Recomeço - Para Keiko Maxwell escrita por Amigo Secreto


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Presente para: Keiko Maxwell
Fandom: Gundam Wing
Par: Heero X Duo Trowa X Heero
Observação: Um agradecimento a Beta pelo esforço, trabalho árduo e pela correria.



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Já estavam no Central Park Café há muito tempo. Os freqüentadores entravam e saiam com suas bebidas em punho ou se sentavam nas acolchoadas cadeiras de aço. O cheiro da bebida forte preenchia todo o ambiente aguçando o paladar e aumentando a vontade de degustar do liquido escuro. 

Estavam sentados um de frente para o outro com os olhos baixos, evitando que se encontrassem. O inevitável finalmente acontecera. Algo que ambos estavam postergando há muito tempo, uns seis meses, na verdade. Desde a partida de um deles para a Califórnia.

Ele sabia que este momento aconteceria mais cedo ou mais tarde, mas não saberia quem daria o ponto final, enfim se decidiria . Em seu relacionamento sempre fora Duo que tomava a iniciativa: desde o primeiro beijo, à decisão para sua partida. Mas agora no fim nem mesmo o americano sabia como dar um ponto final naquela situação que se tornara o romance entre eles.

Na verdade, o relacionamento não estava bem ou agradável, antes mesmo dele ter resolvido partir para Los Angeles estudar artes cênicas e dramáticas. Não possuíam mais a sinergia de antes, ou até mesmo dos cinco anos em que ficaram namorando. Não possuíam mais as mesmas idéias, os mesmos sonhos; já não tinham mais a mesma vontade de estarem juntos, aquela vontade de não se desgrudarem de quando ainda eram apenas adolescentes.

Namoravam desde os quinze anos – conheciam-se desde os dez, quando Duo entrou em sua escola e fora praticamente adotado por seus amigos. Sim, desde aquele dia de inverno, onde as nuvens encontravam-se ausentes e o céu estava escuro, que se tornaram amigos ao brincarem no ringe de patinação.

Junto com Wufei e Quatre, os três eram seus melhores amigos. E todos eram inseparáveis. Depois que Duo declarou-se gay aos 14 anos e após perceber que também sentia atração por rapazes, foi quase natural o que acabou surgindo entre eles. Uma paixão intensa, juvenil, repleta de descobertas e como todo romance adolescente, com certa visão romântica que tinha um gosto de inocência. Mesmo sendo uma história com muito sexo furtivo, drogas leves, rock n’ roll e acima de tudo cumplicidade e união entre eles dois e seus amigos inseparáveis. Era a inocência da descoberta que comandava.

Com isto, cresceram juntos, aprenderam juntos, descobriram-se juntos. Mas naquele momento, aos vinte anos, ambos encontravam-se em uma total ausência de sincronia. Estavam em períodos diferentes de vida, em outras filosofias, em fases diferenciadas de crescimento e pensamento, não viviam nem na mesma cidade mais. Nada mais parecia se encaixar, nada mais combinava; exceto seus corpos.

Na cama eles ainda eram imbatíveis juntos, talvez por este motivo o prolongamento do relacionamento. Mas há um determinado momento dentro de um relacionamento em que somente o sexo não basta, afinal eles não passariam 24hs em cima de uma cama trancados dentro de um quarto. Apesar de – admitia – o pensamento não ser desagradável.

Enquanto estavam perto um do outro, estas diferenças não o agrediam tanto ou pelo menos tentava demonstrar que não o incomodavam; ele sentia que podiam superar aquela nova situação e percebia através do olhar violeta que o outro também estava se esforçando para que tudo melhorasse ao longo dos meses que se passaram.

Mas nada melhorou. E tudo se tornou ainda mais evidente quando ele se mudou.

Na única vez que tentou buscar uma informação com um amigo, não precisou nem mesmo fazer perguntas ou indagações: assim que se sentou ao lado de Quatre, o loiro começou a dizer sua opinião. Ali, naquele momento, soube que o que estavam passando já havia se tornado nítido e público para os demais, todos já tinham percebido o quão falido estava o namoro dos dois.

O que o amigo loiro havia lhe dito era verdade?

Ele ainda se lembrava muito bem de cada palavra. Olhando para os olhos límpidos a sua frente refletindo sua própria postura silenciosa, recordou de cada ínfima palavra:

“O problema de vocês é que se perderam no meio do relacionamento. Não sabem mais quem é quem. Estão precisando se encontrar como indivíduos. Vocês querem crescer individualmente como pessoas, como profissionais e até mesmo como amantes. E Duo já percebeu que só vai te este crescimento, este aprendizado sozinho. Não o condene porque você também já percebeu isto, apenas estava acomodado a situação. Você, tanto quanto ele, Heero, está sentindo a falta de uma liberdade que de alguma forma vocês mesmo aprisionaram. Termine logo com este namoro antes que ambos se desrespeitem e até mesmo a amizade se destrua.”

Com as palavras ecoando pela sua mente, pensou pausadamente sobre aquela afirmação. Tudo estava tão dolorosamente certo, constatou ao analisar que o loiro estava correto em suas observações. Quando Duo lhe informara que havia resolvido ir estudar longe de Nova York, de alguma forma não se surpreendera, mesmo sabendo que havia uma excelente opção na universidade da cidade onde viviam. E escolhera não acompanhá-lo e nem ao menos tentara convencê-lo a ficar.

Aliás, ele poderia ter feito aquilo?  Poderia ter feito algo para que Duo ficasse? Teria sido justo – e principalmente honesto – para com os dois?

Sim; ele poderia ter feito alguma coisa. Poderia ter pedido para que o namorado ficasse ou mesmo o convencido a ficar...   mesmo agora poderia pedir para que ele voltasse para Nova York e quem sabe reorganizarem a suas vidas e, principalmente, o relacionamento deles.

Olhando fixo para o rosto bonito do outro rapaz a sua frente, seguindo a linha do peitoral até chegando a suas mãos que brincavam com o copo de café sobre a mesa enquanto falava algo, ele soube que podia sim fazer algo. Mas ele realmente queria fazer?

E o mais importante de tudo, Duo queria que ele fizesse algo?

Desde que se mudara, o outro nunca o convidara para ir morar junto com ele também, e nem ao menos para ir vê-lo. Mas será que ele queria que o namorado o convidasse? Ou será que Duo esperava que ele pedisse para ficar? Não sabia. Não tinha nenhuma das respostas, não sabia nem como agir ou se deveria agir. Pela primeira vez estava tão confuso de tudo. Mas será que estava realmente confuso, ou apenas se sentia desta forma para não decepcionar a si mesmo ou o namorado? Droga.

Os olhos de ambos se encontraram com aquelas perguntas ainda rondando sua cabeça, e diante do sorriso que surgiu no rosto de Duo, imediatamente todas as perguntas foram respondidas.

- Então é isto? Acabou? – perguntou, levando seus olhos para dentro da alma do outro para pelo menos saber se era isto que ambos queriam.

- Nós sabemos que é o que deve ser feito. – O americano respondeu sério mesmo tendo um leve sorriso de alívio em seus lábios.

- Será mesmo?

- Você mais do que eu sabe que sim. Infelizmente. – O viu desviar o olhar,  pegar a caneca a sua frente e sorver o restante de café com creme, para logo depois se levantar.

- Infelizmente. – Sussurrou Heero, com certo desprezo. E chamando imediatamente a atenção do outro, o fazendo parar ao seu lado.  – O que foi? Não sou eu que estou partindo novamente, Duo. – Moveu a cabeça em direção ao rapaz ao lado e novamente forçou que seus olhos se encontrassem.

- Mas é você que não está me impedindo de novo. – O ouviu dizer com um tom resignado.

Tinha razão. Mais uma vez não estava fazendo nada para que ele ficasse. Não bastava ter apenas dúvidas e pensamentos se não estava agindo. Na verdade estava agindo sim, estava agindo de acordo com a minha verdadeira vontade. Seria tão fácil fazer algo, bastava dizer duas palavras, bastava segurar o braço de seu amante e o beijá-lo. Seria tão fácil se ele quisesse que Duo ficasse com ele.

- Você queria que eu te pedisse para ficar? – A pergunta soou no momento em que Duo se voltou novamente para frente soltando-se da prisão emocional que ainda sentia em referencia aqueles olhos azuis. Sentiu que algo na postura do outro mudou radicalmente quando este voltou a sentar à mesa, completamente focado em si outra vez.

- A verdade? – Ouviu a pergunta sincera.

- Sempre.

- Não. – Aquela palavra tão pequena e tão curta, mas que respondia tudo o que queria saber. Instantaneamente sentiu um alívio bater em seu peito por saber que não estava sozinho em tudo aquilo e pode sentir o ar de seus pulmões escapar lentamente.  – Por que se você tivesse feito isto, eu iria sofrer ainda mais em saber que não conseguiria ficar. Não iria mais poder te corresponder.  Você queria me pedir para ficar, Heero?

- Não. – A resposta direta soou de sua boca sem ao menos pensar a respeito sobre ela. Dizer aquilo foi muito mais fácil do que havia imaginado. – Quero que vá. Não podemos mais ficar juntos do jeito que estávamos.

- Concordo. Por isso que terminarmos é a melhor solução. Eu te amo e sempre vou continuar te amando de alguma forma... E me machucaria muito um dia acabar te odiando pelo simples fato de estarmos presos um ao outro numa relação que já havia se extinguindo por comodismo.

- Então é isso. Terminou.- Finalmente o ponto final havia ocorrido.

- Terminou; mas você vai continuar fazendo parte da minha vida, não abro mão disto. E mesmo que você não queira, ainda estarei ao seu lado como seu amigo quando você precisar de mim. – Viu um sorriso sincero e despreocupado surgir. Não haveria de ser de outra forma: não podia mesmo imaginar sua vida sem a presença marcante do ex-namorado, depois de tudo o que tinham compartilhado.

Os dois permaneceram no café. Um diante do outro. Duo falando como sempre, ele ouvindo como sempre. Mas daquela vez era diferente. Ambos aprendendo e modificando o relacionamento. Sem pressão, sem incômodos, ambos livres. Depois de meses de sofrimento, sentia-se liberto das perguntas, das dúvidas... e de todos os sentimentos inoportunos que o incomodavam.

 Ficaram daquela forma até a noite cair e com ela os ex namorados saíram para a rua, andando juntos como dois amigos que agora eram. Caminharam até alcançarem um bar com um som muito familiar vindo de seu interior, a banda de Wufei já havia começado o show. Ao entrarem, encontraram os demais e sob o olhar satisfeito dos outros amigos, brindaram a uma nova vida que estava começando para ambos.


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