O Nosso Elo - A Ajuda. escrita por Dan Rodrigues


Capítulo 7
Revelações - Susan


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu acho que vocês vão super amaaar esse cap! Me esforcei muito para que ele tivesse uma boa narração, além das incríveis coisas que acontecem, que eu sei que vocês vão ficar de boca aberta. E no final, tem um gostinho de quero mais, que eu gosto de deixar sempre!
Enjoy... rs!



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7- Revelações. Susan

Eu só tinha certeza de duas coisas. Primeiro, eu estava com medo. Segundo, tudo que eu achava que sabia sobre John estava prestes a mudar completamente.

Eu não sei se consigo explicar direito o que se passava por minha cabeça. Era uma mescla de medo, e indecisão que nem eu compreendia. E talvez, tudo aquilo só fosse mera ilusão, por que algumas siglas apenas, não explicam nada.

Eu fui me deitar preocupada, e com o coração na mão. E se eu realmente estivesse gostando de um bandido? “Oh my God!” a minha trilha sonora agora é “Criminal” (E eu acho essa música irritante!).

Naquela noite o cobertor parecia um grande peso sobre mim. Minha mente não queria me deixar adormecer, cheia de preocupações, medos e inseguranças. Era uma noite fria, mas o suor descia pelo meu pescoço como indicação do medo que eu sentia. Eu mudava de posição, tirava o cobertor, levantava, ia até a cozinha, voltava, mas eu não conseguia dormir. O sono parecia não chegar, não com John naquele apartamento.

Quando finalmente consegui adormecer, já era tarde da noite. Não consegui impedir que o sono, que demorara chegar, fosse ainda perturbado por sonhos estranhos.

Eu estava em um tipo de caverna. Não entendi bem o que era aquele lugar. Mas era assustador. A luz era pouca, e eu não conseguia ver de onde vinha. E, além disso, tinha um tipo de névoa que se espalhava a uns trinta centímetros do chão, dando àquele lugar uma aparência grotesca e arrepiante. O único som que eu escutava era o da chuva, que vinha de fora da caverna, caindo aos poucos, de forma que o som de cada gota ecoava ali dentro.

Um vento frio dilacerante me envolveu, e eu me abracei para tentar espantar as sensações que ele havia me causado. Senti que estava descalça. Foi quando eu olhei para baixo e percebi que meus pés, ainda imersos naquela névoa, flutuavam. Eu queria sair dali. Eu precisava encontrar uma forma de sair dali. Decidi seguir o som da chuva, talvez me levasse a alguma saída, se é que havia alguma saída naquele lugar. Eu me inclinei para frente, tentando me mover, mas meu corpo não saía do lugar, eu estava presa. Meus pés pareciam estar presos por correntes invisíveis. Eu tentei colocar os pés no chão, mas também não funcionou, nada se movia da minha cintura para baixo.

Foi quando eu vi.

Eram dois vultos, um dos dois usava algo como uma túnica amarelo-alaranjada, com algo como uma calda que esvoaçava como se fosse feita de fumaça laranja e que se misturava com a névoa fria de uma forma assustadoramente sobrenatural. E assim como eu os dois flutuavam. Mas eles, ao contrário de mim, conseguiam se mover, e estavam indo em direção ao fundo da caverna. A imagem dos dois estava ficando cada vez mais nítida. O cara da túnica aparentava ter mais ou menos uns trinta anos de idade, e estava levando uma garota, que era o outro vulto. Ela parecia querer fugir, mas o braço dele estava em volta ao dela, prendendo-a de forma que era quase impossível, e o que era mais estranho, eu não conseguia ver o rosto da garota.

Senti meu corpo começar a mover-se, enfim. Eu estava sendo levada para o mesmo lugar onde o homem levava a garota. Tentei voltar, mas era impossível, eu não tinha controle algum sobre meu corpo. Nem um dos dois ainda tinha percebido minha presença ainda, e disso eu tinha certeza, já tinham passado por mim sem ao menos virar o rosto.

– Aqui está, mestre. – A voz daquele homem soou forte e assustadora. Ele parecia estar gostando muito do que estava fazendo, mas eu não entendi por que. – A garota. – Ele soltou uma risada fria, que fez os pelos da minha nuca se arrepiar.

O cara da túnica falava com outro homem. Mas eu não via nem uma parte do corpo dele, só conseguia ver algo como um trono, onde ele estava sentado.

Meus olhos não se moviam, estavam parados, mirando apenas o homem da túnica, a garota e o trono. Eu estava com medo, é claro, mas logo percebi que eles não podiam me ver. Era como se eu estivesse dentro de um filme do poderoso chefão.

Eu não sabia o que era sentir medo até escutar aquela voz:

– Olá, garota. Vamos fazer o possível para que sua morte seja lenta, e dolorosa. – Ele ria, mas eu sentia que as risadas não tinham sentimento algum. A voz dele escondia uma amargura e uma raiva, como eu nunca vi em toda minha vida. O capanga começou a rir também. Ele sim estava gostando daquilo.

– Morte? – Perguntou a garota. No lugar dela, eu estaria gritando por socorro, mesmo sabendo que não havia ninguém por perto. Mas ela, não. A voz dela era firme, quase como se estivesse desafiando os dois. – Eu não tenho medo da morte.

– Ah não? – Perguntou o homem que estava sentado no trono, rindo como se aquilo fosse uma piada.

– Eu tenho medo do que você vai fazer.

– Quieta garota imbecil! – Disse o capanga, dando um tranco no braço da garota.

O homem do trono levantou-se e caminhou até uma mesinha de madeira, no canto da caverna. Pegou algo como uma barra de ferro, bem afiada, mas enferrujada, de uns trinta centímetros e ficou acariciando-a. Então eu pude ver ser rosto. Ele tinha uma aparência um tanto envelhecida, mas bela. Seus olhos eram de um azul vibrante, chamativo, e seu rosto bem feito, parecia ter sido esculpido em marfim. O cabelo loiro esvoaçante caia bem sobre um canto do rosto, o emoldurando, dando a ele um ar um pouco mais jovem do que o que ele aparentava. Mas sua expressão... Ele tinha um olhar pesado, e seus olhos vibrantes intensificavam isso. Seus lábios eram sempre contraídos, revelando a raiva que ele sentia. O rosto parecia duro, e sem movimento.

Ele dirigiu-se até a garota, com a barra na mão, e o capanga, já entendido o que ele ia fazer, prendeu os braços dela atrás do corpo.

– Vamos ver se você não tem medo disso!

Ele começou a enfiar a barra na barriga dela, lentamente, fazendo todo o esforço para derramar a maior quantidade de sangue possível. Ela tentava se afastar, mas o capanga a segurava por trás, prendendo os braços dela, para que ela não fugisse. Um bolo de sangue descia por um canto da boca dela. Os olhos dela estavam vazios, transpareciam sua tristeza, e as lágrimas caiam quase como se estivessem dançando ao som de seus gritos.

Mas... Tinha algo de estranho naquela garota (além do fato de ela ter mais coragem do que qualquer homem que eu já vi). Como eu não tinha percebido antes?! Meu ponto de visão mudou, e agora eu estava de frente para ela. A não ser pelo sangue que já manchava toda a blusa dela, e a barra de ferro atravessada em seu tronco, nós duas éramos idênticas. Seria eu, ali? Eu não sei.

Minha própria mente estava contra mim, querendo me enlouquecer. Eu logo entendi o motivo daquele sonho. Minhas conclusões sobre John me levaram a sonhar aquilo. Não era possível, John não seria capaz daquilo tudo! Eu tentava dizer a mim mesma que era apenas um sonho. Era apenas um sonho, apenas um sonho...

De repente, os gritos da garota começaram a ficar mais distantes. Meu corpo estava se afastando dali, e minha visão agora estava distorcida. A luz aumentou muito mais, e o cenário então mudou por completo.


– Susan! – Eu reconheci a voz imediatamente. – Susan! – Era Leila.

A manhã de segunda feira estava absurdamente clara. Levantei-me abruptamente, completamente encharcada pelo suor que ainda escorria pelo meu corpo. Vi de relance o despertador, que marcava 06h30min. Eu não podia acreditar naquilo, afinal, era apenas um sonho e nada mais... Era?

Corri para o banheiro e entrei batendo a porta. Abri o chuveiro, e deixei que a água escorresse pelo meu corpo lentamente, como se ela pudesse levar junto aquelas lembranças. Havia um congestionamento de imagens distorcidas em minha mente, não exatamente iguais às do sonho, mas no mesmo estilo. Era real demais. Era como se eu estivesse vendo algo que acontecera comigo, ou... Aconteceria?

“Isso é absurdo!” Eu dizia a mim mesma na frente do espelho. Eu só podia estar enlouquecendo. “Para de ser boba Susan” eu me repreendi, passando creme dental em uma escova “é apenas um sonho e nada mais!” Ver minha imagem no espelho me fez lembrar-me ainda mais. Era quase como se eu pudesse sentir o que aquela garota sentiu. Ou que o eu sentiria.

– Anda, Susan, nós vamos nos atrasar! – Gritou Leila, batendo com muita força na porta do banheiro, como se aquilo fosse me apressar.

No quarto, passei um pouco de base e corretivo para disfarçar as olheiras, além de um belo blush, já falei que amo blush? Vesti um jeans apertado, meu favorito, que deixa meu quadril maior, uma blusa, um All Star xadrez roxo com preto, e meu look estava completo. Eu estava pronta, exceto por uma coisa. Abri a porta do guarda roupas novamente, e senti o alívio, minha respiração solta em um suspiro longo, e peguei o pequeno envelope.


No carro, eu não parava de imaginar John apontando uma arma para mim, me mandando dirigir até um lugar (não sei onde) e fazendo algo – não me peça para dizer o quê – comigo e com Leila. Eu sei que é um absurdo pensar isso, considerando tudo o que John já fez por mim, mas eu não o conheço ainda, e de alguém que não se conhece, pode-se esperar de tudo.

Ao chegarmos, John saldou do carro e entrou na escola correndo, o que fez Leila sorrir e dizer:

– Nossa, ele mal pode esperar para entrar em uma sala de aula!

Bati a porta do carro, com os pensamentos longe dali. Percebia meu olhar vago, minha mente rondando por lugares desconhecidos, minha respiração pesada. O pequeno envelope dentro da minha mochila era um peso difícil de carregar. Eu precisava saber o que era aquilo, entender, saber a verdade sobre John, que estava mexendo tanto com minha cabeça.

Ao chegar à sala de aula, senti que não podia esperar. Eu precisava ler aquela carta, o mais rápido possível! Peguei o envelope dentro da bolsa, e usei a contracapa do livro de química como escudo, para que ninguém visse o que eu estava lendo. Com a mesma letra do envelope, o cartão dizia:

Aquilo parecia mais coisa de anime. Não entendi uma vírgula daquela carta. Eu precisava pesquisar.

Leila acendeu um de seus cigarros baratos e começou a fumar dentro da sala, ignorando as regras da escola, enquanto conversava com outras garotas sobre o quanto John era lindo, e algo sobre eu estar loucamente apaixonada por ele.

Em certo momento, todos os olhares foram voltados para mim. As garotas estavam me observando com olhares debochados. Até pensei que já soubessem o que eu escondia, mas considerando a forma como me olhavam, talvez elas estivessem apenas falando da minha forma de me vestir. Mas eu percebi o olhar de John sobre mim. Este estava sério, contido, quase como se tentasse calcular o que eu estava fazendo. Novamente tive uma súbita sensação de que ele pudesse ver através das coisas, e estivesse naquele momento enxergando através do livro, vendo a carta. Eu precisava sair dali. Eu tinha que ficar longe. Estava prestes a me levantar, quando o professor entrou na sala e começou a aula. Droga! Mas isso não me impediria. Fui até ele rapidamente dando uma desculpa qualquer para sair da sala, peguei o envelope e corri até a biblioteca, com muito cuidado para que ninguém me visse andando pelos corredores da escola.

Havia pouca gente na biblioteca, todos silenciosos, prestando muito atenção a seus livros e lições de casa. Caminhei até a parte onde ficavam os computadores. Havia um cara sentado a uma escrivaninha, lendo uma revista.

– Ahn, bom dia. – Saudei – Será que eu posso usar um desses computadores?

Ele jogou a cabeça para trás, e começou a me analisar de cima a baixo. Seus olhos azuis desciam pelo meu corpo, e eu não sei por que, mas fiquei com vergonha. Os lábios rosados abriram-se em um sorriso, e ele passou a mão nos cabelos negros, o braço musculoso movendo-se lentamente, revelando a lateral do seu tronco, a camisa apertada como se fosse de propósito, só para mostrar a marca dos músculos bem definidos do abdome. Ele não parecia o tipo de homem em que se confia para tomar conta de uma penca de computadores.

– Claro! – O sorriso dele abriu-se mais ainda. – Aquele ali. – Disse ele, apontando com uma caneta um computador no canto aposto à parede dele. Eu comecei a caminhar até lá.

– Mas... O que você está fazendo aqui, fora da sala? Você não faz o segundo ano? – As perguntas me fizeram parar abruptamente. Como ele sabia que eu fazia o segundo ano?

– Bem... – Falei, tentando encontrar uma desculpa convincente. – O professor me liberou para fazer uma pesquisa.

– Hmm. – Senti que ele não tinha acreditado, mas continuei, já que ele não me mandara voltar para a sala.

Primeiro, digitei “Sociedade de R. dos A.C.” no Google. Apareceu um site sobre Anjos Caídos, o que tinha até haver com o conteúdo da carta, mas eu ignorei, devido ao fato daquilo parecer tão absurdo. Eu pesquisei apenas A.C., e o resultado foi um pouco mais convincente, mas não deixava de ser assustador. Um artigo em um jornal online sobre uma gangue, chamada Anjos Caídos.


Meu coração palpitou. A notícia seguia com uma foto de John com a barba por fazer, e o cabelo grande. Então eu estava certa! John era perigoso, um bandido procurado e foragido. Eu não precisava mais pesquisar nada. Eu queria fugir dali, ficar o mais longe possível de John.

Uma risada ecoou em meus ouvidos.

– Ah... Me desculpe. – Disse o bibliotecário. – Não consegui segurar o riso, é essa revista! Ahn, eu vou buscar um pouco de café. Você quer?

– Não, obrigada. – Eu queria era sair dali.

O bibliotecário saiu, reprimindo um sorriso.

Imprimi uma cópia do artigo. Eu precisava provar para tia Sabrina que John era perigoso, precisava jogá-lo na cadeia e esquecer tudo aquilo. Se não fizesse isso, minha mente me martirizaria por muito, muito tempo. Quando eu me levantei para buscar a cópia na impressora, percebi o homem estranho da recepção sentado na cadeira, ofegando, como se algo estivesse o impedindo de respirar.

– Você está bem? – Perguntei.

Estranho... Eu não tinha o visto chegar.

– Ótimo! – Respondeu ele, imediatamente. Eu sabia que ele não estava bem, mas não me importei.

Guardei a carta e o artigo amassados no bolso de trás, e voltei para a sala. John ainda não estava lá. Menos mal. Se percebesse minha preocupação, eu não sei o que faria. O resto da aula foi um pesadelo completo. Eu não conseguia parar de pensar em John, e no artigo sobre ele. Finalmente o sinal tocou. Arrumei minhas coisas o mais rápido que pude, e saí arrastando Leila para o carro.

– Espera, e o John? – Perguntou Leila.

– Ele foi de metrô. Vamos!

– Por quê? – Insistiu Leila.

– Ele tinha que resolver alguns problemas. Vamos, Leila!

Dirigi o mais rápido que pude. E se ele estivesse em casa? Minha cabeça estava ainda mais atordoada do que nas últimas horas, e era como se tudo em meu cominho estivesse contribuindo para isso.

Tia Sabrina não estava em casa. Talvez já estivesse voltado para a cidade dela, então eu deixei Leila em casa e fui para o primeiro lugar que veio em minha cabeça. A praia.

– Anda, tia Sabrina, atende! – Eu tentava ligar para tia Sabrina, mas caia sempre na caixa postal.

Eu tirei o all star, sentei-me e o pus ao meu lado. Li e reli a notícia sobre John várias e várias vezes, procurando algo em que sustentar o fato de que aquilo era mentira, mas não consegui. Algo me dizia que aquilo estava errado, mas eu não quis ouvir. Eu só tinha certeza de que John era um bandido, e nada mais. Eu estava apaixonada por um bandido.

Tirei os olhos do papel, já cansada de ler aquilo e me martirizar por ser tão burra e idiota, e olhei para frente. Ele me observava de longe, com um ar preocupado, e eu imaginei milhões de coisas naquele momento. Ele já sabia!

Eu me levantei, peguei o all star e corri, corri o mais rápido que pude, com o medo correndo por minhas veias junto com meu sangue, e a adrenalina tomando conta de mim. Senti os braços fortes dele em volta do meu corpo, e daquela vez aqueles braços não me impressionaram só me fizeram sentir mais medo.

– Me solta! – Eu gritei. – Socorro!

– É minha namorada! – Ele gritou.

As pessoas assentiam, e sorriam, pensando que aquilo era uma simples briga de casal. Droga!

– Me escute, Susan! Escute-me...

– Me solte! – Eu gritei.

– Eu solto você. Mas só se você conversar comigo. Vamos até ali, atrás dos banheiros.

“Tudo bem”, eu pensei, “eu vou, e quando ele me soltar, eu corro”.

– Tudo bem. – Eu disse.

Nós fomos para detrás dos banheiros públicos, e eu fiquei com medo de que ele não me soltasse, já que ali não tinha ninguém. Mas sim, ele me soltou. Por incrível que pareça. E eu corri, mas ele foi mais rápido que eu. Ele me agarrou por trás novamente, e eu senti meu corpo mole, de uma forma tão sobrenatural que eu pensei que estivesse delirando. Olhei para baixo, e percebi que minha pernas se dissolviam feito areia, e meu corpo inteiro ficou estranho. Percebi que o corpo dele também estava mudando da mesma forma. O cenário começou a mudar, de repente, foi como se eu estivesse em um dos meus sonhos loucos. Eu estava sendo sugada, não sabia para onde, nem por que.

Estava tudo completamente diferente. Senti o frio no coração, e olhei para os lados. O pão de açúcar no horizonte, e o verde em baixo. John sentou-se bruscamente, e ficou ofegante, quase sem conseguir respirar. Estávamos dentro de um teleférico. E eu não fazia idéia de como tínhamos chegado ali.

– Como você fez isso?! – Eu estava atordoada.

– Sabia que você fugiria. Precisava conversar. – Disse ele, ainda ofegante.

– Isso não responde minha pergunta! – Resmunguei.

– Por favor, me escute! – Disse ele.

– Eu quero sair daqui! – Gritei. – Não vou ficar dentro de um teleférico com um bandido! – Eu me aproximei dele, e comecei a bater eu seu peito, com toda a raiva e força que ainda me restava, tentando deixar o medo de lado. Eu poderia até morrer, mas antes eu lutaria.

– Não tem como sair. E por que está me chamando de bandido?! – Perguntou ele, com ar preocupado, e tentando me segurar. Ele não parecia estar mentindo.

Eu tirei o papel do bolso e joguei nele. Ele olhou para o papel do artigo, que eu tinha imprimido na escola, e franziu o cenho.

– Mas... Aqui não tem nada escrito, é só um papel em branco! – Disse ele, virando o papel para mim.

Realmente estava em branco.

– Não é possível. Eu imprimi na escola, era um artigo falando sobre você e sua quadrilha, ou gangue, sei lá! – Eu me virei e comecei a bater no vidro. – Quando o teleférico chegar eu vou chamar a polícia!

– Não vai. O teleférico está parado.

Eu olhei para baixo, e percebi que realmente não estávamos em movimento.

– E que história de gangue é essa?! – Ele parecia mais confuso que eu. Mas então, ele assumiu uma expressão de raiva. – Lars! Ele disse que tinha contado a verdade. Droga!

– Quem é Lars?!

Foi quando eu me lembrei. O recepcionista, o cara musculoso da biblioteca. Eu sabia que tinha algo de errado com ele, sabia!

– Eu devia ter dado mais do que um soco nele! – Exclamou John.

A imagem dele sem fôlego, com dificuldade para conseguir respirar veio à minha cabeça. Alguém que recebe um soco no peito fica com falta de ar? Mas qual a ligação entre ele e John? Bom, se John era capaz de se tele-transportar, e se esse tal de Lars tinha aparecido na minha frente em segundos, talvez os dois fossem iguais. Eu estava completamente atordoada, minha cabeça fazia um esforço tremendo para tentar interpretar o que estava acontecendo. Eu pedia em silêncio para que aquilo fosse apenas um sonho, e que acabasse logo. Mas só piorou.

Uma dor dilacerante tomou conta da minha cabeça. Meus olhos ardiam, e o mundo escureceu de repente. Eu cai no chão do teleférico, segurando a cabeça, gritando. Era uma dor horrível, minha cabeça parecia estar queimando por dentro. Eu me debatia, pedia para John parar, mas ele dizia que não podia, dizia que só eu conseguiria. A dor ia aumentando, meu cérebro parecia estar fritando, e ao mesmo tempo algo parecia estar esmagando meu crânio. John me pegou nos braços, e começou a falar comigo.

Senti o fogo me queimando, subindo pelo meu corpo. As chamas consumiam cada pequena parte de mim, como se quisessem me fazer sentir mais dor ainda. Eu me debatia, tentava apagar o fogo, mas por conta da dor na minha cabeça, eu só conseguia fazer poucos movimentos.

– Resista Susan, você consegue! – Disse ele, prendendo uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. – É o Lars, ele está tentando te controlar. Está tentando te enganar, Susan. Mas você pode resistir você sabe que pode. A dor é só uma ilusão criada por ele. Fuja disso!

– Por favor, pare! – Eu pedia.

Eu tentava me concentrar, mas era impossível. Eu me debatia, e o suor frio descia pelo meu pescoço. Foi quando John me apertou mais forte em seus braços, e eu senti os lábios dele sobre os meus. Meu corpo começou a acalmar-se, enfim, aquele beijo mesmo que aos poucos começou a me acalmar. A dor diminuía aos poucos, e eu já podia pensar com mais calma. Eu não sabia o que John era, mas ele me dava uma paz, e uma segurança fora do comum. Seu beijo me aqueceu, e me controlou, como se aquilo fosse apenas um pesadelo e estivesse acabando enfim.

De repente, o cenário começou a mudar novamente. Era quase como se eu estivesse sendo tele-transportada, mas agora era um pouco diferente. Meu corpo não se dissolvia, era como se estivesse me sugando. Sugada para dentro de John. Para dentro da memória dele. Uma luz alaranjada surgiu no céu, e eu olhei para o horizonte. Eu não estava mais no teleférico.

Eu estava flutuando novamente, como no sonho. E dessa vez, eu tinha uma ótima visão do lugar. Era uma floresta, e a luz alaranjada entrava por entre os espaços das árvores. O vento frio soprava, e balançava meus cabelos soltos. A dor na minha cabeça não existia mais, e o fogo havia sumido como uma mera ilusão meu corpo estava intacto.

A imagem de John surgiu no horizonte. Um corte descia da orelha até a boca dele. Seus olhos estavam vazios, e o rosto sem expressão, a cabeça baixa, e o caminhado lento e ensaiado de sempre. Se ajoelhou bruscamente, e eu vi seus olhos se encherem de lágrimas. Ele não podia me ver, era como se eu estivesse vendo uma lembrança dele. Ele escondeu o rosto com as mãos, e começou a soluçar. Um choro alto, sem aquela coisa contida quem John tem.

– Deus! – Ele gritou, jogando a cabeça para trás, como se estivesse procurando algo no céu. – Eu te peço perdão senhor! – Dizia ele, entre soluços. – Eu sei que você ainda me ama. E eu me arrependo de tudo. – Nunca vi alguém mais sincero. As lágrimas desciam pelo rosto pálido dele, misturando-se com o sangue no local do ferimento. – Mas, por favor, me ajude!

Eu flutuei até ele. Eu queria abraçá-lo, dizer que estava tudo bem, mesmo não sabendo o que tinha acontecido, mas minhas mãos atravessavam o corpo dele como se ele fosse um fantasma. Era uma simples visão do passado dele, e eu não podia interferir.

Meu corpo então começou a afastar-se. Agora, eu via um céu azul, com algumas nuvens o pintando. Eu estava em um campo, rodeada das mais lindas lavandas. O cheiro subia até minhas narinas me fazendo pensar em coisas boas. O vento passava pelas flores as embalando, deixando aquele cheiro gostoso no ar.

A imagem de John formou-se a uns cinco metros de mim. Ele estava correndo, sorrindo, e tinha outro atrás dele. Os dois estavam sem camisa, e eu pude ver aquela coisa nas costas. Eram lindas, brancas e macias, as penas bem alinhadas, perfeitamente reluzentes à luz do sol. Os dois tinham asas! Por reflexo, eu dei dois passos para trás.

– Lars! – John disse. Lars não era o cara que John dizia estar controlando minha cabeça, me fazendo pensar que ele era um bandido? Mas o garoto que corria atrás de John não se parecia com o cara da biblioteca. Fiquei confusa. – Vamos Lars, nós estamos atrasados! – Gritou John, sorrindo e correndo.

– Não antes de eu pegar você! – Disse Lars.

Ele se aproximou de John e apoiou as duas mãos em suas costas, o derrubando. John abriu as asas enquanto caía. Eram lindas. Os dois rolaram no chão se chutando e se socando como duas crianças brincando de luta. Lars abriu as asas de repente, as bateu forte, e alçou vôo. John fez o mesmo e o acompanhou. A minha visão acabou.

Eu voltei para o teleférico, e abri os olhos. John me observava, nos braços dele.

– O que você viu? – Perguntou ele, com ar preocupado.

– O que você é? – Eu já sabia a resposta, mas estava calma, eu queria ouvir da boca dele.

Ele fitou o vazio, procurando as palavras certas para responder.

– Já fiz coisas horríveis. – Disse ele, com tom pesaroso. – Sou capaz de coisas horríveis.

– Acho que tenho o direito de saber toda a verdade agora. – Acrescentei.

– Sou um Anjo. – Ele respondeu.

Eu não sabia como aquilo era possível, mas assenti. Eu estava nos braços de um anjo. Ele estava se inclinando para me beijar novamente, e eu senti aqueles lábios macios sobre os meus. Queria que aquele beijo durasse uma eternidade. Eu acariciei o rosto dele, pedindo para Deus que aquele momento nunca acabasse.

– Meu anjo. – Eu disse, docemente.

Ele fechou os olhos, e percebi que aquelas palavras o comoveram.

– Vou contar a você a verdade, Susan. Toda a verdade.



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Notas finais do capítulo

N/Jay: Reviewzando galera! Recomendações são bem-vindas aqui também^^