Eu não podia respirar. Eu não entendia o que estava acontecendo. Eu não podia pensar. Eu não sabia aonde estava. Eu estava com medo. Não, era mais que isso, eu estava totalmente desesperada. O terror que se apoderava de meu corpo era algo que eu nunca havia esperimentado ao longo de meus dezesseis anos.

Era mais aterrorizante do que a ideia de ficar longe de Paul, quando eu era pequena. Era mais aterroriante do que a ideia de ficar longe de Ned. Era mais aterrorizante do que a ideia de Ned ser uma espécie de anjo. Era mil vezes mais aterrorizante do que vir morar no fim do mundo com minha tia e meus primos novamente.

Era o tipo de terror em que você não teme pelo seu bem estar e sim por sua vida, por sua existência.

Algo molhou meus pés e eu queria mais que tudo saber o que estava acontecendo. Meu cérebro parecia incapaz de me dar uma explicação para tudo que estava acontecendo. Tudo que eu me lembrava era de entrar em meu quarto, suplicando para ter visto tudo errado e então ouvir a voz de Damen, vindo de algum lugar atrás de mim, então eu me virei e lá estava ele, com todo seu charme e roupas pretas, me olhando como se eu não passasse de uma presa, e então... Nada.

Era como se alguém tivesse rancado minhas memórias de mim. Eu quase podia ver alguém puxando elas para fora do meu alcance, com uma força maior que a minha. Eu queria gritar, fazer meus olhos se abrirem e me libertar de todo esse terror que tomava conta do meu corpo.

O líquido começou a molhar minhas calças, subindo para minhas costas e me fazendo tremer até os ossos de frio. Em pouco tempo, eu estava completamente molhada, o líquido aumentando cada vez mais rápido, junto com meu terror. Eu sabia que aquilo era perigoso. Eu sabia que aquilo iria me matar. Eu sabia que não tinha como escapar dessa vez.

Se concentre. Dizia uma voz no fundo de minha mente. Como me concentrar com todo esse auvoroço e terror a minha volta? Eu conseguia sentir a agitação do líquido querendo me matar. Eu conseguia sentir o meu próprio terror, porém mil vezes maior. Eu podia sentir algo em cima de mim, me impedindo de voltar a vida.

E com isso, antes que eu pudesse perceber, o terror que se apoderava de mim foi diminuindo. Eu podia sentir a nossa luta, eu ficando mais forte, enquanto o terror enfraquecia e aos poucos deixava meu corpo. Aos poucos minha concentração foi ficando maior e eu podia respirar.

Então eu estava mais calma. Minha pulsação estava quase normal, o terror quase não habitava no meu corpo. Meus olhos se abriram de repente e eu soube o que fazer.

Antes mesmo de abrí-los, eu podia saber que eu estava em um lugar fechado e pequeno, que era água que envadia meu espaço e que o que estava em cima de mim era Damen.

Então tudo que eu pude fazer quando abri os olhos foi encarar o capô de metal do carro que me fechava e dizer calmamente as palavras que pareciam estar escritas em meus olhos.

- Me liberte. - falei com toda a autoridade que eu consegui.

Nada aconteceu, então eu encarei profundamente o carro e imaginei ele voando em pedaços.

- Me liberte... agora! - gritei.

E então, em questão de segundos, o capô do carro se espatifou em milhares de pedaços e eu me levantei, encarando os olhos frios de Damen que me encaravam.

Mas eu não tinha medo dele. Eu queria mesmo é matá-lo.