Contos Soltos escrita por MissBlackWolfie


Capítulo 5
Um belo dia resolvi mudar


Notas iniciais do capítulo

Mas sempre retorno.. sempre volto aqui...



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Fazia tempo que não me sentia tão leve assim, se pudesse estaria voando junto com os pássaros que voavam sobre a minha cabeça. Deve ser bom voar. Não ter limites, acho que por isso é maior simbolo de liberdade. Eu poderia ter asas agora, completaria a sensação de leveza sentida por mim agora. 

Joguei a minha cabeça pra trás, a sensação de leveza era deliciosa, finalmente o peso que carreguei por anos tinha sido arrancado de mim, havendo um espaço livre no meu ser. Toda a ilusão construída ao longo do tempo saiu de dentro de mim, o ar marítimo não preenchia somente meus pulmões, e sim a minha alma.

Ao longe eu escutava as pessoas passando pela a minha figura, quando os encarava divertida (eu estava achando graça de tudo) era visível estranhamento em seus rostos, logo vinha os cochichos comentando como eu estava bela e o que eu fazia vestida daquela maneira naquele lugar. Contudo não posso culpá-los, enfim eu era o ser esquisito ali naquela manhã de sol. 

Vocês devem estar se perguntando o porquê as pessoas na praia me olhavam com assombro, simplesmente minha vestimenta era imprópria para aquele lugar, principalmente naquele dia lindo de sol. Eu usava um vestido de noiva bastante pomposo e luxuoso, escolha da minha mãe, com um véu enorme. No meu rosto havia quilos e mais quilos de maquiagem, a máscara perfeita para ocasião matrimonial. 

Encontrava-me sentada na beira do mar, com meu vestido fazendo uma “poça” de tecido branco perolado a minha volta, onde a suas ondas molhavam toda renda de seda importada, escolhida pela minha mãe no dia que meu noivo pediu a minha mão. Bem, agora ele é meu ex-noivo. Pois eu o tinha abandonado do altar sem nenhuma explicação, seguindo todo clichê de filme americano possível da situação.

Mas isso foi algo que fiz finalmente por mim, depois de anos vivendo em função da vontade e do bem estar do outro, abdicando de toda a verdade que existia dentro de mim, calando a cada dia, contudo ela começou a ficar raivosa. E hoje resolveu: quebraria a corrente que prendia fortemente a verdadeira Fernanda, dando a liberdade que ela tanto ansiava.

Assim sai do salão onde tive o “sonhado” dia de noiva: com massagens, banhos perfumados, manicure, pedicure, depilação e feito mil tratamentos nos cabelos. Senti a verdadeira Fernanda querendo sair, mostrando que não podia me entregar. Enfim todo aquele ritual de beleza teve o intuito de me deixar tranqüila e leve, esses eram os adjetivos usado constantemente pela minha mãe, pois eu andava com humor do cão, irritadiça nos ultimos dias, hoje esta em especial atacado, ela só dizia que era estresse pelo grande de dia.

Fechando meus olhos podia ver a cena dela entrando comigo no salão e falando toda animada:

-Ai, Fernanda hoje é o dia mais feliz da minha vida. – O brilho dos seus olhos era intenso. – Sempre sonhei minha única filha fazendo um bom casamento.

A lembrança ainda era fresca de como cada uma daquelas letras invadiram a minha cabeça como fossem agulhas furando toda a minha falsa imagem de felicidade. Como resposta sorri fracamente, mas minha mãe estava tão extasiada que nem percebeu a tristeza que invadia meus olhos. 

Porém ela sempre foi assim, repleta de sonhos delas nos meus planos de vida. Eu era uma obra dela, tinha que andar no script dela, desde pequena sempre foi assim. Não sei o motivo concreto que sempre permiti ela fazer isso, talvez tenha sido por amor ela. Entretanto hoje foi dado meu grito de liberdade, sem duvida não deveria ter esperado até esse dia, porque acabei magoando várias pessoas com a minha decisão.

Contudo as vezes precisamos de certa dose de egoísmo para conseguir o que queremos, no meu caso era as rédeas da minha vida. Acredito que acumulei toda a minha reserva de iniciativa e coragem em 25 anos para usar nesse dia.

Dessa maneira quando me vi pronta na frente do espelho, a poucas horas da minha entrada na igreja, pedi um tempo para ficar sozinha, e assim todos atenderam o meu pedido. Ninguém me negou nada aquele dia, nunca tinha sido tão paparicada.

Andei até um aparelho de som, que estava perto e liguei meu mp3 nele, sempre a musica me trouxe paz, além que demonstrava meu estado de espírito. Voltei para o espelho e comecei analisar a mulher na minha frente, aquela imagem não pertencia aos meus desejos. O vestido perfeito, no corpo que emagreceu por exigencia de minha mãe, as joias escolhidas por ela, o cabelo bem arrumado pintado de loiro por desejo do meu noivo, me fazendo deixar pra tras o meu amado castanho. Não era eu, eu era um projeto do outro. 

Foi nesse momento só consegui ouvir a minha verdade urrar de dor. Aquele vestido era o passaporte para minha infelicidade, de um caminho que não era o por mim desejado ser trilhado.

O reflexo daquela Fernanda perfeita, vez a que era enclausurada, a Fernanda verdadeira, dentro de mim pedir espaço para sair, aquilo fez a minha respiração suspender, enfraquecendo meu corpo, que reagiu cedendo meus joelhos encontrando o chão. As lágrimas já traçavam seus percursos pelo meu rosto, nesse momento ouvi minha melhor amiga parar ao meu lado. Ela se ajoelhou e abraçou meus ombros.

-Fê, o que está acontecendo? – Luiza sussurrou para mim.
-Eu não posso me casar. – Minha voz era fraca.
-Eu sei. – Ela falou de maneira marota. – Sabia que a Fernanda minha amiga é uma mulher forte. 
-Lú, quero viver meus sonhos e não os dos outros. – As gotas grossas rolavam, mas Luiza pegou um lenço e as secou.
-Sorte que a maquiagem é a prova d água. – Inevitavelmente sorri do seu comentário. – Amiga, sempre soube que esse casamento não ia sair.
-Por que você fala isso? – Me sentia boba agora.
-Porque eu te conheço desde que me conheço por gente, olha que faz tempo isso. – Sorrimos. – Eu sabia que a Fernanda sonhadora, que não tem medo de se jogar ia aparecer, ela não ia ficar pressa por muito tempo.
-Como você sabia disso?
-Fernanda lembra de como você era quando tínhamos 15 anos? – Neguei com cabeça. – Você tinha vários sonhos e desejos, mas ai começou a dar ouvidos à sua mãe, que palpitava sobre tudo na sua vida. 
-Não sei como cheguei aqui? – Eu falei confusa.
-Não importa agora, o bom é que você acordou. Finalmente. – Luiza se levantava e me levando junto.

Ficamos de pé, os encaramos por alguns segundos, ela terminou de enxugar as minhas lágrimas, agradeci com gesto e comecei a falar:

-Quero ir embora. - Nesse momento começou tocar uma musica que eu sempre amei e tinha todo sentido no momento: “Agora só falta você.” Da Rita Lee.
-Acho bem apropriado para o momento. – Luiza falava.

Cada frase cantada tocava profundamente a minha alma, era como um despertar. Eu tinha que mudar, fazer tudo que sempre quis fazer, tinham que me livrar da vida vulgar que levava. Eu precisava de outro caminho e outro porque na minha vida, eu sabia disso.

E sem pensar em nada eu precisava sair dali e não ligar para nada, percorrer meu destino. Dei um abraço na minha amiga, peguei meu mp3, coloquei o fone no ouvido. A continuava a tocar, tinha posto para repetir inúmeras vezes, a partir de agora era meu hino de vida, e sai correndo.

Parei um taxi que corria na rua me colocando a sua frente, pude ouvir os freios protestando a parada brusca. Antes que o taxista me xingasse, ele se assustou com meus trajes, entrei e logo pedi que me levasse a praia, pois sempre tive uma forte ligação com o mar, ele sempre me acolheu.

Agora estou aqui sentada na areia curtindo a minha liberdade, ouvindo a letra que selou o encontro entre eu comigo mesma. Sem duvida um dia vou telefonar, explicar tudo à minha mãe, contando que meu sonho cresceu. Pode demorar anos, mas não me importo, afinal será a minha vida vivida por mim, da minha maneira. 


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Notas finais do capítulo

Amoooooooooooooooo rita lee... amo essa musica .. ela é perfeita...
enfim... to voltando...



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