Clube Do Imaginário escrita por ShoutOut


Capítulo 9
9 – Significados. Nosso mundo.


Notas iniciais do capítulo

Olá monstrinhos, sim, primeira parte de clube do imaginário acabou, agora a história vai esquentar =D
Bem... Queria dizer que adoro todos que continuam a ler a minha história, é muito... Bom, sério, adoro vocês =D
Um debate, eu não sei que nome dar a primeira parte (O que é meio tenso) e queria que vocês escolhessem.
1 - Cubo Mágico
2 - Abrigo
3 - Nascimento
Se tiverem mais sugestões digam tá? Espero que gostem de mais um cap do DIVÃO Hansel =D



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9 – Significados. Nosso mundo. E a teoria de quem chora no banheiro.

2ª relato de Hansel Dedrick

Acho que posso dizer que uma fase da vida do clube terminará com o meu relato, a fase da infância talvez. O que é estranho. Isso é uma história de sete pessoas, e acho que esse diria teria sete pontos de vista completamente diferentes que fariam sentido.

Mas já que sou eu aqui na frente dessa droga de computador, com meu querido isqueiro do meu lado, vou contar o que houve.

Na boa, talvez nós só estivéssemos dando uma de idiotas. Escondidos no meio do mato fingindo que era a melhor coisa que fazíamos em anos. Com insetos nos devorando vivos e com risco de entrar na cabana toda acabada e morrer num desabamento causado pelo grande número de cupins.

Eu, quase, comecei a me esmurrar por causa da sensação de segurança que estava sentindo. Era tão idiota que doía. Sério.

Você pode aprender uma coisa comigo, talvez a única coisa que eu tinha certeza mesmo sendo um alcoólatra e um drogado: sensação de segurança é igual a um punho bem na sua frente, você não sabe que vai levar um murro ou receber um presente. E falando pela minha experiência, em noventa por cento dos casos, é murro.

É, percebeu que eu não confio em quase ninguém, não foi? Bem, eu não confiava em quase ninguém (acho que só na Ramone, no meu isqueiro, na minha gaita e no meu cantil), aprendi a confiar em mais algumas pessoas completamente malucas que por mim estariam internadas em um hospício. Mas é como a Ramone me disse uma vez “A loucura é genial”, acho que era uma citação maior, mas só me lembro dessa parte. Faz sentido certo? Principalmente no clube do imaginário!

Não sei o que me prendia ali, naquela clareira perto daquela cabana que estava caindo aos pedaços, não sei nem o que me fez acordar tão cedo num sábado. Era muito questionamento na minha cabeça naquela hora. Resolvi pensar só na doida da aposta que tinha feito com a Harley.

- O que te deu? –perguntou Ramone com a cabeça no meu ombro enquanto eu dedilhava alguma coisa no meu violão, na verdade era Turn the Page do Metallica. Na boa, nunca subestime um rock de bandas que tem mais de vinte anos do mercado, você nunca sabe quando uma música deles pode prever o seu futuro.

Eu não precisava perguntar para saber que ela falava da aposta.

- Trust me ok? –ela adorava quando eu dava uma de fluente em inglês.

Ela só sorriu e continuou a cantarolar a música comigo.

- Rudy. –escutei a Tessa chamar o garoto. – Você acabou de subir um bilhão de degraus no meu conceito. –Harley pareceu sorrir. – Aqui é...

- Amazing? Wonderful? Beautiful? Wonderful? Marvelous? Terrific? Perfect? Choose one. –Ramone falou sorridente por completar a fala da foguinho sem noção. – Não, não dá com palavras assim, o melhor mesmo é “CARALHO VELHO!”.

Sorri. Gostava, de verdade, de ouvir a Ramone falando palavrão, sei lá... Achava ela mais... Mulher quando ela fazia isso, não parecia só uma garota de dezesseis anos.

Rudy, com poucas palavras, falou que ali era uma cabana que ele e o irmão tinham encontrado aquela cabana quando eram mais novos e era uma espécie de refúgio dos dois.  

Dava para ver, pelas palavras dele, que ele escondia alguma coisa, meu sexto sentindo que era contra segredos formigava.

Nossa! Me sinto uma mulherzinha falando de sexto sentindo.

Harley pegou da bolsa que carregada uma câmera, até meio antiga constando pela cor cinza meio desbotada que tinha, mas dava para ver que era digital, e começou a nos filmar, Ramone sorriu quase de imediato, Tessa começou a rodar que nem uma barata tonta e Rudy se encostou ao capô da picape normalmente.

- Diga maluca, o que você imagina que será essa cabana?

Fui perceber alguns meses após que aquela pergunta foi o que fez tudo começar. Era não “O que seria” ela perguntou “ O que será”.

Harley é definitivamente o tipo de garota que com poucas ações acaba mudando o rumo de uma história, é estranho. Não só ela, Ramone e Tessa também. São as garotas que não são santinhas como chamam as “garotas-anjo”, mas tem um dom, que é diferente de qualquer coisa que algum autor de livro por ai tenha descrito. Você nunca as entenderá, mas ela o entenderam com só uma olhar e mudaram suas vidas, se tornando seus anjos da guarda. Talvez por isso eu nunca conseguisse sentir mais nada por elas além de uma relação de amizade tão grande que chegaria a irmandade.

Depois que o clube se concretizou eu não me via beijando ou a Ramone, ou a Harley e muito (muito, muito mesmo) menos a Tessa. Não encare isso como se eu tivesse dizendo que elas não são atraentes, são até demais, só que... Sabe quando você conhece alguém e sabe que essa pessoa estará do seu lado a todo momento, mas não como amante, mas como alguém que você olhará e poderá falar tudo, como um diário?

Eu me via, sem brincadeira, olhando para um garoto (maluco por sinal) com o meu melhor Olhar do Juízo Final [Sim, eu li “Quem é você Alasca?” Tessa, você que me emprestou lembra?] perguntando o que ele queria com uma das minhas garotinhas.

O trio de garotas mais doido do planeta.

- Um castelo. –foi o que Ramone respondeu. – O melhor de todos, o mais simples e ao mesmo tempo o mais... Inesquecível. Um castelo para os soberanos de um mundo escondido...

- Onde existiram gigantes, fadas, criaturas nunca descritas em livros. –falou Tessa. – Príncipes, reis, ladrões, gênios, malucos beleza. –ela me deu um penteleco de leve. – Animais nunca vistos, animais que não precisaram falar para serem perfeitos.

- Um mundo. –escutamos Max continuar com os olhos vidrados na irmã, mal vi quando ele tinha voltado da cabana. – Que será nosso, obedecerá a nós, que será como imaginarmos.

- Onde faremos tudo que quisermos. –completou Garrett.

- Sem medo de nada, de ninguém, os segredos serão só nossos. –completei.

- Um mundo, em que a realidade será banida. –Rudy disse por fim.

Acabamos por cair na gargalhada, era loucura demais, mesmo para nós sete, um bando de malucos sem noção.

Harley desligou a câmera, talvez quisesse guardar só um momento como aquele, eu não sei, e olhou para mim, foi tão estranho que quando vi a fala antecipou o pensamento.

- Gostando do que ver celebridade?

Ela deu um sorriso meio malicioso e disse:

- Segredos. É isso que talvez a Ramone não saiba, você gosta de segredos, gosta de controlá-los. Eles têm um significado pra você. Significam proteção. Como se fossem um animalzinho que obedecerá aos seus comandos, segredos usados como um escudo.

Tive vontade de rir, alto pra caramba, que as pessoas que passassem na estrada a mais ou menos uns 500 metros de onde estávamos nos escutassem. Acho que teria de ensinar aquela garota a parar de enxergar o que é mais óbvio.

- Vem comigo. –falei me levantando.

- Como é? – irmãos mais velho ciumentos são uma droga.

- Max, relaxa, ela não faz meu tipo. – dei um meu melhor sorriso malicioso para ela. – Temos uma aposta para acertar agora não é, celebridade?

Harley sorriu, e segurou de leve no ombro do irmão, meio que um código que todo ser humano tem para dizer “Está tudo bem” (Vai dizer que estou errado?).

Segui em direção ao córrego que tínhamos passado um tempo atrás, acho que era um pouco mais de meio-dia quando chegamos à margem do córrego. Ela se sentou numa pedra achatada observando a natureza.

Harley parecia ser a personificação da contradição ali, era paradoxal como ela parecia ser simples, delicada, e ser forte e durona ao mesmo tempo. Nem seu nome combinava com o fato dela parecer fazer parte da natureza.

 Vi-a, na minha cabeça, por alguns segundos, como uma camponesa na época medieval morando em uma cabana como a que tinha na clareira onde estavam os outros colhendo flores para enfeitar as janelas.

- Então, acertei ou não? –ela foi direto ao assunto.

Toda a delicadeza que eu pensei que ela tivesse por um tempo desapareceu.

“Essa garota é uma guerreira, Hansel, não se esqueça disso.”

- Você perdeu. –falei me sentando numa outra pedra próxima a ela. – Agora vem a minha parte da aposta.

- Poderia pelo menos me dizer a verdade? –ela perguntou me olhando nos olhos.

O castanho-claro de seus olhos assumia um tom com a luz do sol que me lembrava fogo. “Por isso garota cometa!” –foi o que pensei. Meio idiota não?

Olhei para o céu, mesmo sem motivo observando as poucas nuvens brancas que por lá pairavam. Para mim elas ainda eram de algodão, pensar nas nuvens como massas de ar acabava com todo o encanto que elas tinham.

- Odeio segredos. –falei sério. – Mas respeito-os. Eles não significam proteção, e sim um mistério idiota, é como você olhar para as nuvens, ás vezes, elas assumem formas como de um cachorro, ou de uma coroa, você não sabe por que, mas respeita isso. Eu queria saber de tudo, não sei, então respeito os segredos que o mundo tem, mesmo os odiando.

Ela me olhou curiosa, talvez não nunca tivesse passado pela sua cabeça que eu tinha uma opinião como aquela, até mesmo poética, não?

- Acho que posso entender você. –eu disse antes não foi?

Eu não a entendia nem um pouquinho(tá, talvez um pouquinho do tamanho de um grão de areia), mas ela me entendia, entendeu agora? Esse é simplesmente um dos paradoxos mais marcantes do clube.

Acendi um cigarro.

- Agora me dê seu celular. –falei segurando meu violão com uma mão.

Ela me ergueu uma das sobrancelhas em sinal de confusão.

- Você tem que pagar sua parte da aposta lembra? – então ela me entregou o celular.

Comecei a vasculhar as músicas da garota. Foi meio esquisito saber que tínhamos um gosto muito parecido em relação a músicas. Achar uma que combinasse com nós dois, de certo modo combinava mesmo, não demorou muito.

- Sabe a letra dessa música? –perguntei mostrando a música para ela. Joguei o cigarro no chão, já todo acabado, e pisei em cima dele.

Foi engraçado vê-la ficando um pouco vermelha, acho que ela pegou tudo no ar.

- Sim, quero que cante comigo.

- Mas...

- Sem “mas” garota. –falei fingindo raiva. – Só estamos nós dois aqui, e o córrego vai disfarçar qualquer coisa.

- Tá. –ela falou com raiva, suas bochechas ficaram mais vermelhas ainda, ela endireitou a postura. – Você começa.

Foi um dos momentos mais engraçados da minha vida. Harley fazendo som do piano de Rubik’s Cube do Athlete com a boca e eu tocando com cara de idiota.

Cantei fazendo caretas e vozes mais finas do que a minha, fazendo-a sorrir. Quando foi a hora do refrão apontei para ela.

Respiração profunda e olhada para o córrego. Só isso, e ela começou a cantar.

Harley não tinha nível de cantora profissional, nem eu tinha, mas a voz dela faria qualquer um relaxar, era simplesmente linda. Era tão verdadeira, tão intensa e que pensei em perguntar se ela tinha nascido cantando assim ou estava só imitando alguém, um anjo talvez.

Percebi o que tinha feito boa parte do clube aceitar tudo que ela falava de primeira, era um dom dela. Ela conseguia fazer com que as palavras que ela falasse entrassem nas pessoas, pelo menos por alguns segundos, as fazendo pensar.

Pensei em Rubik’s Cube, uma música que podia ser tudo, e ao mesmo tempo nada, não seria assim a vida, principalmente o refrão. Se você pensar bem, fala sobre a busca viciosa do ser humano em descobrir o que é tudo.

Estranho não é? Escolhi a música do nada e deu nisso, algo em que tínhamos falado há segundos atrás.

Música é uma coisa mágica mesmo.

Acho que Harley percebeu, pois pegou um graveto e tentou desenhar um cubo mágico na terra, mas saiu tão feio que eu tive vontade de rir.

A música acabou.

- Eu não sei desenhar, mesmo. –ela sussurrou para si mesma, sorrindo, percebi uma lágrima caindo de seus olhos, uma única lágrima, solitária.

- Mas sabe cantar. –sussurrei em resposta.

- Poderia respeitar mais esse segredo. –ela perguntou olhando para mim. Seus lábios, rosto e tudo mais estava firme, só os olhos, não pareciam está ali, pareciam está num lugar que a assombrava. Assenti com a cabeça.

- Acho que vou gostar desse clube. –confessei me levantando. – Mais segredos a respeitar.

- Pensei que...

- Você pensa demais, Halls. –falei oferecendo a mão para ajudá-la a levantar.

Harley era como eu, alguém preso dentro de si, um perdido, que não sabia o que fazer. Tinha percebido isso pela sua voz. Existiam várias Harley’s, como existem vários Hansel’s dentro de mim. Todo mundo tem isso. Vários eu’s descontrolados.

Mas acho que ela tinha medo dos seus próprios eu’s, por isso queria que eu guardasse esse segredo, mas não pensou duas vezes antes de cantar junto comigo. Não existe pior prisão do que a própria pessoa vá por mim. E um detento, reconhece outro à distância.

Pergunte-se o que é liberdade? Ter dinheiro para fazer o que quiser? Ser isento de várias coisas? Se formar e ir morar sozinho?

Não sei sua opinião, mas a minha é simples, liberdade depende de cada um, para mim, seria algo como conseguir conviver com lembranças boas e ruins. Conseguir consolidar todos os seus eu’s, os controlar.

Saiba que isso é impossível sozinho.

Ninguém é verdadeiramente livre, pode por isso na sua cabeça.

Para uma pessoa ser livre precisa de outras pessoas, e isso vai o ciclo, talvez você ai seja o anjo salvador de alguém e esse alguém seja o anjo salvador de mais alguém.

É uma reação em cadeia.

            Voltamos à clareira sorridentes, parecia que um peso tinha sido tirado de nós. Talvez parte do peso da solidão, não consigo ter certeza.

            Chegamos a tempo de ver Garrett chamando a todos para perto de uma árvore, uma mangueira na verdade. Nos sentamos em uma meia-lua.

            - Saca só. –Max falou para a irmã – O Gar achou um pássaro que está saindo do ninho.

            - Para onde será que ele vai? –ela perguntou colocando a cabeça no peito dele.

            Tessa se levantou, tendo maior cuidado do mundo para não fazer barulho o suficiente para assustar o jovem passarinho que eu só conseguia ver parte das asas negras.

            “Blackbird, mas uma música adivinhando meu futuro!” –foi o que pensei.

            - Sabe uma coisa que temos em comum, além de sermos um bando de ferrados, lá na nossa escola? –ela perguntou nos olhando sorridentes. – Imaginação. –ela respondeu a própria pergunta. – Pensem, faz sentindo.

 - Tessa, para de enrolar e fala logo o que você quer. – falei com certa raiva.

            - Realmente. –ela colocou uma mecha do cabelo ruivo atrás da orelha. – Podemos criar um mundo, só nosso, seria nossa salvação. – ela voltou ao seu lugar. – Fechem os olhos, limpem a mente de tudo que julgam ser realidade, e só pensem no impossível.

            Todos obedeceram mais porque queria mesmo ver o passarinho sair do ninho par ao primeiro voo e provavelmente Tessa não deixaria até que a obedecêssemos [É a verdade ruivinha, todo mundo sabe]

            Quase tive um treco quando vi o que pensava se tornando realidade aos meus olhos. Pilares de concreto se erguiam do chão até o céu, se é que aquilo será céu, tudo parecia um jogo de xadrez enorme onde o sol ficava exatamente atrás do passarinho e a lua parecia está numa espécie de prisão atrás das partes pretas do céu. Algumas folhas voaram com o vento e pude escutar risadinhas vindo delas ou do vento, não sei ao certo.

            Olhei para o passarinho, ele estava em pé na ponta do seu ninho nos olhando, abaixou o bico de maneira quase majestosa, abrindo as asas negras ao mesmo tempo, parecia nos reverenciar e ao mesmo tempo pedindo permissão para voar. Assenti com a cabeça, mesmo sabendo que era loucura.

            Ele passou por nós num voo majestoso fazendo que uma alegria estranha nos invadisse. Pousou num galho e cantou uma musica bem breve de no máximo três notas antes de voar em direção ao céu. Lá uma porta brilhante pareceu ser aberta mandando o passarinho para um lugar onde teria uma aventura eterna, algo assim.

Parecia que tudo tinha parado, o mundo tinha parado nos dando mais alguns segundos de contemplação do pássaro em direção ao céu. Escutei alguns estrondos, como se o mundo estivesse mudando, mas só tinha olhos para o pássaro.

- Parece que o mundo parou. –sussurrei mais para mim mesmo, do que os outros.

Mas naquela hora percebi, éramos um grupo, não éramos mais desconhecidos, tínhamos nos conectado de alguma forma, éramos nós.

            - Sabe. –Tessa falou baixinho, mas todos escutaram. – Quando eu era mais nova fiz uma teoria, Teoria de quem chora no banheiro, dizia que tudo tinha e não tinha sentido, dependia do seu ponto de vista e também dizia que você não pode se achar um ser especial, você é só um ponto no mapa, mais nada. Percebo agora que estava certa, isso aqui, diante dos nossos olhos faz sentido para nós, nosso mundo, mais nada. E sim, uma pessoa é só um ponto num mapa, mas várias, não. Faz sentindo, não é?

            Provavelmente todos assentiram só mentalmente. O ninho do pássaro se desfez assim que ele desapareceu na imensidão ensolarada caindo em forma de dentes-de-leão coloridos sobre nós, e depois o vento levou os dentes-de-leão em uma dança simples e bela. Eles pareceram tocar em alguns pontos, algumas criaturas apareceram.

            Vi um hipogrifo negro olhar para mim do mesmo jeito que o pássaro havia olhado. “É você?” –pensei confuso. Ele pareceu assenti com a cabeça antes de levantar voo. “Como você...” –comecei a pensar.

            “Esqueça os ‘como’s” –ordenei para mim mesmo quase rindo da minha própria cara.-“Ele só apareceu como era dentro daquele corpinho pequeno”

            Águias e harpias tão brancas como a neve pousaram na nossa frente fazendo uma reverência desajeitada e depois voaram longe. Borboletas com o triplo do tamanho normal passaram por nós, e escutei risadas novamente.

            Tessa se levantou, e começou a rodar rindo alegremente. O vento cheio de folhas a envolveu, ela pareceu parar por alguns segundos e depois sussurrou algo em um tom tão baixo que ninguém entendeu.

            Enquanto olhávamos para ela sentíamos uma movimentação estranha do vento.

            - Clube do imaginário. –ela disse olhando para frente.

            Seguimos seu olhar, e nessa hora pensei que estava drogado, mas não. Era só um novo mundo, onde folhas faziam frases no ar sendo carregadas por insetos, por alguns segundos, então tudo desabava lentamente como se as folhas tivessem se transformado em areia.

            Então tudo nasceu, estávamos lá, num mundo só nosso.

            Foi nossa salvação, não tenho como negar, a imaginação nos salvou da razão.

            Não acho que só eu estava se autoproclamando um maluco, de alguma maneira nossas mentes tinham se conectado, era estranho.

            Pensei por um momento que estaria ali, cinquenta anos depois, vendo exatamente as mesmas coisas, mas essa sensação estranha, como se nosso peito estivesse mais leve nos acompanharia.

            O clube foi fundado com base nas tristezas, maluquices e dores de todos ali, por isso que se tornava algo real, verdadeiro.  Não era como imaginar um mundo perfeito, era só um jeito de sermos livres, pelo menos por algum tempo, em algum lugar.

            Poderíamos nos encontrar ali, sabermos quem realmente éramos, ninguém sabia, mas poderíamos descobrir, depois daquele momento, poderíamos descobrir sim.

Últimas palavras deste relato:

            Pense na realidade como um cubo mágico, você pode nunca conseguir resolvê-lo, mas sempre tenta, imagina que vai conseguir e quando você vê, não consegue. Não se prenda a realidade, imaginar é bom, e faz sentindo, por não que isso não tenha sentido algum. Sentindo... Isso é algo que prende os seres humanos, encontrar um sentido para a vida, encontrar um sentido para isso e para aquilo outro. Já chegou a pensar em encontrar um sentindo em encontrar um sentido?


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Notas finais do capítulo

Só avisando, vou ter semana de prova e pode ser que eu passe um tempo sem postar, mas juro que vou tentar compensar depois de um tempo, Beijos e Queijos (Homenagem a Flah)