“I love the way you’re talking. I’m loving what you’re doing, boy. I don’t fall easy often. I’ve never had a Love like you before. I like you, put your number, put your number in my phone, phone, phone, phone, phone, phone, yeah. You heard me right, so call me, call me when you're all alone-lone-lone-lone-lone-lone-lone…”

Meu despertador começou a tocar desesperadamente a música All night long da Demi Lovato. A sorte dele é que hoje eu acordei de bom humor, pois finalmente, em uma semana, eu consegui dormir bem, se não faria companhia aos outros debaixo da minha cama que não tiveram a mesma sorte e acabaram sendo destroçados. O que me faz dormir mal? Minha querida mamãe trepando com os caras pelos cantos da casa... Sim, ela não geme, ela berra. Ai minha irmã vem chorando dizendo que não consegue dormir. Às vezes eu gostaria muito de falar poucas e boas para minha mãe, mas ai ela nos mandaria para o meu pai, e tudo o que eu menos quero é ir ficar com esse filha da puta, então eu tento aturar essa vadia. Acho que só não fujo deles por causa da minha irmã, Anna, ela ainda é muito nova e mesmo que eu alegasse para o Juiz que tenho condições para ficar com ela, ele não permitiria, pois tenho 17 anos. Maldita idade, maldito aniversário. Nem para isso minha mãe serve. A vaca ao invés de me ter em julho me teve só em novembro. Merda! Agora tenho que aturar isso... Mas eu jurei, pela minha irmã, que nos tiraria dali, custe o que custasse.

Anna tem apenas 7 anos, mesmo com os pais que tem, ela nunca teve muito do que reclamar, pois sempre teve tudo que o dinheiro pudesse comprar. Nosso pai deposita uma boa quantia de vez em quando em nossa conta, e quando minha mãe não passa a mão no dinheiro para comprar roupa e sapato, eu posso satisfazer os desejos de Anna. E também tem o meu dinheiro, dinheiro pelo qual suo muito enquanto Anna está na escola. Só assim para sobrevivermos. Quem sou eu? Bom, meu nome é Alice, Alice Brock, tenho 17 anos, sou morena dos olhos claros, azuis para ser mais específica, não sou muito de ligar para beleza, mas tenho um corpo razoavelmente legal, trabalho como garçonete numa lanchonete, sou brasileira, mas desde que minha mãe se separou de meu pai e recebeu uma proposta de emprego, nós moramos aqui em Atlanta. Minha vida se resume na minha irmã, pelo menos a parte boa, pois a parte ruim é um tremendo inferno e ás vezes nem sei se adianta eu descontar tudo isso em mim, mas é a única maneira que eu vejo... Mas hoje estou feliz. Feliz porque é meu dia de folga e não tenho que olhar para a cara da vadia da minha mãe logo cedo.

– “Don't make plans. Come on with me, we'll stay up all night long. I want you and I want you bad. Let's keep the party going all night long. Let's keep the party going all night long (Hey!). All night long (Hey!). All night long (Hey!). All night, all night, all night long (Hey!). All night long (Hey!). All night, all night, a-a-a-all night” – cantarolei ao som do meu despertador.

Comecei á rebolar conforme o ritmo da batida, enquanto separava uma roupa para poder tomar café com Anna no Starbucks. A música foi acabando e eu fui para o banheiro.

Nada melhor que tomar um belo banho pela manhã para espantar toda a preguiça. Fiz minha higiene matinal e fui para o meu quarto apenas de toalha.

Assustei ao ver um serzinho loiro pulando em cima de minha cama com uma blusa branca com um cara estampado na frente e uma calça roxa.

– Anna, desce daí garota! – gritei enquanto tentava tirá-la da cama. Mas ela era mais rápida e mais ágil e se desviava facilmente de meus braços.

– Lice, Lice, você ainda não está pronta? – ela perguntou vincando a testa e fazendo um biquinho enquanto uma mão estava na cintura e um pé batia insistentemente no chão.

– Pronta para que, posso saber? – perguntei aproveitando a deixa e pegando-a no colo.

– Para irmos para o show. – ela disse como se fosse obvio. – Ah, você esqueceu de novo. – ela disse batendo suas mãos gordinhas na própria testa.

Meu Deus, eu havia esquecido completamente... Era por isso que ela estava vestida daquele jeito, e aquele cara da camisa era o tal de Jus-alguma-coisa-biba. Sempre que tinha um show aqui perto, Anna insistia que queria ir ver seu ídolo. Sério, ela troca de ídolo a cada dois dias... Só este ano já fomos ao show da Taylor Swift, Jonas Brothers, Nick Jonas, Selena Gomez... Já perdi a conta, mas foram muitos, e agora Anna inventou de ver essa biba de cabelo de lado. Só o que me faltava.

– Qual que é o nome desse cara mesmo? – perguntei com indiferença. Não ligo muito para essas pessoas famosas que se acham a última trakinas do pacote, falando nisso, ai que saudade de comer trakinas... Mas enfim, nunca liguei muito para isso, acho uma perca de tempo se apegar á uma pessoa que nem sabe que você existe e que também nem liga para isso. Será que ninguém percebe que é só jogada de marketing? Ai como isso me irrita! Ganhar dinheiro através de pessoas ingênuas e otárias. Eles só querem dinheiro, nada mais que isso.

– Justin Bieber Delicia – ela disse num suspiro. Ai, ta vendo? Mais essa agora. O moleque é o maior pirralho mimado e minha irmãzinha com apenas 7 anos suspira por ele. OMG! – Vai logo Lice, não quero me atrasar para encontrar o meu marido. – ela disse descendo do meu colo e me empurrando até o closet.

– Marido? – Disse fazendo cara de nojo, franzindo a testa. Ah, fala sério. Ela nem tem idade para pensar nessas coisas...

– É sim. Agora vamos logo, se não algumazinha pode roubá-lo de mim... – ela disse como se imaginasse a cena. OMG, mais essa agora...

– Mas ele não tem namorada? – perguntei tentando lembrar de alguma coisa que li em uma das revistinhas dela...

– É, mas é por pouco tempo... Ele ainda não me conheceu! – ela sorriu maliciosa. Espera ai, ela só tem 7 anos, tem como já ter malicia? Meu Deus, onde esse mundo vai parar?

– Ta que seja... – bufei

– Coloca essa aqui ela disse me esticando uma calça jeans com uma lavagem mais escura, minha T-Shirt roxa escrita “I see stupid people” e uma jaqueta de couro. Peguei-as, até que ela tinha um bom gosto...

– Obrigada – agradeci – Mas ta muito calor para eu ir com essa jaqueta, não acha? – perguntei educadamente

– É, verdade... – ela disse pensativa. – To coloca esse sapato. – ela disse me esticando um all-star. É, ela sabe bem os meus gostos.

– Obrigada princesa. – disse dando-lhe um beijo na testa.

Tirei a toalha de meu corpo, peguei minha lingerie preta, vesti e coloquei a roupa. Fiz uma maquiagem mais puxada para o preto, afinal, o show seria 19h (sete horas da noite). Não entendo porque a Anna quer chegar tão cedo lá. Ainda é meio dia (12h)

Coloquei meus documentos e os documentos de Anna numa pequena bolsa, peguei meu celular, meu gloss e um lápis e sai do quarto.

Anna estava vendo TV inquieta, e parou quando me viu.

– Nossa, você está linda Lice!

– Minha estilista que escolheu minha roupa... – sorri

– Ah, eu sei. Eu sou demais! – ela fez pose e nós rimos.

– Então, vamos comer alguma coisa antes de irmos? – perguntei pegando a chave do carro.

– Ta. Só não podemos demorar. – ela disse autoritária.

– Sim Senhora. – disse sarcástica- Vamos ao Starbucks? – perguntei e ela pulou nos meus braços.

– Claro!

Nós amávamos ir ao Starbucks, também, onde mais comeríamos se não tem comida em casa e a Starbucks fica na quadra de cima? Não é á toa que todos de lá já nos conheça...

– Ei, Anna! – gritou Jullie de trás do balcão.

Anna saiu correndo para os braços da garota que a pegou no colo. Jullie é minha melhor amiga e diria que minha irmã também... Nos conhecemos desde que me mudei, á 4 anos atrás, ela é minha vizinha. Foi praticamente uma das únicas que se importou em tentar me conhecer, pois como deve ser de se esperar, minha família, ou melhor, minha mãe, não é muito bem falada no bairro, pelo menos não pelas mulheres que vêem minha mãe como uma prostituta barata. O que em termos eu concordo, mas a merda é que elas acham que só porque ela é assim, eu também sou. E pode ter certeza, que eu NUNCA serei como minha mãe. Jullie, ou Ju como a chamo, é a única que sabe de tudo que vivo ou boa parte do tudo, ela é loira, tem os olhos claros e é sempre sorridente. Além do fato de que ama Anna. Na verdade, ama qualquer criança, só não entendo porque de trabalhar aqui se seus pais são uma das pessoas mais ricas daqui. Sempre que pergunto, ela diz que é só porque não quer depender de todo o dinheiro dos pais e blá blá blá.

– Juju, me dá um chocolate? – Anna pediu descendo dos braços de Ju.

– Claro florzinha. – sorriu- Ei, Alice! Amiga! – gritou me tirando de meus devaneios.

– Oi Ju! – disse indo até o balcão e abraçando-a. – Me vê o de sempre?

– Ok! – ela disse anotando o pedido. – E ai, aonde vai hoje? – ela perguntou me olhando de cima em baixo.

– Um show ai de um cara que a Anna diz que será seu marido. Vê se pode! – revirei os olhos.

– Ei. O Justin Delicinha Bieber vai ser meu marido sim ta? – Anna disse sentando-se ao meu lado.

– Claro, claro. – não iria discutir isso novamente.

– OMG Amiga! Você vai ver o Justin Bieber? – Ju disse fingindo um surto.

– VAI SIM. ELE NÃO É LINDO? – Anna gritou. Ju apenas riu e me encarou maliciosa.

– Ai de você se falar isso para alguém... – disse nervosa.

– Ok, ok senhora nervosinha. – ela disse abafando um riso.

Tomamos nosso café e fomos para o maldito lugar onde teria o show desse ser.

E quem disse que eu achava lugar para parar o carro? Pois é, tive que parar na rua mesmo...