_ Espera! Você disse que Tsutomu mentiu para você... Sobre o quê ele mentiu? Tem algo haver com a sua mãe?

Parece que ela havia dado o “clic” para uma bomba detonar. Sorah explodiu toda raiva, angústia, medo até cair em prantos.

_ Ahhhh! Se tem? TEM! ELE disse que a minha mãe tinha morrido num acidente, mas... ELE mentiu! Logo ele... O senhor verdade, que não admite mentiras. Ele mentiu pra mim. Ela está viva! Quer dizer... Quase morta! Mas morta que viva! Droga! Ela está em coma...

Cheguei mais perto que pude. Se fosse viva seria tão fácil acalentá-lo.

_ Não chora!

_ Quem está chorando? – ele limpava os olhos e continha os soluços.

_ E como foi que descobriu a mentira?

_ Aquela mulher... Ficou com tanta raiva do pai que fez questão de me contar...

_ Reiko?! – não conseguiu controlar o ódio que sentia daquela garota, seus cabelos eriçaram, queria explodir toda raiva e zanga contida durante anos, era engraçado como certas coisas ficavam guardadas.

_ Se acalma! – Sorah disse num tom mais brando – ela não pode mais te fazer mal.

_ Mas eu posso! – sentia um prazer diabólico.

_ Como assim? Onde é que você vai?

_ Ela acabou de entrar aqui.

_ Espera! Não vai!

_ Sinto muito... Mas não posso adiar este encontro.

_ Maki! Volta.

Reiko Hantani andava desenvolta pelos corredores da entrada, abriu a sapateira de visitantes e retirou um par de sandálias, fez cara de nojo ao calçá-las, mas ainda tinha aquele ar de princesa e dona do mundo.

_ Desgraça de moleque! Ele só pode estar escondido por aqui. Ele não tem pra onde ir. Como se não bastasse todo o problema... Eu precisei aturar tanta coisa. Finalmente Tsutomu vai ser meu... Garoto idiota! Só falta ele! Vou aconselhar pra que ele estude num colégio interno. Ele está precisando de um corretivo depois de fugir de casa sem motivo – gargalhou maligna.

Em seu devaneio, Reiko não via a escuridão tomando conta do ambiente. À medida que se aproximava de sua vítima, o luar começava a ser ofuscado aos poucos.

_ Acho que é a sua vez de ter um corretivo – sussurrou no tom mais gélido que encontrou em sua voz.

Enquanto isso Sorah se desesperava para encontrá-la. Ele tinha visto a fúria dela contra aqueles garotos imbecis e ela não tinha nada contra os dois. Imagina o que ela faria com a Reiko tendo tanto ódio contido por ela? Ele imaginou algo bem tenebroso e sangrento, na verdade uma carnificina do pior tipo de filme de terror. Vingança não era tudo. Ele não queria que ela se sujasse. Ele não podia negar... Gostava da Maki.

_ Espera! Raciocina cara! Raciocina. Okay! Sem a Maki eu posso andar por toda a escola. É isso “aí”. Então vamos lá. Por onde é que todo mundo passa quando entra na escola? Certo! A entrada. Visualiza.

Sorah imaginou a entrada, os armários de sapatos de cada aluno formando corredores extensos. Ele chegava exatamente na hora em que Maki sussurrava e Reiko se voltava arregalando o olhar, via o terror estampado em sua face, incrédula, as pernas dela falhavam enquanto se ajoelhava no chão gelado e fechava os olhos.

_ Você está morta! Está morta! Eu te empurrei da janela. Eu te matei!