Bill estava em seu quarto escrevendo a carta quando entrou Margret, perguntando se amanhã duas fãs dele da área de oncologia poderiam ir visitá-lo, ela o lembrou que se tratava de Hellena e Sarah, e é claro, que de nenhuma maneira Bill iria recusar uma visita a elas.

Querida Talytta Kirkhoff

Foi um alívio saber que você não vai se suicidar, pelo jeito estou ficando louco mesmo, mas não entendi sobre o não há tempo... Mas não precisa me explicar, por que isso é pessoal.

Você tem suas razões para não querer me ver, quer manter seu anonimato e não vou insistir quanto a isso, é que também escrevo, e pensei que talvez fosse legal conversar com uma pessoa que entende do assunto e que está me dando inspiração.

Aguardo ansiosamente por suas novas poesias, quando lançar outro livro, pode ter certeza vou lê-lo.

Abraços,

Bill

Ele achava que estava muito boa, passava confiança e talvez isso fizesse a escritora balançar quanto ao encontro deles, ela não tinha motivo para se esconder e apesar de ele ser famoso, não ia sair correndo para contar a todos sobre aquela escritora anônima e pouco conhecida.

Pegou a carta e colocou dentro de um envelope e lacrou com uma cola que Tom havia trazido para ele, agora era esperar eles voltarem do almoço para poder enviar a carta. Enquanto isso, a enfermeira Dinna entrou com sua comida diária, não era tão horrível comida de hospital, mas às vezes Bill não sentia fome e tinha que empurrar aquilo contra sua vontade.

- Ah, Senhor Kaulitz – disse Dinna – Você tem visita!

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Hellena havia acordado às onze da tarde com uma Sarah insistente ao seu lado, apesar de ainda sentir os efeitos do remédio, ela havia prometido a Sarah acompanhá-la na visita do vocalista da tal banda que ela amava.

- Já vou, já vou – disse sonolenta – Vou me arrumar, espere um pouquinho!

- Hellena, não vejo a hora! Meu Deus, o que vou falar para ele?

- Sarah você não vai parar de falar, isso tenho certeza.

- Mas eu falo bastante com pessoas que conheço, com as que não conheço fico tímida.

- E a nova faxineira? Você não a conhecia e logo no primeiro dia falava com ela. E a garota que estava com apendicite, você também falou com ela... O pedreiro, a mãe do garoto que quebrou o pé... Quer que eu continue a lista?

- Tudo bem, eu sei o que falar mesmo.

- Mas quem é o garoto mesmo? Não me recordo muito bem.

- Esse! – disse Sarah com uma revista na mão, apontando para um garoto com um cabelo enorme e arrepiado.

- Ah... Agora lembrei, mas acho que o seu ESSE devia soar mais como essa. Ele parece uma garota.

- Hellena não é culpa dele que ele parece com uma garota, e seja educada com ele.

- Tudo bem, Sarah, prometo me comportar... – disse Hellena bufando.

Hellena foi até uma das suas malas e tirou um pijama azul, ela não gostava de andar com sua camisola branca por que ela parecia uma garota fantasma. Foi até o banheiro, se trocou e depois foi até a cômoda e pegou a peruca que usava, era feita dos seus cabelos, mas não era a mesma coisa. Se olhou no espelho tentando ajeitá-la e depois pegou um chapeuzinho azul que vivia usando, por que se a peruca ficasse torta, ninguém ia perceber.

- Você está ótima! – disse Sarah.

Ela não estava, sabia disso, tinha perdido muito peso por causa da leucemia, via como o corpo estava magro e estava quase anêmica. A única coisa que denunciava se estava viva eram os olhos castanhos enormes.

- Hellena? Vamos? – perguntou Sarah preocupada.

- Claro, já estou indo.

As duas saíram do quarto de Hellena e andaram até o fim do corredor, aonde chegaram até a recepção, perguntaram para a enfermeira Dinna se poderiam ver Bill Kaulitz, e ela falou que iria ver com ele. Enquanto ela perguntava a ele se elas poderiam entrar, as duas ficaram atrás da porta ouvindo tudo.

- Quem? – podia-se ouvir a voz dele.

- São as duas fãs suas da área de oncologia.

- Ah, sim. Elas podem entrar.

Sarah ao ouvir a voz dele, puxou Hellena para dentro daquele quarto, a garota estava extremamente sorridente e saltitante. Bill sorriu ao ver as duas, uma era pequena e jovial, cabelos de um loiro avermelhado e olhos esverdeados, com um monte de sardas por cima do sorriso, com certeza aquela era Sarah. A outra era pálida, os cabelos negros caíam pelo chapéu azul, magra e mais alta que a outra, tinha um rosto também infantil com grandes olhos castanhos.

- Olá Bill Kaulitz! – disse Sarah esfuziantemente – Meu nome é Sarah e essa é a Hellena.

- Olá, fico feliz que venham me visitar.

- Eu nem acredito que estou te vendo pessoalmente! – Sarah largou a mão de Hellena e foi correndo para o lado de Bill, isso fez Hellena soltar uma risadinha baixa, com certeza Sarah saberia o que falar naquele momento – Eu nunca pensei que isso ia acontecer comigo, só quando ouvi as enfermeiras fofocando sobre você que pensei que meu sonho se realizaria!

- E eu nunca pensei que teria fãs até aqui! – disse ele rindo – E pelo visto, fãs bem animadas.

- Sim, sou super animada, espero que isso ajude você a melhorar, mas se puder fique mais só um pouquinho no hospital, por que ter Bill Kaulitz como vizinho próximo é uma chance que só acontece uma vez na vida!

- Apesar de não querer muito, acho que vou ter que ficar ainda por aqui um bom tempo.

- Que ótimo! – exclamou Sarah, mas depois decidiu ajeitar o que falara – Quer dizer... Que péssimo! Mas pode ter certeza, você não vai morrer de tédio, vou vir aqui te animar todos os dias, eu e a Hellena.

Então Bill decidiu parar de olhar para a garotinha falante e deu uma boa olhada na tal de Hellena que ainda estava encostada na porta, sem ao menos dizer algo ou dar um passo. Sarah notou o olhar dele, e olhou para Hellena.

- Ela é tímida – disse Sarah inocentemente – Hellena, se aproxime mais, não tem o que temer, ele é legal.

Hellena olhou para Sarah, mas não disse nada, apenas adentrou mais e se sentou em um banquinho, nem muito perto, nem muito longe.

- E então? Quantos anos vocês têm? – perguntou Bill.

- Tenho onze! A Hellena tem... Hellena fale um pouco, vai? Não quero dublar você.

- Quinze – ela disse simplesmente – Tenho quinze anos.

- Viu? Não doeu nada – disse Sarah pirracenta – Eu estou aqui nesse hospital faz menos de um mês, a Hellena está há mais tempo.

- É, uma enfermeira falou de vocês. São garotas que estão lutando pela vida.

- Sim, precisamos de uma doação de medula, sabe? Mas sabe é difícil consegui-la, minha mãe já tentou doar, mas não é compatível. Meu pai vai tentar vir para a Alemanha semana que vem, ele é médico e está na África, então vai tentar ver se a sua medula é compatível a minha.

Sarah contava sua história como se fosse a melhor do mundo, isso era de admirar, por que ninguém contaria sua história trágica e triste de uma forma tão viva quanto ela. Por isso que as pessoas daquele hospital haviam colocado ela do lado de Hellena que era praticamente o oposto de Sarah.

- Agora é a sua vez de contar sua história Hellena – disse Sarah.

- Não tem nada de mais nela, é praticamente a mesma que a sua. Só que Sarah talvez consiga a medula, eu não, minha família inteira já tentou e mais várias pessoas, mas nenhuma é compatível.

- Você vai conseguir – disse Bill tentando encorajá-la.

- Não, não vou. Já sei disso, meus dias estão contados e a única coisa que posso fazer é aceitar isso – disse ela, mas ao perceber o rosto pasmado de Bill deu um sorriso triste – Não fique assim, estou bem.

- Mas você tem chance de sobreviver, está fazendo tratamento.

- Não está adiantando, só está adiando a morte por mais um dia. Preciso da medula para ter certeza que vou sobreviver a isso. Mas isso não importa, como eu disse, já aceitei. E você? O que tem? Por que está aqui?

- Bem... – disse ele sem saber por onde começar – Estou com anorexia.

- Ah! – exclamou Sarah – Mas é só você comer que...

- Anorexia? – perguntou Hellena se levantando – Você está internado por que... Não come direito? Me desculpe, mas você é um idiota!

Hellena olhou brava para ele e saiu da sala, fechando a porta com tudo, Bill olhou extremamente confuso para ela, sem entender nada. Sarah estava vermelha de vergonha, ela sabia que isso ia acontecer, tentou contornar a situação e impedir que Hellena ouvisse o que ele tinha dito, mas não deu certo.

- O que aconteceu? – perguntou Bill totalmente atônito.

- Isso já era previsível... Vamos dizer que Hellena odeia pessoas que estão nesse hospital por causas, segundo ela, idiotas. É que você não viu o episódio da menina que tinha bulimia, a Hellena acabou com ela, por isso tome cuidado.

- Acabou como?

- Ela jogou tudo na cara dela, disse que a garota não tinha amor-próprio, que enquanto ela estava ali morrendo nesse hospital a outra estava apenas internada por que não agüentava colocar nada na boca, só por que queria ter o tal de corpo perfeito e blá blá blá.

Bill se sentiu mal àquela hora, ele era como a garota que tinha bulimia, não tinha amor-próprio...

- Não se sinta culpado por isso – disse Sarah ao vê-lo triste – Hellena não está certa em fazer isso, apesar de ela dizer que aceita tudo isso, ela está desesperada e às vezes surta. Mas se ela vir falar alguma coisa para você não dê ouvido.

- E o que aconteceu com a garota que tinha bulimia?

- Ela chorou bastante aquele dia, mas em menos de duas semanas ela melhorou. As duras palavras da Hellena a fizeram mudar, vamos dizer. É o dom da Hellena, ela consegue mudar você, mas não é nada fácil, ela joga duro.

- Mas ela está certa.

- Sim, está, mas não totalmente. Ela também odeia esse hospital e principalmente estar careca, é que ela acha que você não deveria estar aqui. Você tem tudo para estar lá fora, e principalmente, tem cabelo.

Sarah com aquele sorriso de criança boba ao dizer sobre o cabelo, fez Bill rir, mas ainda sim, ele se sentia culpado pelo o que aconteceu com Hellena. Ele ali, por causa de problemas alimentares irá ficar menos de um mês no hospital. E Hellena e Sarah? Vão ficar por quanto tempo?

- Acho que vou tentar falar com ela depois.

- Bem... Não será fácil, Bill, mas é melhor você tentar. Mas antes vou falar com ela. Hellena evita se apegar às pessoas, ela já tentou me afastar dela, mas sou insistente quanto a isso, então ela desistiu. Tentei mudá-la do mesmo jeito que ela muda as pessoas, mas pelo visto sou ruim nisso, talvez você consiga.