Eu não sei o que havia pensado da vida nos últimos dias, mas hoje, não acreditava que eu tinha aula! Sério mesmo! Escola? Eu queria tanto que as férias nunca tivessem acabado, mesmo tendo sido meio malucas! Sim, quatro meses haviam se passado desde que havia conhecido Logan e haviam se passado rapidamente diante dos meus olhos. Tinha apenas mais três meses de aula, antes de voltar para o Brasil e finalmente matar a tanta saudade que sentia dos meus amigos e familiares, mas primeiro, teria que aturar professores, metidos, o inferno do colégio em si, e dessa vez, a diferença era que não tinha Zoe comigo para amenizar. É claro que eu tinha outras colegas, mas nenhuma com quem eu realmente gostava de ficar como com Zoe... A Loira era tão especial no fim de tudo, mesmo eu me odiando completamente por ainda pensar nisso.

Como em toda manhã de aula, acordei juntinho com o sol. Me arrastei lentamente ao banheiro, sentindo o sono tomar conta de todas as dobras do meu corpo. Abri a torneira hesitando em colocar as mãos na água gelada, mas finalmente cedi, lavando minhas mãos e logo após o meu rosto, que deu uma rápida despertada, como se tivesse sido alvo de um choque. Uh! Eu estava acordada! Olhei para meu reflexo e soltei um suspiro agarrando minha escova de cabelo e bolsa de maquiagem, bem... Vamos lá!

O mínimo que eu poderia fazer por mim, no humor que andava naqueles dias, era ter um mínimo de amor próprio e me arrumar para sair. Tudo bem que “sair” para mim significava ir à escola, mas minhas opções ultimamente não eram as melhores possíveis. Coloquei minha blusa preta de alcinhas, preferida, com um lacinho cinza entre os seios que eu tanto amava, minha calça skinny jeans de cor clara, que levantava minha bunda e realçava um pouco minhas coxas, subi em meus saltos não muito altos pretos, com tiras que contornavam meus pés com zíper que deixava o look um pouco mais descolado e coloquei meus brincos de asas de anjo, que mamãe havia me dado em meu aniversário de 15 anos. Eu tinha que me sentir bem, pelo menos em meu exterior, porque era o melhor que poderia fazer, eu de fato achava que as roupas que eu estava usando naquele momento eram um pouco ousadas para ir apenas ao colégio, mas eu não ligava. De acordo com Logan ele iria me tratar “como eu merecia ser tratada”, então eu agiria como eu queria agir, agiria como eu sou, para ser tratada assim, pois tentar ser santinha, tentar ser fofa e legal, para ser maltratada não era algo que parecia justo, então a única coisa que fiz, para mim mesma, foi ligar o foda-se para o que pensam de mim. Sim, eu ia de salto para o colégio, sim eu ia com uma blusa colada e eu não estava nem aí se pudesse ser confundida com uma das popularzinhas nojentas do colégio.

Desci as escadas de cabeça alta, não tentando fugir de ninguém, como havia feito nas últimas semanas, estava cansada de me esconder, e se eu encontrasse Logan, olharia em seus olhos e o esnobaria. Eu o trataria como merece ser tratado. Como a coisa de menor valor em toda a casa. Entrei na cozinha dando um beijinho em Carmen que eu não via há um tempinho, a espanhola me abriu um sorriso me observando por um momento, pisquei para ela dando uma risadinha enquanto pegava um copo de suco, a mulher franziu a testa colocando o pano de prato sobre o seu ombro caminhando até mim, me olhou um pouco confusa.

–Não vai para a escola hoje?

Perguntou, abri um sorriso e assenti.

–Vou sim.

–Por que está tão bonita assim, alguém especial?

Perguntou com um sorriso no rosto, e foi exatamente nesse momento em que Logan adentrou a cozinha se sentando á mesa. Ele sequer olhou para nós, apenas serviu-se de um pãozinho e iniciou seu café da manhã solitário, olhei para Carmen com um sorriso dando de ombros.

–Talvez. Se tudo der certo...

Dei uma risadinha, pude ver Logan desviando os olhares em minha direção por um momento, mas permaneceu em silêncio.

–Bom para você, Mandy.

Sorriu a espanhola. Logan revirou os olhos enquanto mordia o seu sanduíche vidrado no prato a sua frente, como se estivesse contando-lhe a melhor historia do mundo e não pudesse parar de prestar atenção. Terminei o meu suco, andando com os ruídos do salto contra o chão de mármore da cozinha, em direção a porta e mandando um beijo à Carmen.

–Te vejo mais tarde!

–Juízo!

Falou Carmen enquanto acenava para mim. Eu achava maravilhoso Carmen ficar de fora dos assuntos da família, a ponto de não saber sobre a mídia do meu namoro falso com Logan e de fato achar que havíamos terminado. Carmen nos amava demais para ficar com raiva de alguém e o máximo que fazia era rezar para que achássemos pessoas melhores para cada um de nós, coisa que me ajudava muito em ver a cara ridícula daquele babaca de olhos azuis que fazia quando ficava com ciúmes... Ou acho que eram ciúmes. O importante era que eu não ligava, eu não precisava dele e precisei ser usada, ficar mergulhada em meus pensamentos por três semanas debaixo das cobertas e chorando para perceber isso... Que era obvio.

–Isso eu tenho de sobra!

Respondi a Carmen com uma piscadela enquanto saltava para fora do cômodo.

***

Muitas pessoas se sentem animada pelo início das aulas. Eu obviamente, não me enquadrava nesse grupo de pessoas. Bem, em parte porque eu sabia que não tinha ninguém para cumprimentar ou sentir saudades quando fosse para a escola, e em parte que tirando a parte social, a escola era o inferno, portanto eu estaria indo para estudar... E eu não queria. A cadeia alimentar parou quando me viu passando pela porta. Meu cabelo havia crescido desde o último semestre e estava quase em minha cintura, eu havia o alisado e com os saltos altos, eu praticamente desfilava pelos corredores. Desde que havia chegado aos EUA, tudo o que eu queria, era passar despercebida, caminhar pelos corredores sem ser incomodada, sem ser notada, mas agora eu não dava a mínima para isso. Eu queria que as pessoas me olhassem, eu queria que falassem de mim, não importava o que, se era bem ou mal, elas não pagavam as minhas contas, elas não tinham nada com a minha vida, e eu não devia nada a ninguém, só me odiava por ter demorado tanto para perceber isso.

Caminhei até meu armário, abrindo-o e vendo a poeira sair para fora dos livros ali encostados. Meus olhos pararam nas fotos coladas em suas paredes, meus amigos no Brasil, em particular Mari, Letícia e Briza, de quem eu sentia tantas saudades! Mari com seu jeitinho criança, e tão bonita que chamava a atenção de todos que passavam pela rua, com os longos cabelos negros e sua beleza cem por cento brasileira, e seu sorriso que contagiava qualquer um... Letícia e os longos cabelos loiros, e as risadas divertidas, com seu jeito bobo, que chegávamos a comparar com o bicho preguiça, Sid, daquele filme infantil que nos divertimos mais do que as próprias crianças na seção quando fomos vê-lo no cinema... E Brizinha, que de inha nada tinha, com seus cabelos com mexas roxas e roupas pretas com caveiras estampadas, que deixava qualquer um invejado com o seu estilo, e o jeito meigo que completava-a completamente e nos fazia ama-la mais do que tudo! Nunca se aborrecia! Completávamos umas as outras, e eu sentia tanta falta dessas minhas amigas, que chegava a doer! Como eu poderia ter me esquecido daquela foto que havia colado ali? Havíamos demorado tanto para convencer Briza a tirá-la! E havia ficado tão linda aquela foto! Suspirei, ao me pegar sorrindo, mal podia esperar para reencontra-las! Meus olhos pararam então em outra foto, onde Zoe e eu estávamos na piscina de sua casa. Eu estava em seus ombros e ambas riamos como duas retardadas. Bufei. Como eu odiava Zoe naquele momento. Sem dó agarrei a foto grudada na parede e a joguei em algum lugar entre os livros, eu não queria ficar olhando para ela, era graças a Zoe que eu estava sozinha e graças a ela odiava minha vida naquele momento, eu não queria ter que encará-la, mesmo com toda essa carga emocional, a ver ainda doía.

Fechei a porta após agarrar meu livro de álgebra, encarando o chão, mas assim que fiz, meus olhos se surpreenderam com sapatos de cor rosa bebê, com brilho que reconheci da capa de uma revista da Prada que havia visto sobre a cama de Hayley. Torci o nariz erguendo os olhares encarando por um momento, Tiffany, ou Fanny como costumava ser chamada, a loira, líder das cheerleaders de quem sempre fugi e tive aversão ao ver andando pelos corredores. A garota era... Lamentável. Muito bonita, devo admitir, com lindos cabelos cacheados em cor dourada que descia sobre seus ombros, grandes olhos cinzas, que na verdade eram puxados para um tom violeta e se vestia tão bem, que deixaria designers de moda com inveja do seu estilo de modelo que acaba de sair de uma revista de grife. A garota estava usando sua mini saia rosa, no mesmo tom do sapato e uma blusa em um tom branco, com sua bolsa que eu reconhecia, também da Prada. Eu geralmente me sentiria assombrada com sua presença, mas naquele momento, a menina me olhava de forma completamente surpreendente... Ela sorria para mim.

–Mandy!

Arregalei os olhos. Ok, aquilo era estranho... Até alguns segundos eu jurava que aquela garota sequer sabia o meu nome, agora ela sorria para mim como se fossemos melhores amigas... Eu havia perdido alguma coisa?

–Hm... Oi.

Cumprimentei, Fanny deu uma risadinha como se eu tivesse dito algo engraçado, mudei de pé como apoio ainda um pouco confusa, mas abri um sorrisinho também.

–Como você está bonita! Acho que o namoro com alguém está te fazendo bem!

Sorriu. Ah sim. Agora tudo fazia sentido. Ela de fato não sabia quem eu era antes de eu começar a ter algo com Logan... E de certa forma ela sabia isso, talvez por causa de todas as matérias que haviam saído sobre a nova namorada de Logan... Era impressionante como as pessoas realmente ligavam para esse tipo de coisa. Ela falava comigo porque achava que eu namorava o Logan! Hm... Bem, pelo menos ela falava comigo e vamos combinar que mesmo ela me usando como interesse por causa de Logan, eu também estaria a usando como interesse por... Bem, por não ter outra amiga. Que mal isso poderia ter, não é? Fanny não seria minha primeira opção, mas... Um sorriso se alargou em meu rosto e dei uma risadinha assentindo. Olhei para as roupas que estavam em meu corpo e dei de ombros.

–Obrigada! Com certeza está. –Sorri. –Você também está ótima! Ainda com Bryan?

Fanny sorriu assentindo e balançando a cabeça por um momento, como se estivesse indignada.

–Ah, ainda estou com ele, mas menina, não sabe o que aconteceu! –Falou soltando um leve suspiro. –Bom, vamos para a aula agora que eu te conto! Tem álgebra agora, certo? Eu também! Senta do meu lado que daí eu te conto, não sabe o que ele fez!

Meu sorriso se alargou ainda mais e assenti completamente interessada no assunto. Bem, talvez eu estivesse errada... Fanny havia me chamado para sentar com ela na aula de álgebra e bem... Eu não ia ficar tão sozinha quanto eu pensava. Aceitei seu convite enquanto saíamos as duas conversando pelo corredor em direção à sala. Algumas pessoas pararam para nos observar curiosos, provavelmente pensando quem seria a nova aluna... Nova aluna, não, mas talvez eu me sentisse nova. E eu só havia percebido aquilo quando uma das meninas que mais odiava em todo o mundo, mesmo sem um motivo concreto para isso, havia começado a se mostrar amiga, quando as pessoas em quem eu realmente confiava me deram as costas... Talvez meu conceitos sobre pessoas, estivesse errado, talvez eu estivesse errada e só agora havia percebido isso. Quando aquela pessoa tão falada e tão polêmica de certa forma, era a única me acolhendo de verdade... E isso era estranho.

Fanny e eu de fato nos sentamos uma do lado da outra. Eu dava risada com sua história sobre Bryan. Fiquei um pouco surpresa quando ela me disse que eles haviam ido para um acampamento de crianças como monitores e bem... Haviam desobedecido o toque de recolher praticamente em todas as noites. O mais engraçado, era que Fanny e eu não havíamos trocado de fato mais do que oito palavras, na verdade, eu mal a conhecia, tudo o que eu sabia sobre ela vinha da boca dos outros, mas ela me contava sobre sua vida com Bryan (seu namorado que descobri estarem juntos há quase um ano) como se confiasse em mim... O que de certa forma me surpreendeu, digo, eu era sociável, mas não fazia melhores amigas em um período de cinco minutos entre uma aula e outra.

O professor entrou na sala, com seu típico vestuário e modo irritante de falar, eu ia muito mal em álgebra porque, bem... Eu simplesmente não entendia sequer uma palavra que ele dizia! Recebi um papelzinho em minha mesa, de Fanny, que dizia as palavras que havia acabado de pensar, dando uma risadinha lhe respondi o bilhetinho ainda realizada por ter com quem trocar mensagens. Meus olhos pararam por um momento sobre Zoe que não estava sentada muito longe de nós, seus olhos estavam curiosos e desconfiados sobre o papel que rolava de um lado para o outro das carteiras, provavelmente pensando por que eu em um milhão de anos falaria com Fanny e vice versa... Mas eu francamente gostava de que esse pensamento passasse pela cabeça das pessoas.

Nós passamos praticamente o dia todo juntas. Fanny já havia pegado o meu telefone para que marcássemos algo para o fim de semana, e havia me apresentado as suas outras quatro melhores amigas: Mellody, Trisha, Ashley e Emily. Eu também conhecia as quatro de vista, mas nunca de fato havia falado com nenhuma delas... Eram todas muito bonitas e bem arrumadas como Fanny, porém, surpreendentemente, tão simpáticas quanto a mesma. No almoço, pela primeira vez em minha vida, me sentei em uma mesa junto com Brandon. Aquele garoto era o pesadelo, eu tinha que admitir, mas agora o olhando de perto, ele era bem... Gatinho. Fanny estava comentando com as meninas sobre as roupas que as garotas na mesa próxima a lata de lixo usavam... Eu as conhecia da aula de geometria e era até que bem legais... Mas fiquei em meu silêncio apenas focada no cupcake que havia comprado, decidindo se eu deveria comê-lo ou não... E foi aí que vi a mão de Fanny estalar os dedos na frente dos meus olhos, chamando-me a atenção. Dei uma risadinha as observando ainda um pouco desconcentrada.

–Mandy, eu e as meninas estamos abrindo o teste das Cheerleaders hoje! Ouviu? –Deu uma risadinha. –Você poderia entrar para o grupo.

Falou me olhando como se estivesse se certificando de que eu havia entendido suas palavras... Eu de fato ainda estava as digerindo. Mellody abriu um sorriso enorme e assentiu ao comentário da loira.

–Sim, seria tipo tudo, você entrar pro grupo. Estávamos querendo uma ruiva mesmo para dar um contraste, já que a Emily resolveu pintar o cabelo.

Trisha deu uma risadinha assentindo, concordando com a história que a morena contava. Parei por um momento. Eu nas Cheerleaders? Eu não sei não, eu sempre amei dançar e tudo mais, mas animar? Não sabia se era boa o bastante. Estreitei os olhos.

–Eu não sei se tenho muito tempo para fazer o teste.

Falei, Fanny e Emily trocaram olhares por um momento e deram de ombros dando uma risadinha.

–Fanny é a líder do grupo, ou seja, a treinadora deixa tudo em suas mãos...

–Não precisa de um teste necessariamente. –Falou Fanny concordando com Emily. –Só aparece no ginásio e da umas piruetas que o uniforme já é seu. –Falou. –Você dança?

Assenti.

–Sorria para a gente.

Falou Ashley. Franzi a testa para a garota, mas dei de ombros abrindo um sorriso, e rezando para não ter vestígios do almoço entre meus dentes. Acho que eu tinha um sorriso simpático. Agradeço por minha dentista, que me deixou por três anos usando aqueles metais ridículos em finalidade de arrumar meus dentes, agora poderia ser um pouco mais confiante para sorrir. Todos na mesa pararam para me observar, acho que corei um pouco com toda aquela atenção, odiava ser exposta, mas segurei o sorriso. Por um momento houve um momento de silêncio, senti o constrangimento tomando conta de mim, mas foi então, que Brandon deu de ombros e entortou os lábios, voltando a atenção mais uma vez para a bola que girava em seus dedos.

–Aprovo.

Falou, as meninas assentiram dando uma risadinha e em seguida, deixando morrer o silêncio constrangedor.

–Aprovo.

–Aprovo.

Saiu uma chuva de “aprovações”. Eu não sabia bem no que estava sendo aprovada, mas estava me sentindo feliz por ter conseguido isso. Olhei para Brandon por um momento, mas assim que nossos olhares se cruzaram, senti meu rosto esquentar e desviei os olhos quase instantaneamente. Fanny deu uma risadinha satisfeita e piscou para mim.

–Vá por mim, Mandy. Você é o que falta no grupo.

Um sorriso se abriu em meu rosto. Eu... Eu gostei de ouvir aquilo, tenho que admitir... Ouvir que eu era o que faltava? Era quase... Inspirador. Eu nunca tive vontade de participar de um grupo desses, mas tenho que admitir que para um histórico escolar, era algo até que bem legal. Eu não fazia nada mesmo, fora que alguns treinos seria um motivo a mais para eu poder ficar fora de casa e consequentemente longe de Logan. Olhei para as meninas e em seguida para os meninos do time de basquete sentados na mesa. Abri um sorriso. Por que não? Dei de ombros dando uma risadinha.

–Okay...

As meninas deram uma risadinha animada como a minha a em seguida apoiaram-se na mesa com um sorriso.

–Então tudo bem!

Fanny assentiu animada. Eu estava animada. Por incrível que pareça, o meu dia estava sendo maravilhoso, pela primeira vez em muito tempo. O sinal tocou e mais uma vez nos dirigimos à sala da nossa próxima aula. Nosso grupo atraía o olhar de todos, que se movimentavam abrindo caminho para passarmos. Mellody, Trisha, Ashley, Emily, Fanny e eu andávamos acompanhadas dos garotos que eu considerava idiotas e que havia acabado de descobrir que eram na verdade muito legais. Por exemplo Chad, do time de futebol americano, Bryan, o namorado de Fanny, Robert do de basquete e até mesmo Brandon.

O dia passou bem rápido apesar de ter tido permanência naquele dia por conta das matérias que havia pegado notais baixas, mas nada baixo o bastante para me mandar de volta ao Brasil. Fanny Mellody e eu naquele momento corríamos como três retardadas, o mais rápido que conseguíamos em direção ao ginásio do colégio. Empurramos a porta com nossos corpos e nos jogamos na quadra, onde naquele momento estava rolando o treinamento do time de vôlei. O barulho que causamos para entrar chamou a atenção da treinadora que estava ali e de algumas pessoas na arquibancada. Por um momento fomos encaradas, até que Fanny ergueu a mão, chamando a moça, que pedindo licença para o time caminhou em nossa direção.

Eu já tinha ouvido falar sobre a treinadora Wesley. Ela era bem dura pelo que fiquei sabendo, e além de treinar o time campeão de vôlei do colégio, era também a treinadora das Cheerleaders. Fanny lhe deu um abraço como se fossem amigas, o que foi até meio engraçado já que Fanny toda pequena e delicada como ela, estava abraçando uma mulher de beleza agressiva e que tinha olhos frios, como se fosse capaz de te morder a qualquer momento... Eu fiquei com medo dela, aliás, mas por causa da forma tranquila como agia minha amiga, tentei pensar no fato de ela talvez ser inofensiva.

–Treinadora Wesley! –Cumprimentou. –Eu queria te apresentar a Mandy.

Falou enquanto me puxava para perto de si, a treinadora me observou séria por um momento antes de me cumprimentar com um gesto de cabeça.

–Oi, Mandy.

–Olá!

Sorri. Mellody olhou para mim e em seguida para a treinadora com um sorriso enorme, enquanto arrumava seus cabelos castanhos para trás de seus ombros.

–Mandy é a melhor pessoa possível para entrar para as Cheerleaders.

Falou sem sequer esperar. A treinadora ergueu uma sobrancelha um tanto desconfiada me observando lentamente, abri um sorriso sem graça tentando ao máximo não sair correndo pela porta de entrada e evitando de ser usada de bola sendo lançada contra a cesta. Fanny concordou com Mell me dando força, por um momento a treinadora me observou e logo em seguida voltou seus olhos para a loira.

–Mesmo?

Perguntou descrente, Fanny assentiu.

–Mandy é uma ótima dançarina, vem do Brasil, terra do samba! Sabe como é! E tem um sorriso lindo, fora que ela também é linda e uma pilha de pessoa! Não é Mandy?

Falou me dando um beliscão no braço, que me fez dar um pulo e soltar um grito agudo, a treinadora ergueu uma sobrancelha em minha direção. Abri um sorriso enorme e dei um pulo animado concordando com tudo o que Fanny disse, tentando soar o mais animada possível, lembrando-me completamente da Pincher eufórica que minha prima tinha, chamada Pituca.

–Claro que sim!

Exclamei. A treinadora não pareceu gostar muito da ideia, mas os argumentos de Fanny pareciam infalíveis. Com um suspiro e um “ai” vindo de longe devido a uma das meninas do time que havia levado uma bolada, a treinadora olhou para Fanny de forma séria e logo em seguida para mim.

–Te coloquei na liderança por uma razão. –Falou para a loira, deixando o resto da frase pairar no ar como uma ameaça. Estremeci. Logo em seguida se virou para mim. –E você pode pegar seu uniforme no vestiário. Bem vinda ao time. Temos treino toda a terça e quinta até as seis da tarde.

Um sorriso enorme se abriu em meu rosto e assim que Fanny soltou a treinadora de um abraço forte, senti meu corpo ser agarrado pelas duas garotas que pulavam a gritavam comigo por eu ter entrado no time. Eu estava no time! Por que eu estava tão feliz? Eu sequer queria isso antes! Mas a ideia agora era... Maravilhosa! Acho que estava gostando muito de toda aquela atenção! Fanny arregalou os olhos ao olhar para o relógio e agarrando minha mão e a de Mell disparamos, atropelando a todos em direção à saída do colégio. Dei risada quando vi uma lata de lixo tombando não muito longe de nós, acho que havíamos batido contra ela e nem visto.

–Oh céus! Bryan vai me matar se me atrasar! Temos uma reserva para o Lumus!

–O Lumus? –Exclamei. –Aquele restaurante chique?

Perguntei. Fanny assentiu enquanto dava um beijinho em Mell e outro em mim, apressada.

–Sim. Estamos combinando esse encontro há semanas. Te ligo depois, Mandy! Vamos sair eu, você o Logan e o Bryan um dia desses, okay? Até amanhã!

–Até.

Acenei enquanto via a loira disparar a toda velocidade em direção ao JEEP preto que Bryan dirigia. Mell deu uma risadinha olhando a amiga sair enquanto tirava da bolsa um saquinho plástico transparente com algumas roupas dobradas, com um sorriso no rosto, me ergueu.

–Bem vinda ao time, Mandy. Não se atrase para os treinos, ok?

Falou com um sorriso no rosto. Assenti lhe dando um abraço enquanto pegava meu novo uniforme te torcida e o colocando cuidadosamente dentro da bolsa. Eu estava já me despedindo de Mell e caminhando em direção à minha moto, quando o primeiro flash fez meu corpo se congelar em terror. Lentamente me virei para trás e meus olhos se arregalaram com a imagem que me tomou completamente. Eu não conseguia acreditar, era só o que me faltava. Logo atrás de mim, três mulheres acompanhadas e homens com câmeras fotográficas, vieram em minha direção com sorrisos enormes no rosto, como estava Sarah no dia em que lhe dei a entrevista sobre Logan. Senti meu corpo se arrepiar. Oh céus. Senti meu celular vibrar em meu bolso e assim que o tirei, vi o número de Logan. Abri a mensagem de forma hesitante e assim que meus olhos fitaram o visor, vi as seguintes palavras: “Mandy, aqui é Lisa. Alguns repórteres devem aparecer no seu colégio. Dê uma entrevista e apresente suas amigas, isso deve sair na revista Teen.”. Senti meu coração disparar. Será que Sarah não tinha pensado que se talvez, eu não tivesse feito amizade com Fanny hoje, eu não teria amiga alguma para apresentar para os repórteres? Mas não importava. Meus olhos pararam confusos sobre Mell e Trisha que correram as duas para me abraçar quando as mulheres chegaram. Um sorrisinho se abriu em meu rosto, ainda um pouco ressentida pelo resultado de minha última conversa com uma delas, mas me segurei. Cumprimentei-as.

–Mandy!

Exclamaram como se já me conhecessem, aquilo já estava ficando chato. Abri um sorrisinho acenando.

–Olá...

–Sou Margaret e essas são Sasha e Alice! Somos da revista Teen, será que tem algum tempinho?

Assim que essas palavras saíram da boca da repórter, fui agarrada por tanta gente que sequer tive tempo de ver quem era. Dei risada ao ver Brandon, Robert, Kyle e esse povo todo me abraçando por trás como se também me conhecessem há anos, mas se a revista era sobre um namoro falso, por que não podia fazer parecer que minha vida no colégio não era a melhor do mundo também? Muitas pessoas na saída nos observava com os olhos brilhantes, ao longe, pude ver Zoe, olhando para mim e meus amigos como se fossemos as pessoas mais patéticas do mundo... Ela olhava para mim como costumava olhar para os populares que considerava nojentos... Os quais eram meus amigos agora. Abri um sorriso para Marget.

–Claro! Por que não?

***

–Eu realmente posso me acostumar com uma amiga famosa!

Exclamou Mell com um sorriso enorme no rosto enquanto tomava seu mil shake de morango. Dei uma risadinha com seu comentário e revirei os olhos.

–Não é bem a amiga que é famosa.

–Você namora um cara famoso! Qual a diferença?

Riu Trisha ao nosso lado enquanto roubava algumas batatas fritas de Brandon. Depois do colégio, de muitas fotografias e entrevistas com cada um dos meus amigos, havíamos saído agora para comer um lanche no Mc que ficava ao lado do colégio. Robert e Kyle estavam ocupados naquele momento jogando batatas fritas um no outro enquanto riamos da cena tentando não ser atingidas.

–Você ficou uma gata no uniforme de torcida. –Comentou Brandon com um sorriso no rosto. –Combinou com você, Brasil.

Abri um sorrisinho agradecida, acho que Brandon nunca havia me dito algo legal antes, dei uma risadinha.

–Obrigada.

–Ficou mesmo! Acho que Fanny vai ficar chateada por não ter aparecido na foto das Cheerleaders para a revista, mas essa foi a primeira de muitas, certo?

Falou Mell enquanto mordia seu sanduíche. Dei risada enquanto assentia a pergunta da morena revirando levemente os olhos.

–Claro, por que não.

–Quanto luxo!

Exclamou Trisha fazendo todos nós rirmos. Por um momento me peguei olhando na minha situação. Geralmente, Zoe e eu nos sentávamos, riamos e comíamos um bom lanche, mas naquele momento, eu me via em uma mesa repleta de gente, que ria e que batia um nos outros... Pessoas de quem eu tinha horror, mas que haviam me acolhido tão bem que eu nem conseguia acreditar. Talvez pudesse dar certo, sabe? Talvez eu conseguisse sobreviver no colégio, ou ainda melhor, talvez eu pudesse gostar dele! Sorri. Aquele, poderia ser o primeiro dia, do resto da minha vida.