Na Escada da Escola escrita por Aki Nara


Capítulo 7
Capítulo 7 - Sete




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_ Qual de vocês é o primeiro que vai borrar nas calças?

 

O luar que iluminava o corredor aos poucos foi escurecendo, tornando o ambiente sombrio e soturno. Ela podia ver o medo tomando conta gradativamente através dos olhos e da face pálida daqueles garotos. Ela flutuava lenta e ameaçadoramente na direção deles, pobres coitados, não havia vento, mas os cabelos longos de Maki esvoaçavam, sua pele alva, os lábios rubros como sangue lhe davam um toque demoníaco ao seu visual de fantasma.

 

_ Boooo! Esta é a deixa para vocês correrem... – fez uma pequena pausa antes de acrescentar suavemente e dedicar seu olhar aniquilador – antes de suas almas serem minhas.

 

_ AHHHHH!

 

Ambos saíram desvairados trombando em todos os lugares possíveis, e os inimagináveis ficavam por conta de Maki, que ajudava jogando e acertando objetos por onde eles passavam, ela os acompanhou até a saída. Porém, ela não podia sair fora dos domínios internos.

 

_ Nossa! Não é que eles se borraram mesmo? – ela riu maligna. – Você terá o que contar quando voltar... – parou de rir – se conseguir voltar...

 

_ Você não pode sair daqui?

 

_ Boa observação e agora nem você.

 

_ Por que você nunca apareceu pra ninguém até agora?

 

_ Tenho cara de dicionário? Se eu soubesse todas as respostas não estaria aqui agora. Como é que você deixa esses idiotas levarem a melhor?

 

_ Como se tivesse sido diferente contigo!

 

_ O que você quer dizer?

 

_ Você só consegue revidar porque está assim...

 

_ Assim como? Morta? Se eu pudesse não queria estar assim... Eu queria estar viva... Queria ter ido pra faculdade, mudado de vida, casado com seu pai... Quem sabe você não seria meu filho agora! Eu... Perdi... Tudo...

 

Sentia-se zangada, frustrada, triste e o pior de tudo deprimida. A tristeza era tão profunda, mas as lágrimas não saiam. Precisava sumir por um tempo e foi o que fez. Deixou Sorah para sentir o que o futuro lhe aguardava se continuasse a deixar a vida passar: a solidão de ser só e invisível.

 

_ Maki? Desculpa... Olha! Foi mal – a voz fez eco na sala vazia e assim terminou a primeira noite de um longo pesadelo.

 

 

O dia amanheceu e a escola ganhava vida, sem Maki, Sorah podia ver os alunos, podia ver os colegas de sala, sentar na sua carteira, assistir as aulas, ouvir as conversas e saber o que estavam pensando. Ele sempre se excluía por medo de se relacionar e acabava sendo ignorado. Mas descobriu que “ser ignorado” e “ser inexistente“ era bem diferente. Principalmente agora que sabia o que pensavam dele.

 

_ O que aconteceu com o Sorah? – Aimi Sato perguntou para a amiga.

 

_ Não sei o que você vê nele... Deve estar doente. Ah! Mas você soube?

 

_ Ele é bonitinho. Sabia que ele ajudou um gatinho a descer da árvore? Mamãe sempre diz que quem é bom com os animais tem um bom coração. O que você soube?

 

_ Aqueles dois malandros... Ito e Ogata! Eles estavam borrados e em estado de choque quando foram encontrados. Ouvi boatos de que eles se drogaram causando vandalismo pela escola. Os pais foram chamados... Eu acho que eles vão ser expulsos.

 

_ Tomara... Eles encrencavam com todo mundo.

 

Já tinha ouvido o suficiente por um dia: “ele parece ser legal, mas me ignora”, “gostaria de ser amigo dele, mas se afasta”, “ele bem que podia fazer parte da equipe de natação, mas ele nunca vai aceitar”; informações demais para apreender, todos pareciam ter dúvidas, medos, desilusões, tanto quanto ele mesmo.

 

Acompanhou o professor de Educação Física até a sala dos professores, Onuma Senssei sempre exigia o máximo dele. Ali pelo menos ele não precisaria ouvir nada a respeito de si mesmo.

 

_ Onuma! Seja bem-vindo ao descanso merecido.

 

_ Obrigado – sentou recostando-se na cadeira.

 

_ O que he? É aquele garoto de novo?

 

_ Sim... Takenaka me disse que ele está sumido. Onde será que ele está? Como se já não tivesse problemas demais. Ele não merece!

 

_ Que pena! Tão diferente do pai. Talvez tenha puxado para a mãe.

 

_ Não fale assim... Ela só era tímida e quieta. Onuma é meu melhor amigo e se ele diz que ela era maravilhosa... Eu acredito.

 

Ele já não agüentava mais, um dia inteiro era mais que suficiente para saber sobre si mesmo. Quanto tempo será que Maki teve que ouvir falarem sobre si mesma? Quanto tempo até esquecerem que ela existiu um dia?

 

À noite caiu sobre a escola apesar do tempo não mais influir para ele, mas o sino tocou as baladas da meia noite e ela surgiu. Estava mais pálida, mais fantasmagórica, os olhos demonstravam muita tristeza, ela o viu, mas parecia não conseguir evitar o ritual.

 

Nem tão pouco ele conseguia se mover. Era como se só naquele breve momento, houvesse um vácuo no tempo, ficou parado, estático assistindo Maki se sentar na janela, sorrindo, sentia a presença de um vulto passando por ele e no final, via-a cair...

 

_ Maki, não! – gritou.


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Notas finais do capítulo

Ele acabou de descobrir que ela foi assassinada.