Como João Pedro previra, o pub estava cheio. Os dois fizeram o show e, a pedido do público, ainda voltaram ao palco para mais duas canções.

      Muitos brasileiros estavam na platéia. Atraídos pelo artigo que fora publicado num jornal local, vieram conferir e matar um pouco das saudades do país.

      Ao acordar no dia seguinte, o namorado já fora para a faculdade. Estava nas últimas provas para acabar o semestre e então ia sempre cedo para estudar um pouco mais.

      Pierrot se alongou na cama e foi até a cozinha.

      Em cima da pia havia uma rosa vermelha e um bilhete que dizia:

     “Obrigado pela noite perfeita, pela vida perfeita que você tem me proporcionado. Jamais pensei que pudesse ser tão feliz!

                                         Com amor,

                                               João Pedro” 

     A garota sentiu os olhos se encherem de lágrimas. O namorado sempre a surpreendia com recadinhos românticos e apesar de já estar acostumada, seu coração sempre disparava quando encontrava mais um.

     Com um enorme sorriso, foi até o armário e pegou uma caixa onde guardava todos esses bilhetes. Olhou os papéis e pegou a maior folha. Sentou-se na cama e começou a ler o poema:

“Dá pra ver nos teus olhos 
Você já sofreu por amor 
É por isso que o teu coração se fechou 
Eu também me enganei com alguém 
E jurei nunca mais me entregar 
Mas apareceu você e eu vi tudo mudar 
Tô tentando manter os pés no chão 
Mas eu já me envolvi nessa paixão 
 
E agora eu tô querendo mais 
Tudo é mais gostoso quando você faz 
Confia em mim 
Deixa rolar 
Abre o coração pra ver no que vai dar... 

Quer namorar comigo?”

      Sorrindo, ela se lembrou de como eles tinham conversado no avião. Os dois realmente tinham sofrido por amor. Manu não falara de Helena, apenas de Roberta, mas omitira que se apaixonara por uma garota e JP achou que se tratava de um rapaz.

      Lembrou do primeiro beijo que acontecera meio por acidente enquanto eles esperavam para pegar as malas.

      A vocalista escorregara e ele a segurara. Seus rostos ficaram tão próximos e eles não resistiram à atração que estavam sentindo.

      Manu estava encantada com ele e após ler o poema, tudo o que quis dizer foi sim.

      Estavam juntos há quase seis meses e ela acreditava que o relacionamento era bastante sólido.

      Levantou-se para ligar para seu pai. Precisava comunicar-lhe a decisão que tomara.

      - Nem pense nisso, Manuella! Está fora de cogitação. Em duas semanas quero você de volta ao Brasil.

      - Mas, papai, quero continuar morando aqui em Londres. Estou começando a fazer sucesso nos shows com o João Pedro, até saímos no jornal...

      - Fico muito orgulhoso de você, só que isso não muda a minha opinião. Tínhamos um trato e você não está querendo cumpri-lo.

      - Eu posso fazer a faculdade aqui, papai. As aulas começam em setembro, não ficarei atrasada.

      - Não, Manuella. Você vem, começa o teu curso aqui e se ainda quiser voltar quando as aulas começarem, tentaremos uma transferência. Eu e sua mãe estamos com saudades e não podemos nos ausentar do país. Você vem e se depois quiser voltar, tudo bem.

      A escritora suspirou. O tom de seu pai mostrava que aquilo era o máximo que conseguiria. Autorização pra voltar depois de dois meses.

      - Tudo bem, papai. Se não tem outro jeito...

      - Eu já tinha feito a reserva no avião. Vou confirmar e depois te mando tudo que você precisa pra embarcar. Agora preciso ir, filha. Beijo grande e se cuide. Nos vemos daqui a duas semanas.

      - Tchau, papai. Amo você! – ela disse encerrando a ligação.

      Então guardou o poema na caixa e foi tomar banho. Ainda não sabia como contar para o namorado que voltaria para o Brasil...

333

      - Oi, João! Como você foi nas provas? – perguntou um inglês ao encontrá-lo no corredor.

      - Oi, Hugh! Fui bem, é só esperar o resultado, mas acho que passei em tudo. E você?

      - Também acho que passei em tudo. Ficou sabendo dos cursos de férias que a universidade vai dar?

      - Soube por alto, mas nem vi quais são.

      - Cada um é melhor que o outro. Estou indo me inscrever. Vem comigo! Quem sabe você encontra algum que te agrade?

      - É uma boa idéia. Vou sim... – respondeu indo até a secretaria com o amigo.

333

      - Bom dia, Cínthia!

      - Oi, prima! – cumprimentou a baixista entrando na sala. – Como foi a viagem? – perguntou após cumprimentá-la.

      - Cansativa. Cheguei e dormi a noite toda. Agora vim aqui saber as novidades. O que mudou nesses dois anos que passei nos Estados Unidos?

      - Ora! Você é quem precisa contar as novidades. Quase nem te reconheci. Você mudou muito, Alicinha!

      - ih, Cínthia! A Alicinha ficou no passado há muito tempo. Todos me chamam de Alice.

      - Quer dizer que você cresceu? – perguntou meio sarcástica.

      - Na verdade foi a vida que me fez amadurecer. – respondeu num tom estranho. – E isso se refletiu no meu modo de ser, de encarar a vida e no meu modo de vestir.

      - Bem, devo confessar que você era um porre! Nunca vi ninguém tão metida quanto você.

      Alice riu abertamente. Conhecia o jeito da prima e o achava divertido.

      - E a Manu? O que ela tem feito?

      - Ela está morando em Londres desde o início do ano, mas deve voltar em breve.

      - Hum... – comentou a garota sem saber o que dizer.

      - Você pode ter mudado muito, mas o fascínio pela Manu continua o mesmo, né?

      - Não sei do que você está falando. – respondeu Alicinha vermelha.

      - Eu adoraria que vocês namorassem... – a baixista disse sem se importar com o comentário da prima.

      - Ela me detesta! – falou um pouco triste.

      - Não, ela detesta a Alicinha que vivia pegando no pé dela. E ela tem razão em detestar. Ninguém quer uma pirralha deslumbrada atrapalhando a sua vida e o seu namoro.

      - Obrigada pela parte que me toca! – disse a garota meio irritada.

      - Ué, só tou falando a verdade. Você era muito chata mesmo! Só que agora está mudada. Quem sabe você não tem uma chance? Eu posso te ajudar... – disse sorrindo.

      - Você me ajudaria mesmo? – perguntou com os olhos brilhando.

      - Eu te ajudo aproximando vocês. Conquistá-la vai ser por sua conta.

      - É justo!

      - Minha sobrinha querida! Que bom vê-la novamente!

      Alicinha levantou e abraçou a tia que interrompera a conversa. O assunto “Manu” ficaria para outra hora...