Mine escrita por Jones


Capítulo 2
Why bother with love if it never lasts?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/185744/chapter/2

I was a flight risk with the fear of falling, wondering why we bother with love if it never lasts.

Ele estava analisando-a há mais ou menos uma hora. Observou-a desamarrar o avental do pescoço e o deixar pender na cintura. Tinha provavelmente o intervalo de vinte minutos como a garçonete anterior, ele assistiu quando ela se sentou em uma cadeira no canto da cafeteria e abriu um livro. Completamente compenetrada no livro, ele a observou sorrir enquanto folheava as páginas e bebericava algo que parecia terrivelmente quente.

Não esperava a encontrar ali tão longe de Londres, sabia que ela gostaria de conhecer o mundo como ele, aliás, planejaram isso diversas vezes quando eram crianças, mas não imaginava encontra-la trabalhando em uma cafeteria na Argentina.

Ela ainda não o tinha visto, se divertia lendo um volume da coleção de Percy Jackson. James observou que ela não tinha crescido nem um centímetro desde a última vez que se viram, continuava minúscula, com os cachos presos em um rabo de cavalo até um pouco abaixo da nuca e os velhos óculos de armação retangular preta que usava há anos. Diria que ela não mudara nada, não fosse o corpo agora mais curvilíneo, bronzeado e atraente, e algo que parecera uma tatuagem no pulso coberto por um relógio.

Quando acabou seu intervalo, voltou a amarrar o avental e a segurar o bloquinho de pedidos. Cantarolando, saiu andando pela cafeteria, James disfarçou seu rosto com o cardápio e arranhou no espanhol para pedir um chocolate quente.

– Eu vou querer um chocolate quente e o novo número da garçonete. – James, com os olhos castanhos curiosos, viu Abigail revirar os olhos. Sabia que tinha uma resposta indiferente na ponta de sua língua ferina.

– Só anoto pedidos que tem no cardápio, como ‘numero da garçonete’ não está à venda, temo que não possa ajudá-lo. – Abbie disse anotando o chocolate quente no bloquinho, e notando que pelo sotaque do cliente, ele não era dali. – Algo para comer?

– Não, só o chocolate mesmo. – Disse rindo, já falando em inglês. – E de repente um remédio de memória para a garçonete. Ou será que obliviaram sua mente... Pera aí, não há remédio para memória no cardápio.

Pronta para responder algo rude até demais para ser mencionado, permitiu-se encará-lo e apertar os olhos nos dele, que sorria largamente.

– Potter? – Abbie perguntou de olhos arregalados. – O que você está fazendo aqui?

– Eu poderia te perguntar a mesma coisa. – James continuou sorrindo. – Aliás, eu não sei o que eu estou fazendo aqui e você?

– Eu estou terminando a faculdade... – Abbie sorriu. – Pais trouxas, você sabe como é, acham que a vida não faz sentido se você não vai à faculdade.

– Então você está frequentando uma faculdade trouxa e na Argentina? – James perguntou interessado, se ajeitando na cadeira.

– É uma longa história... – Abigail sorriu enquanto via o patrão a olhar de soslaio e vociferar coisas não muito legais em espanhol. – Saio às sete.

James sorriu como resposta ao convite inesperado. Considerava ‘saio às sete’ como ‘vem aqui me buscar, seu lindo’

Às sete da noite James estava no estacionamento apoiado na Harley 883 preta, abrindo um sorriso torto ao vê-la saindo da cafeteria com um jeans claro, tênis all-star branco, camiseta preta e uma jaqueta de couro azul escuro. Seus cachinhos agora balançavam soltos no ritmo do vento e ela veio sorrindo em direção a James. Não gostaria de admitir em voz alta - no caso de ele ainda ter a mesma personalidade narcisista de antigamente-, mas como ele estava lindo! Os cabelos negros rebeldes balançavam desgrenhados e ela podia ver os braços bem delineados por músculos por baixo da camiseta verde que ele usava.
Enquanto ele guiava a motocicleta por entre o tráfego intenso de Buenos Aires, sentia os braços dela o apertarem forte a cada curva fechada e ria cada vez que ela gritava perguntando se já estavam chegando. Abigail tinha medo de cair e morrer, mas aproveitava cada curva para abraça-lo.

– Chegamos. – James anunciou estacionando em um bar restaurante no centro da cidade. – Parece feio, mas eles têm uma torta de abóbora deliciosa aqui. – Disse quando desceu da Harley e lembrou-se que ela costumava ser trouxa na infância e odiar abóbora. – A comida é boa.

– Tudo bem, estou tão faminta. – ela disse sorrindo, fazia tempo que não a via sorrindo, mas aquele sorriso ainda era tão familiar e aquecedor que se esqueceu de desviar os olhos dele. – James?

– Ah, sim. – James coçou o cabelo e colocou a mão no bolso. – Aqui eles servem também a melhor cerveja amanteigada da Argentina. Não é tão boa quanto a de Hogsmeade, mas dá no gasto.

– Moro aqui há quase quatro anos e não sabia que existia um restaurante bruxo por aqui! – Abbie disse surpresa. – Morreria por um whisky de fogo!

– Eu estou aqui há duas semanas e sei que existe. – James riu. – Você deveria andar mais pela cidade, Abbie... Vejo que ainda é preguiçosa como antigamente.

– Vejo que ainda é idiota como antigamente. – Disse revirando os olhos, tentando não rir das gargalhadas escandalosas de James.

Entraram no bar, que na frente era uma pista maltratada de boliche, mas se você depositasse um nuque na abertura do lado da descarga do vaso sanitário do banheiro para deficientes - um desperdício de tempo, já que provavelmente ninguém entrava naquele lugar mesmo e caso entrasse jamais usaria aqueles banheiros imundos - você chegaria a um bar iluminado e bem parecido com lanchonetes trouxas comuns, exceto talvez pela decoração que mais lembrava uma loja de ingredientes de poções.

– Então, por que fazer faculdade na Argentina? – James perguntou após fazerem os pedidos. – Há ótimas faculdades na Inglaterra, sabia?

– Sim, eu sei... – Abbie fez uma careta, bebericando a cerveja amanteigada. – Meus pais queriam que eu fizesse uma faculdade, mas não me disseram qual e onde. Aí eu acordei com uma vontade maluca de estudar na América do Sul e os convenci de me deixar morar na Argentina. Queria ir para o Brasil, mas meu espanhol é melhor que o português...

– Você fala português? – James franziu a testa e Abbie riu. – Eu lembrava que você falava francês e espanhol. Sua nerd.

– Falo, poxa. – Abbie respondeu rindo, mas estava um tanto corada. – Estou estudando letras, aliás, estudar com trouxas é bem difícil quando não se pode enfeitiça-los todas as vezes que eles te irritam. – James sorria torto, prestando atenção em tudo o que ela dizia. – E você, o que está fazendo aqui?

– Férias. – James respondeu simplesmente, antes de fazer careta e Abbie o desafiar com o olhar. – Minha ex-noiva me fudeu, mandou eu me fuder e eu vim fazer isso na Argentina.

– Ahhh... Por que a Argentina? – Perguntou interessada, enquanto o garçom colocava mais cervejas amanteigadas na mesa. – Quer dizer, tem vários países no mundo.

– Queria ir para o Brasil, mas meu espanhol é melhor que o meu português... – Ele disse rindo e ela bateu de leve no braço dele. – Eu nunca te perguntei isso, mas qual é o seu objetivo em me bater? Me fazer sentir dor que não é, sua fraquinha.

– Fraquinha é sua mãe. – Abigail disse rindo. – Na verdade não, como a Sra. Potter está?

– Bem, aposentada e feliz com meu pai em Godric’s Hollow. – James respondeu despreocupado. – Não me perdoa até hoje por termos terminado no sexto ano.

– Não foi sua culpa. – Abbie torceu o nariz. – Éramos crianças e idiotas, você um pouco mais que eu e eu tenho que admitir que talvez eu tivesse ciúmes daquelas tietes de quadribol que davam em cima de você descaradamente.

– Jura, você não demonstrava ciúmes. Achava que você nem ligava... – James encolheu os ombros ainda sorrindo torto. – Sem contar que o fato de eu ser lindo ajudava muito.

– Demonstrar ciúmes para inflar ainda mais esse seu enorme ego? – Abbie parecia se divertir e nada para James era mais sedutor que uma risada sincera feminina. – Você era o senhor popular, as menininhas viviam correndo atrás de você e me odiando. Foi até divertido, mas... Se a gente tivesse continuado, bem, acho que hoje eu te odiaria mais.

– Mais? Você me odeia agora? – James fingiu uma feição incrédula. – De qualquer maneira, eu sempre pensei que se eu não tivesse ficado tão bêbado e quase beijado Emily Crow, estaríamos juntos até hoje. – James disse brincando com o guardanapo e evitando olhar para Abbie que não desviou o olhar por um segundo. – Ah, por favor, não vai negar que éramos ótimos juntos, você era a inteligente e eu era o bonito da relação.

– Eu era a legal e você era o convencido. – Abbie disse jogando um guardanapo de pano, no rosto dele que ainda ria. – Não vou negar, eu gostava muito de você... E talvez se não fosse Emily Crow...

– Eu já te falei que eu nunca tive nada com ela? – James disse despreocupado, tomando todo o cálice de whisky de fogo de uma vez. – Acho que eu sempre quis provocar ciúmes em você por ser um idiota e por você parecer não se importar muito.

– E você parecia se importar demais. – Abigail encolheu os ombros. – Acho que chegamos a um ponto naquela relação em que você notou que eu sentia mais do que eu demonstrava e que eu cheguei a pensar que você sentia menos do que dizia sentir. – Ela tamborilou os dedos na mesa encarando James profundamente nos olhos. – Os dois erraram.

– O amor é um filho da puta que não dura o tempo que deveria durar. – James disse sem conseguir desviar os olhos dos dela. – O que me faz pensar... O que teria acontecido se não tivéssemos errado?

Ficaram em silêncio por motivos diferentes, Abbie não gostaria de ter escutado aquela pergunta, tinham acabado de se encontrar e ela tinha comido tantas barras de chocolate e chorado tantas vezes por causa dele... Não parecia certo a simples presença dele provocar aquele turbilhão de emoções que não sentia a tempos. E aquelas palavras sinceras e sérias, que ela sabia que eram raras quando provenientes de James? Por que ele tinha que fazer aquilo com ela?
James desejava não ter falado aquilo tudo, ter tocado no assunto. Era um assunto intocado no fundo de sua mente, que só tinha vindo à tona verdadeiramente três vezes: uma vez, logo após o término no sexto ano em uma conversa regada a álcool com Rose e Scorpius; há seis meses quando ele e a noiva terminaram e ela o acusou de viver no passado e a comparar com a namoradinha de Hogwarts; e ali na mesa com ela, a namoradinha de Hogwarts, sua primeira namorada e também a primeira pessoa que terminou com ele. De alguma maneira ainda se culpava por tudo de errado que tinha acontecido naquele relacionamento, de outra tentava odiá-la de todos os jeitos por todos esses anos. E a conclusão disso tudo é que não deixou de pensar nela por um só instante. Mesmo sem saber o que isso significava.

– É realmente quente aqui não é? – James tentou puxar assunto e Abbie o olhou, semicerrando os olhos. – O que foi?

– Por que você quis falar sobre isso agora? – Abbie perguntou depois da terceira taça de whisky de fogo. – Quer dizer, nós não nos falamos há mais de quatro anos e parece que você não consegue manter sua boca fechada por meia hora antes de tocar em coisas que não deveria tocar. – Ela disse sem respirar. – Qual é o seu problema? Quer dizer... O que você quer que eu diga? Que eu senti sua falta durante o sétimo ano inteiro e que eu não podia mais escutar a maldição do Muse sem pensar em você. Eu joguei meus CDs fora! E você nem escutava bandas trouxas! Por que eu fui te apresentar minha banda favorita? Você é um retardado se pensa que pode aparecer aqui em outro continente ainda mais lindo com uma moto preta e o mesmo ar rebelde e me perguntar o que teria acontecido se você não tivesse agido como um idiota.

– Calma aí e respira fu... – James parou instantaneamente quando processou as ultimas palavras de Abbie. – Pera aí, eu achei que ninguém tinha culpa e que os dois tinham errado.

– Mas você errou mais. – Abbie sentenciou com os braços cruzados, fazendo birra.

– Você terminou comigo. – James disse imitando a pose dela.

– E você ia terminar comigo antes. – Abbie disse exasperada. – E cadê essa comida que não chega hein? Eu estou faminta, não comi nada decente o dia inteiro! Trabalhei tanto. – Ela disse tentando desviar o assunto. – Você precisa ver o tanto de clientes asquerosos que dão em cima de mim o dia inteiro, me dá vontade de dar um soco na cara deles.

– Por que você sempre faz isso? – James perguntou irritado. – Você sempre desvia o assunto.

– Como você sabe que eu sempre faço isso? – Abbie replicou nervosa. – Você não me vê há anos.

– Mas eu te conheço, Abigail Taylor Jones, mais do que gostaria. – James confessou e Abbie segurou umas lágrimas que gostaria de poder explicar.

– Não conhece, tá legal? – Abbie disse bebendo mais do que deveria. – Você não se preocupou em me mandar uma coruja, ou ligar ou tentar me encontrar. Eu te odeio.

– Você escutou a parte que eu disse que você terminou comigo? – James semicerrou os olhos.

– Cara, você tem que deixar o rancor de lado. – Abbie disse revirando os olhos. – Rugas na testa, isso que o rancor causa.

Brigaram mais umas duas vezes aquela noite e riram se lembrando dos primeiros anos, das detenções de James e da vez que Abbie colocou o dobro de olhos de salamandra em uma poção qualquer que a professora Macmillan pediu e o caldeirão explodiu. Era tão boa em poções quanto James era em Aritmancia, matéria que só escolheu por causa de Abbie no terceiro ano.

Só não souberam explicar como no meio de todas as brigas e risadas, acabaram se beijando no banco traseiro de um taxi rumo ao hotel onde James estava hospedado.

Foi o começo de uma nova história ou uma continuação daquela velha história que os dois se recusaram a esquecer durante todos aqueles anos. De qualquer maneira, por mais bêbado que pudesse estar, sabia que nunca a deixaria ir novamente... O motivo pelo qual odiava o amor estava ali na sua frente, o convidando para continuar de onde pararam.

E segundas chances, quando existem, não devem ser desperdiçadas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!