POV Agatha

Depois de dar aquele show no Refeitório, fiz minha oferenda, tomei meu café calmamente e me levantei para sair daquele lugar lotado de pessoas que não paravam de me olhar, não que isso me incomode, mas cansa.

Saí andando em direção a floresta, queria ficar um pouco sozinha. Às vezes isso é bom pra mim. Serve pra fazer uma boa meditação, sabe?

Me sentei em baixo de uma arvore no meio da floresta e fiquei pensando. Fechei meus olhos e respirei fundo... Parecia que a ficha ainda não tinha caído, sabe? Era muito estranho... Eu tinha congelado um Minotauro, descoberto que não sou irmã da Emily e, consequentemente, a pessoa que me criou não era meu pai verdadeiro, e eu era filha de uma deusa que nunca teve filhos! É muita coisa para uma simples ex-chefe de torcida. Mas ainda assim era bom saber que eu tinha finalmente encontrado meu lugar.

. Senti algo gelado cair na minha cabeça e quando vi, ao meu redor tinha vários flocos de neve caindo lentamente. Essa era a melhor parte! Eu adorei esse meu poder de congelar, de fazer nevar... Muito maneiro! Peguei com minha mão um floco de neve e fiquei olhando pra ele. Já estava parecendo cena de filme natalino.

  - Treinando? – Ouvi alguém perguntar e me virei para ver quem era.

  Emily estava parada atrás de mim com aquela carinha de anjinho.

  - Oi, Emy! Na verdade eu não fiz isso, não propositalmente. - Respondi.

  Ela se sentou ao meu lado.

  - O que deu em você no Refeitório? – Ela perguntou. – Quer dizer, nem responde. Sei que isso é a sua cara.

  Eu sorri.

  - Sabe que eu não ligo que olhem pra mim, até porque já me acostumei. Mas você e o Nico não são tão desencanados.

  - Isso era pra ser um elogio?

  Neguei com a cabeça e ela riu.

  - Mas, e aí? Como foi sua noite com o Di Angelo? – Eu disse sorrindo maliciosamente para minha ir... Para Emily.

  - Ai, para! Menina eu só tenho treze anos!

  - Ta dizendo que se fosse mais velha mais coisa teria acontecido? – Pressionei.

  Ela me olhou incrédula.

  - Vamos mudar de assunto? – Ela estava praticamente implorando.

  - Tudo bem. – Concedi seu desejo. – Acredita que minha mãe me mandou um bilhete? Eu sei que isso parece muito... Idiota, mas eu fiquei tão feliz! E ela ainda me deu isso. – Mostrei meu anel em forma de espada pra ela.

  Ela olhou para o anel e depois para mim, um pouco confuso.

  - É um anel muito lindo. – Ela disse finalmente.

  -Não, sua tonta. – Eu tirei com força o símbolo da espada  e ele se transformou em uma longa espada de verdade. Era perfeita pra mim. Eu tinha conseguido controlá-la bem, mas ainda queria lutar com um daqueles filhos de Ares pra acabar com a raça deles.

  - Uau! – Ela sorriu. 

  - É... Maneiro. Mas e você, como vai?

  Ela me contou sobre Nico levá-la até o MI, o que eu não achei uma boa ideia.

  - Mas Hades pode tentar te matar!

  - Acho que não... Não com minha mãe por lá.

  -Bom, a decisão é sua. Se você realmente for me avise.

  -Eu vou. Quero conhecer minha mãe.

  -Então tome cuidado. Nico é um ótimo rapaz, tenho certeza que vai cuidar de você.

  -Eu sei que vou estar protegida. – ela disse calmamente, mas eu percebi que ela sorriu de lado, era uma ótima oportunidade de irritá-la, só que eu não faria uma coisa dessas.

-Bom – ela disse se levantando – Preciso ir arrumar minhas coisas.

-Quando você vai?

-Que horas são?

Olhei no meu relógio.

-10 horas.

-Vou partir depois do almoço.

-Quanto tempo vai ficar lá?

-Dois dias.

-Dois dias? Só para dizer “Oi!” para sua mãe?

-Sim – ela disse – Nico disse que iria me apresentar o seu pai, minha mãe e a Bianca.

-Quem é Bianca? É a namorada do Nico? Sinto muito Emily! – eu disse. Coitada! Sua primeira paixão...

-Não! Ela é a irmã morta do Nico.

-Você vai ver uma pessoa morta?

-Sim Agatha. Vamos parar com as perguntas? Eu preciso ir.

-Deve ser muito legal ver um morto. –eu disse enquanto ela ia embora. – Manda um oi para mim? – eu gritei para irritá-la.

Ela praguejou alguma coisa em grego antigo, que por incrível que pareça eu não sei onde ela aprendeu nem como eu entendi o que ela disse, e foi embora.

POV Emily

 Fui até o meu chalé, que não é meu e sim do Nico, e comecei a arrumar minha mala. Eu peguei poucas roupas, já que eu não tinha muita mesmo no acampamento. Enfiei tudo em uma mochila, junto com meu mp4, um livro, escova de dente e coisas pessoais. Não iria levar tênis, eu já tinha meu inseparável all-star e não usaria outro alem dele.

 Quando eu olhei para o relógio do chalé vi que já era meio dia. Fui até o refeitório e peguei uma comida. Fui até a fogueira e joguei um pedaço de bife.

Para Perséfone, espero que goste de mim.

 Depois de mandar um pedaço de bife para minha mãe que eu estava prestes a conhecer fui me sentar-se à mesa de Hades. Nico estava sentado lá. Ele usava uma calça jeans preta com uma camisa branca (eu também não acreditei e estranhei quando vi) e uma jaqueta de aviador preta.

-Já arrumou suas coisas? – ele perguntou.

-Sim.

-Partimos depois de almoçarmos.

-Ok. Como nós vamos?

Ele sorriu.

-Você verá.

Comi o resto de minha comida e voltei para meu chalé para pegar minha mochila. Nico insistiu em levar a mochila, que não tinha peso nenhum, para mim. Isso seria até um gesto cavalheiro se tivesse tijolo dentro da mochila. Mas nesse caso pareceu até engraçado.

 Chegando à colina Quiron já esperava por nós.

-Campistas vejo vocês em dois dias, boa sorte. – ele disse e foi embora.

-Uau! – eu disse e Nico começou a rir – Isso é que é ter pressa!

-O que será que ele quer fazer? – Nico perguntou ainda rindo.

-Um: ele quer ir ao banheiro. Dois: ele quer continuar seu jogo com o Sr. D. Três: ele esta fazendo o trabalho dele e acabar com ele logo, ou seja, nos odeia.

Nico não parava de rir e eu ria junto.

-Prefiro a terceira opção. – ele disse.

Quando conseguimos parar de rir, o que demorou um pouco, pois a risada do Nico era muito fofa e quando ele ria eu ria junto, fomos até uma arvore.

-O que estamos fazendo aqui? – eu perguntei.

-Já viajou nas sombras?

-Não.

-Quer viajar?

-Tenho opção?

-Não.

-Então vamos.

Ele passou a sua mão pela minha cintura, o que me deixou levemente corada, e entro na sombra.

Por um momento eu não senti meus pés no chão. Prendi-me ainda mais no Nico, para que ele não me soltasse. Um segundo depois senti meus pés no chão novamente, Abri os olhos e me senti meio tonta. Nico me segurou.

-Hei!  - ele disse – Quem teria que desmaiar sou eu, não você – ele disse rindo,

Sorri.

O lugar em que eu estava era bem escuro, ao longe você ouvia gritos, vários gritos ao mesmo tempo. Dois tronos estavam na nossa frente. Em um deles estava sentado um homem meio velho, com cabelos e olhos pretos, ele me lembrava muito o Nico, e ao seu lado, no outro trono, estava sentada uma mulher com um vestido longo preto e seus cabelos também eram pretos, resumindo: tudo ali era preto. Exceto pelos olhos da mulher que eram verdes. Não sei por que reparei nos olhos dela, mas eu observei todos os detalhes daquela moça.

 Era obvio que eram Hades e Perséfone.

Um monte de emoções veio a minha mente: alegria, alivio, tristeza, ódio, saudades e assim por diante.

A mulher, quer dizer, minha mãe, sorriu. Eu a fitei por um longo tempo, e só depois eu sorri. Tinha tanta coisa para perguntar... Sobre minha vida inteira. Minha vontade era de correr e pular em seus braços e chorar. Mas me contive.

 Hades me olhava mortalmente. Por que será? A filha de sua mulher com outro cara tinha acabado que visita-lo no inferno. Senti muito medo ao pensar nisso.

-Olá Nico – Hades disse – Olá Emily. Bem-vinda ao submundo!

Aquilo era estranho. Era a mesma coisa de dizer “Oi! Eu sou Hades e você esta no inferno, para onde quer ir? Tortura ou prisão? Aqui é um ótimo lugar para se morar!”.

Hades olhou para minha cintura e foi ai que eu reparei que Nico ainda estava me segurando pela cintura. Nico tirou a mão bem rápido e eu corei. Hades e Perséfone trocaram olhares.

-Bem – Perséfone disse, e pela primeira vez ouvi sua voz, era doce e arrogante ao mesmo tempo, era uma voz relaxante, boa de ouvir. – Por que eu não mostro o quarto onde Emily vai ficar para ela? Nós conversamos e depois o Nico pode mostrar o mundo inferior inteiro.

-Claro. – disse Nico – eu vou para meu quarto.

-Não. – disse Hades. – Você vem comigo, precisamos conversar.

Nico engoliu um seco, mesmo Hades sendo seu pai, ele parecia ter medo.

Perséfone se levantou e esticou sua mão em minha direção. Fui até ela e segurei sua mão. Isso era tão bom. Ela me levou até um corredor. Começamos a andar.

-Não vai falar nada mocinha? – ela disse. – É vergonha ou esta brava comigo.

-Desculpa – eu disse – É vergonha, não sei o que falar.

A primeira coisa que você fala para sua mãe “Eu te amo” “Senti sua falta”. Não, eu sou diferente falei “Desculpa”!

Ela começou a rir.

-Eu leio sua mente filha. – Ferrou! Ela me chamou de filha! Que bonitinha! – Não precisa ter vergonha, eu sou sua mãe.

-Tudo bem. – eu disse – Tenho tanta coisa para perguntar.

-E eu vou responder tudo, também tenho muito que falar. Vamos para seu quarto e conversamos.