POV Agatha

Eu e Jake corríamos pelo corredor. Não havia nada além de paredes velhas e nós.

  - Por que não tem guardas? – Perguntei.

  - Estamos numa ilha. Os guardas não vão estar preocupados com fugirmos daqui.

  Estremeci de novo. Só de pensar que estávamos cercados de agua, eu quase morria.

  - Agatha, fica calma. – Jake pediu ao perceber que eu estava tremendo. – Nós vamos conseguir. Aqui é o lugar onde os Sacerdotes protegem a lira, é mais fácil derrotar eles do que Hélio.

  Quando eu ia virar pra ir para outro corredor, Jake me parou.

  - Da uma olhada, Loirinha.

  Lentamente eu olhei. No corredor haviam uns quinze homens encapuzados, altos e armados.

  - Pensei que usassem túnicas. – Sussurrei pra Jake.

  - Claro. Você pensou, não é, Agatha? – Ele disse mais baixo que eu.  Mantive o controle e tentei não bater nele. – Ta vendo aquela janela ali? – Perguntou me mostrando uma janela do fim do corredor perto de uma porta de madeira. – Preciso abri-la. Ela da direto para o Oceano. Eu consigo afoga-los. Você fica aqui e quando todos estiverem mortos você vai e pega a lira. Que provavelmente esta naquela sala. Nós voltamos, pegamos o André e vamos embora.

  - Não sabemos onde estamos. – Eu apenas mexi os lábios, com medo de nos ouvirem.

  - Essa ilha é como Ogigia. Não é fixada em lugar nenhum. Da pra sentir por causa do mar. É mais fácil de chagar a Nova York.

  - Ta. Eu vou la quebrar a janela. – Eu sussurrei. – Quer dizer, eu não vou lá. Se prepara porque no momento em que ela começar estalar, você precisa fazer a agua entrar nos pulmões desses humanos malvados.

  Ele me olhou curioso, mas aceitou numa boa. Eu respirei fundo e me concentrei. Não vou dizer que foi rápido. Levou uns três ou quatro minutos até eu desistir. Que coisa mais chata! Por que eu sou tão incompetente?

  - Que droga! – Eu gritei.

  Ouvimos um estalo. Os caras, que estavam vindo dar uma olhada no corredor pra ver se achavam alguém matar, pararam. Meu coração estava saindo pela boca.

  Outro estalo. Eles não se mexeram, eu via pelas sombras projetadas pelo sol que entrava pelo vidro da janela. Até que as sombras desapareceram, mas a luz continuou a entrar por ali. Gelo.

  - Você conseguiu. – Disse Jake.

  Eu sorri orgulhosa e fechei os olhos com força. A janela virou pequenos cubos de gelo e agua em abundancia entrou por ela. Coloquei a cabeça de fora novamente pra ver o que acontecia. A agua envolvia todos. Eles se debatiam violentamente… E eu parecia estar vendo o que aconteceucomigo.

  Jake continuava de olhos fechados. Então, um por um, os Sacerdotes foram jogados janela abaixo. Quando toda a agua saiu dali, eu e Jake fomos ver o estrago. Ainda tinha dois homens vivos. Mas Jake não deixou isso permanecer por muito tempo e separou suas cabeças do corpo.

  - Que horror Jake! – Falei quando o sangue respingou em seu rosto.

  - Não sou o namorado mais normal e… Frágil do mundo. – Ele respirou com dificuldade.

  - Mas ainda prefiro você. – Eu disse empurrando a porta.

  - Acredite, é muito bom saber disso. – Ele se sentou  enquanto eu tentava abrir a porta.

  Eu me aproximei dele.

  - Esta cansado, não é?

  Ele assentiu.

  - Fique aqui. – Eu me levantei e corri até onde André estava. Eu não estava conseguindo nem respirar mais.

  Quando cheguei la dei de cara com uma cena peculiar. Dois Sacerdotes brigavam e André se levantava com as chaves das correntes na mão.

  - O que você fez? – Perguntei.

  - Eles vieram nos fazer uma visita. Não acharam vocês e começaram a falar em chamar o chefe. Fiz os dois brigarem e peguei as chaves. – Ele disse como se fosse obvio.

  - Como assim: “Fiz os dois brigarem”?

  - Sou filho de Éris, deusa da discórdia, das brigas violentas, dentre outras coisas que a fazem ser odiada no olimpo. O Jake morreu?

  Nós começamos a correr.

  - NÃO! – Eu gritei. – Ele só matou os Sacerdotes.

  - Ele é mesmo bom no que faz. – André disse dando de ombros.

  Eu dei um sorriso e continuei correndo. Mas quando chegamos ao corredor, Jake já não estava mais lá.

  POV Emily

  Já estávamos quase chegando no Acampamento. A viagem tinha sido rápida. Eu e Beck não tínhamos nos falado muito. Nada além do necessário. E nada de anormal aconteceu. Quando saímos do trem, Argos já nos esperava. Fomos para o estacionamento e entramos na van.

  Mas eu sentia que algo não estava ocorrendo bem. Algo me dizia… É, deve ser só paranoia minha.

  - Amor? Tudo bem? – Nico pegou minha mão.

  - Tudo. Só estou preocupada com a Agatha e o Jake.

  Nico me abraçou.

  - Eles vão se sair bem. Você vai ver.

  - Eu estou com medo, Nico.

  - Calma Emily! O Jake não vai deixar nada acontecer com Agatha. E vice versa. – Ele acrescentou depois de um tempo.

  Eu encostei minha cabeça em seu peito e esperei silenciosamente até que chagamos ao Acampamento.

  POV Agatha

  - Jacob, saia daqui. – Uma voz rouca disse atrás da porta. – Hélio estará aqui em poucos minutos.

  - Não vou sair daqui sem ela, pai. – Ouvi a voz de Jake.

  Quando André ia abrir a porta, eu empurrei sua mão delicadamente e fiz que não com a cabeça.

  - Sabe que eu não vou continuar deixando que você a proteja. – Revidou Oceanus.

  - Esquece isso! O senhor já mostrou que é poderoso… O pai dela esta morto! Por que quer continuar acabando com essa família? O senhor esta sendo infantil! O que fez a ela no Acampamento não é suficiente?

  - Tudo bem, meu filho. Eu vim até aqui pra ajuda-lo, traí meus amigos e você faz isso?

  - Nunca precisei de você! Eu fui de Brad Ford até Manhatan sozinho! Sem treinamento algum… E agora você me vem com esse papo de pai presente?

  - As leis não permitem isso!

  - Então porque esta me ajudando?

  Houve uma longa pausa até Oceanus continuar com a voz embargada.

  - A um quilometro daqui tem um barco. Apolo estará nele.

  Ouvimos um estalo e em seguida silencio. Olhei para André e ele começou empurrar a porta até que ela finalmente se escancarou.

    Jake estava de olhos fechados com a lira de Apolo nos braços.

  - Vamos ter que pular. É uma queda de dois andares. Hélio estará aqui em minutos. – Ele disse.

   - Seu pai não pegou a lira de você por quê? – Perguntou André.

  Jake não me olhava. O tempo todo ele sabia o que tinha acontecido com meu pai, mas não me contara. Sabia o porquê do meu afogamento… Eu estava perplexa.

  - Eles não podem pegar coisas de outros deuses. Usavam os Sacerdotes e os semideuses pra isso. E o plano não é exatamente pegar coisas de outros deuses. Tem mais coisas em jogo. – Respondeu. - Vamos.

  André saiu na frente, mas eu continuei parada na porta.

  - Desculpa? – Jake disse.

  - Por quê?

  - Por você ter ouvido isso. Eu ia te contar. Não queria que soubesse dessa forma.

  - Quando chegarmos, você vai me contar tudo. Ouviu? É tudo. Tudo mesmo.

  - Vou, Agatha. Eu juro. Agora vamos.

  Saímos daquela sala. Eu já estava indo em direção ao outro corredor Quando Jake segurou minha mão. Ele entregou a lira pra André que andou até a janela e olhou pra baixo. Na mesma hora um cara muito gato apareceu na minha frente. Acho que só perdia para o Jake. Se é que perdia…

  - Onde pensam que vão? – Hélio perguntou.

  - Não sei vocês. Mas eu fui! – André disse. Um segundo depois nós ouvimos o barulho do choque do corpo dele com a agua.

  Eu não queria pular. Eu não ia viver! Eu queria saber o que aconteceu com meu pai biológico. Dizer ao meu pai adotivo que eu o amo… Dizer pra Emily casar com o Nico… Fazer faculdade… Ser protagonista numa serie de televisão...

  - Sinto muito Agatha. – Jake sussurrou.

  Depois disso foi tudo muito rápido. Hélio gritou e Jake me puxou pra perto de si. No mesmo instante fui tomada por uma onda de medo e angustia enquanto meeu corpo era praticamente jogado em queda livre… E então todo meu corpo foi tomado pela sensação horrível de estar submersa novamente.