“E você estava ali na minha frente apenas, perto o bastante para tocar. Perto o bastante para esperar que você não pudesse ver.”

O vento chicoteava os cabelos de Annelise, enquanto a mesma andava encolhida dentro de seu sobretudo branco. Ela sentia medo, muito medo. Mas agora não adiantava mais se martirizar pelo o que já havia acontecido.

Arrependimento. Uma palavra com a qual ela convivia diariamente, durante todos esses meses.

Não fora culpa dela tudo o que aconteceu, foi seu orgulho quem falou mais forte. Maldito orgulho. A garota queria tanto poder ter mais uma chance para concertar tudo o que fez, ou até mesmo coisas que não fez. Voltar ao passado, isso sim seria um ótimo começo.

" - COMO VOCÊ É RIDÍCULO JUSTIN! – Annelise gritava, gerando um eco estrondoso no pequeno apartamento. – Você sabe muito bem que ela sempre foi apaixonadinha por você. Aliás, deve ser por isso. Você se cansou de mim não é mesmo? – Bem lá no fundo ela sabia que Justin nunca poderia se cansar dela. O amor dos dois era grande demais, não teria nem como. Ela só dissera isso de boca pra fora, coisa sem importância. Mas para o garoto as palavras o atingiram mais do que deveria.

– Eu não acredito que você está fazendo esse drama todo por uma coisa tão fútil. – Justin suspirou e abaixou a cabeça. Ele estava cansado das brigas diárias com Annelise. Nem tão diárias, mas freqüentes.

– Não é drama nenhum, só estou cansada de me ver sendo traída por você e Selena. – A voz era falha e baixa. A garota não acreditou que Justin saiu com Selena Gomez apenas para tomar um simples sorvete. Era doloroso, mas ela preferia acreditar na sua teoria. Em pleno rigoroso inverno de Stratford quem sairia para tomar um sorvete? Mas por incrível que pareça Justin falou a verdade. Bom, nem toda ela. Claro que negou a parte que sua amiga Selena lhe havia roubado um singelo selinho.

– Sério Lise, eu não irei discutir com você. Não por isso. Já sabe onde me encontrar. – O garoto saiu recolhendo a chave de seu carro e batendo fortemente a porta. Sempre era isso. Rotina. Quando brigavam, Justin ia para a famosa cabana que ambos construíram aos 15 anos."

A garota já estava bem perto do lago que dava em frente à cabana. Podia-se notar a neblina fina em seus pés.

Memórias. Eram elas que rondavam a cabeça de Annelise. Fora tão estúpida por deixar o garoto de sorriso aventureiro ir.

Achava ela que hoje seria o pior dia de sua vida, só que também já estava preparada para o que vinha amanhã. Amanhã Justin e Selena estariam casados. Marcaram a data pra 15 de dezembro, data do aniversário de Annelise.

A garota suspeitava de que Justin estava fazendo isso propositalmente. Ela não entendia. Ele sabia perfeitamente que ela ainda o amava. Para que complicar as coisas ainda mais? Para que remoer mais ainda essa dor?

Annelise prometera a si mesma que não iria chorar diante de toda essa situação. Mas como promessas sempre são quebradas, a sua não fora diferente.

Não era lá a hora para ser forte. A garota queria ser fraca, apenas por hoje. Seu coração já estava tão danificado que praticamente implorava para ela liberar todas as lágrimas acumuladas nele. Pelo ou menos por hoje, apenas hoje.

“Largue tudo agora

Me encontre na chuva torrencial

Me beije na calçada

Leve embora a dor”

Annelise já punha os pés dentro da cabana quente. Deixou seu sobretudo pendurado na ponta do sofá e fechou a porta com cuidado. Olhava cada detalhe com cuidado, como se fosse possível quebrar. Sentou-se na ponta da cama que havia bem no meio do cômodo e mergulhou-se nas lembranças boas que aquele lugar a trazia.

Fechou seus olhos com a esperança de que tudo que estaria por vir fosse apenas um sonho. Mas não, não era.

A garota não apenas queria que ele estivesse ali, ela precisava que ele estivesse ali.

Todos esses meses, Annelise tentava encaixar em sua cabeça que a vida seguiu. E que com ela seguindo, teria que deixar Justin para trás. Ora, ele a deixou para trás.

Só que hoje era tão difícil acreditar nessas convicções. Um dia antes de seu casamento. Pensava ela que amanhã seria o fim de todo esse sonho. Um maldito “sim” e tudo seria passado. Ele conseguiu seguir sua vida sem ela. Mas eis a dúvida, ela conseguiria seguir a sua sem ele?

Não, definitivamente não. As pessoas não conseguem respirar sem oxigênio, certo? As pessoas não conseguem correr atrás sem um sonho à se alcançar, certo? A garota também não conseguiria mais amar sem a pessoa que faz seu coração bater. Ela não conseguiria sorrir sem quem a faz sorrir. Ela não conseguiria mais viver sem o motivo da sua existência.

O destino não seria tão cruel à esse ponto. Ela tinha certeza que não. Não havia ninguém mais nesse mundo que o amava como ela amava. Deus sabia muito bem disso.

Mas do que adiantara ter tantas conclusões já nesse ponto da vida? Tarde demais. Só restava uma única alternativa à ser escolhida agora.

Tentar encontrar em outro alguém o motivo do seu viver. Talvez.

Annelise pegou um travesseiro qualquer e o puxou para si. Afundou-se nele e então chorou o acumulado.

– Eu te amo tanto Bieber. – Sussurrou caída nas lágrimas. Já fraca puxou a colcha da cama para cima de seu corpo e adormeceu ali mesmo. Não havia nada para ser feito, não mais.

“Porque eu vejo, faíscas voam toda vez que você sorri

Conquiste-me com esses olhos verdes, baby

Conforme as luzes se apagam

Algo que me assombrará quando você não estiver por perto

Porque eu vejo, faíscas voam toda vez que você sorri”

Annelise fazia seu caminho de volta à seu apartamento. Preferiu ir caminhando mesmo, como na noite passada.

Já havia mais de 20 mensagens de Ryan Butler na caixa de entrada. Ele a acompanharia no casamento. Seria complicado convencê-lo de que não iria.

Como se não bastasse saber, a garota teria que ver? Ver Justin selando votos eternos com Selena? Quando o que mais queria era que fosse ela naquele altar? Não, ela não iria mesmo.

Nas ruas frias de Startford estava ela. Tentando na sua cabeça, achar uma solução para a dor que dominava seu coração já machucado.