_ Não pode ser... Você tem certeza? – o garoto pareceu mais pálido.

_ O que não pode ser? É claro que tenho certeza.

_ Como você pode ter certeza disso quando não lembra nada sobre si mesma?

_ Não sei! Mas é ele sim... Jamais esqueceria meu primeiro e único namorado.

_ Namorado? O que você lembra  dele?

_ Tsutomu era seu primeiro nome. O garoto mais inteligente, capitão do time de basquete e mais popular entre as garotas – disse de modo sonhador – nós começamos a namorar em segredo, combinamos de ir para a mesma faculdade e depois de formados nos casaríamos.

Os olhos de Sorah se arregalaram incrédulos. A boca abria e fechava, ele parecia querer dizer algo e estar em dúvida entre falar ou não falar, até que por fim ele realmente disse.

_ Esse cara aqui é tudo que você disse e mais um pouco. Tsutomu Takenaka é meu pai.

_ Pai?? – uma dor aguda transpassou-lhe como se uma faca estivesse lhe rasgando o coração, mas se estava morta como poderia estar sentindo dor? Pela primeira vez examinou o garoto da cabeça aos pés.

Flutuou para perto dele e com as mãos translúcidas percorreu os cabelos, a sobrancelha, o nariz, o contorno da boca e as bochechas. Agora lhe notava a semelhança. Infelizmente o aspecto doente deixava a desejar, mas o garoto não era feio. A estatura era mais baixa que a do pai, mas ele ainda era novo e por certo cresceria mais ainda. Porém seu Tsutomu era mais bonito e concluíra que Sorah se parecia mais com a mãe.

_ Você era linda... – disse admirando a sua foto no álbum 

_ Como assim “ERA”?– ergueu a sobrancelha com um leve toque de ira frisando bem.

_ Errrr... Ainda é? Bom... Quer dizer... Você era linda quando estava viva e... Bem... Continua sendo bonita agora que está morta – riu sem graça coçando a cabeça.

Virou-se para que ele não a visse rindo, pois não conseguiu se conter ao ver um gesto característico tão familiar quanto à do pai. No entanto, lembrou-se que não estava para ter amenidades. Filhos não são feitos sozinhos... Com quem Tsutomu haveria de ter casado? – um misto de raiva e ódio começou a consumi-la...

_ Você está me assustando com essa expressão endiabrada no rosto... Que tal sorrir?

_ Isso vai depender da resposta que me dará...

_ Mas a resposta depende da pergunta que vai me fazer...

_ Quem é a sua mãe! É esta aqui? – amostrou a foto de uma garota de cabelos curtos.