Sociedade Carmim escrita por Nynna Days


Capítulo 20
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Hello, People!
Sei que não é o dia que eu posto geralmente, mas eu tenho esperanças de terminar Sociedade Carmim até a sexta, pôs sábado irei viajar e ficarei quase duas semanas fora. (Amo o Carnaval). Acabei de escrever esse capítulo e já tenho o último pronto. Mas, só irei postar sexta junto com o prólogo de Sociedade Dark.
Bem, Aproveitem!



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Capítulo 19

O silêncio habitava o carro enquanto seguíamos em direção a Sociedade Carmim. Dimitri dirigia com atenção, mas eu via seus olhos escorregando na minha direção. Minha mãe estava no banco de trás junto comigo. Podia ver em sua mente a preocupação e a culpa. Culpa de ter me abandonado, culpa por te me tirado de perto de Megan. Culpa por Nara ter me atacado. Mesmo eu repetindo que ela tinha tido um surto psicótico por causa de Ethan.

Mas isso não fez com que a decisão de prender Nara fosse mudada. Ela sabia muito bem que estava atacando a Princesa quando tentou me matar. Seja qual fosse o motivo ela ainda estava errada. Dimitri ficou do lado de Rose, dizendo que se Nara chegasse a menos de dez metros de distância de mim, ela iria se arrepender. Naquele momento eu fiquei com medo dele.

Esse medo se foi quando ele pegou minhas mãos machucadas e se pôs a curá-las. Por um momento senti um temor. Não sabia se aquilo funcionaria ou não comigo, por eu ser meia Dark. Rose me assegurou que funcionaria. E quando comecei a sentir minha pele formigando e os tecidos se juntando, percebi que ela tinha razão. Olhei as palmas de minhas mãos, vendo apenas o sangue seco e a pele curada.

Já estávamos a mais de meia hora dentro do carro, em silêncio. Me perguntei se sairíamos da cidade. Seria um pouco irônico. Antes eu estava louca para sair da cidade, mas quando minha mãe desaparecida me ofereceu, eu hesitei. E agora eu estava ali. Os olhos inchados, a pele pálida, cabelos desgrenhados. Nem tinha trocado de roupa. Escutei minha mãe limpando a garganta, tentando chamar a minha atenção. A encarei.

“Sei que é um pouco pessoal, mas...”, ela mordeu o lábio, parecendo desconfortável com a pergunta seguinte. Eu sorri um pouco com nosso hábito tão semelhante. Era uma pergunta tão boba que ela faria. Rose respirou fundo. Pude ver Dimitri sorrindo também. “de quem você herdou os poderes?”, ela levantou as mãos. “Não que eu vá te julgar por ter herdado o dom de seu pai. Ficaria feliz.”, ela sorriu.

“Então prepare a festa, Rose.”, eu disse. Vi seu sorriso diminuindo um pouco por ter a chamado pelo nome, mas ele voltou com força quando ela percebeu a intenção das minhas palavras. “Eu leio mente.”

Dizer aquilo em alto e bom som foi um pouco estranho. A última que tinha contato isso a alguém, foi quando revelei a minha madrinha. Rose pôs as mãos em cada lado do meu rosto e me analisou. Seus olhos escuros ficaram em um tom mais claro. Um mel, talvez. Demorou alguns segundos para eu perceber que ela estava olhando meu futuro. Fiz uma careta. Era estranho ver isso de tão perto.

Me fez lembrar de Christina. O que me fez lembrar de Ethan. Deixei que meus olhos se abaixasse de tristeza. Tinha tanto a resolver com Ethan. Tanto que eu estava deixando para trás. Então o pânico me atingiu. E se ele morasse na Sociedade Carmim? E se ele me visse? Ainda mais com a Rainha. Ele iria juntar tudo. Depois Nara contaria e ...

A imagem do ódio nos olhos verdes que eu tanto amava, era quase palpável. Era como se ele estivesse na minha frente, dizendo que eu era uma mentirosa e que merecia morrer com o sangue ruim. Sangue demoníaco. As mãos de Rose desceram por meu rosto até os meus ombros e começaram e me massagear. Só ali percebi o quão tensa eu estava. Abri meus olhos e vi seu olhar compreensivo.

“Ele saberá, não é?”, perguntei triste.

“Desculpe, querida.”, Rose disse em um suspiro e assentiu.

Meu coração se apertou. E pensar que a poucos dias atrás , eu e Ethan nos odiávamos. E ontem demos nosso primeiro beijo. Parecia que anos haviam se passado desde que eu havia dito que o amava e não apenas poucas horas. Engoli as lágrimas e encostei minha cabeça nos ombros de Rose, enquanto ela acariciava meus cabelos e cantarolava uma música de ninar suave para mim. Passei os dedos pela costura de seu vestido, vendo como ele parecia com o das princesas de filmes. Será que eu me vestiria daquele jeito?

Mais dez frustrados minutos depois, e Dimitri saiu da estrada. Levantei de súbito, pronta para perguntar o que ele estava fazendo. Seu riso me calou. Um pouco longe de onde nós estávamos consegui enxergar um grande e alto muro. Estreitei meus olhos, pensando que aquilo poderia ser uma miragem. Só quando paramos no portão e fomos recepcionados por dois guardas vestidos com paletó e gravata, além dos óculos escuros. Me sentia em um filme dos Homens de Preto.

Quando viram que era a Rainha, correram para abrir o portão. Só hesitaram quando me viram. Parecia que não era comum uma garota desgrenhada andar no carro da realeza. Levantei uma sobrancelha, desafiando qualquer um deles a dizer algo. Eles desviaram o olhar e nós seguimos. Eu pus as mãos no vidro. Meus olhos presos com a civilização ao nosso redor. Aquilo era uma pessoa andando em um cavalo?

As crianças passavam ao redor do carro, rindo e correndo. Algumas garotas com vestidos semelhantes ao de Rose. Os garotos com blusas largas, calças marrons e sapatos de couro. Tudo tão antigo. Dimitri dirigiu devagar, esperando que eu apreciasse e absorvesse cada coisa. Pequenas casas, cabanas tomavam o lugar. Ao mesmo tempo, consegui ver algumas garotas da minha idade andando com celulares. Era a perfeita junção do antigo e do atual. Era como uma cidade atrás de muros. Não sabia o porque de Christina querer sair tanto sair dali.

Alguns minutos depois, chegamos ao nosso destino final. Um castelo. Eu não esperava nada de diferente. Se Rosemary era uma rainha tão boa e tão “antiga”, teria que morar em um castelo. Só não sabia que era um castelo tão alto e bonito. As torres medievais, as sacadas românticas. Tudo me lembrava os filmes que assistia quando pequena. Eu me sentia pequena novamente. Dimitri abriu a porta para mim, enquanto outro Carmim abria para minha mãe.

“Obrigada.”, eu respondi sem desviar os olhos de meu novo lar.

******

Eu andava de um lado para o outro, sem motivo aparente. Chutava a ponta do meu vestido roxo e passava a mão por meu cabelo recém-trançado. Parei mais uma vez em frente ao longo espelho de meu quarto e suspirei. Christina teria orgulho de mim se visse o quão bonita eu estava. Tinha até conseguido me maquiar sem borrar nada. Claro que com a ajuda de algumas garotas que trabalhavam no castelo.

Andei até a sacada do meu quarto, me deixando respirar o ar puro. Sorri, mas a saudade fez com que meu coração se apertasse. Rose não havia me avisado que o tempo passava tão rápido ali dentro. Não parecia que tinha se passado uma semana desde que eu tinha deixado a casa de Megan e tinha me mudado para lá. Eu ainda estava tão pouco acostumada.

Meu grande quarto estava pintado de roxo. Minha mãe tinha previsto que eu gostava dessa cor. Explicação também para a cor do meu vestido. Ela percebeu que eu gostava tanto de sacadas que me colocou nesse quarto. A grande cama de casal me fazia subjugar a minha antiga cama de solteiro. Tinha um baú no final da cama, onde estavam guardados todos os meus vestidos. Também tinha um armário, do lado da porta, onde estavam mais vestidos e minhas antigas roupas.

No centro do quarto tinha um grande tapete redondo azul. De noite, eu gostava de deitar nele e sentir como se estivesse me envolvendo. Além da minha penteadeira e do grande espelho ao lado dele. Aquele quarto parecia ser do tamanho da sala de Megan e a cozinha junto. Eu não saí de casa. E só descia no horário das refeições. Dara, a governanta da casa, sempre vinha no meu quarto me avisar quando estava na hora. Quando bateram na minha porta, pensei que fosse ela. Mas, quando a abri, encontrei os olhos escuros de Dimitri.

Nessa última semana, Dimitri tinha sido o que tinha me distraído. Um bom amigo. Eu gostava de falar sobre Christina com ele. Ele me contava algumas histórias engraçadas com eles dois e no final nós revirávamos os olhos e dizíamos juntos: Só poderia ser Christina mesmo. Ele largou meu suposto nome, Jordana, e começou a me chamar de Jordan. Minha mãe vinha aos meus quartos de noite. Me dava um beijo de boa noite e fazia um carinho em meu rosto até que eu dormisse.

Me sentei na cama, deixando a porta aberta e vendo Dimitri entrando em meu quarto. Ele viu o meu rosto triste e suspirou. Ele sempre fazia a mesma coisa quando me encontrava assim. Nesse pouco tempo, isso já havia virado hábito. Ele se sentou ao meu lado e pôs o braço em meus ombros. Era fácil me sentir como uma criança perto de Dimitri. Ele era tão grande.

“Triste de novo, pequena Jordan?”, ele perguntou.

Soltei o ar. Nem o apelido que ele havia posto em mim estava fazendo efeito.

“Dimitri, você já sentiu como se, ao fazer a coisa certa, fosse a coisa mais errada do mundo?”, perguntei.

Eu já sabia a resposta, mas gostava quando ele hesitava nas palavras e as escolhia com cuidado para não me deixar pior. Para que Dimitri não tivesse surpresas sobre mim, minha mãe fez questão de contar toda a história para ele. Incluindo de quem era meu pai. Ele não me julgou. Não se afastou. Pelo contrário. Isso nos fez mais próximos. Ele sabia como eu me sentia. Ele tinha sofrido a mesma coisa com Christina. Era tudo o que ele queria dizer, mas o que me respondeu foi:

“Sim”

Me afastei para olhar em seus olhos escuros.

“Você acha que ele já sabe?”, perguntei e mordi o lábio.

“Se não sabe, saberá logo.”, ele disse de súbito. “Christina nunca conseguiu esconder algo de Ethan por muito tempo. Ele sente quando ela está estranha. É aquela ligação de gêmeos.”

Maldita ligação.

Me levantei, voltando a chutar o meu vestido e vagar pelo quarto. Dimitri também se levantou e se encostou em meu armário, me observando. Cruzou os braço e respirou fundo. Quando tocávamos nesse assunto, nunca conseguíamos ficar quietos. Finalmente, tomando coragem, me virei para Dimitri.

“Quanto tempo você acha que Christina poe esconder...Isso?”, apontei para mim mesma.

Ele deu de ombros.

“Não sei. Talvez mais uma semana. De um mês não passa.”, ele passou a língua pelos lábios e mudou o pesou do corpo para o outro pé. “Ainda tem a possibilidade dele visitar Nara e ela contar tudo.”

Nara. Todos esse dias ali, eu nunca tinha esquecido dela. A faca entrando em seu pele. Seu sangue escorrendo por meus dedos. Ela me dando um olhar chocado e desmaiando. Ethan ficando do meu lado, quando ela queria protegê-lo.

“O que eu faço?”

Estava sentindo a loucura tocando em mim, aos poucos. Nara poderia voltar a qualquer momento, mesmo que minha minha mãe decidisse prendê-la. Ethan poderia saber. Ethan iria saber. Eu estava tão confusa. Me encolhi e pus as mãos nas têmporas. Nem vi quando Dimitri chegou perto de mim, mas logo ele colocou uma mão em meu ombro. Estava sério. Eu sabia o que ele diria. Mas escutar as palavras faziam com que as coisas ficassem mais complicadas.

“Você tem que contar a verdade a ele.”

******

Encarei o celular pela quarta vez, impossibilitada de ligar. Sempre que digitava o último número, não conseguia apertar para discar. Era covarde demais. Eu não sabia como iria reagir se ele atendesse já sabendo. Dimitri ainda estava sentado na minha cama, quieto esperando que eu ligasse. Até que ele tomou o celular de minha mão e discou ele mesmo. Antes que eu pudesse dizer algo, ele pôs o celular no meu ouvido e eu escutei a voz que fazia meu coração acelerar a duzentos por hora.

“Jordan?”

Tive que me sentar, por sentir minhas pernas bambeando. Essa semana sem escutar a sua voz, não me fez menos imune. Eu ainda sentia o nosso vinculo. Respirei com força e vi Dimitri fazendo sinais para que eu dissesse algo. Mas quando abri minha boca, tudo o que saiu, foi um gemido de dor. Isso fez Ethan arfar. Fechei os olhos com força. Ele havia me reconhecido.

“É você, Jordan”, ele disse aliviado. “Eu fiquei tão preocupado. Iria a sua casa, mas não queria te forçar a nada. Como você está?”

“Ethan”, engoli o nó em minha garganta. Dimitri disse que eu precisava ser direta, assim não precisava escutar muito a voz dele. “Precisamos conversar. Pode me encontrar no bosque, ás oito?”

Ele hesitou.

“Está tudo bem , Jordan?”

“Sim ou não?”, eu insisti, sem responder. “Hoje á noite, no bosque?”

“Tudo bem, mas...”

Eu desliguei.

Joguei o celular no outro lado do quarto, querendo que ele ficasse tão quebrado quanto eu por dentro. Mas Dimitri foi mais rápido e o pegou ainda no ar. Afundei meu rosto no travesseiro, pensando que, se me matasse, Ethan talvez tivesse pena de mim e me odiasse menos. O balançar da cama e o peso súbito me avisou da aproximação de Dimitri, antes que ele sussurrasse.

“Te espero lá em baixo, as oito.”

Eu assenti, ainda com o rosto no travesseiro e o escutei rindo enquanto saía do quarto. Era tão fácil rir. Menos quando se estava pronta para contar ao seu grande amor que, metade de você, o odeia. E talvez essa metade que me mate.


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Notas finais do capítulo

E o que acharam da amizade de Dimitri e Jordan? E a decisão dela mesma contar a verdade? Comentem! Beijos e até sexta.



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