Mine escrita por Jones


Capítulo 4
Careless man's careful daughter.




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Do you remember, we were sitting there by the water, you put your arm around me for the first time? You made a rebel of a careless man's careful daughter.

Acordou com o barulho da campainha às duas e meia da madrugada. Coçando a cabeça e piscando rápido em busca de foco, tateou pela mesa de cabeceira à procura dos óculos e depois de gritar que estava a caminho duas vezes o encontrou. Olhou para o rádio relógio. “Puta que pariu. Quem é o inferno que toca essa porra de campainha quando eu acabei de ir pra cama?” Lembrou que só vestia uma samba canção quando estava perto da porta e encontrou uma camiseta com um cheiro suspeito no sofá da sala. Antes de olhar pelo buraco do olho mágico já sabia quem era. Soluçava baixinho e vociferava palavrões nada leves.

– Abbie? – James disse surpreso, coçando o cabelo, antes de ela se atirar em seus braços. – Calma, calma.

A segurou firme e a carregou sem dificuldades para o sofá da sala, onde ela se aconchegou nos braços dele e chorou, balbuciando coisas sem sentido, com raiva.

– Agora vai me dizer o que aconteceu? – James disse enquanto afagava o cabelo preso em um coque desajeitado da namorada.

– Você... Está com... Um cheiro... Esquisito. – Ela disse entre soluços, tentando rir.

– Eu peguei a primeira camiseta que eu vi e... – James fez uma careta quando percebeu que ela mudou de assunto. – Por que você tocou a campainha do meu apartamento às duas e trinta e quatro da madrugada, chorando e xingando alguém, aparentemente?

Abigail olhou para o teto antes de respirar e abrir a boca para falar. Repetiu o movimento mais três vezes, mas James ainda a olhava com expectativa. Não sabia muito bem o que ia dizer e, pensando bem, aquela parecera uma decisão precipitada... Está certo que passara três semanas longe dele, mas tinha combinado de encontra-lo no outro dia cedo, e eles passariam o fim de semana juntos antes que ele voltasse para a turnê. Não podia estragar o tempo que teriam juntos com problemas idiotas que poderia estar tendo.

– Eu... Briguei com meu pai. – Ela disse respirando fundo. – Mas não importa, eu estou com você aqui agora. Vai ficar tudo bem.

– Vai ficar tudo bem. – Ele disse a abraçando.

– Você não vai me perguntar o motivo da briga? – Abbie disse se afastando dele. – Isso é insensibilidade.

– Você disse que não importava. – James disse revirando os olhos. – E não é como se você não fosse me contar de qualquer jeito.

– Então você não gosta de me escutar? – Abbie disse irritada se levantando do sofá. – Eu vou embora.

– Amor, volta aqui. – James disse paciente, Abbie não costumava agir assim, então algo estava muito errado. – Abbie...

– Eles estavam brigando de novo. – Abbie disse sentando-se no chão perto da porta. – Eu estava decidida a não me meter, aí ele disse que ela fazia caso de pouca coisa e que não era como se ele tivesse dormido com a mulher só porque ele dormiu na casa dela, ou algo assim. – Ela disse sem respirar, como sempre fazia quando estava animada demais, nervosa demais ou qualquer coisa em excesso. – E minha mãe tende a ficar extremamente violenta quando está com raiva.

Ah, agora eu sei de onde vem...” James pensou e decidiu não dividir, não era boa hora para brincadeiras ou ironias.

– Aí antes que ela pegasse a marreta para destruir o carro dele como ela ameaçava, eu fui lá tentar acalmar a situação. – Abbie revirou os olhos. – Eu sei que eu não devia: é sempre a mesma coisa, eles brigam e aí fazem as pazes no supermercado e aí brigam novamente. É um saco. Mas ela estava com a marreta na mão e bateu na parede com ela e aí eu tive que me meter.

James se sentou ao lado dela, enquanto ela fitava o vazio e gesticulava bastante.

– E aí meu pai começou a dizer muita coisa desnecessária, sabe? – Ela disse enquanto encarava James, e ele sentiu a necessidade de abraça-la. Sabia o quão sensível ela ficava quando falava dos pais. – Ele me disse que só porque alguém conseguiu me aguentar por mais de seis meses não significava que eu sabia tudo sobre relacionamentos e que... Bem, que quando você se cansasse de mim, eu voltaria para casa com o rabo entre as pernas como sempre.

Ela girou os olhos com a esperança que James repetisse o movimento e dissesse o mesmo que ela disse ao pai dela: que não era porque ele era infeliz que ela deveria ser também. Claro que ele não precisava dizer metade das palavras nada leves que ela disse. Mas sentiu seu estomago se contorcer por ele não ter dito nada.

– Ah, ele me disse que eu não sabia tudo como eu pregava que sabia. – Ela continuou ainda esperando uma interrupção apaixonada de James que parecia disperso. – E... Disse que eu era uma garotinha que tinha muito que aprender sobre a vida, inclusive como discutir com as pessoas sem chorar ou ser irônica o tempo inteiro. O que não é justo já que eu choro quando fico com raiva. Ele disse que eu não tinha nada a ver com aquilo tudo e... Que eu não nem estou em um relacionamento de verdade, que eu nem sei o que é isso e que bem, eu era idiota.

Ela cansou de falar e esperar uma reação de James que continuava fitando o vazio. Depois de vários minutos ele a viu vermelha de irritação. Era de seu feitio se fingir de rebelde e agir como se não ligasse para nada, como se estivesse sempre bem. Sabia que a relação com os pais era complicada: ela se dava bem com eles, mas eles conseguiam ser insuportáveis quando brigavam e ela não conseguia suportar. Mas a admirava por conseguir levantar a voz, mesmo quando embargada para defender o que acreditava e o que queria. E naquela noite ela, sempre cuidadosa quando se tratava dos pais, defendeu o que acreditava, defendeu o relacionamento dela com James. Ele sorriu, ainda com os braços em volta dos ombros dela.

– Você estava me escutando? – Abbie tentou dizer pausadamente.

– Estava. – James disse simplesmente e ela o olhou de olhos arregalados, parecera uma resposta automática. – E... Sabe de uma coisa? Não importa mesmo, ele provavelmente estava aborrecido e não sabia do que estava falando. Está tudo bem agora, porque você está aqui comigo.

– Você não acha que ele tem razão, acha? – Abbie perguntou fazendo careta. – Que eu não sei o que estou fazendo? E que você vai cansar de mim?

– Eu senti sua falta. – James respondeu sorrindo a apertando ainda mais em seus braços.

– O que isso significa? – Abbie disse apertando os lábios.

– Você se lembra daquele dia, uma semana depois do nosso primeiro encontro, estávamos sentados perto do rio e você congelou quando eu estendi meu braço até te abraçar pela primeira vez? – James sorriu torto. – Eu achei que eu estava fazendo alguma coisa de errado pelo jeito como você estremeceu.

– Foi só... Inesperado. – Ela disse olhando para os pés.

– Foi o que você disse na hora. – Ele parecia se divertir. – Mas eu não tirei o meu braço do seu ombro, mesmo com você me olhando daquele jeito esquisito ou a minha mão trêmula, ou o seu silêncio nervoso.

Abbie sorriu quando entendeu o que ele quis dizer: ele nunca tiraria o braço de seu ombro, ele nunca se cansaria dela... Ele nunca iria embora, mesmo quando todas as coisas parecessem dizer para ele ir, mesmo que tudo desse errado e talvez, mesmo se ela o mandasse embora.

– Eu nunca me cansaria de você... Você é inconstante demais. – James disse sorrindo e a levantando do chão. – Em um minuto chorando, no outro gritando e segundos depois sorrindo. Aventura demais.

– Haha. – Abbie disse simplesmente antes de vê-lo bocejar. – Vem, vou te colocar na cama para dormir...

– Dormir? – James fez careta. – Acho que você pode me colocar na cama...

– Será que poderia pensar em outra coisa além de sexo, senhoras e senhores? – Abbie ironizou.

– Três semanas sem te ver, Abigail. – ele sussurrou no ouvido dela. – Acho que dormir é o que menos importa.

Mesmo assim, dormiram em paz pela primeira vez em três semanas.


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