.

Em casa, grito abafando o barulho no travesseiro, hoje tenho apenas o silêncio da mata como testemunha.

Nada de guardar a dor, e deixá-la me consumir ainda mais.

Gritei o mais alto que pude. Tentando tirar a imagem daquela maldita sanguessuga da minha cabeça. Gritei!!!

Quero deixar todo ódio por não poder matar essa infeliz, saírem do meu corpo, da minha mente e coração.

Céus, como dói!!!

Sentei derrotada em uma pedra, no meio do nada.

Abracei minhas pernas e deixei as lágrimas percorrerem seu caminho habitual.

Fico imaginando o quanto alguém pode chorar, antes de secar totalmente por dentro. Todos os dias desejo não ter mais lágrimas, ou vontade de chorar, e todos os dias… bem… aqui estou novamente.

O cansaço me dominou, e em algum momento senti meu corpo pesado, deitei sem soltar meus joelhos… adormeci.

 

…….

 

Acordei sentindo um frio insuportável.

Estou nua e no meio do nada e as primeiras luzes da manhã já despontam nos céus.

— Preciso voltar. — fiquei em pé. 

Me senti nauseada. Paralisada.

A idéia de retornar a reserva neste momento me sufoca.

Não posso carregar esse ódio eternamente, é pesado demais, machuca, e não me leva a lugar algum. Preciso recomeçar de alguma forma.

Pensar mais em mim, sobre o que me atinge e machuca. Admitir tudo o que é impossível carregar e aprender a lidar com isso.

O ódio acaba sendo um fardo tão pesado quanto a minha dor por não ter Jacob por perto, ou sequer saber como ele está. Odiar desta maneira, não é algo leve, preciso me libertar desse sentimento ruim que faz mal a uma única pessoa… eu!!

Só vou conseguir fazer isso longe de La Push. Distante de tudo que me atormenta.

Não planejei sair da reserva, entretanto já estou fora dela, e pela primeira vez em meses, pensando só em mim. 

Preciso recuperar minha sanidade. Me fortalecer por inteiro.

Iniciei uma corrida pela mata. Reconheci o lugar onde estou, e me senti livre para percorrer este caminho sem precisar me transformar, correndo o risco de Sam invadir meus pensamentos, pois, estou frágil.

Embora suportar a dor que a ausência de Jacob causa, seja infinitamente mais difícil estando na forma humana, preciso ter paz para sentir tudo, onde seja mais leve, e eu não esteja atormentada por coisas fora do meu controle. Talvez, fora de um espaço onde sinto que cada lágrima minha fere alguém eu tenha maiores chances.

Me senti aliviada por estar só. Por me sentir livre, após meses. 

— Preciso disso. — sem notar já estou a metros de distância, correndo, sentindo uma leveza imensa.

 

No caminho, peguei algumas peças de roupas, em uma pequena vila por onde estava passando. Me vesti e procurei algum bar na beira da estrada. 

Ao encontrar, liguei para a minha casa, torcendo para ninguém atender, não consigo me explicar neste momento.

Meu desejo foi atendido, ninguém está em casa. Respirei fundo, para deixar uma mensagem na secretária eletrônica.

— Mãe… Seth… vou começar dizendo que estou bem, ou pretendo ficar, aliás quero muito!!! — suspirei de uma forma tão pesada, que provavelmente ela irá escutar na secretaria, mas estou cansada de tudo, continuei… — Só que para isso ser possível preciso me afastar da reserva. — senti as lágrimas molharem meu rosto. — O que você e Seth, tem feito por mim é muito importante, sei o quanto estão sofrendo. Não quero parecer egoísta, contudo neste momento preciso… Resolvi fazer algo por mim. Por nós. Vou me refazer, me fortalecer, e não consigo fazer isso na reserva. Por esse motivo ficarei alguns dias fora. Não se preocupem comigo. Seth cuidará de tudo, tenho certeza. Lembrem-se, eu amo vocês. E esse tempo será bom para todos nós. Até logo. — desliguei o telefone aliviada, e ao mesmo tempo triste, sabendo o quanto eles também estão sofrendo com tudo. 

Agradeci ao senhor desconhecido, por ele, me permitir usar o telefone, e parti.

Continuei minha corrida para o único lugar que me conforta e tortura na mesma medida.

Corri sem parar, sequer para dormir.

Mesmo não querendo aceitar que amo cada lembrança nesse lugar, meu subconsciente não pede permissão.

Parei no alto da colina, onde tenho visão de todo vilarejo.

Estranho como estar aqui pode se tornar um ponto de dor, mas também o de grande alegria, igualmente.

Dor. Pois neste lugar consegui ver milhões de possibilidades. Como seria totalmente possível Eu e Jacob, sermos felizes, e mesmo assim não fomos.

Alegria. Justamente por ter sido imensamente feliz aqui. E ter essas lembranças para a eternidade, para me preencher quando sinto o vazio me dominando. 

Esse lugar é meu ponto fraco, e também meu lugar feliz.

Aqui Jacob foi meu e de mais ninguém. Sem Bella, ou vampiros e Lobos. Aqui posso enxergar claramente nós dois. Nosso primeiro beijo, os lábios grossos dele se moldando aos meus, pela primeira vez.

 

 https://www.youtube.com/watch?v=YXI4223m_qI

 

Toquei meu rosto, sentindo o toque de Jacob, naquela noite.

Minha respiração acelerou. E senti meu peito arder.

Um nó na garganta e uma agonia quase insuportável me fizeram soltar as palavras, que ameaçavam me sufocar!

 – Inferno!!!! — gritei. – Quando isso vai passar, quando?

Jacob, ao partir, só enxergou em seu futuro, um mar de dor pela perda da Swan. Ele não conseguiu nem por um momento, um mínimo segundo, pensar no que sua partida faria comigo. Foi embora sem olhar para trás e acabou me devolvendo para o lugar que eu estava antes de me apaixonar por ele. A solidão.

 – Preciso de uma trégua. Céus, como dói. — pedi para o vento. Na esperança de alguma força da natureza sentir pena, e arrancar essa dor invadindo meu peito diariamente.

Sentei novamente. A dor cansa não só a mente mas meu corpo todo.

Fiquei ali sentada durante algum tempo. 

O sol já brilha soberano aqui, mais forte do que em qualquer dia de verão na reserva.

De repente me senti aquecida.

Fiquei em pé, e desci a colina. 

Caminhei pelo bosque cortando os galhos. Já posso ouvir as pessoas em suas casas, rindo, conversando.

Percorri o caminho até a casa de Kate, e já podia ouvi-la cantarolando. Sua risada leve, descontraída me relaxou. É estranho pensar que a conheço há tão pouco tempo, pois parece que fazemos parte da vida uma da outra, desde sempre. Acredito que essa sensação venha do fato de ter alguém me ouvindo, de uma forma que só Kate ouviu até hoje. Ela me enxergou de uma forma tão inocente, tão necessária naquele momento. Passamos poucos dias juntas, contudo foi tempo o bastante para levá-la em meu coração enquanto eu existir.

Me aproximei, e a vi, estendendo roupas, distraída e animada.

Pisei em um galho propositalmente para chamar sua atenção. Ela olhou para trás e um sorriso largo se espalhou por seus lábios.

 – Leah! — o sorriso dela morreu assim que ela me enxergou melhor. — O que houve? – Kate, abriu os braços vindo em minha direção, e percebi algo extremamente importante. 

Eu luto para ser forte e decidida sempre, mas não sou.

Neste momento me sinto frágil. E vou abraçar essa fragilidade, isso é necessário às vezes.

Kate me deu um abraço tão acolhedor, deixando minha dor correr livre, e falar mais alto. 

Chega de ser forte, e passar o tempo todo lutando contra  esse buraco em meu peito.  

Aqui vou me permitir ser frágil.

 – Leah, o que houve? — Kate, e eu sentamos ainda abraçadas, enquanto ela passava as mãos em meus cabelos.

 – Ele se foi Kate. Jacob partiu, e não voltou. Não consegui ser o bastante, ou suficiente para fazê-lo ficar. — desabafei entre lágrimas.

 – Não diga isso Leah. — ela tentava me consolar.

— Estou perdida, sem conseguir organizar meus pensamentos. Não consegui fazê-lo enxergar que é amado, ou necessário, e passo grande parte do tempo pensando sobre isso. Me culpo, em seguida culpo tudo, principalmente  Jacob, pois não lutou por nós, nem por ele. Não me permitiu ficar ao seu lado, saber se está bem ou não. Kate, ele não dá notícias há meses, nem ao menos um telefonema para informar como está. — apertei minhas mãos no peito tentando conter a dor em meu coração. — E eu precisava apenas ouvir aquela maldita voz, ao menos um recado informando se está vivo. — de repente minha voz saiu desesperada, e sem controle. — Me sinto sufocada, o tempo todo, sem ar, mal consigo respirar Kate. Cada movimento meu é doloroso e tenho certeza que meu coração está sendo estilhaçado repetidas vezes. Me sinto sozinha, completamente vazia, pelos céus, não sei mais o que fazer, e bem menos por quanto tempo vou conseguir apenas sobreviver. O que eu faço Kate? — as lágrimas não paravam mais de rolar e molhar todo meu rosto.

Kate me abraçou o mais forte que pode, só deitei em seu colo, e chorei.

 – Agora você vai chorar, vai deixar o desespero ir embora. Vai respirar, sem quase sufocar. Hoje você não será forte, e não está sozinha. — Kate, passava as mãos em meus cabelos.

Fiquei assim por algum tempo, até sentir minhas lágrimas minguando pouco a pouco, e minha respiração normalizando.

Depois de algum tempo ali, no colo de Kate, sentei ao seu lado, me sentindo estranhamente leve.

Kate levantou meu rosto,  e me fitou séria. Não tinha pena em seu olhar como vejo na maioria das pessoas. 

— Você vai se reerguer. Chore, não sinta vergonha,  não tente conter. Em alguns momentos vai parecer impossível, mas ao final do dia você enxugará suas lágrimas, e continuará, até o exato momento em que não existirá mais dor, só a saudade vai permanecer, e sem notar você já estará seguindo em frente — sua voz me passou uma segurança incrível.

— Ah Kate, preciso tanto de uma amiga. — confessei.

Me sinto frágil como jamais estive em toda a minha vida.

Kate me abraçou novamente. Esse gesto tão acolhedor que sempre evito, e neste momento percebo o quanto é necessário. 

— Você já tem uma.  — ela segurou minhas mãos. — Agora você vai usar meu ombro, e vamos expulsar essa dor. Deixá-la partir!! — Kate é uma alma única.

— Obrigada Kate. Obrigada. 

Senti estar no lugar certo, pela primeira vez em meses.

Permanecemos sentadas no quintal até os pais de Kate chegarem, e virem ao nosso encontro. Eles ficaram felizes ao me ver.

Basicamente fomos arrastadas para almoçar. A casa de Kate, é um lugar acolhedor.

Tomei um banho e Kate me emprestou algumas peças de roupas. Após o banho, desci e almocei com a família toda. Ficamos conversando por horas. Posso parecer a mais imbecil das pessoas, mas desde a partida de Jacob, não consigo ter a mesma interação dentro da minha casa. Estou sempre pisando em ovos. Para não explodir minha irritação com Seth, por algo que ele não controla, e com a minha Mãe, por mencionar a Swan, normalmente como se ela não tivesse destruído várias vidas, e fosse completamente normal o que ela se transformou!

Fiquei ali observando a leveza na família de Kate, e tentando lembrar a última vez que senti isso na minha.

Após o almoço, Kate basicamente me obrigou a ir até a praça levar o artesanato para os irmãos. Aproveitou para roubar um beijo do noivo.

Me sinto livre neste lugar, sem nenhum olhar piedoso quando algum casal se beija na minha frente. Ninguém me conhece então, aqui não sou a garota abandonada novamente, sofrendo pela perda de um amor. Ou a Loba, escolhida para carregar a responsabilidade de uma matilha, que sequer pediu para ter. Aqui sou apenas…… Leah.

Ficamos na praça algumas horas, entre alguns comércios e casas, passeando, levando artesanatos e conversando Ao voltar para a casa de Kate, preparamos o jantar.

Pela primeira vez em meses, senti prazer em comer. O ambiente aqui é leve, e nada me incomoda.

Após o jantar Kate e eu subimos. Enquanto, Kate arrumava a cama ao lado da sua, fiquei observando pela janela, a casinha onde fiquei com Jacob, quando estivemos por aqui.

Fechei meus olhos, e por um instante, pude ouvir a voz dele ali. 

Senti um vazio sufocante. Levei minhas mãos ao peito, tentando conter a dor queimando meu peito. Minha respiração acelerou.

— Você está bem? — apenas assenti. — Mentirosa.

Dei de ombros, desanimada.

Kate suspirou e continuou. 

— Vou evitar perguntas óbvias. — sorri sem humor com o embaraço dela, antes de explicar que nenhuma pergunta me incomoda, como a ausência de Jacob, Kate continuou. — Sabe, acho que te faria bem ficar uns dias por aqui. Se distrair, respirar novos ares. — ela dizia distraída enquanto arruma minha cama. — Fique, cuide um pouco de você, está na hora!!

Não é um pensamento ruim. A verdade é que me sinto perdida. 

Assenti. Sem saber ao certo o que farei pela manhã. 

Nos deitamos, e nenhum pensamento dominou minha mente como acontece todas as noites, não senti vontade de chorar ou gritar, o cansaço me alcançou rapidamente, e adormeci.

…….

Acordei preguiçosamente com um aroma delicioso preenchendo o ar.

Levei um susto ao abrir os olhos e ver o sol brilhando alto nos céus. Não faço ideia de que horas são.

Realizei minha higiene pessoal rapidamente e desci para procurar Kate, que não estava, sua Mãe ao me avistar sorriu calorosamente. 

 – Acho que dormi demais. — admiti envergonhada. – Bom dia Lara.

 – Dormiu o bastante para descansar minimamente, minha querida. Não se preocupe, ainda é cedo, você terá o dia todo para conhecer melhor a região.

— Não tenho certeza se devo ficar. – confessei, sem ter a menor ideia do motivo.

A mãe de Kate se virou e me encarou serena.

— Só você pode decidir o que fazer, minha querida. Se está na hora de descansar ou travar batalhas, se está forte o bastante ou não. Ninguém, absolutamente ninguém pode tomar essa decisão por você. Se quiser ficar, nossa casa está de portas abertas, nossos corações também, você é bem vinda aqui sempre Leah. Não só por salvar Kate, mas por ter cativado a todos, sem esforço algum.

Senti uma paz imensa. 

Só eu posso me curar, decidir começar, ou ficar parada afundando.

Resolvi não me afogar, não quero. Por este motivo vou permanecer aqui por alguns dias. 

Tentar parecer bem, para poupar Seth e minha Mãe, é uma batalha que não posso vencer.

Não estou forte o bastante para agir com naturalidade, em relação ao imprinting de Seth, ou sentir o cheiro daqueles sanguessugas impregnado no meu irmão, e não ter o instinto de arrancar a cabeça de algum deles a qualquer momento.

Mesmo sem querer, e admitindo que Reneesme não é culpada pelos acontecimentos, que antecederam seu nascimento, ela é um motivo. Tê-la por perto me fere em alguns momentos. É isso!!! Mesmo sendo filha de quem ela é, e seu nascimento não ter explicações ou sentido,  acho aquela criança adorável… Contudo, toda vez que estou perto dela, sinto um aperto imenso no peito. A imagem da expressão fria, e sem vida de Jacob preenche minha mente, e sinto um vazio absurdo, acompanhado de uma culpa avassaladora, pois apagaria a existência dela facilmente, para não ver Jacob naquele estado.

Vou me afastar por alguns dias. Deixar toda minha dor e angústia para trás, e decidir o que fazer com a minha vida. 

 – Vou ficar, se realmente não atrapalhar. – disse envergonhada.

Neste momento Kate apareceu na porta, estava tão distraída em pensamentos, que sequer notei sua aproximação.

 – Você não atrapalha em nada Leah. – Kate correu em minha direção e me abraçou.

 – Esta casa também é sua Leah. – Lara, se aproximou e segurou minhas mãos. – Fique. Você agora faz parte da nossa família.

Assenti emocionada e me sentindo leve.

— Venha! – Kate, puxou minhas mãos me obrigando a ficar em pé. –  Vamos organizar o quarto onde você vai ficar, arrumar algumas roupas, deixar tudo bem aconchegante.

Kate saiu cantarolando e tendo idéias grandiosas para os nossos dias. Sorri observando e me deixando levar pela energia contagiante dela.

………….

Os dias aqui são tranquilos. Meus melhores em muitos meses, que estranhamente agora parecem anos, olhando de onde estou hoje.

Kate e toda sua família, são pessoas incríveis. Sinto que estou voltando ao normal por aqui. Ninguém fica me vigiando, ou dizendo que tudo ficará bem, eles simplesmente deixam acontecer e agora tenho a consciência do quanto precisava disso!    

Me alimento, quando sinto vontade e durmo o quanto for necessário. Não me sentir na obrigação de ambas as coisas, já me colocaram em uma rotina normal. Sinto fome, quase como antes, e não tenho mais a menor vontade de dormir o dia todo. Pelo contrário. Estou me sentindo disposta e cheia de energia, Kate se encarrega disso pessoalmente inclusive.

Temos atividades durante boa parte do dia. Trabalho com ela e sua família, vendendo artesanato pela região. Descobri algo que achava ser impossível após minha transformação… Posso ter partes normais na minha vida, inclusive elas são necessárias.

Comecei a acompanhar Kate em suas corridas matinais diárias.

Confesso, é engraçado como ela faz recomendações, sobre meu aquecimento diariamente antes de iniciarmos a corrida: Comece devagar Leah, beba muita água, pare quando sentir-se cansada, não force seu corpo.

Corremos alguns poucos quilômetros, e quando vejo que ela está muito cansada, finjo cansaço e paramos.

Essa noite pela primeira vez nesses dez dias, senti a real necessidade de correr, deixando minha natureza dominar meu corpo. 

Pela primeira vez desde a minha transformação, a sensação em deixar a Loba dominar meu corpo, foi agradável, leve, e poderosa!

Aqui neste lugar, talvez seja umas das primeiras vezes que admito amar ser exatamente quem sou!!

Precisava disso, sentir falta de me transformar, olhar ao redor durante a corrida, sentir como isso me revigora, como me faz livre, e forte. E definitivamente aceitar que não devo me esconder atrás da transformação quando estou sofrendo!!

Preciso aprender a não mentir sobre meus sentimentos como fiz antes quando Sam, teve o imprinting, é exatamente como estava fazendo antes de vir para o vilarejo. Sinto que neste momento escolhi me curar e não fugir. Farei diferente todos os dias!

Refletindo durante minha corrida, tenho uma certeza, muito dessa decisão tem a ver com este lugar. Com a leveza que me dominou desde minha chegada aqui. 

Seth é o único motivo que anda me causando preocupação. Meu peito fica apertado toda vez que penso nele. Talvez seja o instinto de irmã mais velha, sempre dominante e falando mais alto entre nós. Entretanto, estou aqui seguindo os conselhos dele, e fazendo algo por mim, lutando para me reerguer.

— Você poderia morar aqui Leah. – Kate arrancou-me dos meus pensamentos.

— O quê? – fiquei espantada com o convite.

— É isso mesmo. Você está muito bem aqui. Sorri de forma espontânea, e o melhor sem notar, se alimenta bem, está com a expressão leve, como não tinha visto ainda, nem quando você esteve aqui com ele. – Kate evita mencionar o nome de Jacob. – Você deveria realmente considerar a possibilidade de se mudar. Inicialmente pode trabalhar no artesanato ao nosso lado, arrumar a casa de hóspedes para morar, depois pode achar algo que goste de fazer – sorri com a inocência no convite dela. – A vida aqui é simples, calma e muito feliz!

 – Eu sei Kate, me sinto muito bem aqui, sinto que estou me reerguendo. – suspirei aliviada deixando o sol aquecer meu rosto como fazemos muito por aqui. – Eu só não posso. Tenho algumas decisões a tomar, e assuntos a resolver, que me levam à reserva novamente. – lamentei.

 – Tome essas decisões. Resolva esses assuntos e escolha a vida que você quer viver. Seja na reserva, ou em qualquer lugar onde estiver. – As palavras de Kate, só confirmam que, ter ficado me fez realmente bem. E sim é uma opção adorável ficar e ter essa paz diariamente.

A aldeia me fez bem quando estive aqui com Jacob, está basicamente me reescrevendo agora.

— Farei isso, prometo. Gosto de estar aqui Kate, esse lugar me refaz, deixa leve. Confesso que mudar para cá já passeou nos meus pensamentos, vou pensar com carinho em tudo. – prometi. 

— Então, pense. Aqui é tão sua casa quanto é minha, Leah. Sua presença deixa meus dias melhores e mais felizes. – Kate apertou minhas mãos, tentando esconder sua emoção. – Agora vamos antes que anoiteça e a floresta a noite é muito perigosa para mulheres. – gargalhei com o medo dela.

 – Claro, claro. – parei por um segundo desconcertada por ter repetido o modo como Jacob, costumava se expressar. Foi tão natural e sem chance de conter, que fiquei sem ar por alguns segundos. Kate não percebeu esse  embaraço para o meu alívio.

Voltamos para a aldeia, tomamos banho e o cheiro da comida preparada pela Mãe de Kate já preenchia o ar.

O jantar foi calmo, após a deliciosa torta de morangos de sobremesa fomos para a praça, e o irmão de Kate embalou nossa noite tocando em seu violão músicas leves e bonitas.

Olhava na direção onde estava a tenda no dia da festa aqui na praça. Sempre fico olhando nessa direção quando venho para o centro. Hoje deixei as lembranças inundarem minha mente.

Impossível não sentir o coração aquecido ao lembrar dele, aquela noite… seu sorriso, suas mãos brincando com meus cabelos, os lábios nos meus. As batidas tranqüilas de seu coração. Sorri em ter essa memória, acompanhada de um sentimento leve, e não de uma dor opressora, pois, essa é uma das melhores lembranças da minha vida. Vou mantê-las em segurança para sempre em meu peito.

Olhei novamente para o grupo de amigos que fiz aqui, e querendo ou não, Jacob foi o responsável por isso.

Comecei a cantar junto com o irmão de Kate. E passamos boa parte da noite por ali.

Voltamos para a casa, e parei na entrada. Olhando a casa de hospedes onde fiquei com Jake. Evito chegar perto desse lugar, com medo que as lembranças do que vivi ali me causem mais dor.

— Tudo bem Leah? – Kate voltou ao notar que eu estava parada.

— Sim. Hoje quero dormir ali. – apontei para a casinha.

Kate olhou para o local e voltou seu olhar para mim.

     – Certeza? – ela segurou minhas mãos. 

     – Sim. – olhei para ela confiante.

Caminhamos sem dizer uma palavra até a casa principal. Subimos e organizamos a roupa de cama que levaria para lá, pois, pedi a ela que me deixe ir sozinha.

— Bem está tudo pronto. – Kate passava a mão pela décima vez sobre os lençóis. Notei sua apreensão.

— Kate, fique tranquila, está tudo bem, estou pronta. As lembranças dele e tudo que vivemos, precisam parar de me machucar, elas precisam me fazer bem. – tentei tranquilizá-la.

— Eu sei. Só não quero vê-la sofrendo como estava quando chegou aqui. Apenas isso. – a voz dela está carregada de preocupação e carinho.

— Não vou. Prometo. Já não sou mais a mesma pessoa que chegou aqui Kate, e tenho que agradecer a você, e sua família. – confessei.

— Leah, não nos agradeça. Tudo isso é obra sua. E toda a força natural que emana de você, e como ela também nos faz bem.

Abracei Kate. Nunca me senti tão próxima a alguém que conheço a tão pouco tempo, como me sinto dela.

— Agora vou deitar, antes que comece a chorar, e céus, se eu parecer uma garotinha chorando, ficarei realmente chateada. – brinquei tentando descontrair o clima.

Kate sorriu, e me acompanhou até a porta de acesso aos fundos da casa. Nos despedimos, e ela ficou alguns instantes parada na porta. Parei antes de entrar na trilha que me levaria à casinha, e fiz um gesto para ela entrar.

“Okay” ela disse. Sorri e aguardei ela subir as escadas até o quarto. Kate, parou algumas vezes, e por fim chegou até a cama.

Caminhei pela pequena trilha, e ao chegar na porta da casinha senti um frio na barriga. Respirei fundo, e abri a porta.

 

 https://www.youtube.com/watch?v=qfi-nUjJdkw

 

Tudo parecia exatamente igual. Fechei a porta e encostei na parede. Minha respiração acelerada. Coração disparado.

O ambiente não estava iluminado como aquela noite. Caminhei pela pequena sala em direção à cama. Passei a mão pelo colchão, lembrando de Jacob deitado ali. 

Fechei os olhos deixando as lembranças invadirem tudo.

Ao abrir os olhos, me vi naquela noite. O quarto iluminado pelas velas, dando uma aparência romântica ao ambiente.

Jacob me segurando em seus braços na cama. A sensação de saber que eu seria a primeira mulher dele. Céus, como fui feliz neste lugar. Neste exato lugar.

Caminhei até a ponta da cama, e deitei.

Cada segundo aqui valeu a pena. Não me arrependo de nada. Deixei cada lembrança de cada segundo invadirem minha mente, e me aquecerem. 

Talvez, jamais esqueça de Jacob, e dos sentimentos que ele despertou em mim. E isso não me causa mais medo ou dor.

Adormeci com uma sensação de saudade, que as lembranças trazem, e antes me causavam tanto medo, e neste momento não mais. Pois hoje admito que não mudaria absolutamente nada do que aconteceu neste local. Viveria tudo novamente. Talvez amadurecer não seja passar pelos anos, envelhecer, quer dizer isso é só um dos processos… Aprender aceitar e lidar com as consequências das minhas escolhas é tão importante quanto.

 

……………..

Acordei com leves batidas na porta, o sol já estava alto e poderoso no céu. Sentei na cama, tentando lembrar em qual momento me cobri, pois, não lembro sequer de ter acordado.

Ouvi os passos cautelosos de Kate, seguindo pela trilha de volta à casa principal. Caminhei até a porta e abri, fazendo a atenção dela voltar para a entrada da casinha.

Ela parou e me analisou por alguns instantes.

— Tudo bem? – ela está visivelmente preocupada.

— Muito. Dormi muito bem. – fui sincera.

Kate abriu um sorriso largo, e caloroso.

— Que ótimo. A saudades sem dor Leah, torna as coisas mais leves! Agora venha tomar café – Kate estendeu a mão em minha direção, caminhei até ela e segurei. Olhei para a casinha, sentindo uma paz imensa. A paz que só a presença de Jacob conseguiu me dar após minha transformação, e que agora eu consigo buscar sozinha.

Brian, o noivo de Kate nos esperava para o café. Olhei para eles, desejando felicidades, a mesma que senti quando estive neste lugar ao lado de Jacob. Ela merece carregar esse sentimento, e recebê-lo. 

A lembrança das palavras dela assim que cheguei no Vilarejo  há alguns dias atrás, me fizeram sorrir naturalmente.

Em alguns momentos vai parecer impossível, mas ao final do dia você enxugará suas lágrimas, e continuará, até o exato momento em que não existirá mais dor, só a saudade vai permanecer.”

………….

 

Passamos o dia na cidade vizinha, entregando inúmeras encomendas aos comerciantes locais. Os lugares por aqui são acolhedores, e fáceis de se adaptar.

Kate e Brian, me levaram para conhecer alguns lugares escondidos, pela região. Voltamos quase ao anoitecer. E Lara, a mãe de Kate, já nos aguardava para o jantar. Tomei um banho relaxante, e desci para me reunir com todos na sala de jantar.

Estávamos entre risadas e conversas pós jantar, então senti um vento frio soprar, gelando minha nuca, tão forte que por um segundo poderia jurar que estava nevando aqui dentro, mesmo a noite estando com uma temperatura  agradável por aqui.

Me virei em direção a porta, e a imagem de Seth, parado ali me sobressaltou.

Pisquei e não havia ninguém ali.

— Tudo bem Leah? – Lara colocou a mão em meu ombro suavemente.

— Seth. – preciso falar com ele.

Senti uma agonia imensa.

 –  Leah, tudo bem? – Kate se aproximou, com olhar preocupado. 

 –  Sim estou. – todos esses dias penso em Seth, e sinto uma agonia, e preocupação imensa. – Preciso voltar para casa agora! – informei, angustiada e meio perdida, olhei na direção de Kate e Lara que me observam sem entender nada. – Obrigada por tudo, nunca vou poder agradecer tudo o que fizeram por mim.

    – Leah, acalme -se. – o pai de Kate pediu.

   – Estou, só preciso partir, meu irmão precisa de mim, tenho certeza. Preciso falar com meu irmão. – ando sentindo esse aperto no peito sempre que penso em Seth.

— Acredito em você, mas de maneira alguma você sairá daqui agora. Amanhã de manhã, nós a levaremos embora, já é tarde e você está cansada. – ele argumentou. – Por favor. 

— Eu a levo amanhã Papai. – Kate informou.

— Nós a levaremos. – Lara completou.

— Vamos amanhã, por favor, Leah. – Kate pediu mais uma vez.

— Está certo sua pidona. – é o mínimo que posso fazer em retribuição a tudo feito por mim aqui, Embora deixar eles me levarem de volta à reserva, vá me atrasar bastante.

Subimos e Kate, arrumou uma bolsa com as roupas que havia me dado, e as compradas com o dinheiro do artesanato, que não queria pegar e fui obrigada por ela.

Ficamos conversando até Kate pegar no sono. Caminhei nas proximidades  da propriedade. 

A verdade é, que eu gostaria de ficar aqui para sempre. Sou tranquila neste lugar. Talvez eu mereça exatamente o que conquistei aqui… Paz e tranqüilidade.

A matilha é responsabilidade de Jacob e Sam, não minha. Ele têm o direito de mandar tudo pelos ares, e eu não tenho o dever de assumir nada. 

Suspirei de forma pesada. Só preciso acreditar realmente nessas palavras.

Fui deitar com os pensamentos no que faria na manhã seguinte. Demorei um pouco mais para dormir.

Me senti flutuando pela floresta nas proximidades da casa onde a família de Kate vive.

Então ouvi a voz de Jacob, como música nos meus ouvidos.

“Eu quero que você entenda uma coisa. Eu vejo você. Sempre vi. – podia sentir a ponta de seu nariz em meu rosto, suas mãos quentes em minha nuca, o aroma amadeirado na pele bronzeada dele. Seus lábios grossos e macios se moldando aos meus.

“– Eu cuido de você. – posso ouvir sua voz através da chuva.”

De repente meus braços estavam vazios novamente.

E podia ouvir claramente as palavras de Seth.

“– Ele acreditou em você quando já não acreditava nele mesmo. Confiou a você algo que dependia dele, pois sabia da sua força. Jacob não te acha uma rocha, tenho certeza, ele acredita na sua força, fibra e coragem.”

Então novamente a voz fria de Jacob, no dia em que partiu:

— Eu não posso exterminar o motivo de sua morte, pois fazer isso é aniquilar seu irmão.

Um alerta soou como um despertador. Seth estava diante dos meus olhos, da mesma forma que o vi na porta da cozinha mais cedo hoje, com uma expressão carregada.

 

Acordei molhada de suor.

— Bom dia Leah. – Kate dizia animada.

Levantei num salto. Já vestindo a roupa que deixei separada para a viagem de volta.

— Bom dia! Precisamos nos apressar Kate. – Vamos levar no mínimo um dia de carro. Porém, não posso pedir a eles para ficarem.

Após, minha higiene pessoal, Kate e eu descemos, tomamos café da manhã com toda a família, e partimos.

Como eu previa, a viagem vai durar muito mais tempo. 

Estávamos nos revezando na direção do carro. Enquanto eu dirijo observo todos dormindo. Essas pessoas que conheço a pouco e já são imensamente importantes.

Essa noite, amadureci a decisão de não ficar mais na reserva. Uma ideia que já fez parte dos meus sonhos, e agora tornou-se uma decisão. Enquanto os observo dormir consigo refletir sobre tudo que anda acontecendo ao meu redor. Talvez meu nervosismo esteja concentrado em avisar ao meu irmão, minha decisão de sair da reserva.

Acredito, que o receio em magoar ou ferir minha família, com essa decisão está causando toda essa preocupação. 

 Espero que seja isso. – resmunguei.

  Eu também! – a voz de Kate me sobressaltou. – Está mais calma?

 – Estou. – olhei para frente e já podia ver a estrada que leva a Forks. – Olhe. – apontei para Kate, as montanhas, que iam nos conduzir até a reserva, ela sorriu.

 – É lindo! – Kate se ajeitou. – Mamãe, papai, acordem, estamos chegando. Vejam que lugar lindo.

Os pais de Kate acordaram, e assim como Kate sorriram com a imagem da cidade.

Passamos por Forks, que estava movimentada. Seguimos, e ao alcançar os limites da reserva senti uma estranha sensação de encaixe.

  – Leah, que lugar lindo. – Lara olhava a região dos penhascos maravilhada. Por estar sempre aqui, talvez jamais tenha dado importância à beleza da reserva.

  – Estamos em La Push babys. – sorri ao imitar Jake, quando falava da reserva para pessoas que vinham aqui pela primeira vez.

Estranhamente tudo parece completamente diferente. 

Ao parar diante a minha casa senti um frio na barriga imenso. Como se estivesse fora há anos.

Não deixei Kate e sua família notarem meu estranho nervosismo. Eles estavam animados. 

— Nossa, vou conhecer o lugar onde você vive, Leah. Sua família. – ela desceu animada do carro.

      – Vai sim. – desci do carro levemente ansiosa. 

Minha casa está vazia. Não há movimentação lá dentro.

Entramos e senti uma saudade de ficar ali, vendo minha Mãe cozinhar, Seth andar de um lado para o outro, Jacob me irritar sentado no sofá assistindo jogos de futebol com meu irmão e meu Pai.

Respirei fundo. 

A família de Kate parecia envergonhada, esperando o meu convite.

 – Por favor, sentem-se, a casa é tão de vocês quanto é minha. vou passar um café, arrumar algo para comer, já que fazem quase dois dias que estamos comendo muito mal.

   – Não se preocupe minha querida, estamos bem. – a Mãe de Kate, se aproximou e segurou minhas mãos.

Assenti, me acalmando. Estou estranhamente ansiosa.

Levei os pais de Kate ao banheiro. Voltei à cozinha e comecei a fazer um café.

Então uma ideia, tomou forma na minha mente.

   – Vou embora com vocês. – anunciei.

  – O que? – Kate, quase derrubou a caneca que estava em suas mãos.

  – É isso, vou subir, arrumar minhas malas, e vou voltar com vocês. – passei por Kate, que segurou meu braço.

    – E seu irmão, sua Mãe? Vamos esperar, não há problema. 

    – Vou deixar uma carta explicando tudo. Não sou boa com despedidas Kate, preciso pensar em mim, certo? – ela assentiu, com olhar desconfiado.

Subi as escadas rapidamente, entrei no meu quarto. Estava tudo limpo e organizado. Puxei minha mala e tirei o maior número de roupas possíveis em alguns segundos.

Talvez essa seja a melhor solução, não falar com ninguém, não haver despedidas. Deixar o endereço de onde estou, uma carta e esperar que Seth e minha Mãe me perdoem por isso. 

Abri a última porta do guarda roupas. E me deparei com aquele maldito vestido, que sempre me faz travar os pés, e me causa um nó na garganta, por me remeter a noite no parque.

O vazio que a ausência de Jacob, causa voltando com força total. Aqui esse sentimento parece incendiar meu peito. Sentei na ponta da minha cama.

Céus pensar aqui é complicado. Tudo neste quarto me lembra Jacob. A janela que ele fez, sua porta de entrada constante. A cama onde ele deitava ao meu lado e que já não tem mais o cheiro maravilhoso dele. Fechei a porta do meu guarda roupas e deixei o vestido lá. 

Escutei um carro entrar na autoestrada, e reconheceria esse som a milhas de distância, mesmo sem ouvir minha Mãe cantarolando enquanto dirige. Sorri emocionada.

Fechei a mala e desci as escadas. Minha Mãe, já estava parando o carro aqui em frente.

Kate me olhava calada, como se analisasse algo. Coloquei a mala ao meu lado.

 – Bem, vocês vão conhecer a dona Sue hoje. – senti meus olhos encherem de lágrimas, quando o coração dela disparou ao notar o carro na frente da nossa casa. Ela desceu rapidamente e sequer desligou o motor da nossa caminhonete. Ao abrir a porta estava ofegante.

 – Leah! Minha filha, que saudades. – minha Mãe correu e me deu um abraço tão aconchegante. Eu poderia ficar ali durante horas. – Céus, como eu te amo, como estava sentindo sua falta, onde você estava Leah Clearwater? Como fica dias e mais dias sem me dar notícias. Você se alimentou bem? – ela beijava meu rosto, e posso sentir as lágrimas dela molhando minhas bochechas.

 – Está tudo bem Mãe, fique tranquila, estou aqui agora. – a abracei com vontade, e com todo amor possível.

 – Graças aos céus. – senti seu corpo ficar tenso, ela se soltou dos meus braços. – O que significa isso? – ela apontou em direção a mala atrás de mim.

— Calma Dona Sue, antes de responder o bombardeio de questionamentos, deixe-me te apresentar meus amigos. – virei seu corpo em direção a sala, onde Kate e seus pais nos observavam. – Essas são Kate e sua mãe Lara, este é seu pai John, eles me acolheram mais uma vez na casa deles. –  Lara se aproximou da minha Mãe e a abraçou.

  – Sua filha faz parte da nossa família agora, é um prazer conhecê-la. – minha mãe retribuiu o abraço.

 Kate repetiu o gesto de Lara, sem inibições e de forma mais entusiasmada se lançou nos braços da minha Mãe.

 – É um prazer conhecê-la Sra. Clearwater. Leah fala o tempo todo sobre a senhora. – ela segurava as mãos da minha Mãe, admirada.

 – O prazer é meu, Leah me contou sobre o lugar onde vocês moram, e como é encantador. Fico feliz em conhecê-los. – minha Mãe lançou o olhar para os pais de Kate. – Obrigada por receberem minha filha.

 – Ela é da família Sra. Clearwater. – o pai de Kate respondeu.

 – Viajamos muito tempo Mãe, vamos preparar algo descente para os pais de Kate, se alimentarem.

 – É claro! – minha mãe caminhou até a cozinha e chamou Lara e John.

Começamos a preparar a comida e percebi que minha Mãe, não tirava os olhos da mala no pé da escada. 

 – Ela não tira os olhos da mala Leah. – Kate cochichou há uma distância segura da ávida audição de dona Sue.

 – É, eu sei. Vou conversar com ela. – respirei fundo, ignorando o frio na barriga, que ter essa conversa, está me causando.

Sentamos e comemos. Lara e minha mãe conversavam naturalmente, e caso não sentisse que minha dona Sue, está apreensiva e levemente tensa, elas pareceriam amigas de infância, já que é algo natural em minha mãe, e  sempre vou admirar a forma como ela simplesmente se conecta às pessoas.

Kate e eu lavamos a louça do jantar. E vi minha Mãe parada em frente à minha mala. Tomei coragem e me aproximei. Este é o momento. Respirei fundo, ansiosa e completamente insegura, pois não quero magoá-la. 

 – Mãe. – ela se virou em minha direção. – Decidi ir embora de La Push, acredito realmente que preciso disso para me reerguer completamente, vou morar na aldeia por uns tempos. – soltei as palavras de uma vez.

O coração dela disparou frenético.

 – Você vai embora? – ela se aproximou. – A quanto tempo você não se transforma Leah? – ela cochichou perto dos meus ouvidos, segurando meus braços. 

 – Mãe, estou dando um tempo nisso também. – desabafei. – Parando de fugir da minha dor e usando minha transformação como válvula de escape. Quanto a me afastar daqui, você e Seth poderão me visitar quando quiserem, vou ajeitar tudo para receber vocês, prometo.

Ela assentiu, os olhos cheios de lágrimas, o coração frenético.

Algo que ignorei há uns segundos atrás chamou minha atenção agora. A pergunta feita por ela, o tom de voz contendo um nervosismo … jamais dona Sue, me fez esse tipo de questionamento.

 – Espera, por qual motivo, você quer saber a quanto tempo me transformo ou deixo de transformar? – a expressão dela mudou, e seu olhar que antes escondia algo, agora foi preenchido de preocupação. – Mãe, o que aconteceu?

 – Céus, você realmente não faz ideia dos acontecimentos por aqui! – sua voz era fria.

A imagem de Seth preencheu minha mente.

 – Seth. – eu senti, sabia que algo não estava em seu lugar, mas ignorei, achando ser besteira de irmã mais velha.

Vendo a expressão estampada no rosto da minha Mãe, tive certeza… algo está prestes a acontecer e pode ferir meu irmão.

Senti meu corpo ser sacudido por uma realidade a qual eu não posso fugir ou ignorar…

 – Seth está em perigo. – definitivamente não é uma pergunta.

 – Sim. Mesmo que eu o prenda e implore que ele fuja, como é minha vontade todos os dias, mesmo que seu irmão me desse ouvidos e aceitasse partir, não adiantaria agora. – minha Mãe suspirou pesadamente, a expressão revoltada. – A única coisa que pode matá-lo sem derramar uma única gota de seu sangue, está em perigo. – a voz dela não tinha emoção.

 – Reneesme. – sempre elas. Está no DNA dessa família, nos  colocar em perigo, não é possível.

Olhei para Kate e seus pais. E mesmo sem dizer uma única palavra, meus olhos se anteciparam.

Kate olhou para os pais, e caminhou em nossa direção.

 – Bem, adoramos conhecer você Sue. Mas temos que ir, vocês tem muito o que conversar, e nós, muito trabalho a fazer em casa. 

Kate olhou na direção dos pais, como se pedisse para eles concordarem.

Senti um aperto no peito, em ver Kate se despedir.

 – Fiquem, descansem. Esperem alguns dias, e tento resolver tudo o mais rápido que puder, e… – Kate me interrompeu.

 – Está tudo bem Leah, estamos tranquilos. – seu olhar sempre terno.

 – Não se preocupe Leah, vamos ficar bem. – Lara me disse com a voz tranquila, e um sorriso no rosto.

 – Voltamos para passar alguns dias, planejamos isso é claro. – John completou.

 – Kate, fique, vamos depois, você não me deixa desistir de ter essa vida que iniciei na aldeia. Espere alguns dias. – pedi, sentindo que estou partida ao meio, entre algo que quero, e minha realidade.

 – Leah. – Kate segurou minhas mãos, e seu olhar parecia ler minha alma. – Você pertence a esse lugar, mesmo que neste momento ele te traga péssimas lembranças, também é uma caixa de sentimentos bons, estou certa disso, e sabe por que? Você fica iluminada aqui. Sua força, carinho, e garra com certeza vem deste solo, da sua terra, e da sua família! Não tenha medo, faça como fez ao entrar na casa de hóspedes, enfrente a dor, fique com as boas lembranças, você verá coisas boas acontecendo. Você vai conseguir, tenho certeza – ela me abraçou.

 – Ah Kate, como eu sou grata a vida por me dar você de presente. – a apertei em meus braços.

 – Eu também sou Leah, somos uma família agora, e para sempre! – Kate me deu um beijo na bochecha. – Agora preciso ir pois, não quero parecer uma garotinha chorona. – ela imitou minha fala, enxugando as lágrimas que já escorriam de seus olhos azuis.

 – Claro que não. Jamais. – respirei fundo. – Até breve então? – meu olhar continha uma promessa que nos veríamos logo.

Ela assentiu.

 – Até breve Clearwater. – Kate me abraçou mais uma vez.

Nos despedimos e fiquei observando ela e sua família partirem. Deixando a leveza que só eles tem invadirem minha casa.

Caminhei até a parte dos fundos, na minha casa, e respirei fundo ao colocar meus pés na varanda. 

 – Só eu posso fazer isso. – olhei a mata diante meus olhos.

Minha Mãe parou ao meu lado.

 – Sei o quanto as coisas são injustas e acredite, mudaria tudo para você e seu irmão se pudesse. Infelizmente não posso. Leah, amo você e Seth, acima de tudo nessa vida, e caso não tenha dito, ou não tenha ficado claro para você… saiba que vou apoiar qualquer decisão sua. O que escolher para a sua vida, o que a fizer feliz, eu ficarei feliz também! – minha mãe segurou minha mão com firmeza.

 – Eu sempre soube disso, dona Sue. Obrigada por sempre me apoiar, mesmo quando eu não enxergo isso. Te amo. – dei um beijo na mão dela que estava entrelaçada à minha.

Segui em direção a mata. Corri até a entrada do bosque, tirei minhas roupas agilmente como sempre faço, em segundos já estava sobre quatro patas.

Me concentrei para conseguir pela primeira vez em muitos dias, deixar alguém se conectar a minha mente.

  Sam?

Durante muito tempo, esse foi meu maior tormento, estar conectada a mente dele, e agora, Sam é a única pessoa que pode me ajudar a entender tudo que aconteceu na minha ausência. 

 – Lee Lee. – ele deixou escapar. – Desculpe, estou aliviado em ter notícias suas. Onde você estava, como está?

 – Estou bem, só precisava  me afastar. – corri na direção de Sam. – Preciso saber tudo que está acontecendo, por favor!

 – Claro. – minha mente começou a ser bombardeada com os últimos acontecimentos.

A sanguessuga que esteve na reserva, e o que sua interpretação errada sobre Reneesme, está causando. Sam notou minha confusão sobre o assunto, e inundou minha mente com informações sobre as crianças imortais. Senti uma náusea violenta só de imaginar a história. A confusão feita pela sanguessuga, e a visão de Alice que confirmou a vinda dos malditos italianos. O desespero inicial de Seth, e sua preocupação com Nessie, e os Lobos, que mais uma vez estão diante algo de proporções inimagináveis, contudo não fogem do confronto. O sumiço de Alice e seu marido. A rotina exaustiva de treinos com os sanguessugas. E o desenvolvimento de Seth durante todos esses dias. A tristeza do meu irmão em não conseguir desabafar comigo, mas a certeza que eu precisava disso, a fé inabalável que eu vou me reerguer.

Tudo parece tão fora do lugar, mas de certa forma correto já que estamos diante algo que nascemos para enfrentar, mesmo sendo tão jovens.

 — Vá Leah, Seth precisa de você. – mesmo sem pedir a localização de Seth a Sam, já sabia exatamente onde ele está.

Acelerei minhas passadas.

 – Só peço a você calma, sei o quanto tudo isso é pesado, principalmente para você, Bella estará lá, e sei o quanto isso é difícil assimilar. Mas neste momento precisamos nos unir. – Sam recomendou.

 – Tentarei ignorar Bella e todo o resto Sam. Prometo. Obrigada pela preocupação e por cuidar da minha família enquanto não pude fazer. Jamais vou esquecer o que está fazendo por Seth.

 – Seu irmão é como se fosse meu também, e sua família é minha, farei por ele e por você, tudo o que estiver ao meu alcance! – pensamentos leves e sinceros dominam a mente de Sam.

 – Eu sei. Obrigada.

Me concentrei e desfiz nossa conexão. Cheguei a clareira em alguns segundos. Uivei o mais alto que pude.

Já conseguia ver Seth, mesmo com toda a distância. Ele segurava Reneesme, e assim que me ouviu a entregou rapidamente nos braços de Rosalie.

Olhando melhor a cena, é completamente surreal que Seth consiga ficar em meio a tantos sanguessugas, o cheiro é insuportável.

 – Leah! – Seth, se aproximou a uma velocidade incrível, mesmo sem estar transformado.

Ele passou as mãos nos meus pelos. E enterrou o nariz no meu pescoço. Quero tanto dar um abraço nele, mas meu instinto de proteção é mais forte que eu.

  – Quero um abraço. – ele encarou meus olhos, me analisando. – Hey, ninguém aqui irá te machucar, não tenha receio. – Seth, mesmo sem ler meus pensamentos me conhece como poucos.

A confiança de Seth nos sanguessugas é algo preocupante, estarrecedor e irritante.

Entretanto, a matilha está toda na mata, e mesmo sem poder ouvi-los ou estar em suas mentes, posso sentir cada um dos Lobos. 

Me afastei ligeiramente desconfiada, contudo, em segundos já estava colocando minhas roupas.

  – Seth! – corri em sua direção.

 – Ah Leah, como estou feliz em ter você de volta. – nos abraçamos de uma forma que não fazíamos há muito tempo. – Como eu preciso de você minha irmã!

 – Estou aqui, tudo será esclarecido. – apertei meu irmão em meus braços, e o único desejo no meu coração, neste momento, é que isso fosse o bastante para protegê-lo, porém, infelizmente não é.

  – Eles querem feri-la! – em seu tom de voz existe um misto de dor, preocupação, mas também uma força que eu nunca esperei ver tão cedo nele.

 – Ninguém vai tocar nela, Seth. Eu prometo. – afirmei.

 – Leah… assuma o lugar de Jacob, por favor! Ao seu lado sou mais forte, nenhum Lobo deve ficar  sozinho. Muito menos você. – suas palavras me causaram uma angústia no peito. Estar nessa posição de assumir ou não a matilha, seria menos pesado se o motivo de ter essa decisão nas mãos, não fosse a partida de Jacob.

 – Seth… – respirei fundo. – Não posso, Jacob nasceu com essa missão, está em seu dna, não no meu. Já é difícil estar na posição de ser a única fêmea com essa natureza, quanto mais me tornar alfa, sem ter idéia de quanto tempo farei isso. – fiquei de costas.

 – Você também tem em seu DNA algo único, estou certo que nasceu para se tornar algo maior, Leah. Jacob sabia disso melhor do que qualquer um nesta reserva. Ou teria pedido a Sam, que ficasse com a matilha novamente. Assuma a matilha por mim, por você. Por todos ao redor.

 – Você não entende  como essa decisão é importante, Seth? Não faço a menor ideia de quanto tempo ficaria fazendo isso. Jacob desapareceu, me deixou aqui com a responsabilidade que é exclusivamente dele. Essa foi a atitude mais injusta dele. – esta é a primeira vez que eu penso em toda essa situação dessa maneira. – Virou as costas, achando ser a única pessoa com direito de sofrer, e eu? Ele foi um grande egoísta e não pense sobre a atitude dele de outra forma, ou estará seguindo seus passos, e não quero vê-lo assim. – me senti ofegante, e livre ao mesmo tempo.

 – Me desculpe Leah, não falarei mais sobre isso, não cabe a mim, e a ninguém esse tipo de decisão, só me preocupa é te ver sozinha sem a sua família, pois a matilha é exatamente isso, nossa família! – Seth, está com um olhar derrotado.

 – Eu entendo sua preocupação, realmente. Só preciso de liberdade para sofrer, para me levantar, sem várias mentes lendo minha dor.  – pensar em tudo isso neste momento, é extremamente pesado e inviável. – Mas saiba, não o deixarei sozinho, e nada vai feri-lo. Eu prometo. – o abracei forte.

A vontade opressora de levá-lo para longe, e em segurança, é imensa. Contudo, arrancá-lo de toda essa confusão, não é uma opção, e estarei ao seu lado. Mesmo sabendo o quanto vai me custar. 

Ficamos ali por um tempo indeterminado até que ouvimos passos velozes se aproximando.

Edward se aproximava trazendo Nessie em seus braços.

 – Desculpe atrapalhar vocês, mas Reneesme, está impaciente Seth. – ele não ousou me encarar, contudo, já sabe cada insulto, passeando nos meus pensamentos, e presos em meus lábios, por respeito a presença da menina.

 – Venha pequena. – ela saltou graciosa nos braços de Seth. Mesmo tentando, é impossível não se encantar com Nessie.

Ela estendeu seus bracinhos em minha direção.

Minha respiração acelerou. Mantenho sempre uma distância segura dela, mesmo tendo contato nesses meses. Jamais a  segurei, ou troquei mais do que algumas palavras com ela.

Senti minha garganta secar. Sua expressão pedindo meu colo é encantadora. 

Com um receio imenso estiquei meus braços e ela se ajeitou graciosamente neles.

Nessie, colocou a mãozinha em meu rosto, e o  choque inicial causado pelas imagens enviadas a minha mente foi inevitável.

Quando ela percebeu minha postura tensa, começou a enviar imagens de como sua rotina havia mudado com os últimos acontecimentos. Ela não diz a ninguém o que sabe sobre os Volturi, mas está ciente do perigo que corre, e sua preocupação é saber se as pessoas que ela ama, também estão se arriscando por ela.

Olhei em seus olhos claros, e ela sorriu, e mudou completamente o foco, mostrando como ama caçar e como em sua visão, Seth sempre trapaceia. Mostrou como me enxerga, mesmo sem conversar comigo… em sua visão sou uma figura que transmite poder e segurança. Ela assentiu.

 – Sou apenas um ser humano, que não sabe ao certo como agir. – pensei.

Ela pareceu pensar por um segundo, então tocou meu rosto novamente, mostrando que certa vez ao passear com Seth, eles me viram a distância, estava sentada no pico dos Penhascos, alheia a presença deles, a expressão claramente de quem estava sofrendo, mas a postura, de quem jamais desistiria de lutar na vida, e inclusive naquele exato  momento estava fazendo isso.

Me ver através dos olhos dela, foi realmente algo novo.

Então, as palavras dela me pegaram de surpresa.

 – Quem nasceu para liderar não deve se curvar Leah.— sua voz melodiosa e suave, quase me hipnotizou por alguns segundos.

Nessie, saltou graciosa e encantadora para os braços do meu irmão, acenando enquanto partia em seus braços.

Fiquei ali parada em choque. Como uma criança de alguns meses pode ser tão enigmática?

Entendi neste momento o que os Cullens vão enfrentar para defendê-la.

E o que vou enfrentar para fazer o mesmo. Proteger Reneesme é proteger Seth. E vendo os pensamentos puros, e sua preocupação com meu irmão, sei que a preocupação  da pequenina com ele, é imensa e o principal, é verdadeira.

A capacidade de entender esse tipo de coisa me irrita. Gostaria de não fazê-lo, ou simplesmente não me importar. Porém, graças ao imprinting de Seth, eu me permiti entender uma criança de quatro meses que fala, e me deixa impressionada com suas palavras.

 – Droga de vida. – explodi e deixei minha Loba dominar. 

Já tinha consciência que decidir permanecer seria difícil. Só espero não ser impossível.

 

......................

 

“E nada é tão ruim, que não possa piorar!!!

Não gostaria de admitir, contudo, me arrepender em estar aqui é inevitável.

Mesmo mantendo distância desde a minha volta, tenho as imagens dos treinos com os sanguessugas ao vivo pela mente de Sam. Existem criaturas milenares ali, passando conhecimento e estratégias importantes para a sobrevivência da matilha. Entretanto, existe Isabella Swan. E existe meu ódio por ela, que mesmo já estando morta, me faz ter o desejo diário de fazer o trabalho bem feito desta vez. Por esse motivo só acompanho os treinos pela mente de Sam.

Ficar em casa também não tem sido uma tarefa fácil. Pois enquanto eu achava que não ouviria o sobrenome Swan, nunca mais dentro da minha casa, tenho a infelicidade de ser informada sobre o namoro da minha Mãe, com Charlie. Como se o imprinting já não fosse motivo suficiente para me enlouquecer, agora tenho como padrasto, o pai da Swan. Uma maravilha. E o tipo de coisa que certamente só acontece na minha vida.

No meio de todo esse caos, uma única pessoa me faz ter calma e momentos leves. Kate e suas ligações diárias, após o vilarejo receber torres de comunicações. 

Ela me conta cada detalhe dos preparativos de seu casamento com Brian que vai acontecer em dois meses.

Espero de coração ter resolvido tudo por aqui até lá, pois Kate já se tornou uma das pessoas mais importantes na minha vida. É a parte normal e completamente humana do meu dia.

Gostaria de convidá-los para o Natal, ela e toda família, mas estamos às vésperas da visita dos sanguessugas italianos, e esse convite torna-se inviável.

 – Leah, você está pronta? – minha Mãe, chamou minha atenção para o que estou fazendo neste momento. 

 – Não! – fui taxativa. 

Observava meu guarda roupas sem a menor vontade de me vestir.

Ouvi o pisar duro, de quem está irritada em direção ao meu quarto. Minha Mãe abriu a porta.  

 – Leah! Não acredito, você ainda não se vestiu. – ela olhava indignada meu corpo enrolado a uma toalha.

 – Eu não tenho obrigação de ir lá. Prefiro passar o Natal aqui. Com o aroma agradável no ar. Cheiro de gente morta na sala me irrita Mãe. – debochei.

 – L eah Clearwater vista-se imediatamente todas as comidas estão aqui, e já estamos atrasadas. – sua expressão não era nada feliz.

 – Comidas para quê? Os convidados estão sem fome a algum tempo a não ser que...– ela não me deixou finalizar.

 – Os garotos da Matilha estarão lá, inclusive seu irmão. – golpe baixo.

 – Tá certo, Mãe. Vou fazer sala e sorrir para seu namoradinho e a filha sanguessuga dele. – peguei o jeans novo e a blusa presentes de dona Sue para ir à casa dos Swan.

Desci contrariada e ajudei minha Mãe com o batalhão de comidas, preparadas para a ceia. Fui calada durante todo o caminho.

Ao chegar notei que só os meninos da reserva estavam por ali no momento. Agradeci aos céus por isso. Eles riam e conversavam animadamente. Nos ajudaram a descer as comidas do carro, e enquanto minha Mãe colocava a mesa Charlie se aproximou. Podia ouvir as batidas frenéticas do seu coração. Sua respiração irregular.

Continuei fitando o horizonte pela janela da sala.

 – Olá Leah, posso me juntar a você? – sua voz era firme.

 – Você está na sua casa Charlie, então... – fui seca.

 – A casa é de vocês, e longe de mim querer invadir espaços aqui. – ele parecia tranqüilo, e se eu não estivesse ouvindo as batidas de seu coração, acreditaria facilmente nesta aparente calma. 

Assenti sem olhar em sua direção. O silêncio entre nós tornou-se constrangedor.

 – Bom… vou verificar se a minha Mãe, precisa de ajuda. – desculpa esfarrapada, de quem não quer encarar nenhum tipo de constrangimento esta noite.

— Leah espere. – meus pés travaram no chão. 

Respirei fundo e virei na direção de Charlie.

 – Não tivemos a oportunidade de conversar, e sequer consegui entender como você está lidando com essa nova informação, do… do… – ele tossiu baixinho, tentando desfazer o bolo na garganta.

 – Do namoro de vocês. – completei a frase, antes que ele sufoque com a palavra, e também por achar que está ficando patético o constrangimento adolescente dele. 

 – É isso. – Charlie se recompôs. – Eu realmente respeito sua Mãe, sua família e quero fazer Sue, feliz.

Respirei fundo sem entender realmente o motivo da conversa. A verdade é, Charlie é uma excelente pessoa, mas é pai de alguém que eu mataria, caso pudesse.

Vi alguns meninos da matilha,  ficarem paralisados. Eles estão há alguns metros de distância, mas, podem ouvir claramente essa conversa.

 – Charlie, essa conversa é completamente desnecessária.  Você não precisa da minha aprovação ou simpatia. Precisa apenas ter um bom relacionamento com a minha Mãe e mais ninguém. – tentei ao máximo não parecer rude.

 – Eu não estou vim buscar aprovação Leah. Nem eu e bem menos sua Mãe, temos idade para isso. Estou aqui por respeito. Por amor, por sentir que você é minha família, e por essa razão exclusivamente não quero vê-la infeliz, ou te obrigar a me aceitar. Vim buscar compreensão e amor, e deixar claro que são esses meus sentimentos por você. E por esse motivo jamais vou invadir seu espaço. – as palavras dele me desconcertaram.

Minha resistência não tem nada a ver com Charlie, ele segue sendo exatamente da forma como sempre o vi. Porém fazer parte da mesma família dela, Bella… é algo absurdo e inconcebível.

Contudo sigo querendo a felicidade da minha Mãe, acima da minha, e Charlie é integro e sincero.

 – Eu só preciso de tempo Charlie. Só isso. – fui sincera.

 – Eu entendo. Saiba que estarei aqui sempre, e não só como namorado da sua Mãe e sim como um amigo. – Charlie é  uma boa pessoa, pena a própria filha nunca ter se importado com isso.

Assenti, e caminhei para o lado de fora, preciso respirar ar puro.

Fui até a parte dos fundos da casa, onde se encontra o menor número de pessoas. O lugar está completamente iluminado com pequenas luzes brancas, que deixam o ambiente sereno e tranquilo. Há uma mesa imensa e toda decorada com objetos natalinos no centro do quintal. 

Sorri pensando na saída criativa encontrada pela minha Mãe, para não manter Lobos e Vampiros em um ambiente fechado por muito tempo.

Posso respirar  com tranqüilidade aqui. Por incrível que pareça a noite está agradável, e consigo ver algumas estrelas no céu!

Ouvi um carro parando em frente a casa. Apenas dois corações batiam ali. Um muito mais acelerado que o de um ser humano comum, acompanhando as batidas suaves e tranquilas de Seth.

Meu coração disparou frenético por identificar os passos entrando na casa.

 – Boa Noite. – a voz melodiosa e elegante dela, me causou uma onda de calor, fazendo o sangue ferver nas minhas veias.

O cheiro adocicado deles, já causa um imenso desconforto nas minhas narinas. 

Ouvi passos leves e acelerados em minha direção. Me virei e peguei Nessie no exato momento em que ela se lançou em meus braços.

 – Peguei. – ela gargalhou, tocando meu rosto.

 – “Feliz Natal Tia Leah”.

Gargalhei com a forma debochada usada por ela para me chamar de tia. 

 – Tia? Nada disso, me chamando assim pareço bem mais velha do que realmente sou. – ela sorriu divertida. – Como somos amigas, você pode me chamar de… de Leah mesmo. – ela gargalhou. 

 – “Só Leah, então”. – ela concordou.

Bella parou há poucos metros, olhando em nossa direção.

Minha expressão alegre desapareceu. Fugiu sem minha permissão ou controle. O desejo de esquartejá-la não desaparece de modo algum.

 – Venha, meu amor. – ela esticou os braços em direção a Nessie. – Vamos trocar presentes. – não desviamos nosso olhar uma da outra.

Nessie saltou graciosamente do meu colo, e seguiu em direção a Mãe. No meio da caminho se virou e disse sussurrando;

 – Venha Leah, trouxe algo para você” – seu tom de voz é carinhoso. 

— Claro. – meu maxilar completamente travado a cada passo em direção a sala, e mais próxima a Bella.

Meus olhos e pensamentos contendo um aviso, para nenhum deles chegar perto a ponto de nos tocarmos, ou perderia o controle.

Bella saiu do caminho e entrou. Dei a mão para a pequena Reneesme, e caminhamos juntas em direção à árvore de Natal.

Minha Mãe e Bella serviam taças de Champagne.

Bella estendeu a bandeja em minha direção.

— Eu juro que arranco a sua mão caso a estenda em minha direção novamente. – sussurrei tentando manter o sorriso em meu rosto.

Ela trincou os dentes.

Brindamos o Natal e a união das pessoas ali. Não levantei minha taça, é impossível essa atitude diante algumas pessoas nessa sala.

A troca de presentes foi tranquila. Todos trouxeram presentes e mimos para Nessie.

Minha mãe presenteou cada um dos meninos da Matilha. Eles ficaram felizes, e estavam tentando se divertir.

Nessie ganhou da Mãe, um lindo colar. E não pude deixar de me divertir com a expressão de Edward quando Seth presenteou a pequena com um anel de proteção, pois,  certamente o sanguessuga deduziu se tratar de algo relacionado a compromisso, sua expressão não foi nada feliz.

Nessie deu a Seth, uma corrente de ouro com um pequeno pingente contendo uma menina ao lado de um lobo. Seth é claro, ficou todo orgulhoso.

Charlie ganhou um relógio da filha, e da neta um porta-retratos com uma foto dos dois.

Nessie caminhou em minha direção com um embrulho em suas mãos. Antes de me entregar, ela se ajeitou em meus braços, e me entregou o pacotinho, aguardando ansiosa que eu o abrisse. 

Ao rasgar o papel, havia uma delicada caixinha revestida de veludo vermelho, dentro dela tem uma pulseira de ouro, e cinco pingentes. Segurei em minhas mãos com cuidado. 

Observei cada um dos pingentes com atenção. Um lobo, uma menina, um sol, um coração, e o último pingente é um símbolo. Olhei para Nessie, que tinha um olhar ansioso em minha direção.

 – Cada um desses pingentes contém um significado, certo? – ela assentiu e colocou as pequenas mãozinhas no meu rosto explicando o significado de cada pingente na pulseira.

 – A loba, é você, uma líder natural. – ela tocava cada pingente. – A garotinha sou eu, pois, sempre estarei ao seu lado. O coração servirá de bússola, nos guiando em caminhos certos sempre. – ela tocou o símbolo desconhecido. – Este símbolo traduz o que vejo em você, significa força. E o Sol, nos mostrando que independente de qualquer coisa, sempre há um novo dia, um novo caminho para novas escolhas.”

Senti uma emoção avassaladora, e meus olhos traiçoeiros encheram de lágrimas.

 – Obrigada, por isso Nessie. – depositei um beijo em suas  bochechas rosadas. Seth, caminhou orgulhoso em nossa direção, e estendeu seus braços para Nessie. Antes dela esticar as mãozinhas para ele, me mostrou uma última imagem, e nela estou liderando a matilha.

 — Eu a vejo desta maneira, é natural em você. E mesmo que não aceite, está nas suas veias.

Nessie depositou um beijo no meu rosto, e se acomodou nos braços de Seth.

Neste momento, tenho consciência de algo que não controlei porém, aconteceu… Tenho sentimentos sinceros por essa criança, e jamais farei algo que cause dor e sofrimento. Respirei fundo e discretamente sai dali, não quero estragar a noite de ninguém. Deixei meus sapatos na porta. E corri em direção a mata. Corri o mais rápido que pude, tentando não explodir nas minhas roupas novas. Mesmo estando distante, ouvi uma voz irritante.

Era a voz de Edward, ele seguia alguém com passos velozes, pedindo que ela não viesse. 

Corri o mais rápido que pude tentando não me transformar. Escutava os passos ágeis dela pela mata.

Parei no caminho para os penhascos, tentando controlar meu corpo, que já estava preparado para explodir, e deixar minha Loba dominar. Tinha consciência absoluta da proximidade dela… Bella.

 – Vá embora já. – meu tom é de alerta. 

— Não adianta me ameaçar, preciso falar com você. – a voz dela me deixa ainda mais irritada.

 – Não temos nada para conversar Bella, entenda isso de uma vez por todas. – meu nervosismo crescia em meu peito, e estou tentando não me transformar, chega a doer o esforço para isso não acontecer.

— Sei o quanto você me odeia Leah… – a interrompi.

— Esse é o problema, você não tem a menor idéia do quanto. – ela suspirou, e ignorou os alertas anteriores.

 – Eu sinto muito por tudo, e acredite não quero nutrir esse sentimento em você, pois, assim como devo muito a Jacob, devo muito a você e Seth. Não posso fazê-la respeitar minhas escolhas Leah, e realmente só mudaria minhas atitudes com Jacob. Fui egoísta, e sei o quanto foi injusto com todos, eu só não conseguia controlar. – ouvir o nome dele sendo dito por ela, me corta tão fundo que eu poderia sangrar. 

 – Você não faz idéia como o matou, não é? Não estava lá quando ele partiu. Não viu de camarote o estrago e o dano que causou… Você o destruiu! Fazendo isso levou todos que o amam junto. Billy, eu, a matilha. Entenda por quais motivos jamais teremos nada para conversar. Não espere tolerância ou simpatia, você não as terá, pois eu não aguento sequer olhar você, e ver como o esforço feito por Jacob, para manter sua humanidade foi ignorado. Então se afaste, pois, eu não farei o mínimo esforço para manter sua imortalidade.

Corri em direção a reserva, fui tirando minha a blusa quando o nome dito por ela travou meus pés na terra.

— Eu quero proteger Seth, tanto quanto você, Leah! Essa conversa é sobre isso. – trinquei os dentes. – Eu sei como você o ama. E sei que ele fará tudo para proteger Nessie, e você fará tudo para proteger os dois, pois agora eles são um só e você sabe disso.

— Não ouse usar o amor que sinto pelo meu irmão, como escudo. –me aproximei furiosa.

— Jamais faria isso, eu amo Seth, jamais o usaria para nada. Me ouça. – ela não se moveu um milímetro e sua expressão é determinada.

— Do que diabos, você está falando? – estou confusa e irritada.

— Sua mente é a única que Edward não lê. Você está sempre longe e Sam, não compartilha mais seus pensamentos. Leah, você é a única pessoa que pode me ajudar a proteger Reneesme e Seth caso nossas tentativas de acordo com os Volturi falhem. – ela está séria.

— Explique-se logo. – a preocupação com Seth, é maior que meu ódio por ela.

— Antes de desaparecer Alice, me deu algo, uma espécie de plano alternativo para proteger Nessie e Seth. Incluir você neste plano é fácil. Eles estariam seguros ao seu lado Leah. – pela primeira vez, e mesmo sem querer notar isso, vi desespero e dor em seus olhos carmim.

Analisei a expressão dela. Respirei fundo, e coloquei minha blusa.

— Que plano é esse? – a dor que essa pergunta me causou é imensa, pois para existir um plano alternativo, os Cullens, não acreditam em chances de vitória. 

Bella pediu um segundo, ligou para Edward, e o tranquilizou, ao desligar, respirou fundo parecendo cansada, e começou a detalhar o que estava planejando. Ouvi tudo calada, sem me mover.

Quando ela terminou minha mente estava paralisada. E meu coração parece bater em um ritmo mais lento.

Ela está aqui parada na minha frente, oferecendo salvação ao meu irmão, e mesmo assim me sinto pesada, errada em simplesmente ouvir, pois fazer isso é aceitar que não temos a menor chance, caso os italianos não parem para escutar as explicações sobre Nessie. 

Meu coração esta mais lento realmente, pois a dor que essa realidade  trouxe, o deixou pesado. 

Não importa o quanto Seth fique protegido e ele ficará. Não consigo dizer não a isso, contudo a possibilidade de perder os meninos da matilha é pavorosa.

Perdi o ar por alguns segundos.

— Leah, você está bem? – Bella deu dois passos para frente.

— Não ouse se aproximar. – rosnei. – Céus, como é possível vocês causarem tantos problemas e destruições ao redor, e não admitirem que isso não os tornam melhores que os vampiros que matam humanos apenas para se alimentar? – não consegui conter as lágrimas que rolaram pelo meu rosto.

— Leah, eu… – não a deixei finalizar a frase.

— Fazer o que estou prestes a concordar em fazer, é agir da mesma forma… Mas, fiz uma promessa a minha Mãe, de manter Seth em segurança, e vou cumpri-la. – passei as mãos no rosto, secando as lágrimas. – Só me diga o que fazer, e estarei lá. – afirmei sem emoção nenhuma na voz.

Não tenho muitos medos na vida. Lido com a maioria deles diariamente, contudo, a possibilidade de ver os que amo sendo feridos, é o pior dos pesadelos. É uma dor profunda, e que acaba de abrir um buraco no meu peito.

Esse plano, é a confirmação que muito provavelmente, vou carregar essa dor eternamente. Mas preciso proteger Seth, não tenho outra alternativa.

Bella me deu detalhes do que faríamos. Onde eu deveria pegar Seth e Nessie.

Será de extrema importância minha concentração em não deixar meus pensamentos saírem de foco. Sam, não pode ouvi-los de forma alguma, isso é vital neste momento. Pois Aro pode ler a mente de Edward.

Bella, explicou cada detalhe, pois cada um deles, é importante para garantir a segurança dos dois.

Ouvi tudo calada. Tomada por um torpor insuportável.

— Estarei lá. – é só o que consigo dizer.

— Obrigada. – Bella, agradeceu aliviada.

— Não agradeça, nada do que estou fazendo é por você. Protejo meu irmão somente, e proteger Reneesme é fazer isso. – menti, pois, Nessie já conquistou um pedaço do meu coração. 

Me virei para adentrar a mata e tentar assimilar toda essa maldita informação.

Entretanto, a voz melodiosa dela, travou meus pés novamente.

— Jacob vai voltar Leah. Eu prometo trazê-lo de volta se sobreviver a todo esse caos. – tentei ignorar, mas ouvir o nome de Jacob, é sempre algo forte, e não controlo minhas reações. 

— Bem, para segurança do que vamos fazer, vou me manter afastada. – empurrei as palavras.

— Leah, caso aconteça algo, diga a ela, que jamais houve um amor maior que o meu por ela. Faria tudo exatamente igual em mil vidas, para trazê-la a este mundo. – a emoção estampada no rosto pálido e sem vida dela.

Bella é uma mãe lutando por alguém que não está disposta a perder, como eu não posso perder Seth.

— Direi, eu prometo. – adentrei a mata lentamente, e antes de iniciar minha corrida parei. – Não se preocupe, caso seja necessário cuidarei muito bem da pequena, vou lutar por ela como farei por Seth. – Bella assentiu, com um sorriso sem alegria no rosto.

— Eu sei. Você a protegeu antes mesmo dela nascer, e por isso estamos aqui agora, não posso confiar a vida dela a mais ninguém. Obrigada.

Assenti. Entrei na mata e corri.

Explodi nas minhas roupas, deixei minha loba dominar tudo ao nosso redor. Hoje não vou tentar lidar com a minha dor como humana… hoje não.

 

………………..

 

Terminei de arrumar as malas da minha Mãe. Enquanto ela observa a cena calada.

Ela sabe que algo está errado.

Escutei buzinadas urgentes na porta.

— Ela chegou, vamos! – segurei as malas e desci as escadas lentamente.

Observando cada movimento dela, não sei se um dia voltarei a vê-la.

Seth estava de mãos dadas com nossa Mãe.

Tentava tranquilizá-la.

Abrimos a porta e Kate, já esperava ansiosa.

Minha Mãe segurou meus braços emocionada.

— Me prometa Leah, por favor. Prometa que eu verei você e Seth novamente. – ela pediu enquanto me abraçava. 

Apertei ela em meus braços, contendo as lágrimas presas. Odeio mentir, porém, não posso partir seu coração ou colocá-la em risco.

— Escute, acredite em mim, tudo dará certo. Eu fiz uma promessa a você e passarei a vida cumprindo, este é o compromisso mais importante da minha vida Mãe. Em qualquer lugar que você estiver, ou Seth e eu, saiba, você é o motivo de tudo dar certo, a razão pela qual vamos passar a vida lutando juntos. Eu te amo Mãe. – ela me apertou em seus braços.

— Eu amo vocês. – ela me envolveu em seus braços.

Seth nos abraçou.

— Vai dar tudo certo Mãe, você voltará em breve, todos estaremos bem.

Kate nos observa emocionada.

— Vamos. – cada parte do meu corpo dói, em empurrar essas palavras. – Vocês estão atrasadas para buscar o Xerife. 

Caminhamos ao lado dela, até a entrada do carro.

Kate se aproximou.

— Leah, está tudo bem? – ela percebeu a emoção neste momento.

— Está Kate, minha Mãe, está emocionada em costurar seu vestido de noiva, e também por conta da data, o aniversário de morte do meu pai se aproxima, e ainda é uma data difícil.

Kate respirou fundo.

— Vou deixá-la à vontade, e sair daqui vai ajudar. – a energia no sorriso de Kate, é simplesmente contagiante. – Tem certeza, que não vai hoje? Vamos! – ela lançava seu melhor olhar pidão. 

Sorri com esse gesto dela, essa pode ser a última vez que a vejo.

A abracei emocionada. Kate não faz ideia da importância que conquistou em minha vida. Me salvou de mim mesma, quando eu já estava cansada de lutar sozinha, contra a única pessoa capaz de me derrotar… eu mesma, e agora está novamente salvando parte vital na minha existência, sem saber.

— Não posso Kate, Seth e eu, temos assuntos a solucionar por aqui, assim que tudo estiver resolvido, vou encontrar vocês. – ela assentiu. 

Antes de entrar no carro a impedi.

— Obrigada por tudo Kate, de coração. Você me ensinou o sentido de amizade, e a importância de permitir receber afeto . Você me salvou, Kate, oferecendo nada mais do que amor. Da forma mais simples e honesta. Jamais vou esquecer isso. – lutei desesperadamente para não chorar.

Kate me abraçou.

— Leah! – seu coração está disparado. – O que está havendo? Confie em mim.

— Eu confio. Por este motivo, pedi para você levar meu bem mais precioso. Cuide dela, e de Charlie, enquanto eu estiver longe. – pedi sem ter muitas forças para continuar mentindo.

Kate assentiu. Visivelmente desconfiada.

 – Eles vão ficar bem, vão se divertir pode ter certeza. – ela entrou no carro, o olhar perdido. – Bem… vamos quero fazer a primeira parada antes de escurecer. 

Seth estava ao lado da minha mãe, no banco do passageiro. Kate ligou o carro e partiu.

Seth e eu nos abraçamos e ficamos olhando o carro desaparecer na estrada que levaria a casa de Charlie.

Estou com medo. Um medo real de nunca mais ver minha Mãe.

— Vai dar tudo certo. – Seth tentou me tranquilizar.

— Não temos certeza disso Seth. – minha voz parece um sussurro.

— Temos que acreditar que vai, Leah. – Seth apertou meu ombro. – Precisamos ir agora.

Assenti.

— Vá na frente, vou acompanhá-los até fora da cidade e garantir que eles saiam da rota dos sanguessugas em segurança.

— Vai dar tudo certo. – ele repetiu, e me abraçou novamente. O apertei em meus braços.

— Sim, vai! De uma forma ou de outra. – sai do aperto de seus braços e segui em frente.

Acompanhei o carro de Kate, com Minha Mãe e Charlie dentro, até ela entrar na rota que sai dos limites das cidades na região. Sabemos que a rota escolhida pelos italianos, é oposta.

Comecei minha corrida retornando à reserva. Não posso cruzar nenhum lobo, então escolhi o lado do sanguessugas do tratado, para não correr riscos.

Bela, deixou tudo pronto na casa de Charlie.

Posso sentir a energia mudando. Tenho certeza que os italianos já estão em Forks.

Entrei na casa de Charlie, e tirei a roupa que escondi essa noite no quarto da Swan, o aparelho de telefone descartável está em cima do guarda roupas.

Liguei para aguardar Bella ligar. Meu estômago está revirado, com o simples pensamento de estar aqui enquanto todos estão lutando para viver.

— Não posso fazer isso. Céus. – uma sensação nauseante percorreu meu corpo todo.

O celular tocou.

— Estamos prontos, fique atenta ao seu celular. – Bella disse sem emoção alguma na voz melodiosa.

Ao desligar ouvi o uivo de Sam, preencher o céu, em alerta para a matilha.

Os sanguessugas já estão aqui. 

O celular tocou novamente, desta vez uma mensagem.

“ Siga em frente, cada passo do combinado. Cuide dela como eu faria. Obrigada mais uma vez.”

 – Sem acordos. – senti um vazio opressor. Corri mata a dentro, na forma humana, como combinado. Em poucos minutos, cheguei à mansão dos Cullens. Corri até o quarto de hóspedes, onde Bella escondeu passaportes. Abri o forro do armário, e peguei a bolsa escondida uma considerável quantia em dinheiro e os três passaportes. Sorri sem humor algum ao ler os sobrenomes nos passaportes; Wolfs.

Desci e entrei no carro indicado por Bella, para chegar até o ponto combinado.

Seth vai seguir com esse carro sozinho, por ser mais veloz levarei Nessie, nas minhas costas até o Alasca, onde vamos nos encontrar, e um avião particular nos aguarda. 

Desci do carro e abri o porta malas, ali encontrei uma mala, com roupas novas para disfarçar Reneesme. 

Parece que não respirei desde que comecei a executar este plano.

 

 

 

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Ao fechar o porta malas, a pulseira dada por Nessie soltou-se do meu punho.

Quando a segurei posso jurar que a vi diante meus olhos. Reneesme, e sua voz melodiosa: “O coração servirá de bússola, nos guiando em caminhos certos sempre. Este símbolo traduz o que vejo em você, significa força.” 

Pisquei os olhos algumas vezes, para ter certeza que ela não está realmente ali.

Levei minhas mãos ao peito. 

Não sinto que minha escolha está sendo feita com o coração. Estou agindo por medo de perder as pessoas que amo. Quero proteger Seth, proteger Nessie. Mas como farei isso fugindo o tempo todo, e deixando a força da minha família para trás? O que essa atitude ensinará aos dois?

Deixar a matilha agora é duvidar da nossa força. E pior colocar a vida deles em perigo para me auto defender, e blindar de algo que não fiquei para mudar. 

Nem mesmo Seth, arriscando-se, a perder a vida, Reneesme duvidou da força que os irmãos dele tem. Da garra, coragem, e amor um pelo outro!

Senti algo poderoso tomar conta de cada mínima parte no meu corpo. Aquela sensação de encaixe, de pertencer ao lugar, de ter a certeza que em mil vidas, faria escolhas que vão te levar a trilhar o mesmo caminho.

A força e a confiança me dominam de forma avassaladora.

Novamente pude ouvir a voz suave e melodiosa, de Nessie: 

“ Quem nasceu para liderar, não deve se curvar”.

Não nasci para me curvar, fugir ou temer nada. Estou aqui para proteger e cuidar de pessoas inocentes. Sejam elas de que natureza for.

Nessie é inocente, meu irmão também, todos da matilha, e nessa história até os Cullens são. 

Corri, abandonando ali qualquer dúvida, medo, ou covardia. Não haverá derrota caso haja um confronto. Não nossa.

Em segundos alcancei a clareira e pude ver a postura ofensiva que os membros da guarda de sanguessugas e dos Vampiros na clareira adotavam. Seth estava ao lado de Bella, e ela pedia para ele, tirar Reneesme dali.

Parei no topo da colina, permitindo a conexão com Sam.

“Neste momento assumo a posição deixada sobre minha responsabilidade pelo filho de Ephraim Black, estou me tornando aquilo que a matilha dele precisa até o seu retorno.” 

Senti uma força avassaladora correr em minhas veias. 

Meu uivo, ganhou os céus. Forte, poderoso, como só um alfa sente.

Sam ficou parado, me observando, e visivelmente orgulhoso. 

Em segundos senti as  mentes de Embry, Collin. Quill e Seth se conectando a minha.

“Quem nasceu para liderar não deve se curvar. E esta matilha não se curvará a esses sanguessugas nojentos. Se eles quiserem lutar, conhecerão a derrota hoje.” — houve apenas algo em toda a minha vida mais fortes e certos que essas palavras.

Meu amor por Jacob.

Farei o que ele confiou a mim. Não por ele, e sim por mim.

Cuidarei da sua matilha. E de todos ao meu redor.

Jamais havia pensado como Alfa…. até o dia de hoje!!!

Neste momento, já consigo sentir o poder que essa decisão trouxe.

Daqui para frente toda atitude minha, envolverá o bem estar de cada Lobo da minha família.

E não fugir, ou me curvar a sanguessugas, é a atitude mais correta não só como Alfa, mas também como parte dessa família.


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Notas finais do capítulo

CAPITULO EDITADO EM JULHO DE 2022