Caminhei pesadamente pelo corredor, acho que trouxe isso de minhas vidas mortais. Sempre tive queda de pressão, isso me fazia perder um pouco do que se passava. Horrível, mas nada que eu não pudesse passar por cima como todo o resto.

Os meus passos ecoavam pelo lugar e tive a sensação de estar sendo seguida. Como se lesse minha mente 12 acelerou o passo e começou a andar ao meu lado. Eu não sabia, exatamente, por onde ir, mas minhas pernas se movimentavam por vontade própria. Como se soubessem minha vontade e estivessem me mostrando o caminho.

– Sabe, não foi muito sábio de sua parte sair daquela forma. Ele é vingativo...

– Estou cansada, não têm graça lá em baixo, aqui também não. Eu tenho a eternidade, mas nada muda, entende? Quando se têm tudo, como eu, nada mais parece ser atrativo...

– Sei o que quer dizer. Então imagine a mim, que estou destinado a te esperar? Não fiz coisa alguma durante todos esses anos que passou na terra, somente aguardar que você entrasse por aquela porta para eu poder ter alguém com quem conversar, sabia disso? Ou foi algo que esqueceu, junto com a nossa história?

Já havia diminuído o passo e agora parei para observá-lo. Ele era realmente alto, e seu físico faria muitas adolescentes suspirarem. Tenho certeza que por trás daquela camiseta que que realçava a cor de seus olhos, ambos desbotados por culpa do local, existiam gomos do famoso 'tanquinho'. Seu cabelo caía suavemente sobre seus olhos, o deixando parecido com um daqueles skatistas que não tinham tempo para cortar o cabelo, somente para aprender as mais novas manobras.

Mas quando olhei no profundo dos seus olhos percebi algo diverente do brilho gélido e quebradisso, algo como arrependimento, sofrimento, solidão.

– Porque? - Foi tudo que saiu, e aquela simples pergunta resumia todas as outras.

– Senti sua falta. - Então ele me abraçou, como se não me vesse a muito tempo, como se eu estivesse me recuperado de um... coma. Oh, não.

Tapei minha boca com a idéia que me ocorreu. Então não foi uma queda de pressão, foi uma queda de posição, de existencia. Eu... Não, isso não seria possível, estou aqui, não lá.

– Isso é possível...? - Sussurrei

– O que? Sentir saudades? - 12 perguntou confuso.

– Não... Eu..., estar lá. - O olhei firmemente. - É possível, 12? Eu estar lá? Em Silence?

– Como? Você, estar na terra? Viva? - Ele voltou a andar, e só o segui. - Já... já aconteceu, mas nenhum espirito foi forte o suficiente para... - Então ele me olhou com temor, como se estivesse me vendo tomar uma injeção letal.

– Tudo bem, vamos lá, ver se estou viva. Se estiver... Bom, vamos ver uma coisa de cada vez.

Com pesar fomos andando pelo corredor, ao chegarmos na sala de observação tive a impressão de que estava maior que da última vez. Claro, não pude escrever, não pude matar...

Suspirei e olhei para 12, não sabia o que fazer. Ele pareceu entender e seguiu na direção de um número, esse, por sua vez, murmurou algo a outro, que falou algum código em um alto-falante, então 3 números se moveram e foram na direção de uma mesa, conversaram um pouco e se dirigiram ao primeiro, lhe repitiram o que 12 havia lhe dito e esse clicou em um botão. Algo como Search. Não acredito que éramos tão complicados assim.

De repente todas as telas mudaram e somente uma imagem apareceu, se repetindo em cada tela: Silence, deitada em um leito hospitalar, Linda, a sua servente chorando ao seu lado, e o mordomo, Went, finalmente esboçando uma emoção: Sofrimento.

Grande parte de seus colegas de escola, incluíndo os jogadores da equipe de basquete se sentavam do lado de fora do quarto, todos de cabeça baixa, culpados. Yan andava de um lado para o outro, até um médico chegar e dar uma notícia a todos: Teriam de desligar os aparelhos, ela estava inconciente a muito tempo.

Me perguntei quanto tempo haveria passado, todos ali pareciam pelo menos um ano mais velhos. Yan alegou que Silence teria dinheiro para pagar mais tempo, o médico suspirou e abaixou a cabeça. "Precisamos do leito". Ele disse. Todos protestaram e ele permitiu que o corpo, sem alma, ficasse ali por mais um mês.

– Sua alma é muito forte e poderosa, Tribus. Ela pode permanecer no mundo dos mortos enquanto pequena parte se encontra em um corpo. Mas sua personalidade, sua essência principal se encontra aqui. Lá é somente um restício da sua antiga vida.... Podemos buscá-la, se preferir.

– Não. - Eu disse. Estava decidida. - Vou até lá, não acabou o tempo de Silence, ela merece terminar sua existência da maneira correta.