–Malfoy, não estou pra brincadeiras ou pirraças hoje. – ela disse distante. Sentiu o sonserino se aproximar sorrateiramente. Como uma cobra que era. Ambos estavam observando o céu sombrio.

–Dá medo, não é? O céu. – Hermione observou depois de alguns minutos em silêncio, pegando Draco desprevenido.

–Você é uma grifinória. Eu achava que grifinórios não tinham medo de nada. – ele disse com sua voz arrastada, porém menos seca.

Hermione riu tristemente.

–Eu sou um ser humano, Malfoy. Todos somos. Todos temos medo de alguma coisa. E, nesse momento, estou sentindo medo do céu e do que pode está acontecendo com... o Harry. – ela disse suspirando tristemente no final.

Os dois voltaram ao silêncio anterior. Hermione estava tão ocupada em observar o céu que nem percebeu quando Draco voltou seu olhar pra ela. Observando-a atentamente. Observando as feridas em seu rosto tão pequeno e delicado. Observando o olhar dela, que antes era penetrante e agora estava tão triste e distante.

Depois de todos esses anos atormentando Hermione Granger, Draco conseguiu notar várias características e manias dela. E uma das características mais marcantes, era seu olhar. Nunca nem em um milhão de anos ele ia conseguir imaginar aquele olhar sem brilho algum.

O sorriso. O sorriso também era marcante. Sempre, discretamente, Draco olhava pra mesa da Grifinória e quando via o sorriso de Hermione, tudo parecia melhorar. Era um sorriso tão feliz, tão radiante, que conquistava a todos. Draco dirigiu seu olhar para a boca da castanha, e dava pra notar que seus lábios estavam secos e que Hermione não dava um belo sorriso ou risada há muito tempo. Ela havia passado por tanta coisa.

–Por que está aqui? Por que não está com a sua família? – Hermione perguntou ainda observando o céu, interrompendo a linha de raciocínio de Draco.

–Eles não estão do lado certo – Draco disse fazendo Hermione, finalmente, o olhar.

–Como assim? Você sempre esteve do lado deles.

Agora foi a vez de Draco observar o céu. Colocou a mão nos bolsos da calça e suspirou.

–Desde que eu era criança, meu pai me ensinou que os melhores bruxos são aqueles de sangue puro, aqueles que só pensam em si, pois assim teriam sucesso. E, que pra conseguir sucesso, teriam que ser da Sonserina... – Draco disse pausadamente, com sua voz arrastada. – E eu acreditei nisso por um bom tempo. Até que chegou a hora de eu me tornar um comensal. Foi aí que tudo o que eu pensava mudou. Tudo o que eu achava o certo se tornou errado. Eu nunca quis ser um monstro pra ninguém. Mas fui criado assim, não podia fazer nada contra. – Draco desabafou. Se sentia bem melhor agora, pois nunca havia desabafado desse jeito com ninguém antes.

–Malfoy... eu não sei o que dizer. Sinto muito. – Hermione disse sinceramente.

–Tudo bem. – Draco disse seco e indiferente. – Agora é tarde demais. Todos me vêem como um monstro, eu querendo ou não. Sempre serei o colega de turma de Harry Potter que tinha inveja. – ele disse amargo.

Hermione se encolheu e o silêncio voltou a reinar sobre eles. A castanha queria chorar, mas não faria isso na frente de Draco Malfoy.

–Pode chorar se quiser. – ele disse distante. Foi o que bastou para a castanha desmoronar em lágrimas. Lágrimas de dor e medo do que pode acontecer.

Draco não conseguiu se conter e abraçou Hermione, que, por sua vez, retribuiu o abraço. Hermione chorou até não haver mais nenhuma lágrima, e quando isso aconteceu já havia encharcado a camisa de Draco. Corou levemente.

–Me desculpe... pela camisa. – ela disse timidamente se afastando de Draco.

Quando ela se afastou, foi como se o chão de Draco tivesse sido puxado brutamente dele. Não sabia por que, mas quando Hermione estava em seus braços, tudo parecia bem.

–Não precisa se desculpar. – ele disse com a sua voz arrastada. – Está melhor agora?

–Estou... Mas por que está preocupado comigo? Você nunca fez isso. –Hermione murmurou o olhando.

–Talvez porque nós dois temos problemas parecidos. – ele respondeu cruzando os braços pra se proteger do frio e Hermione fez o mesmo.

–Parecidos? – ela perguntou franzindo a testa de leve.

–Sim. Problemas com nossas famílias. – ele disse indiferente. Isso foi como um soco em Hermione. Falar de família já não era tão entusiasmante quanto antes. – Minha família é traiçoeira e não se importam comigo, é como se eu não existisse enquanto a sua... a sua não existe mais.

Mais um soco em Hermione. Fazendo-a chorar de novo. Draco imediatamente se arrependeu de ter dito aquilo. Foi sem querer, saiu sem querer. Ele não soube o que fazer quando viu Hermione chorando ali, de novo.