Capítulo 10

   Ele me levou até a sala de música, que estava completamente vazia, a não ser por nós dois. Quando me dei conta disso, meu coração começou a bater exageradamente forte, e comecei a ficar nervosa.

   – Sim, o que você q-queria me dizer?

   Então ele começou a se aproximar e quando ele estava prestes a dizer (ou fazer) alguma coisa, foi interrompido pelo som da porta se abrindo.

   – Catherine? – Disse Fred. – Você está aí?

   – Sim, aqui. – Comecei a andar em sua direção. – O que você quer, Fred?

   Então ele finalmente notou que eu não estava sozinha.

   – O que você está fazendo? Escondida na sala de música com Will Henderson? – Fred parecia não acreditar. – O que está acontecendo aqui?

   – Quem é ele, Cath? – Perguntou Will. Pronto. O estrago estava feito. Por que não verifiquei se a porta estava trancada?

   A reação de Fred não foi nenhuma surpresa. Eu sabia que ele ia ficar paranóico, e Will parecia se divertir muito com isso.

   – Cath? Você está a chamando-a de "Cath"? – Fred estava indignado. – Só os amigos a chamam assim. – Disse, com ênfase na palavra amigos.

   – Eu sou amigo dela, caso não tenha percebido. E você é... – Will hesitou. – Calma, eu sei que já o vi em algum lugar. Ah, sim! Você é o cara do teatro! O que cantou e dançou High School Musical no começo do ano! – Disse Will, quase explodindo de rir.

   Para ser sincera, eu estava me esforçando muito para não me juntar a ele e rir também. Mas, coitado de Fred. Não merecia ser zoado daquele jeito.

   – Pelo menos eu tenho talento. Não sou como algumas pessoas que não tem e, para compensar, fica correndo atrás de uma bola ridícula. – Espetou Fred.

   Ok, retiro o que disse. Ele merecia sim ser zoado daquele jeito.

   – Mas nós, os idiotas sem talento, não somos vistos por todo o corpo estudantil como gays. – Disse Will, deixando Fred muito vermelho.

   – Peraí cara, AGORA você está passando dos limites. – Gritou Fred.

   – O que foi que eu fiz dessa vez? – Will estava mesmo se divertindo muito brincando com Fred. – Te chamei de gay ou fui pego com a sua garota?

   Espera.

   AGORA a brincadeira foi longe demais.

   Está tão óbvio assim? Que Fred gosta de mim?

   Caramba! O fato de Fred ser um ator, deveria tornar mais fácil ele esconder um pouco seus sentimentos. Mas nãããããão... por que os atores são tão sentimentais?

   – Ok, agora CHEGA! – Tive que intervir. Aquela discussão já estava me dando dor de cabeça. – O que você quer, Freddie?

   – Falar com você.

   – Entra na fila garoto, você não é o único que quer isso! – Disse Will.

   – Will, senta! E fique quieto! – Lol. Aquelas aulas de adestramento para Spiky não foram tão inúteis! – Fred, não se meta em assuntos que não são da sua conta. Tá, os dois querem falar comigo, mas Will chegou primeiro, então é mais justo que ele comece. Tenha paciência, Fred! Depois eu vou falar com você! – Uma das coisas que eu menos gosto em Fred é que ele é to-tal-men-te impaciente; acho que não conseguiria lidar com ele se não tivesse a Ann.

   – Ok, eu espero lá fora. – Disse Fred. Ele parecia meio deprimido. Então ele saiu.

   – Bem – Prossegui, com medo. – O que você queria me dizer, Will?

   – Bem, se aquele – Hesitou, em busca de melhores palavras. – garoto não tivesse nos interrompido...

   – Will, Fred é meu amigo. Não fale assim dele.

   – Eu não disse nada! – Defendeu-se.

   – Mas insinuou. Eu não falo assim dos seus amigos.

   – Cath, você nem ao menos conhece os meus amigos. – Disse ele, com razão. – Se não fosse aquela noite, eu tenho certeza que você não fazeria idéia de quem eu sou.

   – Até parece. Você é o cara mais popular da escola.

   – Posso ser, mas você não liga pra isso. Se ligasse, estaria comemorando só com o fato de eu estar sozinho numa sala com você. Mesmo sabendo que seu amigo pode estar ouvindo tudo o que estamos dizendo.

   – Bem, eu... – Eu comecei a dizer.

   E foi essa hora que o sinal tocou.

   Nunca fiquei tão ansiosa por uma aula. Mesmo que fosse de Álgebra avançada. O bom disso é que Katie, Fred ou Will não estavam lá, o que me provocou um profundo alívio. Mas eu não conseguia parar de pensar sobre Katie e o que eu poderia fazer para ela voltar a falar comigo. Então eu lembrei que tudo o que eu queria estava ao meu alcance. Era só fazer o que eu fiz com a minha mãe. Ainda me restavam quatro pedidos. Se ao menos...

   – Catherine Stewart! – Ouvi uma voz me chamando.

   – Sim, Srtª. Hill? – Me ouvi dizendo. O que será que ela tinha perguntado?

   – Você sabe a resposta? – Disse, um tanto irritada.

   Ai, droga! Ela já tinha perguntado alguma coisa. Dei uma rápida olhada no quadro.

   – X é igual a 3 vezes -b mais a². – Ufa! Ainda bem que eu sempre fui boa em álgebra.

   Pelo menos a Srtª. Hill parecia satisfeita.

   – Agora, Mitchell, qual é a resposta da segunda equação? – A Srtª. Hill era uma das melhores professoras daquela escola. Era solteira, extrovertida e bem legal. Na maioria das vezes ela nos pedia para chamá-la de Hillary, mas era difícil lembrar disso quando ela estava brava. Sim, voltando ao assunto. Eu precisava de Jeff. Por sorte tinha colocado ele na bolsa hoje de manhã, só por precaução.

   – Jeff? Você está aí? – Sussurrei. Nenhuma resposta. Achei melhor deixar terminar a aula primeiro até fazer uma nova tentativa.

   Mas, enquanto esperava a aula passar, senti a minha bolsa vibrando.

   – O que você quer? – Sussurrei. – Estou no meio da aula.

   "Pensei que você tivesse me chamado" – Disse ele. Disse não é uma boa palavra, pois o que saiu de lá foram letras. Ele escreveu em vez de falar. Cara esperto.

   – Catherine? Está tendo problemas com a sua bolsa? – Disse a Srtª. Hill.

   – Sim, quer dizer, não! Estou bem... – Tentei falar.

   – Tem certeza de que não precisa de alguma coisa?

   – Na verdade... – Eu precisava de um lugar. Um lugar onde eu pudesse ficar sozinha. E, de preferência, que não fosse a sala de música. – A senhora poderia me dar um passe para o banheiro?

   – Bem, estamos no meio da aula e...

   – Por favor, Srtª. Hill. É uma emergência.

   – Vá, então. – Acho que ela entendeu o que eu tentei insinuar.

   Chegando lá, percebi que estava, enfim, sozinha. Tirei Jeff da bolsa e... ele não pareceu muito feliz com isso.

   – O que você quer? Eu estava dormindo.

   – Jeff? Você se importa?

   – De quê? – Mas, como se lesse minha mente, ele recuou rapidamente. – Não, não e não!

   – Você disse que eu tinha cinco desejos. Como eu só usei um, ainda me restam quatro!

   – Na verdade...

   – O quê? – Eu quis saber.

   – Não, nada não. Mas, você acha que eu tenho cara de quê? De babá de adolescentes que só se importam com coisas que não favorecerão em nada no mundo?

   – Bem, se você não é, está agindo exatamente como uma.

   – Ah! Escreva isso, você ainda vai me enlouquecer!

   – Vamos logo, eu não tenho muito tempo.

   – Ok, faça isso de uma vez. Mas, lembre-se, escolha bem suas palavras, você não quer que isso dê errado.

   Certo, agora fiquei com medo. Queria que desse certo, mas minha cabeça não funciona muito bem sobre pressão.

   – Então, vamos lá. Bem, eu... quero dizer... – Consultei o relógio. Eu ainda tinha dois minutos.

   – Bem, eu não tenho o dia inteiro. E creio que você também não.

   – Olha, eu só quero que Katie pense que ainda somos melhores amigas. Que ela não saiba que eu gosto de Chad. E que ela me peça desculpas.

   – Bem, isso parece... esclarecedor. Se é o que você quer... – Então ele estalou os dedos. E o banheiro se encheu de poeira laranja e eu me vi sozinha outra vez. Mas estava na hora de voltar pra aula.

   Ao chegar na sala, percebi que a Srtª. Hill parecia... não sei. Não consegui descrever a sua expressão. Quando olhou para mim, ela apenas disse:

   – Bem, sente-se Srtª Stewart.

   Estranho. Ela estava sempre animada com alguma coisa. Não era normal ver ela tão... normal. É como se... não, isso seria impossível.

   Ao sair da sala, não vi Katie, mas resolvi procurá-la quando depois da próxima aula. Enquanto seguia para aula de Educação Física, vi Will vindo em minha direção. Não estava nem um pouco a fim de conversar com ele de novo. Olhei para o outro lado, e vi Fred. Estava encurralada. Se eu seguisse reto, acabaria entrando no banheiro dos meninos. Para ir para a quadra, o caminho mais curto seria passar por Will, e se andasse em direção a Fred, teria que dar uma volta enorme, e eu já estava quase atrasada. Por isso, optei passar por Will.

   E foi uma péssima ideia.

   Assim que eu passei por ele, ele chamou o meu nome. E aí, todo mundo olhou com cara de por que ele está falando com ela?

   Ele parecia normal, mas com uma cara estranha. Meu Deus, todo mundo resolveu ficar estranho logo hoje!

   Sim, mesmo sendo observada por um grande número de olhos, segui para aula de Educação Física.

   Educação física era a matéria que eu menos gostava. Eu sei isso não parece normal, mas isso está vindo de uma garota que faz álgebra avançada e adora química. E não se sente bem ao ser vista com o cara mais popular e gato da escola, coisa que muitas garotas daqui matariam para acontecer com elas.

   Sinceramente, estou cansada disso. Quero dizer, Fred, Will, Chad, Danny, Nick... é demais para uma garota só.

   Ao sair da aula, vi Katie a apenas alguns passo de distância.

   – Katie? – Chamei, só para ter certeza que ela não queria me matar.

   – Catherine! – Disse ela, alegre. – Estive te procurando o dia inteiro! Por que você não apareceu no almoço?

   – Você não lembra do que aconteceu no almoço?

   – Bem, você não estava lá. É tudo que eu lembro.

   Nossa! Esse negócio de Jeff funciona mesmo!

   – Katie? Você vai estar ocupada nesse sábado?

   – Não, acho que não.

   – E Chad? – Tentei não parecer ansiosa demais.

   – Não, duvido que ele tenha marcado alguma coisa. Por quê?

   – Nada, só que eu tenho alguns planos. Que tal às dez? Você pode aparecer com Chad lá em casa?

   – Tipo uma festa?

   – É, tipo uma festa. Mas eu estava pensando, sabe, na piscina, e tudo mais.

   – Claro! Vejo você lá, então.

   E ela foi embora. Bem, isso foi mais fácil do que eu imaginei que seria. Agora só faltava convencer os outros.

   Não precisei me preocupar com Danny. Ele topou na hora e disse que levaria Brittany. Fred ficou meio esquisito quando eu disse que tinha mais meninos além dele, mais ele disse que iria. Chamei até Kelly e Jennifer. Kelly havia me convidado para ir a aquela festa há um tempo, e se eu a chamasse, teria que chamar Jennifer também. Os únicos problemas foram Will e Luke. Eu não tinha como não chamar Will. Com Danny sabendo, várias pessoas acabariam sabendo também, e isso logo chegaria aos ouvidos de Will. E por menos que eu goste dele, não quero que ele me odeie. E eu precisava de Luke. Na verdade, eu precisava de Nick. Mas, para isso, teria que chamar Luke também. Argh!

   Eu tinha uma razão para querer uma festa na piscina. Estávamos quase no verão, e minha mãe não iria se importar. Aproveitei e chamei, no total, umas cinquenta e poucas pessoas. Não foi difícil, depois que todo mundo me viu com Will no corredor e no almoço mais cedo. E também tinha o fato que nenhum garoto estaria usando camisa.

   Como havia previsto, minha mãe pareceu um pouco perturbada, mas não se importou. Mas Annie, por outro lado...

   – Peraí mãe, você vai deixar Cath dar uma festa na piscina? Você nem ao menos deixou eu sair no meu aniversário! – Ann se revoltou.

   – Não se preocupe, querida. Deixarei você sair no seu próximo aniversário. – Disse mamãe, calmamente.

   – Mas isso será, tipo assim, daqui a um ano! – Ann enlouqueceu.

   Ela apenas ignorou o fato e saiu da cozinha.

   – Sério, Cath, que tipo de vodu você fez com ela? Me ensina!

   – Eu não fiz nada! – Defendi-me. – Acho que ela acordou e pensou: a partir de hoje serei boazinha com a Cath.

   – Eu não estou brincando.

   – Nem eu. – Revidei.

   Mesmo sendo uma hipócrita, Ann era minha irmã. Eu tinha que ser legal com ela de vez em quando.

   – Olha, se isso faz você se sentir melhor, eu deixou você ir na festa.

   – Ah, eu ia de qualquer jeito. Eu também moro na casa, lembra?

   – Pode trazer Dylan.

   – Agora ficou interessante. Tenho certeza que ele vai vir. Vem cá, por que uma festa na piscina? Por que você não faz uma festa normal? Por favor, não me diga que é só pra ver os meninos sem camisa! – Eu vou matá-la.

   – Não, é claro que tem outras razões... como o clima... – Comecei a corar.

   – Catherine, desde quando você se importa com o clima? Não tente mentir pra mim! Eu sei com o que você se importa, e você só está tentando um jeito de consegui-lo.

   Peraí. Do que essa doida está falando?

   – Acha que eu não sei sobre o namorado da sua amiga? Chad?

  AGORA eu vou matá-la. Onde mamãe guarda as facas?

  – Tenho os meus contatos, querida. Não se preocupe, não contarei a Katie. Será ótimo ter uma oportunidade dessas com Dylan. – Então ela saiu, me deixando sozinha na cozinha.