A Tocadora de Almas escrita por dastysama


Capítulo 6
Capítulo 6 - A Arte de Acreditar


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo *--------*



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Bill ficou a encarando sem saber o que dizer, todos que estavam assistindo aquela cena ficaram calados, não se ouvia a respiração de ninguém. Sarah, então, estava atônita, sem saber se protegia sua amiga ou seu ídolo.

“Hellena não está certa em fazer isso, apesar de ela dizer que aceita tudo isso, ela está desesperada e às vezes surta.”

“É o dom da Hellena, ela consegue mudar você, mas não é nada fácil, ela joga duro.”

- Você está desesperada, só isso – disse Bill calmamente – Está tentando jogar sua raiva em cima de mim, sem saber que o problema é você mesma.

- Eu? O problema? Decididamente tenho um problema.

- E não vai ser esse problema que irá acabar com você, fala tanto de mim e você está se enfraquecendo. Não vai ser a leucemia que irá levar você, e sim você mesma.

Hellena não esperava receber essas respostas, pela primeira vez na vida não sabia o que dizer, só ficou olhando para ele, aquele garoto magro, com os cabelos lisos pendendo sobre seus ombros e o rosto como de uma garota.

- Lenna? – Sarah a chamou pelo seu apelido – Vai ficar tudo bem, você vai ver. Você não vai morrer.

- Eu não sei mais de nada – disse ela sem encarar Bill – A única coisa que tenho que fazer é esperar, não é? O tempo dirá o que irá acontecer.

Perante o olhar de todos, Hellena caminhou até o seu quarto, dando uma última olhada em Bill que a olhou também, depois entrou no quarto e fechou a porta. A mãe a encarava, queria dizer algo a ela, mas também não conseguiu. A garotinha deitou na cama e abraçou seu gato de pelúcia, deixando escorregar uma lágrima, uma apenas, talvez fosse a única que sobrara de tanto chorar.

Bill continuava parado do lado de fora, olhando para o chão, não conseguia encarar ninguém naquele corredor, nem mesmo Sarah que havia pegado sua mão.

- Vai ficar tudo bem, Bill. Você já mostrou para ela que não é comum.

- Eu sei, eu não devia me sentir culpado pelo o que eu disse, mas me sinto.

- Talvez mais tarde você possa falar com ela, acho que ela irá ouvir.

- Acho que já falei o suficiente, não vou perturbá-la e tenho certeza que ela também não virá me perturbar.

Bill voltou para seu quarto, na verdade queria sair daquele lugar o quanto antes, mas se contentou em deitar-se na cama, desfrutar da companhia da mãe e ler seu livro favorito: A Tocadora de Almas. Na manhã seguinte, Tom chegou com uma novidade, trouxera mais uma carta a Bill.

 

Querido Bill,

 

Como ainda não tenho muitas poesias para formar um novo livro, anexei a essa carta, uma delas para você ler e dizer se é boa. Espero que goste. Fiquei feliz ao saber que você também escreve, se não fosse incomodo gostaria de também poder ler o que escreve, poderemos trocar experiências.

Espero um dia poder conhecê-lo,

Talytta Kirkhoff

Ele não acreditou, quando viu que dentro da carta havia mais um papel, era a poesia dela! Pelo visto, Bill havia passado um pouco de confiança, por que ela tinha mandado uma para ele, tentando conter a ansiedade, ele abriu o papel.

 

“A neve parece cair junto com minhas lágrimas

Ambas são frias, geladas,

Tento procurar alguma forma de sobreviver aquele frio

Mas estou presa às essas correntes de vidro

Quebre-as disse o vento

Mas se quebrá-las, elas cortarão

E meus pulsos ficaram doendo

Enquanto tento aquecer meu coração

Me salve, grito ao vento

Ele só manda uma brisa para balançar meus cabelos

Enquanto sofro, sozinha ao relento”.

 

 

Naquele momento, ao ler aquela poesia, ele teve uma idéia fantástica. Copiou ela em um papel, tentando fazer a letra mais caprichada que podia, afinal escrever deitado não era tão legal.

- O que está fazendo? – perguntou Georg.

- Ela me mandou uma de suas poesias, só estou copiando.

- Você vai plagiar? – perguntou Gustav pasmado.

- Claro que não! Você acha que eu faria isso? Só vou copiar por outro motivo.

- E qual é? – perguntou Simone preocupada.

- Logo eu explico.

Bill conseguiu copiar a poesia, e saiu da cama, como estava com soro no braço, pegou aquele cabide onde estava o soro e saiu com ele pelo corredor aos olhares atônitos de seus amigos e sua mãe. Atravessou o corredor de oncologia e foi até o quarto 77, colocou o papel da poesia por baixo da porta e bateu, depois como uma criança feliz que acabou de fazer uma travessura, saiu correndo direto para o quarto.

A mãe de Hellena ouviu a batida na porta e foi até lá ver quem era, mas ao abrir não encontrou nada, quando fechou, notou algo no chão. Estava escrito: para Hellena. Foi até a filha que estava desenhando naquele momento e entregou o papel para ela. Hellena pegou o papel e desdobrou, ficou surpresa ao ler aquela poesia e depois ver o que estava escrito abaixo.

 

“Isso não foi feito por mim, é de uma amiga que escreve muito bem, mas ao ler me lembrei de você. Não fique sozinha no relento, por que tem muitas pessoas do seu lado e quebre as correntes de vidro, não se prenda a esses pensamentos negativos que inundam sua cabeça. Espero que eu não me torne um inimigo e sim um amigo. Com carinho, Bill”.

 

- Ele... Me mandou uma poesia – disse Hellena abaixando o papel e olhando para mãe.

- Viu? Ele não é uma má pessoa, devia dar uma chance para vocês se conhecerem melhor.

- Não sei... Talvez sejamos como óleo e vinagre, não nos misturamos.

- Mas do mesmo jeito que Jesus transformou água em vinho, você também pode se transformar.

Hellena pegou a poesia, releu de novo e sorriu, apesar de ter sido um sorriso quase impossível de se ver, a mãe percebeu aquela mescla de felicidade da filha. A garota saiu da cama e foi até a parede, pegou um durex em cima da mesa e colou a poesia na parede.

 

***************************************

 

- Então você já causou confusão só estando quatro dias aqui? – exclamou Tom.

- Não foi confusão, ou melhor, foi um pouco. Mas estou tentando ajeitar as coisas – disse Bill olhando bravo para Tom, ele havia explicado tudo que havia acontecido a eles.

- Mas não foi culpa sua, Bill – disse Gustav – Se eu fosse você eu nem ligava para ela.

- Eu tentei fazer isso, mas ela não é assim por ser, só que a doença a fez ficar deprimida. E vocês sabem que ficar triste não é comigo, apesar de eu às vezes ser depressivo.

- Acho que você fez certo – disse Simone – Que eu saiba uma banda dá alegria aos fãs, por que Bill não pode dar a alegria a alguém, mesmo que não seja fã da banda?

- É isso que eu pensei – disse Bill feliz em ver que a mãe estava ao seu lado – Ter leucemia não é nada fácil, se ter anorexia já é horrível imagine essa doença!

- E qual seria o próximo passo?

- Não sei, mãe. Acho que já dei muitos passos por hoje, talvez eu devesse esperar que ela fizesse o mesmo.

- Por que tenho a impressão que ela não vai fazer? – disse Tom.

- Por que pensa isso?

- Olha Bill, aprende comigo, já peguei esse tipo de garota. Ela é daquele tipo que vive esnobando os outros, elas querem que você corra atrás e créu! Sacou?

- Eu não ouvi isso – disse Bill olhando bravo para o irmão.

- Não estou brincando, estou falando sério. Ela não está nem ai para você e não vai mudar nada, você tem que correr atrás.

- Tudo bem Tom, como se você pudesse falar sério alguma vez na vida.

Margret entrou no quarto trazendo mais comprimidos, Bill até que gostava daqueles, eram antidepressivos que ajudavam a aumentar um pouco seu peso. Como ele estava sendo um bom paciente e comendo o que lhe mandavam, mesmo que fosse pouco, ele não precisou de sonda para se alimentar.

- Você foi realmente corajoso, Senhor Kaulitz, além de ter tido cuidado também – disse Margret comentando sobre o incidente – Acho que Hellena aprendeu uma lição.

- Será? Talvez tudo que eu falei não a atingiu de uma forma boa.

- Hoje ela foi para a quimioterapia sem reclamar, ela odeia isso e parecia bem disposta a hora que eu a vi. Isso é uma pequena diferença, mas já é alguma coisa.

- Então você acha que talvez o que eu falei a mudou, pelo menos um pouquinho?

- Sim, é o que penso. Pelo visto, sua estadia aqui trará benefícios não só a si mesmo, como também em outras pacientes.

 

******************************************

 

- Como está se sentindo Hellena? – perguntou o médico a examinando.

- Bem melhor, as dores pararam, mas estão aparecendo manchas pela minha pele.

Ele havia percebido isso, não tinha como não notar, ela tinha a pele tão pálida e logo começaram a aparecer manchas roxas que não fora causado por batidas e sim pela diminuição na produção de plaquetas. Isso já o estava preocupando, cada vez mais Hellena ficava fraca, logo o pequeno corpo da garota não agüentaria tudo e iria morrer.

- Ouvi falar que você aprontou hoje – comentou o médico ao ver que Hellena tentava desvendar o que ele pensava, ele viu isso através dos olhos castanhos dela.

- Só um pouquinho.

- Sei, sei – disse rindo – E hoje fez a quimioterapia sem reclamar, isso me deixou perplexo.

- Talvez seja por que cansei de reclamar, não vai adiantar nada.

- É verdade, é através dele que você vai melhorar.

- Na verdade, é através da medula, mas ela já foi riscada da minha listinha, vai ser difícil consegui-la.

- Talvez você devesse pedir ao Papai Noel.

- Papai Noel não existe, Doutor, já tenho quinze anos. Se nem Deus está me ajudando muito, imagine o Papai Noel!

- Não estou falando se Papai Noel existe ou não, estou falando em acreditar, não só nele, como em si mesma. Hellena, pouco sabem disso, mas o pensamento pode mudar muitas coisas, e uma dessas coisas é curar você.

 


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